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domingo, 21 de outubro de 2018

Rasteira no Saci


* Edson Rontani Júnior, jornalista e membro do IHGP e da Academia Piracicabana de Letras


Nem bem outubro começou, já foram vistos ornamentos lembrando o Halloween, a festa das bruxas dos norte-americanos. É o ponto de partida para que o mercado dos Estados Unidos prepare-se para a comercialização de Natal, com o Black Friday. Este, também já faz parte da vida dos brasileiros.
Nas vitrines, bruxas, vampiros, o monstro de Frankenstein ... Pena que em agosto, quando comemoramos o Dia do Folclore Brasileiro não percebemos situação idêntica, com exposição daquilo que é “sui generis” do país, a mula sem cabeça, o Curupira, iaras, sacis, cuca e outros personagens tupiniquins.
Desde que Carmen Miranda, em 1938, cantou “Yes ! We have banana”, o Brasil passou a ser globalizado pelos ianques do norte. Em seguida veio a Segunda Guerra Mundial e Natal, no Rio Grande do Norte, foi aberta para as tropas de Roosevelt que trouxeram ao país desejos de consumo pré-globalização como a goma de mascar e a Coca-Cola, além de iniciar um processo de introdução da língua anglo-saxã a nossa rotina.
Pena que estejamos numa época em que se cultua o “Dia das Bruxas” como se fosse algo genuinamente brasileiro assim com o Carnaval e as festas juninas. O folclore brasileiro acabou legado ao esquecimento. A globalização foi mais forte.
É uma situação triste pois nossos personagens folclóricos tiveram grandes defensores. Um foi o piracicabano Thales Castanho de Andrade, emérito escritor e professor considerado por muitos como o pai da literatura infantil. Jabutis que falam, florestas que incitam ao homem a preservação do meio-ambiente... Conjecturas que funcionaram além do tempo se levarmos em conta que suas obras datam de 100 anos atrás.
Outro representante do folclore foi Monteiro Lobato, exemplar empreendedor que buscou petróleo em São Pedro e Charqueada, mas que criou uma gama de personagens tipicamente brasileiros no seu Sítio do Pica-Pau Amarelo. Ainda hoje suas obras mexem com o imaginário coletivo. Até Ziraldo levou Pererê para os quadrinhos nos anos 1960 e 1970 perpetuando um viés interiorano e matuto.
Perdemos nossa identidade ? O mundo globalizou-se de forma assustadora. Desde que sustenido virou “jogo da velha” ou hastag, o sublinhado virou underline, o piracicabano tornou-se chique e passou a pronunciar “fake news” para conceitos mentirosos que até tempos atrás referia-se como “é tudo paia". Que bela rasteira deram em nosso saci !