tag:blogger.com,1999:blog-23666142685343246802024-03-27T03:35:24.996-03:00Piracicaba Antiga - A foto e a históriaBlog criado a partir da coluna "A Foto e a História" publicada todo sábado em "A Tribuna Piracicabana", na intenção de recuperar a memória de Piracicaba, cidade situada no interior de São Paulo.Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.comBlogger868125tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-12416094664533747052024-03-20T16:00:00.002-03:002024-03-26T22:00:12.478-03:00Ano quatro<p> <b style="text-align: center;"><i><span style="font-size: 12pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b><b style="text-align: center;"><i><span style="font-size: 12pt;"><o:p> </o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Estranho
um tanto ver alguém de máscara facial em locais públicos. O que foi obrigatório
em 2020, hoje soa um tanto curioso. A pessoa está doente ? Pensamos. Olhando
para trás, lembramos que nesta semana, quatro anos atrás as lojas entoavam um
toque de recolher. Shoppings fechavam suas portas devido à um vírus que desde
dezembro de 2019 assolava a China e depois espalhou-se rapidamente pelo mundo.
A covid-19 nos apresentava apenas sinais de alerta. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Um
ano atrás, a OMS declarou um afrouxar nas normas com o fim da emergência de
saúde pública internacional. Mas, mesmo assim, não ficamos totalmente longe da
doença. A pandemia ainda está em curso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Eis
que, em março de 2023, a doença me atinge pela primeira vez. Três dias na cama
e cinco quilos a menos. A doença se espalha em meu lar. Preocupação. No início,
eram pelo menos 15 dias de afastamento do ambiente social, quando não as
intubações eram necessárias e duravam semanas ou meses, numa época em que
vacina ainda não estava disponível. Se bom ou não, ela me atinge numa época
posterior a isso, mesmo após aplicação de quatro doses contra a covid. Confesso
que foi uma espécie de gripe da qual involuntariamente já experimentei
anteriormente. Corpo mole, dor de cabeça, mal estar, febre, calafrios ... Deixa
a gente imprestável. Sem vontade de nada. Quase uma semana sentindo-se inútil
aos afazeres de rotina. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Hoje,
quatro anos após conhecermos a síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV 2),
revemos o passado e notamos quantas pessoas deixaram nosso convívio. Notei isso
quando atualizei minha lista de telefones. Esse já foi ... Fulano nos deixou
... Nossa ! Que mundo louco ! E as incertezas de outros que foram precocemente além
de pairar a dúvida quanto à eficiência das vacinas. Não é verdade ? Nas
conversas com amigos, é comum ouvir : “será que ele não morreu por consequência
da vacina?”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Em
2020, as festas foram canceladas. O aniversário de meio século foi adiado,
mesmo depois de tanto planejamento. A cidade parou. Apenas supermercados e
farmácias funcionaram. Encontros demoram para acontecer e muitas vezes ao ar
livre e uma pessoa bem distante da outra. Como a gente poderia imaginar que a
respiração de outra pessoa poderia nos matar ?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Hoje,
motivada pelo confinamento, a cachorrinha sabe que o delivery chegou ao ouvir a
buzina da motocicleta e, mesmo que seja no vizinho, nos convida à ir a porta
para saborear-se com um possível aroma de pizza ou qualquer outro prato
gastronômico. A festa de aniversário brutalmente interrompida, neste ano, vem
sendo planejada com convidados e mais convidados. Viva a vida ! E sem pensar no
uso de máscara facial, apenas na felicidade do encontro com amigos e
familiares.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Dizem
que o passado nos ensina a não cometer os mesmos erros. Mas é difícil acreditar
nisso. Este disco toca um lado só. E os erros se repetem, desrespeitando as
gerações que nascem e morrem.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Cem
anos atrás tivemos a pandemia da gripe espanhola. Parou tudo. Escolas, jogos de
futebol, comércio ... a vida ! <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Piracicaba
não ficou distante desta pandemia. Importada da Europa durante a Primeira
Guerra, ela deixou a cidade de quarentena, matando 88 pessoas e atingindo
outras 4.178, em especial as residentes no Porto João Alfredo (Ártemis) e
outros bairros então considerados como zona rural. A cidade tinha perto de 30
mil habitantes. O prédio da Escola Sud Menucci virou hospital e internações
eram feitas nas residências dos adoentados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Que
tudo isso seja um exemplo para a humanidade.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12pt;"><i>(Publicado no Jornal de Piracicaba de 20/03/2024 e na Tribuna Piracicabana de 26/03/2024)</i></span></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-12319130409222242212024-02-21T15:00:00.002-03:002024-02-25T18:19:35.667-03:00Correr atrás do tempo<p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba<o:p></o:p></span></i></b></p><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Este
ano poderei cumprimentar uns poucos amigos que aniversariam em 29 de fevereiro.
Ironia proporcionada a cada quatro anos. Mas, por que perseguimos tanto o tempo
? Ilusório ele é. Convencionalismo que nos ensinaram a agarramos após a Revolução
Industrial, que criou o dia dividido em três fases de 8 horas para trabalhar,
dormir e curtir a família. Algo tão ilusório quanto falarmos que estamos no ano
2024. Não se pode negar que estamos sim, porém da Era Cristã. A história do
Mundo e do ser humano é mais antiga. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">A
contagem do tempo é universal e não vem de hoje. Curioso é ver o espanto de um
amigo de meia idade quando falei sobre rotação e translação da Terra, algo que
ele, pasmo, pareceu-me não saber do que eu falava. Didática aprendida no
primário, nas carteiras do Colégio Barão do Rio Branco, estes movimentos regem
nosso dia (e noite). Em 24 horas a Terra realiza o movimento em seu eixo,
criando a rotação. Fontes indicam que esse movimento é feito em 23 horas, 56
minutos e 4 segundos. O movimento da Terra em torno do sol é conhecido por translação
e dura 365 dias, 5 horas e 48 minutos, formando o ano. À quem descobriu isso,
nossas láureas. A quem ouviu isso estupefato – como meu amigo – as batatas !<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Para
aproveitar mais a duração do dia, com o advindo da industrialização e da criação
da luz elétrica – e com ela, a vida noturna – países implantam o “horário de
verão”, adiando o relógio em uma hora evitando, assim, o excesso no consumo da
energia elétrica. No Brasil, a mais recente reintrodução do horário especial de
verão ocorre em 1985 no governo José Sarney. Mesmo período em que houve a
antecipação dos feriados. A busca do tempo era para otimizar os dias úteis. Se
um feriado ocorresse numa quinta-feira ele seria empurrado para a sexta-feira,
evitando emendas. O mesmo ocorria com os feriados que caíam na terça-feira :
eram antecipados para a segunda. Realmente isso ocorreu no Brasil. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Mas
o tempo é ilusório. E nem nos damos conta disso. Até dois milênios atrás, os
anos seguiam as fases da Lua. As estações, assim, caíam em épocas diferentes. Tivemos
na Roma antiga anos com 304 dias e 10 meses. Em seguida, o ano passou a ter 355
dias em 12 meses. Mas a cada dois anos era preciso um 13º mês de 22 ou 23 dias
para ajustar o ciclo solar ao calendário civil. Que bananada !<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Surge,
então, o calendário juliano, criado com base no que os egípcios já faziam. O
ano passa a ter 365 dias, 12 meses (metade com 30 dias e outra metade com 31 –
com exceção de fevereiro que tinha 29). Estudiosos chegaram à conclusão que o
calendário teria 11 minutos a menos. Em outubro de 1582 cria-se o calendário gregoriano
(o que seguimos atualmente) anulando dez dias do calendário anterior. A lógica
do ano bissexto, era de que os anos terminados em 00 só seriam os bissextos aqueles
divisíveis por 400. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">O
nome bissexto por si é uma corruptela em latim. O imperador Júlio César haveria
ordenado “ante diem bis sextum Kalendas Martias”, ou “repetir o sexto dia antes
de começar o calendário de março”. Fevereiro possui 28 dias pois dois dias
foram tirados pelos romanos para serem colocados em julho e agosto em homenagem
aos imperadores Júlio César e César Augusto. E assim caminhou a humanidade ...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Mais
estupefato fiquei eu quando, em 1995, durante passagem a Piracicaba, o ator
Mário Lago foi entrevistado na Rádio Alvorada A.M. e o locutor comentou : “o
senhor interpreta muito bem o papel do desembargador Veiga na novela <i>De
corpo e alma</i>”. Eis que este dispara ferozmente ao vivo: “queria o que ? Não
comecei ontem. Faço teatro desde os anos 1930 ! Não sou criança”. Silêncio
geral. Mas Lago, que era filho de Antônio de Pádua Jovita Correia do Lago –
nascido em Piracicaba em 13 de junho de 1887 – e possuía determinado parentesco
com Manuel do Lago, proprietário do Hotel Lago, ao lado do Teatro Santo Estêvão,
esculpiu a máxima : “Eu fiz um acordo com o tempo. Nem ele me persegue, nem eu
fujo dele”. E passemos o tempo com cultura !<o:p></o:p></span></p><div style="text-align: center;"><i>(Publicado no Jornal de Piracicaba em 21 de fevereiro de 2024 e na Tribuna Piracicabana de 24 de fevereiro de 2024)</i></div><p></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-41172465895079806512024-02-15T22:35:00.005-03:002024-02-15T22:35:57.368-03:00Carnavais e carnavalescos<p> <b style="text-align: center;"><i><span style="font-size: 12.0pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista, presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b></p><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></i></b></p><p><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">Acho
um tanto quanto injusto ocupar estas linhas e falar de carnavalescos. O pecado
de citar nomes é que muitos ficam de fora. E é comum eu encontrar com um ou
outro conhecido e me dizerem: “você esqueceu de falar de tal coisa, de tal
pessoa...”. A história é infinita, a memória não. O conhecimento também é
expansível, hoje, graças à internet, na qual podemos buscar maiores referências
além daquelas citadas. Isso é ótimo ! Pois aguça a curiosidade, nos faz
movimentar a “massa cinzenta” e faz pensar com maior clareza.</span></p><p>
</p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Corro,
portanto, não o risco de esquecer uma pessoa ou uma situação, e sim me afogar
nas lágrimas de relembrar tanto de um passado que temos enquanto ser humano e
ter na nostalgia uma forma de expressar um pouco daquilo que já foi realizado
pelo Carnaval de Piracicaba.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Usemos
por exemplo, o centenário do Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba que, em
2013, motivou o Carnaval oficial de rua e foi tema da Banda da Sapucaia. Um
Carnaval não tão recente assim, mas que já evoca saudade. Falar da saudade é
também falar de um tempo recente ... é falar do dia de ontem que já entrou na
história. E é não se prender numa época específica, como o início do século
passado, os anos 50 ou anos 70.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Um
período em que era gostoso ver nos jornais e em suas colunas sociais as
celebridades que em nossa terra marcavam presença num destes festejos. Muitas
destas beldades clicadas pela lente de Cícero Correa dos Santos e cujas fotos
eram expostas nas vitrines de clubes como o Coronel Barbosa. Época de
entretenimento socializável em que as pessoas saíam às ruas e davam atenção ao
que ocorria em seu redor. Período em que havia filas na Banca do “seu” Pilon
atrás da Catedral para ler a capa e a última página de “Notícias Populares”,
colocadas como atrativas para uma leitura que não acrescentava nada em nossa
vida. Não sei ao certo qual ano era – poderia ter sido 1992 -, conheci e
entrevistei Elke Maravilha numa coletiva de imprensa no Hotel Beira Rio, quando
a mesma foi convidada pelo poder público municipal para abrir a apresentação
dos blocos. Não haveria Carnaval de rua naquele ano.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">A
história tem carnavalescos como bem lembrou Pedro Caldari em um de seus livros
sobre a Vila Rezende. “Armandinho Dedini tinha espírito alegre ... Escolas,
creches, clubes de futebol, cordão carnavalesco, entidades assistenciais,
pessoas carentes ou dificuldades... todos podiam contar com a sua ajuda
generosa e incondicional”. Era uma espécie de mecenas da folia de Momo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Maria
Pepa Delgado é um nome esquecido. Mas, a piracicabana nascida em 1887, expôs o
nome de nossa cidade no Rio de Janeiro, então capital federal, na década de
1900. Foram delas as principais marchinhas dos carnavais fluminenses da época,
entre elas “O maxixe” lançado pela Odeon. Um sucesso nas paradas dos bolachões
de 78 RPM.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Em
muito me vem à memória os bailes carnavalescos realizados no Ítalo, atrás do
Mercado Municipal. Não que eu participasse deles, mas ao presenciar a muvuca
que se instalava na rua por ser passagem obrigatória para ir à casa de minha
avó materna. O Clube Recreativo Ítalo Brasileiro surgiu em 16 de agosto de
1951, ocupando a Sociedade Italiana de Mutuo Soccorso, situada à rua dom Pedro
I. Teve grandes eventos carnavalescos. Foi dirigido por Lélio Ferrari, Mário
Dedini, Antonio Romano e Lino Morganti (o qual tem um busto no jardim de sua
sede). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Samuel
Pfromm Neto nos ensina que bailes carnavalescos ocorriam também no andar
superior do Bar e Restaurante Comercial, de Fernando Lescovar, na virada das
décadas de 1940 para 1950. Lescovar anos depois adquiriu o Restaurante Brasserie,
por volta de 1953, explorando um delicioso espaço em frente a praça José
Bonifácio até décadas atrás. O salão reunia foliões que comemoravam o Carnaval.
Estava situado acima do Restaurante Comercial que por sua vez ocupava o andar
térreo de onde está hoje parte da Galeria Brasil, mais precisamente o Edifício
Georgetta Brasil. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Jamil
José Netto foi outro envolvido com o Carnaval. Radialista e amante da boa
locução, trocou sua natal Porto Feliz por Piracicaba onde presidiu a Ekyperalta
em 1976. Tivemos também nossa força feminina no Carnaval. Maria Luiza Piza
Oliveira e Silva, além de fundar, participava da Comissão de Frente da Equipe
Lanka. São duas agremiações icônicas na Carnaval local. Alcides Pársia também
merece sua participação no hall dos carnavalescos, sendo de sua autoria a
marcha carnavalesca “Centro do Professorado Paulista”, de 1987.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Citado
linhas atrás, Cícero Correa dos Santos era uma figura ímpar. Sua filha Célia
Regina Signorelli foi uma das maiores expoentes do Carnaval local. Cícero era
um exímio fotógrafo com seus registros impressos nas mídias locais. São
incalculáveis quantos cliques ele tirou durante sua vida. Pfromm lembra:
“graças à máquina fotográfica de Cícero, Piracicaba ganhou imagens valiosas de
festas e acontecimentos do passado notadamente do (...) carnaval”. Fundou a
Zoon-Zoon e nos desfiles anuais recebia homenagens das escolas de samba.
Nascido em Rio Claro, só recebeu – para mágoa de muitos – o título de Cidadão
Piracicabano após ter falecido. Nossas honras ...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p><br /><p></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-56491820182207515132024-02-01T21:16:00.003-03:002024-02-01T21:16:29.908-03:00Clubes e teatros em Piracicaba<p style="text-align: center;"> <b><i><span style="font-size: 12.0pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b></p><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></i></b></p><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Houve
um tempo em que os clubes sociais serviam de passarela para a sociedade. Eram
nestes que ocorriam os bailes, carnavais, casamentos, festividades... Muitas
vezes, restritas à elite. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Até
décadas atrás, famílias abastadas realizavam seus eventos familiares em clubes
ou centros poliesportivos públicos da cidade, como o Coronel Barbosa ou o
Ginásio Waldemar Blatkauskas. Não era ostentação. É que não havia outro espaço
para abrigar centenas de pessoas na mesma ocasião.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Com
o tempo, os Clubes Sociais adotaram também o nome Recreativo, oferecendo espaço
a céu aberto, como quiosques, churrasqueiras, piscinas e outros atrativos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Aos
poucos, tivemos uma mudança na sua concepção. Tornaram-se acessíveis às
diversas camadas sociais. Entraram em condomínios fechados que atualmente possuem
piscinas, quadras de tênis e futebol, playground e ... olhaí de novo ! ...
churrasqueiras coletivas. Piracicaba tem hoje os remanescentes daqueles clubes
que outrora foram feitos para abrigar até dois milhares de pessoas. O Teatro São
José chegou a ter dois mil assentos. Na esteira, surgiram os centros criados
pelo Serviço S, como o Sesc, Sesi e Sest/Senat, cada qual para sua categoria
profissional.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Num
passado não tão remoto, foi possível curtir a piscina ou os carnavais no Nauti
Clube Bela Vista, no bairro Itaperu-Guaçú, assim como pegar um bronzeado na
piscina da sede campestre do Clube Coronel Barbosa em condomínio fechado logo
após Artemis. E já que falamos da Rodovia Geraldo de Barros, por que não
lembrar do Thermas Water Park, da família Andrade? Surgiu numa época em que os
“Amigos” sertanejos estavam revolucionando a música brasileira, alavancados
pela cerveja Bavária e pela Rede Globo. Fez sucesso. Abarrotou a SP-304 lá por
volta de 1988 quando se apresentaram no espaço nomes como Zezé di Camargo e
Luciano, Chitãozinho e Xororó e Leandro & Leonardo. Não era para menos. O
engavetamento para acesso o Park era quilométrico.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Mas
de um passado recente para um mais distante. Os clubes sempre deram o ar da
graça em Piracicaba. De forma curta e grossa, o “Almanak de Piracicaba para o
Anno de 1900” diz que em 9 de novembro de 1867 “dá o seu primeiro baile o <i>Club
Semcerimonia</i>”. Isso, portanto, há 156 anos atrás. Na época, nem se sabia o
que era o cinema, o rádio, a internet... As pessoas saiam de casa para buscar
prazer, entretenimento e sociabilidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Os
Clubes sempre foram pontos de encontro da sociedade. E não apenas para
festividades.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">No
Teatro Santo Estêvão, citemos duas situações. A convulsão local na Revolução de
1932 teve nele seu ponto de concentração. Alberto Vollet Sachs secretariou a
primeira reunião que conseguiu 200 voluntários para a frente de batalha, os
quais partiram em 16 de julho de 1932. Não à toa, o Monumento ao Soldado
Constitucionalista situa-se à praça José Bonifácio (então praça 7 de Setembro),
de onde partiram os voluntários. Outra citação é que a Associação Comercial teve
seu embrião discutido e criado no Santo Estevão, 90 anos atrás.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Ainda
hoje reverenciado pela população, o Santo Estêvão tinha pinturas em seu
interior que evocam o supra sumo da arte. Na reforma patrocinada pelo Barão de
Rezende no início do século passado, Bonfiglio Campagnolli foi contratado para
realizar os motivos decorativos de seu interior, unindo-se às obras
anteriormente feitas por Joaquim Miguel Dutra. O Estêvão foi demolido em 1953. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Ele
foi o primeiro cinema permanente da cidade. A partir de 1908 passou a ter
exibições regulares, propriedade de José Claes. O cinema no início era de
responsabilidade da Santa Casa, proprietária do projetor. Em seguida passou
para Ribeiro de Magalhães e depois para Claes, tendo a denominação de “Theatro
Cinema” de 1910 a 1914, quando passou a ser administrada pela Claes &
Companhia. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">A
arquitetura também teve sua contribuição para clubes e teatros. Orlando
Carneiro – requisitado profissional da construção – foi o responsável pelas
obras do Teatro São José, Clube Piracicabano além de reformas da Santa Casa e
do Hotel Central. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Os
palcos locais eram tão movimentados que Piracicaba também “exportou” artistas. Uma
foi Maria Pepa Delgado (1887/1945), que passou por muitos palcos locais tanto
pessoalmente quanto pelo celuloide. Na década de 1900 era uma das principais
artistas da Casa Edison do Rio de Janeiro. A lenda diz que chegou a ser confundida
como se tivesse origem espanhola, mas era piracicabana da gema. Gravou cerca de
40 títulos de sucesso na época em que os discos traziam apenas duas músicas e
rodavam em 78 RPM. Em 1908 estrelou com João de Deus o filme “Sô Lotero e Siá
Ofrásia com seus produtos na exposição”. Uma curiosidade rara de se encontrar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">O
teatro também foi onde o público estava. É o que ocorreu com o Circo Teatro
Piranha de Waldemar “Piranha” Dias (1928/1992). Tinha no circo sua família a
exemplo do que fez o Veneno, outro circense local. Esposa, filhas, genros e
neta formavam a trupe que percorria cidades. Esteve ativo até 2003. E assim, o
show deve continuar !<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-52837299163425391882024-01-27T10:30:00.001-03:002024-01-27T10:30:00.143-03:00Meus cães, meu passado e minha vida<p style="text-align: center;"> <b><i><span style="font-size: 12.0pt;">* por Edson Rontani Júnior, jornalista e amante de
cães</span></i></b></p><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></i></b></p><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">–
Força, amigão ! Você consegue !!! – disse diversas vezes ao Pancho, um boxer
alemão com cerca de dez anos de vida. Diversas semanas antes ele se entregou
para a morte, como se sentisse a partida de meu pai e logo em seguida a ida de
sua companheira Xuxa, uma fox paulistinha que partiu devido a diversos tumores que
se alastraram por sua cadeia mamária levando metástase para todo o corpo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Foi
assim que em agosto de 1997, o velho boxer se entregou para a morte. Um dia
antes, ainda me lembro, ele correu atrás de uma bola, brincou comigo à noite,
como se estivesse diante da felicidade. Às 18 horas do dia seguinte, ainda no
trabalho, recebo o telefonema de minha mãe dizendo que ele não estava mais
respirando. Aí terminou uma jornada iniciada dez anos antes e tomou-se uma
decisão : “não teremos mais cachorro em casa, pois eles se integram à nós e,
quando partem, deixam uma lacuna imensurável”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Pancho
– não me lembro ao certo se foi em homenagem ao trio musical Los Panchos ou ao
Sancho Pança, fiel amigo de Don Quixote de La Mancha – uivou como nunca houvera
feito, em fevereiro daquele ano, ao “sentir” a morte de meu pai. Todos sentimos
é claro, mas animais morreram e perdemos plantas depois desta passagem,
dando-me certeza de que eles se tornam parte de nosso ambiente. Mas, seu maior
pesar, deve ter sido a partida de nossa cadelinha Xuxa que, não tendo mais que
40 centímetros impunha muito respeito ao boxer com mais de 1,60 metro. Como
cresceram juntos, viveram bons momentos como um casal de pessoas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">O
fim da vida de Xuxa foi condenado pelo veterinário que a operara duas vezes
anteriores para extirpar o câncer que atingia suas mamas talvez por nunca ter
procriado. Foi “mãe psicológica” de uma bonequinha loira de borracha. Cuidava
dela como se fosse sua filha. Enrolava-a em um pano e a levava de um lado para
outro, ficando brava quando mexíamos nela. Em abril ou maio daquele ano a
anemia obrigou-nos a tomar a decisão – como se tivéssemos este direito – a
tirar sua vida. Pancho ficou inconsolável, pois sentia a ausência de meu pai e
depois da companheira. Acordava à noite com medo ! Como pode um cachorrão assim
sentir medo ?! As portas da casa tiveram por meses as marcas de suas ranhuras
para que as portas ficassem abertas nos solicitando companhia e só dormindo com
a luz acessa. Foram três ou quatro meses de tratamento envolvendo homeopatia e
alopatia. Quantas vezes tive de sair do meio do expediente de trabalho,
carregá-lo até o veterinário para tomar soro e esperar alguma reação. Mas …
nada ! Nenhuma reação… Entregou-se à morte como um ser humano.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Os
mais céticos podem crer que muitas crianças abandonadas nas ruas deveriam ter a
atenção que damos aos cachorros. Mas … cada cabeça uma sentença.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">O
francês Anatole France escreveu em 1908 que um monge chegou a uma ilha onde só
havia pinguins. Cegado pelo branco da neve confunde-os com homens, evangeliza e
os batiza. Ao saber de tamanha heresia, os Céus urdem e os anjos, santos e Deus
ouvem, durante a assembleia, a ideia de Santa Catarina : que seja concedida uma
pequena alma aos animais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Como
disse, cada cabeça uma sentença.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Fui
criado com cães em casa desde a gestação. Sempre ouvi falar da basset Soraya
com a qual mantive contatos enquanto engatinhava. Recordo dela através de
fotos. Importante presença em minha vida foi a boxer Diana que durou 18 anos,
inteligente como ela só, adorava nadar na margem direita do Rio Piracicaba em
uma chácara próxima ao Nauti Clube Bela Vista e ficava em pé para abrir as
maçanetas da casa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">No
meio dos anos 70, Diana dividiu espaço com um coelho de nome Kiko, o qual foi
trocado pela fox paulistinha Kika, inteirinha branca com uma pinta preta nas
costas. O nome era dado a um dos quadros famosos do programa da TV Globo “O
Planeta dos Homens”, Kika e Xuxu (vivido por Agildo Ribeiro). Kika de repente
se entregou à vida por uma virose. Não andava, não comia, perdeu toda a alegria
que nos deu durante anos. E sentimos com isso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Kika
e Diana ainda dividiram espaço com a boxer Pantera. Ainda me lembro de ter
visto um de seus irmãos, com poucos meses, no colo de sua dona que terminava de
realizar compras no Supermercado Guerra (depois Supermercado Catarinense) que
existia no cruzamento das ruas do Rosário com Prudente de Moraes. Pantera foi
ativa, brincalhona.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Se
for para contar meus anos de vida, prefiro contar pelos anos dos cães que
passaram por ela. Cada década ou fase me remonta a alegria e o companheirismo
de todos que tivemos. Ouvi dizer que o cão há mais de 10 mil anos vive dos
restos do ser humano. Se colocarmos um deles numa ilha eles morrem. Não têm o
dom de caçar, de preparar sua comida, de escolher o que é certo (lembre-se do
número de envenenamento que as estatísticas mostram).<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">O
homem tem o poder de se redimir diante de seus erros e por isso ficamos um
pequeno período sem esse fiel companheiro. Em 1999 adquirimos a daschound Tara
que nos presenteou com quatro filhotes, dos quais apenas a Pretinha permaneceu
com a mãe. E assim a renovação se fez presente em nossas vidas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: 12.0pt;">Morte </span></b><span style="font-size: 12.0pt;">– “É uma foquinha !” –
Disse Myrian Vendemiatti ao retirar do veterinário outra cadela importante em
minha vida, de nome Julica. Em setembro de 2003 foi vitimada por uma virose e
depois por uma hemorragia. Foi triste ver o corpo daquela cachorrinha sem raça,
branca com manchas pretas, em uma caixa de papelão sem vida com o nariz
sangrando. Ia-se ali mais uns anos de minha vida. Foi-se com ela aquela
companheira dos churrascos, seu jeito “pidão” de fazer massagem nas costas.
Mas, quando fui retira-la do veterinário, tive uma lição de vida. O mesmo tinha
cerca de dez cães e gatos abandonados. Dois cegos que pareciam saudáveis, um
sem uma das patas, um verdadeiro asilo de animais domésticos mostrando antes de
tudo que a eles não existem intempéries, e que isso é coisa de humano !<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">A
vida de Julica terminou no Cemitério dos Animais, situado no Bairro São Jorge,
num trabalho exemplar feito por Myriam Vendemiatti e sua filha. Animais de
todos os tipos são ali enterrados com honras e orações. Gatos, cães, roedores,
aves … Tudo ! Cada um em sua cova com nome. Cães da Polícia Militar enterrados
por terem sido baleados por criminosos. Parei. Refleti sobre a vida. Relembrei
de meu primeiro contato com um animal. Recordei o que um grande colega outro
dia me disse : “o homem é seu passado, é sua recordação”. Tive a certeza disso,
Cecílio … Meu passado é cheio de recordações. Amargas ou boas. Mas o hoje é
ação do que fiz ontem.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Agora
que me lembrei : desde o enterro de Julica nunca mais fui visitá-la. Quão tolos
somos. Mas, a vida prossegue …<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-58159388823613429602024-01-25T22:20:00.005-03:002024-01-25T22:20:49.516-03:00Gastronomia se põe à mesa<p style="text-align: center;"> <b><i><span style="font-size: 12.0pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b></p><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></i></b></p><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Extensa
é a história da gastronomia de Piracicaba. Isso ajuda a cometer falhas ou
trazer lapsos na memória quando se quer garimpar o assunto. Mas, a intenção
neste texto, é trazer do passado, pessoas, locais e fatos que marcaram o setor
de bares e restaurantes, não tendo por objetivo ser um dicionário com todos os
verbetes de referência.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Pode
ser que a intenção seja movimentar a “massa cinzenta” de um passado muito
recente no qual os cinquentões de hoje se lembrarão da vida gastronômica, por
exemplo, dos anos 1980, década que trouxe novidades a Piracicaba como o
primeiro restaurante self service por quilo, o Ponto 71 que funcionou nas
esquinas das ruas do Rosário com a Moraes Barros. Ou o Cachorrão, no Shopping
Center Piracicaba, na lembrança de ser a primeira lanchonete self service
especializada em hot dogs. Tivemos também o “McDonald’s” piracicabano: o Daytona,
na confluência da Moraes Barros com a praça José Bonifácio, ousado na época por
ter o americanizado hamburger como atração principal, além da réplica de um
carro de fórmula 1 pendurado na parede. Podemos lembrar também do Restaurante
Bijeto (anos 1970) ou o Jardin’s que em muitas noites congestionou o trânsito
na esquina da rua Benjamin Constant com a Moraes Barros. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Alimentar-se
é uma necessidade de primeiro grau. Comer com sofisticação é desejo. Assim, a
intenção de sempre bem atender o glutão é histórica. Afinal são 256 anos
servindo à mesa o piracicabano.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">São
efemérides históricas e nostálgicas. Em 17 de fevereiro de 1883, é inaugurado o
Hotel do Marques, de José Gomes Marques. Em seguida, no dia primeiro de agosto
do mesmo ano ele inaugura o Hotel Marques. Nas horas vagas, atuava como
guarda-livros da Fábrica de Tecidos Santa Francisca.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Casos
como o de João Lucci, proprietário, na virada do século retrasado, de um
restaurante situado à rua da Glória n° 6. A mesma rua abrigou restaurante de
Luiz Maranho. Giovanni (João) e José Folvenço, ambos da família Moretti, também
serviram à mesa com o Hotel e Restaurante Moretti (rua do Glória n° 6, o
primeiro a sair da Estação da Ythuana/Sorocabana). A Glória é a atual rua
Benjamin Constant. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Muitos
destes anunciaram nos tradicionais almanaques da cidade, como o de Camargo
(1900) e Capri (1914). Pedro Monteran também teve seus serviços de gastronomia
colocados a disposição na atual praça Tibiriçá, ao lado de onde está hoje o
Colégio Moraes Barros, na época, sede do legislativo municipal. Paulino José de
Miranda era dono de um bilhar e restaurante no final do século 19 situado à rua
São José n° 39. Salvador Oranges servia em seu restaurante na rua Boa Morte e
comercializava itens em seu armazém situado no mesmo endereço. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Camargo
no Almanak mapeou os estabelecimentos gastronômicos da cidade, chegando a ter 27
deles nos anos de 1899 e 1900. Indicou inclusive onde alguns situavam: cinco na
rua Benjamin, quatro na Vila Rezende, três na XV de novembro, e três na praça
José Bonifácio. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Cuscuz,
peixe no tambor, churrascarias ... Muitas áreas formaram o imaginário coletivo
nas décadas passadas quando se fala sobre o bem servir. Orientais também
contribuíram para a vida alimentar na cidade. Não apenas em pastelarias. Cabe
registrar a importância dos irmãos Miazaki que mantiveram o Líder Bar na
Governador com a São José. Eram oriundos do Japão e vieram para cá nas levas de
imigração do início do século passado. Kazuo, conhecido por Mário Japonês, deixou
vários relatos da xenofobia local principalmente em períodos como a Segunda
Guerra Mundial. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Além
da boa comida, restaurantes também exportaram estrelas. Foi o caso de Francisco
(Ferreira) Milani (1936/2005) conhecido por suas participações na Rede Globo em
especial os humorísticos “Casseta e Planeta” e “Escolinha do Professor
Raimundo”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sua família tinha um bar e
restaurante no andar térreo do Clube Coronel Barbosa. Foi sonoplasta da Rádio
Difusora e fez sucesso no rádio carioca. Fama também se põe à mesa. <o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-7408314482032600412024-01-24T19:58:00.005-03:002024-01-24T19:58:51.048-03:00Inventores e invenções<p style="text-align: center;"> <b><i><span style="font-size: 12.0pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b></p><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></i></b></p><p><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">O
Brasil também foi um celeiro de inventores, tal qual os Estados Unidos cujos
criadores quase sempre saíam aos sopapos para registrar suas patentes. Alguns
destes eram Ford, Edison, Westinghouse, Tesla e tantos outros. O segundo,
aliás, tinha uma fábrica de cientistas com os quais trabalhou para criar e
produzir tecnologia a partir da energia elétrica.</span></p><p>
</p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Alguns
destes registraram suas invenções no Brasil. Henry Ford, criador da linha de
produção de veículos, fez registro de patentes no Brasil. Assim como Nikola
Tesla que patenteou por aqui, em 1910, uma máquina que gerava energia através
de líquidos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Invenções
e seus inventores são colocados à apresentação pública através do INPI –
Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, órgão do governo federal que está
completando 53 anos de atividades. O projeto “Memória da Propriedade
Intelectual – Patentes Históricas” digitalizou mais de 3.200 patentes depositadas
no Brasil de 1895 a 1920, demonstrando que o país já chamava a atenção das
grandes empresas americanas pelo avanço tecnológico que aqui prosperava. Cabe
lembrar que estávamos saindo do regime monárquico, entrando na República que
avançava na política do “café com leite”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">O
acervo pode ser acessado de forma gratuita. É curioso ver algumas invenções
como baldes com patins para andar em rios ou o soro antipeçonhento patenteado,
em 1917, por Vital Brazil e doado ao governo de São Paulo para aplicação
gratuita na população.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Não
por acaso, encontramos a cidade de Piracicaba citada duas vezes no acervo até
agora disponibilizado. Pois é, tivemos nosso “Professor Pardal”, para usar um
termo que apenas os mais antigos conhecem. Uma das invenções era o Aero Moto
Eterno (Guilherme Góri), motor para relógio no qual o vento é utilizado como
força motriz. O inventor era o barbeiro Guilherme Góri, italiano de nascimento,
morador de Piracicaba. Sua patente está registrada sob o número 13.238, com
autorização do presidente Wenceslau Bráz em 1917. O registro foi endossado por
Oscar Costa, no Rio de Janeiro, procurador do inventor. O documento de registro
é ricamente detalhista, em duas páginas datilografadas ocupando toda a extensão
de ambas. A invenção utilizaria o vento para dar corda em relógios de parede.
Cabe lembrar que os relógios de antigamente, aqueles com pêndulo, precisavam de
“corda”, a qual era dada com uma espécie de chave, a exemplo do que anos mais
tarde tivemos com os despertadores colocados no criado-mudo. Eixos, molas,
discos ... A patente é extensa numa união da engenharia com a física, exigindo
colocação de cata-vento que deveria ficar acima do telhado da residência. O
texto dá noção que o cata-vento também poderia ser colocado em navios e “carros
de estradas de ferro”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Outro
inventor residente em Piracicaba foi João Baptista de Paula Ferraz em que 14 de
junho de 1916, sob o depósito 13.522, patenteou “uma caixa dupla de descarga
para latrinas”. Ele foi representado por Moura & Wilson, residentes na
capital federal (Rio de Janeiro), “procuradores e agentes de privilégios”. O
registro também foi assinado pelo presidente Wenceslau Bráz. João Baptista, diz
o documento, era industrial em nossa cidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">O
pedido de patente também estava datilografado e trazia a perspectiva ilustrada
da invenção. São cerca de duas páginas. A caixa de descarga pretendia dispensar
válvula e sifão, ter precisão na descarga sem molhar o chão da “casinha”, e nem
tirar a pressão de outras torneiras da casa. Seria o princípio da atual caixa
acoplada, porém, assentada no alto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Este
resgate do INPI serve para mostrar o quanto foi importante a colaboração
tecnológica dos brasileiros, dos estrangeiros e também destes dois
piracicabanos. Foram úteis em seus tempos. E, como revelou o “tio” Cecílio
Elias Netto, o bom é brindar com uma caipirinha já que a mesma também foi
inventada em nossa terra.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Clique abaixo e leia as patentes requeridas</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;"><b><a href="https://documentoshistoricos.inpi.gov.br/uploads/r/inpi-2/d/b/1/db1323a5d8758a3ea21fae34cbc684906ef6b07a89967c1f9aac8e502a163cdc/07f0174a-195a-4fb8-883d-1cc2cd65a57c-72fe0738-58f1-40d4-9be9-91b07d1c89d6.pdf" target="_blank">MOTOR PARA RELÓGIO</a></b></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;"><b><a href="https://documentoshistoricos.inpi.gov.br/uploads/r/inpi-2/6/c/6/6c66b128b45e97b4ba4bc6618da43ad9a223125f8327a9162e1d8277b5003a5e/3bded709-2d7f-41f4-aee6-2144a02bb9b3-8e793124-fb20-4496-bef0-6f2cf72714d5.pdf" target="_blank">CAIXA DUPLA PARA DESCARGA DE LATRINAS</a></b></span></p><div style="text-align: center;"><i>(Publicado no Jornal de Piracicaba de 24 de janeiro de 2024)</i></div><p></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-63687774936673149822024-01-18T20:05:00.006-03:002024-01-21T13:34:35.877-03:00De volta ao passado<p style="text-align: center;"> <b><i><span style="font-size: 12pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b></p><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></i></b></p><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Dias
atrás, num bate-papo com os comunicadores Rosiley Lourenço e Antonio Carlos
Bonassi, na Educativa F.M., conversamos sobre artigos publicados nesta página.
Bonassi elogiou alguns artigos recentes, em especial aquele no qual viajamos
para a Piracicaba de 200 anos atrás.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Hoje,
vamos para quase um século e meio atrás, mais precisamente o ano de 1883,
período em que a cidade teve certa efervescência histórica. Atas da Câmara
Municipal deixaram um legado rico de atividades no município, como a construção
da nova cadeia pela empresa Fischer & Bossashard a qual, inicialmente, pedia
para retirar pedras do largo do Gavião a fim de edificar tal prédio. Em 17 de
janeiro, funda-se a Scuola Italiana Umberto I, com direção de Guglielmo
Togneri.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">No
dia 18 de fevereiro, um edital conclamava serviços de obras públicas, dando a
chance de empresas participarem da concorrência na realização de uma planta
topográfica de Piracicaba e arredores. O objetivo era construir uma rede de
esgoto que no futuro atendesse às necessidades sanitárias da cidade. O serviço
teria sido executado por Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, engenheiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Logo
no início de março, a Câmara recebe autorização para que fossem compradas
pedras em Itu para arruamento e criação das sarjetas. Segundo o documento, com
“as lages, o serviço marcha com mais rapidez e torna-se mais elegante” as ruas.
Leandro Guerrini lembra que na época as guias eram feitas de tijolos em pé, num
serviço lento. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Foi
em 11 de abril de 1883 que surge aquele que pode ser considerado o primeiro
jornal diário da cidade. “Jornal do Povo” era dirigido pelo barão de Rezende e
defendia os ideais monarquistas num período em que este tipo de regime já
apresentava ares anacrônicos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Ainda
em abril, a Fábrica Santa Francisca, que décadas mais tarde se tornaria a
Boyes, é incorporada à Companhia de Cultura de Tecidos de Algodão S/A, cuja
sede situava-se no Rio de Janeiro. O empreendimento estava em voga há duas
décadas sob a batuta de Luiz de Queiroz. Foi incorporada “com todos os seus
maquinismos, tinturaria, maquinário e caldeiraria”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Já
que falamos de Queiróz, em 20 de abril daquele ano, o jornal “O Commercio de
São Paulo” publica editorial dizendo que Piracicaba não merecia ter uma escola
agrícola (o embrião da ESALQ/USP, na atualidade). A opinião do veículo de
comunicação condena a cidade por ser um produtor de baixo índice, sendo
preferida a capital paulista para tal instalação ou Ribeirão Preto, cujo
poderio agrícola já era notório. Três dias depois, com os cotovelos doendo,
piracicabanos reagem à tal editorial. Na “Gazeta de Piracicaba”, as autoridades
competentes mostravam que a cidade merecia ter sua escola agrícola, como bem
mostrou a história. Em seguida, no dia 10 de agosto, a “Gazeta” noticiava a
doação por Queiroz ao estado provincial da Fazenda São João da Montanha, área
hoje ocupada pela ESALQ. Manifestação do jornal diz que o estado recebeu tal
doação com total desdém. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">O
dia 4 de junho foi de festividade na cidade, pois a Estrada de Ferro Ituana
inaugura o ramal de trem para São Pedro. Às 15h30 partiu o trem inaugural. O
ramal ligava Charqueada a São Pedro e saía de nosso município. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Se
hoje temos um celular na mão, que além de tudo funciona também como telefone,
em 22 de junho, a Empresa Telefônica local estava preocupada com a instalação
de linhas telefônicas. A mesma possuía mesa com 50 aparelhos para ligações,
muitos dos quais estavam vagos, sem assinantes. Haja marketing !<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Aquilo
que conhecemos hoje por Escola Industrial rugiu em 25 de junho de 1883, data em
que foi inaugurado o prédio da Sociedade Beneficente Instrutora, sob discurso
de Prudente de Morais. O local, que passou por diversas modificações, abrigou a
Escola Complementar do município. Em 25 de agosto, o prédio passa a acolhe o
Colégio Rosa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Em
2 de agosto a cidade passa a ter vida noturna. Na época, a partir do entardecer,
a iluminação era feita com velas ou lampiões com querosene. Nesta data, depois
de oito meses de espera pela liberação de material retido no porto de Santos,
proveniente de Nova Iorque. Luiz de Queiroz ilumina parte do jardim público
(praça José Bonifácio) e ruas adjacentes como a Prudente, São José, Alferes e
Governador. A população sai de casa e volta para ver o pioneirismo. Claro que,
com escuridão no meio do caminho ... Em setembro, passa-se a ser oferecido o
fornecimento de energia às residências. <o:p></o:p></span></p><div style="text-align: center;"><i>(Publicado no Jornal de Piracicaba de 14 de janeiro de 2024 e na Tribuna Piracicabana de 20 de janeiro de 2024)</i></div><p></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-5374377807309873402024-01-07T19:05:00.004-03:002024-01-07T21:02:15.994-03:00Ainda 200 anos atrás<p style="text-align: center;"> <b><i><span style="font-size: 12pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b></p><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></i></b></p><p><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">O
ano de 2024 está aí. Estamos em seus primeiros dias. Daqui a pouco nem
lembraremos das promessas feitas no final de semana passado e continuaremos a
vida como ela quer, numa eterna rotina. Mas o tempo é de renovar. Ou de olhar
para trás como veremos nas próximas linhas.</span></p><p>
</p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Duzentos
anos atrás, a cidade de Piracicaba tinha rotinas diferentes. Poucos são os
registros das obras aqui construídas, dos anseios individuais, da vida social,
das atividades culturais e recreativas. Era só trabalhar, comer e dormir ? Claro
que não. Alguns pontos históricos registrados encontram-se em atas das Câmara
de Vereadores, almanaques anuais e publicações nem tão recentes deixadas por
Mário Neme, Leandro Guerrini, João Chiarini e outros estudiosos que propagaram
a vida local nestes 256 anos de Piracicaba.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">A
imprensa local sequer era constituída. Leandro Guerrini diz que Jair Toledo
Veiga descobriu um jornal escrito a mão e distribuído aos leitores, no qual o
senador Vergueiro publicava críticas sobre a rotina local. Isso no início dos
anos 1800. O jornal era feito a mão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Em
1824, Piracicaba, então Vila da Nova Constituição, respirava a monarquia
instituída em 1822 sob a regência de dom Pedro I, independente dos mandos e
desmandos do reino de Portugal. Sua força motriz ainda era à base do
escravagismo. A onda imigratória dos alemães, italianos e outros ocorre várias
décadas depois. Dois séculos atrás, a cidade ainda formava sua geografia
urbana. As famílias deixavam aos poucos a rua do Porto. Miravam para o Centro e
expandiam para as terras anteriores à Paulista – lugar afastado – e se acomodavam
em torno do ribeirão do Itapeva (hoje avenida Armando de Salles Oliveira). Ruas
– hoje denominadas São José, Prudente de Moraes, XV de Novembro, Benjamin
Constant, Boa Morte, Governador Pedro de Toledo, e outras – já estavam
alinhadas, como queria a edilidade por orientação do governo provincial. No
meio de 1824, precisamente em 9 de junho, a Câmara local realiza inspeção para
alinhar a rua do Conselho, colocando “estacas em cada hum dos cantos dos
quarteiroins”. As atas dizem que o desalinhamento era uma “tortura” para as
vistas. A base do alinhamento se daria a partir do Rio (talvez o Itapeva).
Ficou reta ? Basta ter em mente que esta rua se trata daquela que hoje é
denominada Regente Feijó. Foram responsáveis por esta demarcação os arruadores
e demarcadores Piloto Feliz Leme e Antonio do Espírito Santo (este, assinava
com uma cruz, devido ao seu nome).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Duzentos
anos atrás surge aquilo que hoje conhecemos por município de Rio Claro, em área
de Piracicaba. A fundação ocorre durante inauguração da igreja à margem do
Ribeirão Claro. Autoridades locais, entre elas o Barão de Piracicaba (António
Pais de Barros), foram à capela em 24 de junho, dia de São João, santo do dia,
para a inauguração. A área próxima à Capela receberia casas ao longo dos anos
seguintes. A região passou a ser denominada São João do Rio Claro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Em
28 de junho, documento assinado por dom Pedro I (conhecida por “carta-patente”)
confirmava os nomes para capitão da Companhia das Ordenanças – as forças
políticas e sociais – a Miguel António Gonçalvez e Manuel de Toledo da Silva. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Vereadores
saíram às ruas em 10 de julho para “chamar a atenção” de Manuel Joaquim Pinto
de Arruda (juiz ordinário, equivalente a presidente da Câmara) por estar num
serviço de “roçada” causando “prejuízo por distruir as madeiras e sipós para
construção de cazas e quintaes”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Por
política também se duelou, já que armas de fogo eram incomuns, proibidas e
restritas. No pátio da Matriz, um carpinteiro desferiu 15 golpes de espada na
cabeça e nos braços de um opositor. Os golpes só pararam quando lhe tomaram e
quebraram a espada. A vítima alegou que a ação ocorria por o agressor não
concordar com as normas de arruamento da cidade, através das quais perderia
terras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Em
outubro, pelo nascimento de uma princesa imperial, a Câmara pede que os
moradores iluminem suas casas para bem recebe-la. Deveriam colocar lampiões,
lamparinas ou velas nas janelas. O ritual previa ainda fogueira no largo da
matriz. A Vila ficou iluminada por três dias. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">O
ano de 1824 termina como começou. A preocupação com a distribuição de terrenos.
E assim foi a vida em Piracicaba 200 anos atrás. Os documentos mostram a
preocupação dos poderes constituídos com a delimitação das ruas, dos
quarteirões e das habitações. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Já
em 11 de dezembro, é pedida a demarcação de quatro paredes em uma praça para a
nova Matriz da cidade. Citação meio difícil de localizar: ficaria entre as ruas
Formosa e Alegria e passaria pela rua São Benedito que atravessa a praça. Cabe
lembrar que o arruamento ocorria pela melhor distribuição em linhas retas dos
terrenos nos quais seriam construídas casas. O trânsito ainda era feito com
tração animal: cavalos ou mulas que levavam em sua cela as pessoas em ou
carroças para transportar número maior de piracicabanos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Finalizando,
em 18 de dezembro, os vereadores pedem matança dos porcos, pois eles viviam
pelas ruas, como os cães e gatos que vemos hoje. E assim, Piracicaba cresceu
como conhecemos hoje.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12pt;"><i>Publicado no Jornal de Piracicaba de 07 de janeiro de 2024</i></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><br /></span></p><br /><p></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-75448392289789691892024-01-02T20:44:00.011-03:002024-01-07T19:06:07.641-03:00Feliz velho ano<p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba<o:p></o:p></span></i></b></p><p><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">Feliz
novo ano ! Não com champanhes, aves assadas ou a tradição que conhecemos
atualmente. O termo réveillon foi importado para nossas terras dos franceses
que o criaram lá pelo século 1.600. A festa do ano novo era mais tímida. Isso,
referindo-se ao ano de 1824, ou seja, 200 anos atrás, quando Piracicaba tinha o
equivalente a 8 mil habitantes, dos quais 2.669 eram escravos.</span></p><p>
</p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Vamos
então viajar para dois séculos atrás e conhecer como a cidade tinha sua rotina
na ocasião, começando pelo seu nome que era Vila Nova da Constituição. O termo
cidade ainda não lhe cabia. Havia elevada para a condição de vila em 29 de
novembro de 1821. Nova Constituição foi homenagem à constituinte portuguesa
então aprovada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">O
novo ano de 1824 começa com eleições, realizadas em 3 de janeiro para escolher
quatro capitães de ordenanças. A Companhias de Ordenanças foi criada pelo reino
de Portugal em 1570 e formava as forças militares tanto no reino de Portugal
quanto nas suas colônias. Promoviam a manutenção da ordem social e seus membros
eram moradores locais. A eleição em Piracicaba indicou quatro pessoas, em
especial aquelas alfabetizadas, pois estas teriam de escrever e ler ordens. Os
eleitos foram improvisados. Não tinham conhecimento militar, não recebiam pela
ocupação e ainda tinha de pagar pela farda e pela espada. Era o poder político
se formando.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Nos
primeiros dias do novo ano, os vereadores se reuniram para estudar a
constituinte do Brasil. Lembremos que nosso país estava independente de
Portugal havia 15 meses. O projeto de reforma da Constituição Brasileira foi
encaminhado por dom Pedro I às Câmaras para sugestões. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Muitos
dos relatos sobre a sociedade piracicabana neste ano de 1824 são registrados
apenas através de documentos oficiais da Câmara de Vereadores. Estes comprovam
um processo de ebulição social ainda em janeiro. Para se construir casa na
cidade, havia necessidade de solicitar um documento denominado “data de terra”.
A cessão era gratuita. Os futuros moradores reclamaram aos vereadores do valor
pela emissão deste documento, o equivalente ao que é feito pelos cartórios.
Quem estivesse de posse deste documento, tinha seis meses para iniciar a
construção, senão o terreno voltava ao poder público. Tal valor já era cobrado
pelas câmaras de São Carlos, Jundiaí e São Paulo. Como não houve consenso
local, o julgamento da legalidade da cobrança foi enviado para sentença de dom
Pedro I.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Como
curiosidade, em nossas terras foram recebidas orientações, em 26 de março de
1824, para eleição do Juiz de Paz na freguesia. Era função do pároco da matriz
afixar na porta da igreja uma lista de pessoas que pudessem votar e receber
votos. O ritual exigia missa antes da eleição em nome do santo do dia além de
rezar-se oração para a eleição.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Religião
também é envolvida na aprovação do Projeto da Constituição Imperial em 25 de
abril daquele ano. A ata da sessão diz que os vereadores juraram guardar
respeito à carta constitucional “pondo suas mãos direitas” em livro dos Santos
Evangelhos. Curioso também é ver que a ata cita que o encontro ocorreu na casa
de Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, por ser esta a mais decente na ocasião.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Registro
da Câmara, datado de 26 de abril, apresenta o projeto de ruas retas e alinhadas,
conforme preocupação do Governo da Província. Em 27 de março, atas da Câmara
trazem pela primeira vez a citação de José Caetano Rosa, conhecido por Alferes
José Caetano, o principal arruador de nossa cidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Não
sei se o nobre leitor já percebeu que a rua São José, a partir da avenida
Armando de Salles Oliveira tem uma leve acentuação em um de seus lados. O
arruamento foi forçado por uma senhora de nome Maria Meira que utilizou filhos
e escravos para obter alguns metros de terra em suas posses, evitando assim
perder espaço para este alinhamento. Os vereadores estudaram o caso e aceitaram
a decisão: “abrirão a continuação da rua para o Rio (talvez o ribeirão do
Itapeva) tirando-se sua direção recta, arqueando-a hum quarteirão”, diz a ata
da ocasião. A curvatura ocorre pois o novo alinhamento iria invadir suas terras
e exigiria a retirada de uma cerca de dona Maria. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Em
maio de 1824, turbulências políticas. A Vila tinha representantes do Partido
dos Quarenta Coligados, de oposição e contrário às decisões da Câmara. No dia 9
daquele mês quase não houve reunião da edilidade pois desapareceu o livro de
atas surgindo o mesmo das mãos da cozinheira do secretário da câmara. O partido
era favorável à cobrança pela taxa de “datas de terra”. Houve até um membro da
Câmara que, por pirraça, foi a uma pescaria para não participar das reuniões
organizadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">O
Partido provoca nova ebulição na cidade alegando que as eleições municipais de
1822, as primeiras na cidade, envolveram suborno, nepotismo etc... A alegação
era de que a Câmara ficou “em família”, parentes se elegeram e nomearam a si
próprios e que correligionários eram crianças de 10 a 15 anos de idade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Por
serem dados oficiais da Câmara, os registros destacam apenas o lado político. O
social infelizmente ficaram legados para o passado, em velhos anos ...</span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12pt;"><i>(Publicado no Jornal de Piracicaba de 31 de dezembro de 2023 e na Tribuna Piracicabana de 06 de janeiro de 2024)</i></span></p><p></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-30068220048139505742023-12-24T13:40:00.005-03:002023-12-24T13:40:40.720-03:00Ceia farta<p style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12.0pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b></p><p><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">Houve
tempo em que o piracicabano esperava a Festa das Nações para saborear delícias
disponíveis apenas neste evento. Comidas árabes, italianas, africanas ...
Houve, também, um tempo em que as famílias viajavam a Campinas ou São Paulo
para saborear feijoada, vinhos ... Terraço Itália, Massimo, Fogo de Chão eram
alguns dos destinos.</span></p><p>
</p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Tivemos
lacunas como a esfirra aberta feita em forno a lenha numa casa comercial
situada na esquina das ruas Boa Morte e Riachuelo. Pena que a memória seja
falha e não me recordo o nome de tal estabelecimento. Mas recordo do seu
Chalita e seus quibes na rua Boa Morte, próximo dali, quase esquina da
Ipiranga. Isso na virada da década de 1970 para 1980. Quando tais restaurantes
fechavam, não tínhamos outras opções. Hoje, estas referências e tantas outras
estão em diversos pontos da cidade. Podem ser entregues em casa pelo aplicativo,
desde a pamonha ao cuscuz paulista. Chique era você entrar no Restaurante
Brasserie – no salão do fundo – ou do Mirante e ser bem servido pelos Lescovar
ou Benites. Hoje, consome-se na calçada, ou até em cima do asfalto, numa
ostentação que não vem ao caso neste artigo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Comer
é uma necessidade básica. Comer bem ... ora, também é ! Vejamos a quantidade de
centros gastronômicos que temos. Rua do Porto, Nova Piracicaba, Monte Alegre
etc etc etc ...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">No
passado, cabe lembrar alguns nomes que fizeram esta fama. Para isso, valho-me
de alguns escritos do passado, como o “Dicionário dos Piracicabanos” (Editora
IHGP, 2014), de Samuel Pfromm Neto. Este nos indica o italiano Ernesto Papini,
que, em 1905, instalou o Restaurante Papini na Vila Rezende, avenida Rui
Barbosa nº 490, uma das mais afamadas casas gastronômicas das duas primeiras
décadas do século passado. Acolheu o governador Ademar de Barros e o presidente
Getúlio Vargas. Funcionou até 1964 como local de festas, confraternizações,
namoros, música e jogatina. As noites concorridas eram chamadas de “Papinadas”,
com presença de músicos como Erotides de Campos, Cobrinha, além da Corporação
Banda União Operária. Foi um empreendedor pois no espaço administrava um
restaurante, bar, confeitaria e campo de bocha.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">O
Jardim da Cerveja foi uma forma trazer a boemia e o bom prato junto ao
piracicabano. Funcionou no cruzamento das avenidas Independência com Carlos
Martins Sodero. Sua inauguração ocorreu em 10 de junho de 1967 e foi um dos
palcos da comemoração do bicentenário da cidade, com presença do governador
Abreu Sodré e do prefeito Luciano Guidotti. Entre os empresários que criaram o
centro gastronômico estava Armintos Raya, do Challet Paulista e Casa Raya.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">De
garçonete a dona de seu próprio negócio. Como bem nos ensina Cecílio Elias
Netto em seu “Memorial de Piracicaba”, Bergardina Augusta Maygton Ribeiro
deixou São Pedro para trabalhar no bar Nova Aurora, praça José Bonifácio,
criando, em 1943, a padaria Vosso Pão, próximo ao local anterior. Deixou
história e ainda hoje o estabelecimento é reverenciado por aqueles que aqui
vivem.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Entre
os fornecedores de restaurantes estavam os Wagner (avô de Renato Wagner) e
Reynaldo Röhsler. O Almanak de Piracicaba para 1900 cita que a cidade tinha ao
menos oito cervejarias. Reynaldo dividia a rua Benjamin e sua produção de
chope, junto a cervejaria Micchi e Rutter. Outro fornecedor foi Luis Augusto de
Ledo, comerciante. No mesmo Almanak figura anúncio do Empório das Novidades
dizendo ter sortimento de vinhos, licores e outras bebidas finas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Voltemos
algumas linhas e vamos falar de Jacob Wagner, avô de Renato. Foi proprietário
de uma fábrica de cerveja, licores e refrigerantes que funcionou onde está hoje
a rua dom Pedro II com a Benjamin Constant, no final do século 1800,
anteriormente num pequeno barracão situado à atual avenida Beira Rio, perto da
Boyes. Era atração na saída do Teatro Santo Estevão, onde comercializava sua
produção. José Zambello, italiano de nascimento, foi o responsável pela Fábrica
de Cerveja Única, em 1907, situada na avenida Rui Barbosa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Lá
por volta dos anos 1950, funcionava a Produtos de Bebidas Paulista, na rua
Benjamin Constant, depois da avenida dr. Paulo de Moraes. Abrahão Zaidan era o
responsável. Fabricava licores, xaropes, aguardente, vermute, vinho de cana,
conhaque de uva e a Caninha Zaidan. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Não
a toa, Piracicaba mantém esta fama com as cervejarias Cevada Pura, Leuven,
Tutta Birra, Dama Bier e outras. Tradição que percorre mais de um século. E,
com isso, temos acompanhamentos gastronômicos como a pizza o dia todo, algo que
até os anos 1980 só era fabricada e consumida a noite. O pastel era item
obrigatório apenas e exclusivamente no Mercado Municipal. Hoje está em qualquer
varejão municipal e também nos aplicativos. Sinais do tempo. Nos tornamos
sedentários e muitas vezes nada satisfeitos com o prato que temos a mesa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Para
uns, a ceia é farta. Para outros, “farta” a ceia. Pense nisso...<o:p></o:p></span></p><div style="text-align: center;"><i>Publicado no Jornal de Piracicaba de 23 de dezembro de 2023.</i></div><p></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-77200197778336149602023-12-21T22:51:00.003-03:002023-12-24T13:38:55.764-03:00Divagações natalinas sobre Dickens<p style="text-align: center;"> <b><i><span style="font-size: 12pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b></p><p style="text-align: center;"><b><i></i></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitBSBPTprhg7YE7Fk-xiEEki3_8HaVRMFiAucaBCqLR1qiYhPYeb5eA-A11Lg_7dlHB8sfbYDqwz9Dar7eIH7G_mOr8wkPV3d8mvYmIEMFiDA5sRjOadUoej8oOWDLx54F4ZoZvh_Sbm3Z-yUBX24VtjAQt_ALu57i9K-dFyFa2cqQH-81nNUN8T16iVI/s1964/1200px-Marley's_Ghost-John_Leech,_1843.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1964" data-original-width="1200" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitBSBPTprhg7YE7Fk-xiEEki3_8HaVRMFiAucaBCqLR1qiYhPYeb5eA-A11Lg_7dlHB8sfbYDqwz9Dar7eIH7G_mOr8wkPV3d8mvYmIEMFiDA5sRjOadUoej8oOWDLx54F4ZoZvh_Sbm3Z-yUBX24VtjAQt_ALu57i9K-dFyFa2cqQH-81nNUN8T16iVI/w392-h640/1200px-Marley's_Ghost-John_Leech,_1843.jpg" width="392" /></a></i></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><i><br /></i></b></div><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Blem
! Blem ! Dez outros blens até completar meia-noite nos sinos da Catedral de
Santo Antonio. Ainda insone na cama, retiro meus óculos, acelero o ventilador
para afagar o causticante calor de Piracicaba. Noto que, em meu peito, repousa
um livro que estava lendo. “Histórias de fantasmas”, coletânea de contos de
terror de Charles Dickens, escritos cerca de 200 anos atrás. Não sei por qual
motivo, mas havia parado no conto de duendes que sequestram um coveiro. <o:p></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 12pt;">Eis
que me dou conta da presença de alguém sentado em meu quarto. Pronto ... seria
a insolação depois de um dia exaustivo com temperaturas próximas aos 40 graus ?
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 12pt;">-
“Não, senhor ! Sou o fantasma do passado”, disse-me pausadamente. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 12pt;">“Cáspita
! Bem hoje que começam minhas férias?”, balbuciei ... Levanto não de camisolão
como vestia Ebenezer Scrooge mas sim de shorts buscando uma camiseta para me
cobrir. “Vamos lá seu fantasma do passado, mas não vamos muito longe, não”,
disse eu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 12pt;">Ele
me fita. Indaga o que queria eu dizer com “tão longe”. Emendei: não
geograficamente e sim pela cronologia. Nada disse, mas como num filme
hollywoodiano o relógio volta para trás ... 2000 ... 1990 ... 1980 e estaciona
em 1970. Pensei ... ao menos num período que comecei a viver. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 12pt;">Não
sou tão avaro quanto Scrooge, nem tenho o seu potencial financeiro. Por que
então fui escolhido para viajar na cola do fantasma do Natal passado ? Talvez pelas
histórias que vem diariamente por nossas cabeças, não buscando erros ou acertos,
mas relembrando com nostalgia de um tempo que não volta mais. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 12pt;">Num
clima festivo vamos à rua Governador Pedro de Toledo, com famílias passeando e
visitando as vitrines lindamente decoradas. Perdíamos um tempo danado babando
nas vitrines que nos apresentavam desejos de consumo impossíveis. Como eram
lindas a Loja da Lua, A Musical, Joias Caruso, Briveste e a Som 6 onde ouvíamos
música e sequer comprávamos um LP. Que linda decoração da Casa Raya ao lado do
Jornal de Piracicaba: colocaram um Papai Noel pedalando uma bicicleta
ergométrica. Valeu, seu Armintos Raya ! E aquele bando ali ? “Eles pensam em
fazer um salão de humor”, diz o fantasma...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 12pt;">Bom
... a noite é curta. Natal Presente me leva para os anos 1980. Vemos a praça
José Bonifácio ganhar novos contornos. Irá virar um calçadão. Monumentos para
fora. Opa ! Um pouco mais para a frente do tempo, a cidade ganha dois
“shoppings” o Zilliat e o Cidade Alta. Era aquilo que hoje chamamos de malls.
Shopping mesmo só viria em 1987. Nada mais ter que ir a Campinas para compras. Na
ESALQ, famílias passam para ver a iluminação colocada nos prédios. Mesmo local
onde o Guarantã apresenta sua “Paixão de Cristo”, depois levada para o parque
da rua do Porto. A praça Alfredo Cardoso em frente ao Mercado Municipal lotada
de ônibus. Intransitável ... Placas de todas as cidades da região. Eram as
aulas da Unimep no campus Centro. Repentinamente, silêncio ensurdecedor. “Poxa,
fantasma do Natal Passado, agora doeu ... nos anos 80 minha geração chegava aos
18 anos ... podia tirar carta ... foi aí que perdi amigos de infância com suas
motos, em inabilidades que poderiam ser evitadas, e tê-los ainda hoje ao nosso
lado”, sussurro com uma lágrima.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 12pt;">Anos
1990 chegam com uma novidade chamada Cabo Total, televisão por cabo. Adeus, tv
com chuvisco ! E aquilo ali na Paulista ? Que aglomeração. Era o Sambódromo da
cidade. Nossa ! Nem me lembrava mais !<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 12pt;">Anos
2000 ... Anos 2010 ... Muita coisa passou em tão curtos minutos. Impossível
descrever aqui... Fim de 2019, na China um vírus mata milhares diariamente.
Instala-se a pandemia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 12pt;">Uma
sirene na rua me joga para o outro lado da cama. Uma da madrugada. Eu deitado
na cama. Tomo um gole de água. Faz 31 graus. Coloco o livro de terror de
Dickens de lado e durmo. Deixemos o futuro para amanhã.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><i>Publicado no Jornal de Piracicaba de 20 de dezembro de 2023 e na Tribuna Piracicabana de 23 de dezembro de 2023.</i></p></div><p style="text-align: center;"><b><i><br /><span style="font-size: 12pt;"><br /></span></i></b></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-41869691179129457242023-12-06T22:06:00.002-03:002023-12-17T23:03:51.307-03:00Os Boyes<p> </p><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Edson
Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de
Piracicaba</span></i></b><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Afinal, quem foi
Boyes? É um nome pronunciado à exaustão na atualidade. Muitos sabem o que é a
Boyes, o complexo industrial criado à margem esquerda do rio Piracicaba para
suprir o mercado nacional de tecidos, oriundo da Fábrica de Tecidos Santa
Francisca, projetada por Luiz de Queiroz e que existiu por cerca de 20 anos,
sendo negociada em troca de dívidas. No início do século passado, fábrica virou
Arethusina e depois foi denominada Cia. Industrial e Agrícola Boyes. Para
muitos, simplesmente Boyes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Luiz de Queiróz, passou
mais de uma década e meia estudando na Europa. Percorreu vários países.
Retornou ao Brasil para reclamar a herança deixada pelo pai, o barão de
Limeira. No Velho Mundo, ouviu falar muito de um inglês com ideias inovadoras
na engenharia que chegou a realizar projetos na Bélgica. Eis que o convida a
vir para Piracicaba. Arthur Dryden Sterry veio para dirigir a fábrica. Nasceu
em 1854 e viveu pouco: 42 anos, falecendo na capital paulista em 13 de abril de
1897. Aliás, foi em São Paulo que conheceu sua esposa, Ambrosina Bernardes
Sterry. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O casal teve seis
filhos, entre eles Elvira Sterry, nascida em Piracicaba no dia 13 de maio de
1886. Ela foi casada com Herbert James Singleton Boyes, assumindo assim o nome
Elvira Sterry Boyes. Começa aí a saga da denominação que conhecemos hoje.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Herbert James
nasceu em 16 de outubro de 1881 (Swinton, Inglaterra), falecendo aos 65 anos em
29 de setembro de 1947. Está sepultado no Cemitério dos Protestantes, na
capital paulista. Atuou como gerente da Cia. Industrial de São Paulo e foi sócio,
com seu irmão, das fábricas São Simão e São Bernardo. Era um empreendedor que
conseguiu sucesso em terras tupiniquins.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Sua esposa Elvira
foi a responsável por influenciar o esposo e o cunhado para comprarem a fábrica
de tecidos. A alegação é das boas lembranças do passado que deveriam ser
perpetuadas. Herbert e Alfred Simenon Boyes constituíram, assim a Boyes Irmãos
& Cia. Em 11 de março de 1918, ambos adquirem a fábrica de tecidos criada
por Luiz de Queiroz, então denominada Arethusina. Era a mesma situada ao lado
do rio Piracicaba, onde hoje está a avenida Beira Rio. Sofreu transformações ao
longo da gestão dos Boyes ampliando sua estrutura e contratando mais mão de
obra.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A fábrica e o
palacete situado ao lado foram comprados pelos Boyes das mãos de Rodolfo
Nogueira da Costa Miranda, dono das propriedades, desde 1902. A residência era
– e ainda hoje é – invejável e imponente, com jardim climático e produção caseira
de algodão. Embora o piracicabano pense que a mesma está aberta para
visitações, a residência é particular e conserva ares do século XIX. Ocupa as
então denominadas ruas dos Pescadores (Prudente de Moraes), entre Vergueiro e
Flores (Treze de Maio), perto do salto do rio Piracicaba. Foi nestas
proximidades que Luiz de Queiroz criou uma espécie de cais onde escoava em
barcos a produção de tecidos de sua fábrica. Antes, nas duas décadas finais dos
anos 1800, o transporte era feito por tração animal e por trens.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Herbert e Elvira
impulsionaram as filhas para o negócio. Kathleen Mary (falecida em 7 de outubro
de 1991) foi diretora-presidente da Boyes, assim como Dóris, em conjunto com o marido,
Norman, também dirigiu a fábrica. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Segundo a
historiadora e professora Marly Therezinha Germano Perecin, em seu livro
“Síntese Urbana” (IHGP, 2009, 2ª. edição), Piracicaba possuía, no período da
aquisição da fábrica de tecidos pelos Boyes, em 1918, grandes empregadores como
o Engenho Central (da Societé de Sucrérie Brésilienne), Engenho Central Monte
Alegre (do comendador Puglisi), Fábrica de Tecidos Arethusina e a Casa Krahenbühl
(de Frederico Krahenbühl), empresas de peso com força motriz para mover uma
cidade com cerca de 18 mil habitantes. Foi o início de um processo evolutivo
industrial e comercial que tomou franca expansão apenas nos anos 1970 com a
criação de incentivos fiscais e elaboração de distritos industriais moldados
pela municipalidade. Pioneirismo existiu, não apenas com estas empresas, mas
também com o comércio que vivia outra realidade. Uma destas situações é a
matéria prima da Boyes. Se inicialmente Luiz de Queiroz fazia tecidos para
roupas, os Boyes diversificaram sua linha de produção, encerrando sua jornada
com a produção de sacarias para arroz, café e outros itens similares.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Cabe lembrar que
Herbert James trouxe a Piracicaba um colega que conheceu na Europa e que deixou
marcas na cidade: Louis Clement, engenheiro têxtil e administrador de empresas,
ocupando o cargo de diretor da Boyes, um dos corações mais bondosos que a
cidade teve, auxiliando na construção de várias entidades assistenciais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Samuel Pfromm
Neto lembra a além do complexo industrial, a Vila Boyes foi tradicional em
Piracicaba e no bairro São Dimas, além de denominar de Vila Boyes o estádio da
Associação Atlética Vila Boyes. Há uma rua Elvira Boyes no Jardim Morumbi,
junto à av. Dois Córregos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><i>Publicado no Jornal de Piracicaba de 3 de dezembro de 2023 e na Tribuna Piracicabana de 9 de dezembro de 2023</i></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-29128876179897724602023-11-26T21:33:00.004-03:002023-12-17T23:02:53.282-03:00O embrião da Boyes<p style="text-align: center;"> <b><i><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Edson
Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de
Piracicaba</span></i></b></p><p style="text-align: center;"><b><i></i></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh88KcZgI0_9bFScSMBdLn80CkG0ktjbxnc78f8V2IEw4SQH4Ps8MNQl-4UBfK-lWO5aJnGNW-WvF6vzFdXpDYw8ZqHgBLHziuTkfUQkjvtnBqNF9969bZd-MSFEeCB9LLl5PIuaYQwwc_Z-IjDCzyUMN6bNRtRtbpq6daYU2W9ksTJ0AO8Meeew5mr9_o/s2048/1%20IHGP%202623.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1352" data-original-width="2048" height="422" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh88KcZgI0_9bFScSMBdLn80CkG0ktjbxnc78f8V2IEw4SQH4Ps8MNQl-4UBfK-lWO5aJnGNW-WvF6vzFdXpDYw8ZqHgBLHziuTkfUQkjvtnBqNF9969bZd-MSFEeCB9LLl5PIuaYQwwc_Z-IjDCzyUMN6bNRtRtbpq6daYU2W9ksTJ0AO8Meeew5mr9_o/w640-h422/1%20IHGP%202623.jpg" width="640" /></a></i></b></div><b><i><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span></i></b><p></p><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></i></b></p><p><span style="background-color: #fff9ee; color: #222222; font-size: 12pt; text-align: justify;">Pegou fogo no vagão 22 da Cia. Férrea Ythuana. Nele estava
uma carga de algodão em rama, adquirida por Luiz de Queiroz que seria manufaturada
para criar tecidos em sua fábrica Santa Francisca. Esse era o teor de uma
manchete do jornal “Gazeta de Piracicaba” de 6 de abril de 1878.</span></p><p>
</p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="background: rgb(255, 249, 238); color: #222222; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Tal fato mereceu destaque na imprensa local tamanha era credibilidade
que possuía a empresa inicialmente denominada Santa Francisca, depois
Arethusina e finalmente Boyes. Era uma das três principais indústrias da
cidade, junto à Usina Monte Alegre e Engenho Central.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Este princípio
serve para relatar a importância que teve na cidade o empreendedor Luis de Queiroz
que, embora tenha vivido pouco – faleceu aos 49 anos – deixou grandes marcadas
na cidade. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Nascido em um bom
berço, Luiz Vicente de Souza Queiroz (nasceu e faleceu em São Paulo, 1849/1898)
vinha de família abastada sendo filho do barão de Limeira - Vicente de Souza Queiroz
- e de Francisca de Paula Souza, filha do conselheiro senador Antônio Francisco
de Paula Souza, o criador da Escola Politécnica de São Paulo. Era o quinto de
15 filhos. Casou-se com Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz, filha do conselheiro
do Imperador, senador do Império e engenheiro Christiano Benedicto Ottoni. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Sua saga começa
quando parte para a Europa aos oito anos, permanecendo no exterior por 16 anos,
nos quais estudou agronomia e veterinária na França e Suíça. Em 1873 ele regressou
ao Brasil para tomar posse da herança deixada pelo pai. O processo de herança
ocorreu na capital paulista, no cartório 2º Ofício de Órgãos e Ausentes, dando
a Luiz a Fazenda Engenho D’Água, na época um mundaréu de capim situado à margem
esquerda do rio Piracicaba. Surgia no local o embrião daquilo que conhecemos
por Boyes. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A fazenda havia
sido comprada pelo Barão de Manuel Rodrigues Jordão e, quando vendida ao barão
de Limeira, já possuía moinho, monjolo e serraria, tudo movido com a força da
água. Já notou que há um desvio do Piracicaba para dentro da Boyes ? Pois bem,
como não existia energia elétrica na época, a força da água era captada para
gerar energia. Segundo Maria Celestina Teixeira Mendes Torres em “Piracicaba no
Século XIX” (Editora IHGP), foi a primeira usina termelétrica do interior.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A história diz
que em 1º de julho de 1874 são iniciadas as obras da empresa que décadas depois
seria conhecida por Boyes, data em que foi colocada a pedra fundamental do
empreendimento, abençoada pelo reverendo padre João de Almeida. A cidade parou.
Houve música tocada por uma banda e servido “refresco” a determinados
convidados numa casa próxima à fábrica de tecidos. Luiz de Queiroz foi recebido
na mesma noite para uma ceia animada acreditando no benefício que a nova
indústria viria a trazer a Piracicaba. “Um brinde ao amante do progresso” teria
dito alguém. Oficialmente, a data de inauguração da Fábrica de Tecidos Santa
Francisca ocorre em 23 de janeiro de 1876.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em 23 de setembro
de 1876 o jornal “O Piracicaba” publicava anúncio dizendo que a fábrica de
Queiróz tinha produtos que se equiparavam ao produzido em Petrópolis e vendia
panos de primeira linha dos tipos tinto, riscado e mesclado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A cidade
novamente se desenvolvia à margem do rio Piracicaba. Foi na Boyes que surgiu a
primeira linha de telefone na cidade. Ela ligava a empresa de tecidos à Fazenda
Santa Genebra, não muito distante dali. O assunto foi noticiado pela Gazeta em
11 de outubro de 1882. Curiosidade: os postes de telefone passaram a ser
atração aos moradores. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Outro
pioneirismo: a instalação da luz elétrica. Na época, os postes era acessos com
querosene e apagados no meio da noite por um funcionário público. A luz
elétrica – em residência particular, portanto, não iluminação pública – teve
seu auge na cidade durante a visita do Conde e da Consessa d’Eu (ela, a
Princesa Isabel). Vieram para Piracicaba em 12 de novembro de 1884 visitando a
fábrica de tecidos e o Palacete Boyes. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Capitalista, Luiz
de Queiróz era uma pessoa que fazia dinheiro com o próprio dinheiro. Vivíamos
numa época em que os tecidos eram comprados por rolos ou como se dizia
antigamente por “fazenda”. Não existiam roupas prontas como temos hoje. Eram
feitas por habilidosos alfaiates e demoravam dias ... semanas ... para ficarem
prontas. Assim, a fábrica de tecido supria o mercado de uma necessidade vital
num período em que a moda exigia vestidos longos com mangas compridas para
mulheres e paletós para os homens. Tanto que a concorrência botou “zóio gordo”
na Santa Francisca. Em 2 de outubro de 1890 a Câmara de Vereadores indefere o
pedido de Antonio Teixeira Mendes e Manuel Pereira Granja de construírem uma
fábrica de tecidos entre a fábrica de Queiroz e a praça André Sachs. E viva o
monopólio ! <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em abril de 1893,
Queiróz incorpora todo seu patrimônio, depois de quase 20 anos de atividade, à
Companhia de Cultura de Tecidos de Algodão S/A, sediada no Rio de Janeiro.
Leandro Guerrini em “Piracicaba em Quadrinhos – Volume 2” diz que a
incorporação não deu certo. Em 1897 a empresa encerra temporariamente suas
atividades. Mas a história continua ...<o:p></o:p></span></p><div style="text-align: center;"><i>Publicado no Jornal de Piracicaba de 26 de novembro de 2023 na Tribuna Piracicabana de 2 de dezembro de 2023.</i></div><p></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-55733785517432425992023-11-23T22:38:00.008-03:002023-11-27T20:51:20.732-03:00Para Arethusa<p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Edson
Rontani Júnior, jornalista, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de
Piracicaba<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"> </span><i><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">“À
Arethusa, meu grande amor, quero dedicar-te esta obra pela devoção de seu amado
marido eternizando seu nome para o futuro”.</span></i><span style="text-align: left;"> </span></p><p style="text-align: center;"><br /></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Calma ! Peralá !
Claro que isso saiu da imaginação deste autor. Mas pode ter acontecido, já que
a Fábrica de Tecidos Arethusina recebeu este nome por admiração que Arethusa
Miranda recebia de seu marido, Rodolpho Nogueira da Rocha, fluminense de
Rezende nascido em 1860 e falecido em São Paulo em 1941. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Foi ele um dos
proprietários daquilo que conhecemos por Boyes. Eram outras épocas, sendo que
Arethusina foi a segunda de três denominações que o espaço recebeu. Devoção
amorosa de um empreendedor à sua consorte. Anteriormente, o nome comercial do
espaço era Fábrica de Tecidos Santa Catarina e depois Companhia Industrial e
Agrícola Boyes. Há registros de Samuel Pfromm Neto de que ela teria o recebido
também o nome de Tecidos Santa Francisca, quando ainda embrião deste
empreendimento industrial.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="background: rgb(255, 249, 238); color: #222222; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Começou pequena. Expandiu-se aos poucos até ter sua
história encerrada em 2005 devido à abertura do mercado para o comércio chinês:
era mais barato importar a sacaria do Oriente que produzi-la por aqui. Assim
como a cidade, a empresa surgiu e sua estrutura está fincada à margem –
esquerda – do rio Piracicaba, na atual avenida Beira Rio. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">De acordo com o
Almanaque de Piracicaba para 1955, organizado por Hélio M. Krahenbuhl e editado
por João Mendes Fonseca, tudo começou com um engenho d´água propriedade do
Barão de Limeira – Carlos Bartolomeu de Arruda –, local onde foi instalada uma
serraria, talvez a primeira de Piracicaba. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="background: rgb(255, 249, 238); color: #222222; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em seu auge, a Arethusina, conforme relato de Mário de
Sampaio Ferraz em “Piracicaba e sua Escola Agrícola” (1916), produzia ao ano
cerca 2 bilhões de metros de tecido. A forma da produção devia-se à três
turbinas de 250 cavalos cada uma, além de duas caldeiras. Sua produção era
feita com algodão nacional em rama. </span><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Produzia fiação e
tecidos. Estava entre as 21 maiores indústrias do Estado de São Paulo,
empregando 300 funcionários.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="background: rgb(255, 249, 238); color: #222222; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Rodolpho Nogueira – o devotado de Arethusa – era filho do
barão do Bananal (Luiz da Rocha Miranda Sobrinho). Este foi d</span><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">eputado
à Constituinte de 1891 (a segunda do país e a primeira da República) e deputado
federal de 1897 a 1909. Tinha força e boa exposição na política, sendo ministro
da agricultura em 1909, no governo do presidente Nilo Peçanha. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSry3CnnH2m-X76qNH1LCBdBlUqz67oCLx_HR4rgM8LfNAv6K96LgLuSj4zlttGrZoOu4rsVg77BrSDhVppjO5D6aRIAFTQgZ9gjdVnRrTUdiMIkNaYitJW9NfhlzX_URLsXVdgPtHuoRrqRHzo9_XsUVr6nBL6Y0LgVY9mFb80U2yn9veOcMqM9G7Tm8/s1600/2%20IHGP%20261123.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1064" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSry3CnnH2m-X76qNH1LCBdBlUqz67oCLx_HR4rgM8LfNAv6K96LgLuSj4zlttGrZoOu4rsVg77BrSDhVppjO5D6aRIAFTQgZ9gjdVnRrTUdiMIkNaYitJW9NfhlzX_URLsXVdgPtHuoRrqRHzo9_XsUVr6nBL6Y0LgVY9mFb80U2yn9veOcMqM9G7Tm8/w640-h426/2%20IHGP%20261123.jpg" width="640" /></a></div><br /><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><i>A Boyes em foto dos anos 1960 (Acervo IHGP)</i></span><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Seu filho
Rodolpho Nogueira produziu na Arethusina um dos melhores tecidos do país, igual
ao importado da França. <span style="background: rgb(255, 249, 238); color: #222222;">Todo seu
tecido era consumido principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas
Gerais. Servia de base para alfaiates fazerem ternos, camisas, vestidos e
calças. <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="background: rgb(255, 249, 238); color: #222222; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A empresa utilizou-se da massa falida da Tecidos Santa
Francisca que funcionou até 1900. Usou parte inicial da estrutura que
conhecemos hoje como Boyes. Na ocasião, fo</span><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">i vendida a um
sindicato, do qual fazia parte o engenheiro Buarque de Macedo. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="background: rgb(255, 249, 238); color: #222222; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Samuel Pfromm Netto no seu “Dicionário de Piracicabanos” (Editora
IHGP) diz que a fábrica foi adquirida e colocada como crédito para uma dívida
junto ao Banco da República do Brasil. O banco vendeu-a a Rocha Miranda que a
reativou em 1902. Seu filho homenageou a esposa Arethusa com sua nova
denominação, numa administração que durou até 1918. Depois virou a Cia. Industrial
e Agrícola Boyes, ou simplesmente Boyes, nome perpetuado até hoje.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="background: rgb(255, 249, 238); color: #222222; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Nesta transação surge o nome de Buarque de Macedo, que
mudou do Rio de Janeiro em 1898 para administrar a Arethusina.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">“A Fábrica de Tecidos
Santa Francisca (sic), tecelagem de algodão construída em 1874 por Luiz de
Queiroz (v.) e inaugurada a 23.1.1876, tinha sido vendida a um sindicato do Rio
de Janeiro, do qual Buarque de Macedo participava”, capitula Pfromm em seu
“Dicionário”. Alguns dados contestáveis como nome e datas ... Com a aquisição,
Macedo foi um dos proprietários e gerente, residindo no palacete situado ao
lado da Arethusina, conhecido por Palacete Luiz de Queiroz, propriedade que
veio junto na transação. Macedo era empreendedor e adquiriu o Engenho Monte
Alegre em 1899 e foi um dos criadores do Jornal de Piracicaba em agosto de
1900.<o:p></o:p></span></p><p>
</p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Piracicaba foi
uma das primeiras cidades do país a ter energia elétrica. Não por idealismo,
mas por necessidade comercial. Para sua fábrica de tecidos funcionar com
equipamentos modernos para a época, precisava de geradores que formaram uma
usina hidrelétrica – no seu respectivo porte – fornecendo luz para a empresa e parte
da cidade, em 1892. Luiz de Queiróz instalou postes e lâmpadas vindas de Nova
Iorque. Crianças a quebravam as lâmpadas durante a noite colocando a avenida
Beira Rio na escuridão. Na época, falava-se que os Moraes Barros pagavam para
moleques destruí-las pelas divergências políticas que tinham com Luiz de
Queiroz. Se foi com bodoque ou não, nem Arethusa sabia responder. Continua ...<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><i>Publicado no Jornal de Piracicaba de 19 de novembro de 2023 e na Tribuna Piracicabana de 25 de novembro de 2023.</i></span></p><p><br /></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-47397364702521158982023-11-16T20:57:00.001-03:002023-11-16T20:57:03.611-03:00Cartolas alvinegros<p style="text-align: center;"> <b><i><span style="font-size: 12.0pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">As estrelas do futebol são aquelas entram em campo. Os
jogadores são os nomes mais populares neste esporte. É por estas estrelas que a
torcida exprime sua paixão. Mas nos bastidores, muitos jogam as cartas. São
dirigentes, treinadores, membros de conselhos etc etc etc... São as pessoas que
definem os passos do time.</span></p><p>
</p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-themecolor: text1;">O primeiro cartola do nosso E. C. XV de Novembro de
Piracicaba era o capitão da Guarda Imperial Carlos Wingter (também
cirurgião-dentista). Amava o esporte importado da Inglaterra que duelava, à
época, com o basquete dos norte-americanos. Ambas as disputas foram
incorporadas no cotidiano brasileiro no processo migratório do final do século
19. O próprio Wignter entrou em campo para chutar a pelota. Ele participou do 15
de Novembro, uma agremiação que existiu extraoficialmente em Santa Bárbara D’Oeste,
no final da década de 1900. O time jogava em praça de esportes localizada no
terreno em que hoje está instalada a Cia. Fiação e Tecelagem Santa Bárbara. Em
1913 ele presidiu pela primeira vez nosso XV que completa 110 anos de fundação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-themecolor: text1;">Além de Wingter, outro dentista presidiu o alvinegro:
Luiz Lee Holland, formado pela Escola de Odontologia Washington Luiz. Os mesmos
passos foram seguidos por Enéas Lemaire de Moraes, dentista e presidente do
alvinegro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-themecolor: text1;">Logo no início de sua criação, os próprios jogadores eram
dirigentes, como o caso de Tibúrcio de Oliveira, que além craque da pelota foi
vice-presidente do alvinegro da primeira diretoria eleita pelo XV no dia 4 de
dezembro de 1913. Era músico (da Banda União Operária) assim como Erotides de
Campos, também membro da primeira diretoria do XV.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-themecolor: text1;">Entre os técnicos do passado, alguns nomes hoje são pouco
lembrados, como Pelegrino Adelmo Begliomine, que antes do XV jogou no
Palmeiras, Corinthians e Fluminense. Ficou na cidade no ano de 1954. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-themecolor: text1;">Entre os “cartolas” do alvinegro, muitos tiveram posição
de destaque na sociedade, com ênfase aos comendadores nos anos 1940 a 1960.
Antônio Cera Sobrinho presidiu o XV de 1956/57 e de 1960/61. O belga Louis
Clement foi um mecenas para a cidade auxiliando obras como a construção da
segunda torre da Matriz de Santo Antonio ou o Mosteiro das Carmelitas
Descalças. No esporte, presidiu a Associação Atlética de Vila Boyes e foi
conselheiro do XV. Jacob Diehl Netto foi outra personalidade que presidiu o XV.
Também dirigiu por dez anos o Clube de Regatas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-themecolor: text1;">O comendador Leopoldo Dedini chegou a ser vice-presidente
do alvinegro local. Luiz Dias Gonzaga, prefeito da cidade nos anos 1930, também
presidiu o XV (1960/61) e, em 1948, liderou ação na cidade para reforma do
estádio do XV (depois Estádio Roberto Gomes Pedrosa). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-themecolor: text1;">Luiz De Francisco (1909/1983) atuou como futebolista, dirigente
esportivo e jornalista, escrevendo e divulgando sobre o esporte local por 35
anos no <b>JP</b>. José Luiz Guidotti, escritor e árbitro de futebol, em 1965
também esteve à frente da presidência do time. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-themecolor: text1;">Cartolas de renome tiveram total envolvimento com a sociedade
como Antonio Romano, Romeu Ítalo Ripoli e Humberto D’Abronzo, entre tantos
outros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-themecolor: text1;">D’Abronzo teve larga ascensão na cidade como industrial.
Junto a Armando Dedini quis elevar o Clube Atlético Piracicabano à divisão
principal do futebol, acreditando que a cidade merecia outro time além do XV
nesta posição. Não deu certo. Presidiu o XV em 1966/68 quando o time retornou à
divisão principal depois de ter sido rebaixado dois anos antes. Foi uma época
de ouro, pois o alvinegro ganhava da municipalidade um estádio novo, o Barão da
Serra Negra, e Piracicaba estava em efervescência devido às comemorações de
seus 200 anos. “O entusiasmo e a dedicação extrema ao clube fizeram dele um
verdadeiro baluarte do futebol, chegando a ser cotado para prefeito em 1968”,
escreveu Samuel Pfromm Neto. O trabalho dos bastidores também é história.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><span style="color: black; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-themecolor: text1;"><i>Publicado no Jornal de Piracicaba de 15 de novembro de 2023 e na Tribuna Piracicabana de 18 de novembro de 2023</i></span></p><br /><p></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-33053762678010735082023-11-12T21:50:00.004-03:002023-11-16T20:38:38.275-03:00Exaltação aos quinzistas<p> <b style="text-align: center;"><i><span style="font-size: 12pt;">Edson
Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de
Piracicaba</span></i></b></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Chegando aos seus 110 anos de fundação, o Esporte
Clube XV de Novembro de Piracicaba vem sendo exaltado nos últimos dias. Muito
de sua história se torna repetitiva e aqui o objetivo é destacar alguns dos
“esquecidos” que em muito contribuíram para nosso alvinegro. Esse universo vai
além dos comendadores que o dirigiram e dos medalhões que por ele passaram.
Para conhecer ou reler estas histórias, basta acessar o Google. Já aqueles que
cuja memória foi perdida com o passar do tempo merecem ser relembrados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold;">O XV estreou no dia seguinte à sua fundação, 16 de
novembro de 1913, perdendo por 2 a 0 para o Sport Recreio Normalista. O time
era formado por Alberto Franklin Oliveira, Vicente Mastrandéa e Antônio Dihel,
Francisco Pelegrino (Paco), Antonio de Laringa e Belmácio Pousa; Edmundo
Huffenbacher (Guinho), Milton Salvinho Provenzano, Francisco Pousa e Luciano
Servija. No banco de reservas: Laércio e José Pousa de Toledo (Tutu Pousa). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Poucos devem se lembrar. O alvinegro foi campeão do
Torneio Interior Paulista de 1935, organizado pela Associação Paulista de
Esportes Atléticos. O time possuía em seu elenco os Alcides I e II, Áureo,
Godoizinho, Leme, Moacir, Mônaco, Petrônio, Nenzo, Roque e Venerando, numa
época que o esporte futebolístico era mais diversão do que profissionalismo.
Cabe abrir um parêntese aqui. Na época, o futebol não era visto, remunerado e
reverenciado como hoje. As primeiras copas mundiais as quais a Seleção
Brasileira enfrentou ocorreram “na raça”: os jogadores viajavam para o exterior
em navios cargueiros, e dormiam entre sacos de café, arroz e feijão. A estes
heróis é dedicado este texto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Gente que ficou nos bastidores e sequer entrou para
a história, como os responsáveis pela iluminação noturna (uma revolução na
época) em 1941 no então Estádio do XV, depois Estádio Roberto Gomes Pedrosa
(onde encontra-se hoje o Assaí, Centro). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Vale citar outros pioneiros, como o argentino José
Agneli que figura no panteão do alvinegro piracicabano. Foi treinador do XV de
1951 a 1954 criando estrutura e organograma do time que havia subido para a
elite do futebol paulista em 1949. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Thales Castanho de Andrade foi além da dedicação à
literatura. Com Monteiro Lobato divide o pioneirismo da escrita voltada para as
crianças, com obras publicadas nos anos 1920 e 1930 pela Editora Melhoramentos.
Também presidiu o E. C. XV de Novembro. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Outro expoente das artes, Erotides de Campos também
tem seu espaço no amado XV. Foi um dos fundadores do time em 1913 atuando como
primeiro secretário da primeira diretoria do alvinegro. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Silvio Lagreca (1895/1967) foi renomado jogador do
XV nos anos 1920, atuando em times de São Paulo e Rio de Janeiro, sagrando-se
campeão paulista e brasileiro. Era irmão do poeta Francisco Lagreca. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Outro artista que passou pelo elenco, foi Antônio Osvaldo
Ferraz, Tonico, sócio de Haldumont Campos Ferraz (Tico da Farmácia) na Farmácia
Coração de Maria, ao lado da matriz de Santo Antonio. Na adolescência defendeu
o alvinegro e anos depois dedicou-se ao ensino. Foi colaborador de diversos
jornais. Editou “Folclore”, revista reverenciada pelo modernista Mario de
Andrade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold;">A multifuncionalidade era necessária. “Bita” ou
Jamil Antônio (1927/2004) atuou como goleiro no time local além de ser árbitro.
Algo impensável: trocar o futebol pelo tênis. Isso ocorreu com Júlio Marcos
(1911/1998) que jogou no XV de 1941 a 1946 trocando o esporte pelo tênis em
1948, atuando por dez anos na área e considerado o tenista número um da cidade,
defendendo a equipe de tenistas do Clube de Campo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Uma citação a parte é de Belmácio Pousa Godinho
(1892/1980), um dos fundadores do XV e ala direita do time. Foi músico na
Orquestra Lozano. Além da bola, animava filmes mudos nos cinemas. Foi musicista
na época em que partituras musicais funcionavam como presente e discos de 78
rotações por minuto figuravam como elevado sonho de consumo. Em 5 de fevereiro
de 1916 a revista “O Malho”, editada no Rio de Janeiro, publicou em suas
páginas centrais a letra da música “Sport Club 15 de Novembro, Campeão
Piracicabano”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Gato Preto era a alcunha de João Marques de Oliveira
(1923/1995), goleiro do XV estreando no time aos 21 anos em 19 de março de
1944, três anos antes da criação do futebol profissional no estado. Foi campeão
do Torneio Início da Liga Piracicabana de Futebol. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold;">“Estrangeiros” que por aqui aportaram também
carregam o time no peito, como o caso de Severiano Alberto Ferraz (1869/1951),
farmacêutico nascido em Portugal (Madeira) e estabelecido em Piracicaba na
Farmácia Neves. Foi diretor de agremiações esportivas e um dos primeiros e maiores
compradores de “ações” para criação do XV no ano de 1913. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Exaltar heróis anônimos ou conhecidos é levar à
glória um time centenário amado por toda uma cidade, algo difícil de se ver nos
dias atuais. Esporte é uma linguagem universal que anima, envolve e cria
emoções, amizade e envolvimento. Parabéns a todos que construíram este século e
uma década deste ícone local.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold;"><i>Publicado no Jornal de Piracicaba de 12 de novembro de 2023 e na Tribuna Piracicabana de 15 de novembro de 2023</i></span></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-20037800358527896202023-11-09T20:46:00.006-03:002023-11-23T22:35:31.526-03:00Cinemas e cinemaníacos<p style="text-align: center;"> <b><i><span style="font-size: 12pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b></p><p style="text-align: center;"><b><i></i></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhN8T2tS6ddlegtpSvYDo44OGLRIceeVsORQ89zx8T7r18PYWhWrGE_shJyB133-D8IDvOrhwflw0995GM_KDSSSgYH8x7gR5pylUOK84EAgzDuFWm2th7NBQQ26XN0Wj4TqI2w2TPTu8fhENbUUVpZp8XEPEMCkEn79LFDDL7tSxjcTR5YG1BWJqm_7xY/s1903/9199300043_0ea9c5749e_o.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1903" data-original-width="1258" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhN8T2tS6ddlegtpSvYDo44OGLRIceeVsORQ89zx8T7r18PYWhWrGE_shJyB133-D8IDvOrhwflw0995GM_KDSSSgYH8x7gR5pylUOK84EAgzDuFWm2th7NBQQ26XN0Wj4TqI2w2TPTu8fhENbUUVpZp8XEPEMCkEn79LFDDL7tSxjcTR5YG1BWJqm_7xY/w424-h640/9199300043_0ea9c5749e_o.jpg" width="424" /></a></i></b></div><b><i><br /><span style="font-size: 12pt;"><br /></span></i></b><p></p><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></i></b></p><p style="text-align: justify;">A arte do cinema sempre foi vista como um escapismo à realidade. É o mundo da ilusão. Foi uma indústria multibilionária que criou consumidores, estrelas, sonhos, desejos ... É um entretenimento que está na moda há quase 130 anos. Ainda temos salas exibidoras com alto investimento, ao contrário de outras formas de exposição cultural, como os teatros, por exemplo. Ano passado, em “Babilônia”, Damien Chazelle fez uma elegia à sétima arte que explica como funciona todo este universo cheio de estrelas. Na sua esteira surgiram outras indústrias riquíssimas como a televisão, o Super 8, VHS, DVD e atualmente o streaming.</p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Piracicaba
sempre foi bem receptiva com esta arte, com cinemas e profissionais da
exibição. E, claro, a cidade teve seus amantes da telona. Por aqui funcionou o Clube
Piracicabano de Cinema, sendo presidido de 1949 a 1952 por Gastão da Silva Dias
(1924/2008). Ele foi um dos fundadores da Sociedade de Cultura Artística.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Outros
viram o cinema como fator mercantilista. Influente na cidade, tendo sido seu
prefeito em dois mandatos iniciados em 1926 e encerrados em 1932, José Barbosa
Ferraz foi proprietário do Teatro e depois cinema São José, cujo prédio ainda
existe na rua São José entre a Governador e a praça José Bonifácio. O teatro-cinema
possuía poltronas para duas mil pessoas. Foi construído pelo arquiteto Antonio
Borja Medina com teto pintado por Bruno Bacelli. Acertou quem pensou que esse
proprietário era o Coronel Barbosa, que levou nome no antigo Clube Piracicabano.
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Visionário
foi Medina (cujo nome chega a ser desconhecido), arquiteto e construtor. A
cidade deve a ele suas principais e clássicas salas exibidoras. Nos anos 1930
edificou o cine Broadway na São José (também foi o Tiffany e o Bingo Broadway)
ocupado hoje por um templo religioso. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">A
história remonta a união da imagem em movimento ao som. Com isso, surgem opções
de orquestras que animam as apresentações. Entre os músicos que sonorizaram a
tela grande está Belmácio Pousa Godinho (1892/1980), também um dos fundadores
do XV de Novembro. Integrou a Orquestra Lozano de Piracicaba através da qual criava
som aos filmes mudos na década de 1910. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwbUn-nYXiwUd78CHICBBd0_lV4ZpSDH_AWv8g1iQXi0AMke_Ew8XBNFTRpFt0NdmE00BoCnrKEwtZiTCDYCg5w8mqLu23cRfDQ7m7RVG5werve84KIZJejV4OYGNfn0QsKofLyH1XTO0DPEKThtSSQnFKp9MT1Au57-re1m0qq9OBajXEB320bK0tShs/s2650/9202074990_562522e851_o.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1880" data-original-width="2650" height="454" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwbUn-nYXiwUd78CHICBBd0_lV4ZpSDH_AWv8g1iQXi0AMke_Ew8XBNFTRpFt0NdmE00BoCnrKEwtZiTCDYCg5w8mqLu23cRfDQ7m7RVG5werve84KIZJejV4OYGNfn0QsKofLyH1XTO0DPEKThtSSQnFKp9MT1Au57-re1m0qq9OBajXEB320bK0tShs/w640-h454/9202074990_562522e851_o.jpg" width="640" /></a></div><span style="font-size: 12pt;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">A
Orquestra Lozano era capitaneada por Fabiano Sebastian Rodrigues Lozano. Este
criou em 1913, a Orquestra do Teatro-Cinema de Piracicaba que contou também com
Erotides de Campos como um de seus músicos. Note que estamos referindo aqui à
pesos-pesados da cultura local.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">A
orquestra teve participação de Perfetti, maestro no cinema Íris, Broadway e
Politeama. Carlos Brasiliense Pinto e Melita Brasiliense Pinto também tocaram
com Perfetti. Outras orquestras que abrilhantaram os cinemas locais foram
regidas por Zico Marzagão e Adolfo (ou Adolpho) Silva. Também participaram
deste time José de Aguiar (Aguiarzinho), Osório Aguiar Sousa e Totó Carmello.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">João
Baptista Vizioli (1902/1983) – advogado, vereador e vice-prefeito de Francisco
Salgot Castillon em 1959 – participou da orquestra que animou exibições dos
cines Íris e Politeama.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Francesco
Stolf foi quem criou o cine Politeama – o segundo – situado à praça José
Bonifácio nº 914, funcionando de 1954 a 1981 quando o espaço foi ocupado pelas
agências bancárias Itaú e Bradesco.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Se
a cidade era um celeiro de amantes do cinema e das salas exibidoras, cabe
destacar que também produziu obras. Jaçanã Altair Pereira Guerrini – com o
esposo Leandro Guerrini foi uma das fundadoras do IHGP – escreveu o livro “João
Negrinho”, adaptado para o cinema na década de 1950. A obra utiliza do
escravismo brasileiro para relatar a amizade de um negro e um branco unidos por
um padre que prega a igualdade racial e social.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">De
passado também vivemos e cabe lembrar de Victor Walker, um dos primeiros
exibidores fixos de cinema. Foi cenógrafo dos teatros na cidade na década de
1900.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Samuel
Pfromm Neto no seu “Dicionário de Piracicabanos” (Editora IHGP) evoca Romeu
Cândido Moraes (1918/2006) que dedicou boa parte de sua vida ao cinema. Foi
projecionista do Cine Brodway. Era responsável por escolher as músicas
executadas antes da exibição dos filmes. Participou do Clube Piracicabano de
Cinema lá por volta de 1950 emprestando filmes de sua coleção particular para
exibições públicas. O Clube funcionava como uma cinemateca com exibições nos
clubes Cristóvão Colombo, Coronel Barbosa e Sociedade Italiana. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Mais
recentemente, nos anos 1980, a cidade contava com o cine Broadway (demolido),
Rivoli (igreja), Colonial (desocupado), Paulistinha (comércio) e também a Sala
Grande Otelo / Cine Arte, no Teatro Municipal Dr. Losso Netto. São locais que
reuniram famílias e namorados. Atualmente a cidade consta com salas exibidoras
apenas no Shopping Center Piracicaba, com apresentações 2D, 3D e em 4K. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12pt;"><i>Publicado no Jornal de Piracicaba de 29 de outubro de 2023 e na Tribuna Piracicabana de 09 de novembro de 2023</i></span></p><br /><p></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-57422915137695806502023-11-01T23:31:00.006-03:002023-11-04T16:41:12.644-03:00Telas exibidoras em Piracicaba<p style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b> </p><p><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">Falar
em cinema no dias de hoje é evocar a nostalgia daqueles que, nos anos 1980,
foram ao Tiffany, Broadway ou Cines Center 1 e 2. É relembrar uma época em que
os filmes demoravam para chegar a Piracicaba. Lembrar da bala de menta comprada
na bomboniere e ressaltar que a pipoca no cinema surgiu muito tempo depois, não
falhando a memória, na segunda metade da década de 80 quando o Grupo Paris
Filmes instalou suas lojas exibidoras no Shopping Piracicaba, comandadas pelo
CEO Márcio Fracarolli e pelo gerente seu Silvio, figura de extrema educação e
finesse.</span></p><p style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8V200apcVBYwaqLSsGI7KpfvW1MAmW5bDI5GzOEYAsxJ5QJwY7TvRUxLRPxDniT97fOkdrkobueYBGgu3btY9YEdev7-C0Dl3_3bynEMoxQeiGw0uFT0CivKjZ13Va3W_t8qVh7hzJmOYXeI0sMU13nlH73__7RBLMdeLcRkaibHDrcNYG2VtqfVDm_E/s2011/9368990491_e2b3b65fb5_o.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1266" data-original-width="2011" height="402" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8V200apcVBYwaqLSsGI7KpfvW1MAmW5bDI5GzOEYAsxJ5QJwY7TvRUxLRPxDniT97fOkdrkobueYBGgu3btY9YEdev7-C0Dl3_3bynEMoxQeiGw0uFT0CivKjZ13Va3W_t8qVh7hzJmOYXeI0sMU13nlH73__7RBLMdeLcRkaibHDrcNYG2VtqfVDm_E/w640-h402/9368990491_e2b3b65fb5_o.jpg" width="640" /></a></div><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Samuel
Pfromm Neto tem estudo dizendo que os filmes cinematográficos possuem registros
de exibição desde 1896. Em outubro deste ano, Klene e H. Mewe apresentaram aos
cidadãos o “primeiro cinetógrafo projetando vistas naturais animadas”, em cinco
horários seguidos. O ingresso para a novidade – a fotografia em movimento – era
de 1 mil réis. E Piracicaba, entre os seus projetos pioneiros – entre eles a
iluminação elétrica, a fluoretação da água e outros – fez a exibição dez meses
após os Irmãos Lumière realizarem a primeira apresentação pública de cinema que
se tem história, em Paris.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">O
cinema também percorreu pelas mãos de Antônio de Mello Filho que exibiu filmes
no térreo do sobrado existente à rua Prudente de Moraes nº 112, com ingresso a
200 réis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Já
em 1901 possuía uma sala exibidora no Restaurante Porta Larga, de José Maria
Fernandes, um empreendedor nato, dono de confeitaria, restaurante e uma casa de
concertos líricos (ele cobrava ingressos de uma plateia que se reunia para
ouvir discos – cada ingresso custava 500 réis). Adquiriu um projetor Lumière,
vindo da França, no qual realizava exibições de filmes mudos. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRpF86vZsjWdVU2Twzm8ipvs6o3HaprSRADdlWYa-IB3zsIbWgW0HkEZaUpXc3p4JEZFkFuEeX5zMkKaTjvqwvRfCaum_arRlDjwMOVSvBPbKfa4bmhfhjoj195Mbc7AUgG2OH1Z5N8WqgMMVCP5xB2Lg9H7v_FIoTHkPh5CYeaxXIGtoWDW8pfj3w41o/s2006/9371782172_bdbdee17bc_o.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2006" data-original-width="1328" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRpF86vZsjWdVU2Twzm8ipvs6o3HaprSRADdlWYa-IB3zsIbWgW0HkEZaUpXc3p4JEZFkFuEeX5zMkKaTjvqwvRfCaum_arRlDjwMOVSvBPbKfa4bmhfhjoj195Mbc7AUgG2OH1Z5N8WqgMMVCP5xB2Lg9H7v_FIoTHkPh5CYeaxXIGtoWDW8pfj3w41o/w424-h640/9371782172_bdbdee17bc_o.jpg" width="424" /></a></div><br /><span style="font-size: 12pt;"><i>Broadway ou Tiffany na rua São José, ao lado da praça José Bonifácio</i></span><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">O
Teatro Santo Estêvão situado na praça 7 de Setembro (hoje José Bonifácio) foi,
além de teatro, uma sala permanente de cinema. Criado em dezembro de 1908, o
“Cinematógrafo Cháritas” tenha renda revertida à Santa Casa, dona do projetor
de filmes. Na mesma época, em barracão situado na rua Boa Morte, tivemos o
“Ideal Cinematógrafo”. Nada como conhecemos hoje. Mutas vezes, a plateia
assistia em pé aos filmes, que eram curtos, ou ainda sentados em cadeiras de
madeira. Os filmes eram mudos e existem registros de que para entender essa
nova narrativa (estávamos acostumados com o teatro e com os livros), havia uma
pessoa explicando : “olha ! o ator agora vai chorar porque a namorada lhe deu
um sopapo!”. Depois veio a sonorização ao vivo com piano ou orquestra. O som só
aparece no início dos anos 1930.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Hoje
é comum ir às salas existentes no Shopping Piracicaba, propriedades da
Cinematográfica Araújo, e ver nas filas pessoas com travesseiro ou almofadas.
Sim ! Isso ocorre pois existe um conforto danado nas salas, com poltronas que
reclinam como sofás ergométricos ou ficam estiradas como camas. É uma forma de
fazer as pessoas saírem de casa e terem acesso a uma experiência diferente.
Talvez até uma forma de atrair as pessoas numa época em que predomina o
streaming. O mesmo ocorreu nos anos 1980 com as proliferações das
videolocadoras. Para que sair de casa se em meu lar posso assistir ao filme que
quero ?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Quando
o som não era acoplado ao celuloide, a música ao vivo era executava para dar um
ar especial ao que ocorria à tela e também para tirar o marasmo de muxoxos,
pigarros, tosses etc etc etc. A Orquestra Piracicabana tocava em filmes e
também em apresentações solo nos cinemas Íris e Politeama. Osório Dias de
Aguiar e Sousa (1869/1937) foi um de seus máximos expoentes, utilizando também
o pseudônimo Orênio Sabaúna. Nos anos 20, ainda jovem, Jayme Rocha de Almeida
(1907/1964) era flautista nos cinemas. Depois virou agrônomo e professor da
Escola Agrícola.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Erotides
de Campos foi outro que animou exibições em cinemas. Foi contratado por Antônio
Campos para ilustrar as apresentações cinematográficas no seu Polytheama,
situado então à rua São José mais ou menos onde está hoje o Poupatempo
Estadual. O cinema foi desativado e no seu interior funcionou um rinque de
patinação. Os cinemas ocuparam por boas décadas a área central da cidade. O
Supermercado Jaú Serve na Governador, já foi Kalunga, Shopping Zilliat, Balas
Atlante e nos anos 1920 um cinema.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">J.
B. Andrade tinha empresa com seu nome a qual administrava os cines Broadway e
São José. Um dos seus funcionários, de prenome Max, era um exímio letrista
criando cartazes e letreiros. Isso tudo de forma artesanal. Além de
acomodações, os cinemas também tiveram pinturas que hoje deixam boquiabertos
qualquer um, como o Teatro (depois cinema) São José, cujo interior tem obras de
Bruno Barcelli. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Cabe lembrar que as
salas de teatro e cinema eram bem rentáveis. Eram diversões que não deixavam as
pessoas presas em casa. Anos mais tarde enfrentaram a concorrência do rádio e
mais depois da televisão. (I’ll be back)<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><br /></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;">(Publicado no Jornal de Piracicaba de 25/10/2023 e na Tribuna Piracicabana de 4/11/2023.</p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-87734072909515679342023-10-17T22:50:00.008-03:002023-10-17T22:50:55.482-03:00Restaurantes conceituados<p style="text-align: center;"> <b style="text-align: center;"><i><span style="font-size: 12.0pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista, presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b></p>
<p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">A
recordação me leva para uma noite quente lá por volta de 1988, época em que o
Centro de Piracicaba ainda possuía vida noturna com segurança. Os jovens,
principalmente, percorriam a Governador. A Galeria Brasil era uma passagem
obrigatória, ficando intransitável aos sábados pela noite. A praça José
Bonifácio ainda acolhia as pessoas que buscavam passar o tempo, sair com a família,
ou simplesmente namorar. Era ostentação segurar a namorada em um dos braços e
carregar na outra mão um tape deck com um equalizador Tojo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Foi
na rua Governador esquina com a São José, possivelmente o estabelecimento era
denominado Restaurante Ortiz (um dos vários pontos em que ele se situou). Pedi
uma pizza e claramente me lembro do garçom muito bem educado, polido e numa
gentileza imensurável. Anos depois o reencontrei, num local ao qual vou ao
menos uma vez por mês desde 1999: Cláudio Poteche. Matou a charada quem lembrou
do Claudinho’s Place ou simplesmente o Restaurante do Claudinho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Piracicaba
é conhecida por sua vida gastronômica desde o século retrasado, buscando nos
bares e restaurantes marcar uma notoriedade histórica. Me lembro que aqui no <b><i>Jornal
de Piracicaba</i></b>, o colunista Mauro Pereira Vianna não deixava de
perguntar aos seus entrevistados : qual seu restaurante predileto e qual o seu
garçom preferido ?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">O
Mirante era exemplo de finesse à mesa, com a família Benites recebendo
piracicabanos, “estrangeiros” e celebridades. O restaurante fez escola e hoje
tem seus expoentes com delícias de peixes na brasa alicerçada individualmente
pelos irmãos Vado e Agostinho, além do Givaldo e Reginaldo. Sem contar em quantas
vezes não ouvimos o Faustão no seu “Perdidos na Noite” ou no seu “Domingão”
falar do cuscuz do seu Hélio da Arapuca ? Aliás, sou do tempo do “prensadão” na
avenida Armando de Salles Oliveira e do churrasquinho no Bar do Décio na rua
Santa Cruz. Anos depois do hamburger no Daytona. Houve vida antes e depois
disso, principalmente na praça José Bonifácio (Brasserie e Café do Bule, entre
outros) e a prainha com o Bistecão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Tendo
sempre à mão, o livro de cabeceira “Dicionário de Piracicabanos” (Editora
IHGP), o autor Samuel Pfromm Netto, nos brinda com informações importantes
sobre a gastronomia local. O Bar e Restaurante Familiar Giocondo situava-se à
praça José Bonifácio. Tinha como especialidade, nos anos 1930, os bifes – a
parmegiana veio na segunda metade do século passado. O local era frequentado
pela intelectualidade local. Foi vendido depois para o japonês Oscar Miziara
que o transformou em Restaurante Alvorada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Próximo,
estava o Restaurante Banhara, num dos cruzamentos da rua do Rosário com a
Prudente de Moraes. Teve seu auge nos anos 1930. Dirigido por imigrantes
italiano tinha variedade no cardápio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Ricos
são os almanaques locais. O “Almanak de 1900”, de Manoel de Camargo, traz uma
relação de proprietários de restaurantes na virada do século retrasado, entre
eles: António Amendola, Pedro Benedicto, Frederico Bertolini, José Biajonni,
António Botiglieri, Belatasso Fernandes, João Moretti Folvenço, Irmãos Gabbi,
João Gallana, Celeste Gilli, João Lucci, Luiz Maranho, Ângelo Massoneto, Paulino
José Miranda, Fortunato Minello, Pedro Monteran, Albino Negri, Salvador Oranges,
Domingos Patrian, Gaspar Piatti, João António dos Santos, Francisco Scabelli, Santo
Stremendo, Márcia Telles, João Tolagne e Pedro Vargas. Nomes que não
concorreriam de forma alguma com aquilo que é chamada de “geração Nutella” que
participa dos famosos “maters chefs” da televisão. Cabe lembrar que naquela
época, não existia refrigeração como hoje e a conservação de alguns alimentos
era feita com o salgar da carne e outros alimentos. A carnes não eram vendidas
em açougue como hoje. Lembram-se do Matadouro existente no caminho a Santa
Terezinha ? Até a carne tinha outra denominação com via-se nos noticiários e
nas publicidades : carne verde.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Além
da gastronomia, bares e restaurantes também eram ponto de encontro
exclusivamente masculino. Por isso, alguns traziam a inscrição “ambiente
familiar”, como forma de atrair esposo, esposa, filhos e ... até a sogra !!! Um
dos casos era o Restaurante Papini, onde, na primeira metade do século passado,
foram acirradas as disputas de bocha com campeonatos que varavam as noites.
Isso, claro, regado a muito cigarro, bebida, papo, amizade e uma boa comida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Hotéis
como o Lago e o Central, ambos na praça José Bonifácio, também tinham
restaurantes abertos não apenas aos hóspedes e voltados para a elite. Era
possível consumir bifes com batatas, a nata da gastronomia de então.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Hoje
a cidade diversificou-se. Não é mais necessário esperar a Festa das Nações para
comer um prato típico de determinado país ou região. Basta abrir o iFood e ver
um cardápio no qual paira a indecisão diante de tantas opções. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12.0pt;"><b><i>(Publicado no Jornal de Piracicaba de 15/10/2023)</i></b></span></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-25782450921811684042023-10-08T14:00:00.001-03:002023-10-08T14:00:00.137-03:00Ainda sobre hotéis e hoteleiros<p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><span style="font-size: 12.0pt;">Ainda sobre hotéis e hoteleiros</span></b></p>
<p><b style="text-align: center;"><i><span style="font-size: 12.0pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b> </p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Hotéis
em Piracicaba sempre movimentaram a sociedade. Foram ponto de chegada e partida
de muita gente, além de referência à gastronomia na cidade. Cabe olhar ao
passado para conhecer a história deste ramo do comércio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">O
Hotel Marques foi inaugurado em 1º de agosto de 1883. Era de propriedade de
José Gomes Marques nascido em Portugal (São João de Covas), sogro de Octávio
Teixeira Mendes. Era de sua propriedade o Restaurante do Marques inaugurado em
fevereiro do mesmo ano. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Situado
em frente a Estação Sorocabana, o Hotel e Restaurante Moretti recepcionava aqueles
que vinham de outras cidades através desta estrada férrea. Estava situado à rua
Rangel Pestana com a rua Benjamin Constant (na época, à rua da Glória nº. 6). O
restaurante era especializado em jantares para batizados e casamentos com
preços módicos, segundo publicidade veiculada no Almanak de Piracicaba para 1914,
de Roberto Capri. Tinha estoque de bons vinhos. Tanto Marques quanto Moretti
trabalharam na área financeira da Boyes, em épocas distintas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6K1nzwQIQ1GmnygDpI8DOj6zl2tQpJfe07Q3xaNAlQvIprLaU6hR6qJqbC8ZtNJFPNKYAk15Fg0glEzqhZ6z05mkM9HyRA-1dhhOZyTie9ctYBaGaKrKeXF6as33_wRIGdPHJwZaunrDsU-TVz_A5QgKV4I7MZeV8r70VOdK-xoK1XWqq9Vnaaj2c9cQ/s2929/4%20-%20Hotel%20Central%20sobrado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1798" data-original-width="2929" height="392" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6K1nzwQIQ1GmnygDpI8DOj6zl2tQpJfe07Q3xaNAlQvIprLaU6hR6qJqbC8ZtNJFPNKYAk15Fg0glEzqhZ6z05mkM9HyRA-1dhhOZyTie9ctYBaGaKrKeXF6as33_wRIGdPHJwZaunrDsU-TVz_A5QgKV4I7MZeV8r70VOdK-xoK1XWqq9Vnaaj2c9cQ/w640-h392/4%20-%20Hotel%20Central%20sobrado.jpg" width="640" /></a></div><span style="font-size: 12pt;"><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><br /></span></p>Já
no início do século passado, a cidade contava com três hotéis, sendo eles o
Central (acima em foto possivelmente dos anos 1950), do Lago e um hotel administrado por Bento de Campos. Nos anos 1930,
Ângelo Baruzzi administrou o Hotel dos Viajantes, situado à rua João Pessoa nº
184 (antes rua do Commércio e hoje Governador Pedro de Toledo), junto ao largo
do Mercado. Houve outro administrador hoteleiro, Bento de Campos, proprietário
de um hotel na rua XV, no início do século passado.</span><p></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Manoel
do Lago foi proprietário do Hotel do Lago, este situado no Largo do Teatro
Santo Estêvão, precisamente esquina da praça José Bonifácio com a rua São José
(onde está o Poupatempo Estadual – Samuel Pfromm Cita cita em “Dicionário de
Piracicabanos” anúncio como sendo seu endereço na rua Moraes Barros nº. 161). O
Lago tinha um restaurante considerado “a melhor casa de petisqueiras da
cidade”, segundo anúncio veiculado no Almanak de Piracicaba de 1914. Lago foi
vice-presidente da Sociedade Espanhola local quando esta entidade foi fundada
em junho de 1898. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">“Asseio
rigoroso com pessoal habilitado para o serviço”, assim descrevia publicidade de
1914 do Hotel Bela Vista, propriedade de Barbarini e Bardi, situado na rua do
Commércio nº 79 (atual rua Governador). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Nicolau
Pereira de Campos Vergueiro (senador Vergueiro, também ministro no Império do
Rei Dom João) veio a Piracicaba em 1807. Residiu em casa situada na então rua
Moraes Barros com o Largo Central, que décadas depois deu espaço ao Hotel
Central. Foi ele quem planejou o arruamento de Piracicaba, executado por José
Caetano Rosa (o Alferes José Caetano), quando em 1808 a cidade tinha cinco
ruas, travessas, pátio para igreja e largo para a cadeia. Esta casa funcionou
como “Casa da Aposentadoria” uma espécie de ouvidoria do município, onde as
reclamações eram relatadas e encaminhadas ao legislativo. Foi nesta casa que
ocorreram as primeiras eleições da cidade, no dia 10 de agosto de 1822.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiA0mFUBnifdhEcLzWQGibKwGojcriwGROW_cL6mEA9-NT55h589fQSYYoNqxUKP4AH0gyFJAgARflid8ZtYkulHslPnpNHd_K4ufOT5yYR85IgILlPAEpNEla0fwLCkx-nRh0489xvRWM__c4L7HKPBRciznMLUj1HLsXGTF7LDxQVUcy2P7aZD0onV9o/s2362/Hotel%20Central.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1575" data-original-width="2362" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiA0mFUBnifdhEcLzWQGibKwGojcriwGROW_cL6mEA9-NT55h589fQSYYoNqxUKP4AH0gyFJAgARflid8ZtYkulHslPnpNHd_K4ufOT5yYR85IgILlPAEpNEla0fwLCkx-nRh0489xvRWM__c4L7HKPBRciznMLUj1HLsXGTF7LDxQVUcy2P7aZD0onV9o/w640-h426/Hotel%20Central.jpg" width="640" /></a></div><span style="font-size: 12pt;">João
Baptista de Castro foi proprietário do Grande Hotel Central, este inaugurado em
1894 (19 de maio). Outras fontes indicam que sua inauguração ocorreu dois anos
antes (13 de abril de 1892). O Hotel situava-se no Largo da Matriz nº 5, onde
encontra-se hoje o Oxxo, ao lado da Catedral. Pfromm Neto diz que Baptista era
chamado de Castrinho e Janjão. Inicialmente criou o Restaurante do Janjão,
depois adaptado para o Hotel Central. O Almanak de Piracicaba o descrevia como
“um dos melhores do estado”. Aliás, o autor do afamado Almanak de 1900,
Camargo, residiu com sua família no Central durante elaboração deste. Dizia que
o espaço tinha quartos claros, arejados e com preços razoáveis. O Central foi
administrado depois pela esposa e filhos, quando Baptista faleceu.</span><p></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Hotéis
também serviram de localização para prestação de serviços. Francisco Simões da
Costa era médico e atuou na cidade de 1922 e 1926 realizando consultas no Hotel
Central. Atendia crianças e senhoras. Montou consultório na praça José
Bonifácio e atuou na Santa Casa, deixando a cidade para atender em Batatais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Orlando
Carneiro foi professor da ESALQ ao longo de 32 anos. Coordenou a reforma do
Hotel Central. Este, possuía um pavimento, sendo reformado e ampliado para dois
pavimentos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Attilio
Romano Giannetti foi o último proprietário do Hotel Central, na praça José
Bonifácio, ao lado da Matriz de Santo Antonio. Também foi proprietário do
Restaurante Brasserie situado próximo, vendido por ele à família Pedreira em
1954. Attilio foi o responsável pela primeira linha de transporte coletivo de
Piracicaba para a capital paulista, em 1932, com nove veículos disponíveis.
Cada um levava cinco passageiros numa jornada que levava seis horas para
realizar o trajeto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Uma
jornada ao passado que o tempo não pode apagar.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12.0pt;"><i>(Publicado no Jornal de Piracicaba de 08/10/2023)</i></span></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-24885978346724434502023-09-23T11:00:00.003-03:002023-09-23T11:00:00.144-03:00Hotéis e concierges de Piracicaba<p> <b style="text-align: center;"><i><span style="font-size: 12.0pt;">Edson Rontani Júnior – jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b></p>
<p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Almeida
Júnior, pintor que viveu do mecenato de Dom Pedro II, foi morto em frente a um
hotel. Na região, o Grande Hotel de Águas de São Pedro funcionou como cassino.
Dom Bertrand de Orléans e Bragança se hospedou no Hotel Beira-Rio em 2021.
Estes são alguns fatos que nos remetem a hotéis da região de Piracicaba. Mesmo
em época de hostess, moradas em containers e Airbnb, os hotéis ainda são
sinônimos de luxo, não apenas em Piracicaba, mas mundo afora.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Isso
tudo teve seu ponto de partida ao comentar dias destes com o amigo
cirurgião-dentista Waldemar Romano sobre a arquitetura do Hotel Paulista. Uma
foto que estampava o Teatro Santo Estêvão trazia à uma de suas laterais – onde
se encontra hoje o Poupatempo Estadual – referida acomodação, numa arquitetura
de dois pavimentos, com portas e varandas altíssimas, como aqueles casarões dos
anos 1700 e 1800 que vemos em cidades com Tietê e Itú. Segundo Romano, ao lado
deste, também sitou-se o Hotel do Lago, da família do compositor e ator Mário
Lago, naquilo que era conhecido como o Largo do Teatro, na então praça 7 de
Setembro (hoje, praça José Bonifácio). Não muito distante tivemos também o
Hotel Central e décadas depois o Grande Hotel, próximo ao Mercado Municipal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXxAhGB8IH5yB8yo8HLpjHmo9K7NvuqPQcpVAX0hrCbmiZHfjp9yvoVP9ZpPJRwN9YMuD2I7zdzk-VTsP62dD2WTWclIctWxoWz-Fc91s3oOEURGll7HoUx6h8cYr6tnaQOukOC6Dmu5aMw4MudEC6u6PXQ-vh3PbKuTaVKSybkMeH7e5iWhijAXYzBfU/s3240/Hotel%20Paulista.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2132" data-original-width="3240" height="422" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXxAhGB8IH5yB8yo8HLpjHmo9K7NvuqPQcpVAX0hrCbmiZHfjp9yvoVP9ZpPJRwN9YMuD2I7zdzk-VTsP62dD2WTWclIctWxoWz-Fc91s3oOEURGll7HoUx6h8cYr6tnaQOukOC6Dmu5aMw4MudEC6u6PXQ-vh3PbKuTaVKSybkMeH7e5iWhijAXYzBfU/w640-h422/Hotel%20Paulista.jpg" width="640" /></a></div><span style="font-size: 12.0pt;"><br /></span><p></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Estas
rememorações surgem pois foram várias as contribuições destes hotéis para a
cidade. Não apenas pela arquitetura de dois séculos atrás retidas apenas em
pouquíssimas fotos como também para a vida social e a vida profissional da
cidade. Um dos exemplos foi Aurora Conceição que por aqui clinicou como médica,
formada pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, atendendo moléstias de
senhoras e perturbações digestivas. Chegou a residir no Hotel Central de 1929 a
1931. Outra situação, desta vez de movimentação social: o Hotel do Lago, aliás,
era ponto de partida dos troles que funcionavam com tração animal – atuavam
como transporte coletivo na época – saindo pontualmente às cinco horas da
manhã, isso em 1900.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">A
dimensão de alguns fica por conta da imaginação do leitor. Poderiam ter sido
albergues, pensões, ou redutos de romeiros e retirantes. Samuel Pfromm Neto no
seu “Dicionário de Piracicabanos” (Editora IHGP) lembra do “Hotel Europa”,
situado na rua Governador, pertencente aos pais de Ida Schalch (o pai era
engenheiro suíço e a mãe era alemã), uma das primeiras missionárias brasileiras
educadas por metodistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Cartões
postais nem tanto, mas os almanaques que povoaram Piracicaba no século passado
traziam divulgações (textos e publicidades) de hotéis locais. Aliás, este era o
papel dos almanaques, realizar a divulgação da cidade para o “estrangeiro
nacional”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Luciano
Guidotti foi um cultuado “mestre de obras”. Criou a Pinacoteca, canalizou o
Ribeirão do Itapeva, finalizou em seu segundo mandato o Estádio Barão da Serra
Negra e tinha por intenção criar o Hotel Municipal. Este estava situado no
parque ecológico de Luiz de Queiroz, pouco antes da Ponte dos Irmãos Rebouças,
sentido Centro-Vila Rezende. O local também foi denominado de Parques Sachs em
homenagem a André Sachs, onde, na segunda metade do século 1800, a sociedade
piracicabana desfilava. Era o espaço onde ocorriam os piqueniques, apresentações
de bandas em coreto edificado, e disputas de “partidas hamburguesas” ou
boliche. O Hotel Municipal começou a ser erguido na década de 1960. Foi passado
para iniciativa privada e arrematado anos atrás pela família que administra o
Beira-Rio Palace Hotel.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinv8RJ1WfyUxHcHlW9WLGidB9TkeQ4Ywq2lc6QtnrQ-9-3_3keuWkq_DE8JpwF3zKwZdB4dSTI5O_7JQj5ZQwe3ThyBKE0dFoyR0O5iMVyfP5NHNY1BThN2RVjQxMIEjQL4FERCHvOgZcDEjA23gH6LfID3q59HyGfixLCcpEAObzwq1b8NNcq8sdyNJU/s2767/1%20-%20Hotel%20Municipal.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2677" data-original-width="2767" height="620" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinv8RJ1WfyUxHcHlW9WLGidB9TkeQ4Ywq2lc6QtnrQ-9-3_3keuWkq_DE8JpwF3zKwZdB4dSTI5O_7JQj5ZQwe3ThyBKE0dFoyR0O5iMVyfP5NHNY1BThN2RVjQxMIEjQL4FERCHvOgZcDEjA23gH6LfID3q59HyGfixLCcpEAObzwq1b8NNcq8sdyNJU/w640-h620/1%20-%20Hotel%20Municipal.jpg" width="640" /></a></div><span style="font-size: 12.0pt;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Os
hotéis locais também eram ponto de referência para a gastronomia. Anúncio em
jornal de 1882 deixava claro que o Hotel Piracicabano, sr. Vicente Russo,
disponibilizava a partir das 8 horas bifes a 400 réis com batatas ou ovos.
Vicente comprou o hotel de Modesto Antonio Corrêa Lemos e este situava-se, lá
por 1880, no Largo do Teatro. “O Piracicaba”, jornal da época o definiu como
antigo e acreditado hotel, com cômodo e comida todas as horas e serventes para promover
o giro do estabelecimento, além de veículos de tração animais para passeios,
viagens e transporte para as estações da Paulista e Ituana.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4qLh1iNXarMacyBe5678-gw4tQKBhYp61b4dDA6QikVy0TucQ7QtZGws8jXZsjLM9ORekyfH4LQSyW8UuqqJLy6teLgy3XvtaV_BPMam8kbFaWkvllHDimtl5g-5aU6TmFdo92gFSpBWf7RyyNTfO0iChxOzVwqZb2v5v_4hj0DlyaGcakqgo11NJn-A/s3216/15539460600_a649d34f59_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2182" data-original-width="3216" height="434" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4qLh1iNXarMacyBe5678-gw4tQKBhYp61b4dDA6QikVy0TucQ7QtZGws8jXZsjLM9ORekyfH4LQSyW8UuqqJLy6teLgy3XvtaV_BPMam8kbFaWkvllHDimtl5g-5aU6TmFdo92gFSpBWf7RyyNTfO0iChxOzVwqZb2v5v_4hj0DlyaGcakqgo11NJn-A/w640-h434/15539460600_a649d34f59_o.jpg" width="640" /></a></div><span style="font-size: 12.0pt;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Referência
na cidade, o “Hotel dela Giardineira” situava-se onde próximo de encontra-se
hoje a rede Oyo, rua XV de Novembro esquina com a Benjamin Constant. Era
propriedade dos irmãos italianos – Paulo e Ricardo Pucci – e Archile Ghiara.
Tinha quartos também para solteiros com gastronomia italiana. Para uma viagem
ao tempo como esta, não se paga passagem ...<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12.0pt;">(Publicado no Jornal de Piracicaba de 20 de setembro de 2023)</span></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-24049424804082825162023-09-20T22:29:00.003-03:002023-09-20T22:29:25.542-03:00Criadores e conteúdos<p> <b style="text-align: center;"><i><span style="font-size: 12.0pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b></p>
<p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><br /></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">É
oco por dentro. Mas dentro tem água. Um coco alimenta tanto pelo seu líquido
quanto por sua polpa. Mas não deixa de ser oco. Curioso é ver que muitos
conteúdos são ocos, mas não tão nutritivos quanto o coco que nos beneficia pelo
sabor, pelos nutriente etc etc etc ...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">O
caos proporcionado pela informação nos joga num mundo sem lei tal qual o
bandido que saca a arma para duelar com o xerife no velho oeste americano. Daí
é que surge o caos da informação, do entretenimento e do conteúdo. Mas ... que
raios ?!?! Onde chegar com esta conversa ? Simples ... estamos sendo
bombardeados por conteúdos ocos todos os dias, fazendo com que isso seja uma
necessidade, criada pelo incrível poder midiático, e, assim mesmo nos
extasiamos, de tanta banalidade. Ué ! Você já notou algo enriquecedor
intelectualmente no Tik Tok ? Ou já se deu conta do modismo que vemos nesta
plataforma – e não tão somente nela – fazendo com que a sociedade mude
conceitos e comportamentos ? Isso me faz lembrar aquela máxima : não é porque
todo mundo está fazendo que está certo; e não é porque apenas uma pessoa está
fazendo que está errado. O errado é errado mesmo que todos o estejam fazendo.
Mas, a quem compete julgar ? Complicado, não ? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Nosso
papel como escritores não é lançar conceitos e ponto final. A intenção é
movimentar a “massa cinzenta” e botar os neurônios a funcionar. Dizem que a leitura
abre portas para o mundo, elucida pré-conceitos, leva-nos a novos caminhos.
Tudo bem, até aí.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Mas
algo me instigou nesta semana que se passou. Nosso ilustre diretor do JP,
Marcelo Batuíra, esteve presente na sessão de posse da Academia Piracicabana de
Letras, realizada na última quarta-feira na Câmara de Vereadores, na qual
inclusive tal nobre advogado e representante da imprensa local assumiu a
cadeira de Archimedes Dutra. Em seu pronunciamento, Batuíra foi muito feliz ao
citar que escritores, jornalistas, poetas e outros são “criadores de conteúdo”,
embora ele, com certa ironia, disse nem saber do que se trata isso. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">O
embate está em seu primeiro round, numa interminável disputa. Está começando e
não se sabe onde vai parar. Filosofias elucidativas, longas páginas de livros,
conteúdo intelectual de primeira e outras manifestações aprofundadas se afastam
do conhecimento humano pelos três parágrafos cada qual com três linhas que os
estudiosos apontam como caminho para a mente humana se prender e entender determinado
assunto quando algo é postado no Instagram.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Isso
me lembra a teoria do canadense Marshall McLhuan que previa o encurtar as
barreiras e termos uma globalização interminável, criando a denominada “aldeia
global”. Ótima visão do futuro quando ele teorizou isso. Misto a isso nos vem a
memória do Grande Irmão (o Big Brother) criado por George Orwell em 1949 que
também anteviu um mundo controlado pela tecnologia, porém com poder de inibir
qualquer pensamento ou sentimento. Posso citar teorias de Eric Hobsbawn ou Gay
Talese, entre outros papas da comunicação, os quais previram tudo o que estou
comentando: a informação como meio de entreter, informar (ou desinformar ?!?),
comercializar e fazer o meio mais importante que a mensagem. As fake news são
prova disso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Intelectuais,
propagadores da mensagem – com credibilidade por carreiras bem pontuadas –
jornalistas, escritores, historiadores e outros profissionais da comunicação
são legados a um segundo plano quando, não os criadores de conteúdo, e sim os
influenciadores digitais berram baboseiras em nossos ouvidos na telinha do
smartphone ou na TV de 56 polegadas. O filtro, me disse certa vez o radialista
Djalma de Lima ao lado do professor Alceu Marozzi de Righetto, é o profissional
como o jornalista que tem o senso de escolher o que vai falar e levar a
mensagem para seu público. Hoje todos tem o poder de ser comunicador – de forma
errada ou certa – propagando via mídia social o que bem entender. Como dito
anteriormente, não é papel aqui julgar e sim estimular o pensamento para novos
conceitos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">A
denominação de criador de conteúdo nos remete ao desktopistas do jornalismo na
primeira metade do século passado. Era o profissional que ia a campo, sondava
uma situação, chegava na redação e ditava a jornalista o que viu. Este segundo
profissional é quem fazia a matéria jornalística. Algo do tipo “ghost writer”
ainda hoje em voga, situação na qual um profissional faz um texto e outro
alguém é quem o assina, como vemos em discursos, artigos ou livros de
políticos, por exemplo. Até outro dia, as redações tinham seus revisores de
texto, trampolim na profissão para muitos jornalistas e que amargavam o ingrato
horário do final da noite, quando o jornal estava prestes a ser impresso.
Haviam filtros. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">A
internet possibilitou que todos sejam criadores de conteúdo, alguns, sem
qualquer ironia, mais ocos que o conteúdo do coco citado logo no início. E
durma-se com um barulho destes !<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"><i>(Publicado no Jornal de Piracicaba de 3 de setembro de 2023)</i></span></span></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-23968149131394956052023-09-14T22:25:00.004-03:002023-09-14T22:25:21.896-03:00Desfiles da vida<p> <b style="text-align: center;"><i><span style="font-size: 12.0pt;">Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b></p>
<p align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><b><i><span style="font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">-
“É com orgulho”. Então que vá com orgulho !<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Há
50 anos (pode ter sido 49 anos também ...), fomos desfilar pela Independência
do Brasil. O local era a rua Gomes Carneiro em frente a Escola Assunção. A
conversa foi traçada entre minha pessoa, a amiga Ana Giuliani e o primo
Humberto D’Abronzo Gil. Quem puxava o “orgulho” eram minha mãe Ivete e sua irmã
(minha tia) Ivone. Lá fomos desfilar pelas imediações da escola em memória ao
mérito de Dom Pedro I, que, com um grito, tornou o Brasil independente de
Portugal. Dizem que foi assim, não sei ...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Deveria
ter sido uma manhã fria, pois estávamos uniformizados. Shorts azul escuro igual
ao agasalho de linho que cobria uma camisa branca com gola. Assim era o
uniforme deste centro de ensino que acaba de completar 130 anos. A memória pode
falhar, uma vez que tudo isso tentei alcançar com a única foto que possuo e a
qual representa o tão ímpar desfile de 7 de setembro que participei ao longo
destes últimos 50 anos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">-
“É medo”. “Não. É vergonha!”. Então que fosse com medo e vergonha. Batalha que
travei comigo mesmo anos depois no ginásio. Após o Colégio Assunção passei pelo
Grupo Barão do Rio Branco e pelo Jorge Coury. O medo me consumia no caso de
errar o passo no desfile, ficar desatento com a banda, ou tentar medir a reação
do público que então se prostraria por uma das ruas centrais de Piracicaba. Era
“o medo de fazer o feio”. Acreditava que para tocar na banda, segurar bandeira
ou fazer as acrobacias então destinadas às alunas, exigia estudo ... dedicação
... honra ! Mas muitos daqueles que disso participavam, fazia por “curtição”.
“Deixa prá lá a vergonha ... Isso não me incomoda”, ouvia dos amigos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Salvo
pelo congo ! Professores em greve no final de agosto. Que ótimo ! Me cobria
pela vergonha de expor nas ruas aos olhares atentos de pais, vizinhos e amigos
da sala de aula. Assim foi um 7 de setembro ... depois foi outro ... mais um e
eu nunca desfilei. Greve após greve. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Desfilei
sim pelas cadeiras de ensino da Escola Estadual Dr. Jorge Coury, moderna para
aquilo que eram os anos 1970. Por ali, tive sábias aulas com o professor
Franscílideo Beduschi e a “dona” Miquelina que me deram os primeiros passos de
cidadania e civismo. Dona Conceição Brasil nos ensinava a cantar o Hino
Nacional Brasileiro por obrigação como uma professora de matemática nos ensina
aritmética. “Seis de seis são 36 !”. “Conseguimos conquistar com braço forte e
não braços fortes !!! Quantas vezes vou ter que repetir?”. As palavras da
professora ainda ecoam pela minha cabeça. Unem-se ao imaginário destas mais de
cinco décadas de vida. Além de professores, eles foram líderes que nos
ensinaram o respeito e a educação através de disciplinas implantadas pelo
regime militar. Organização Social para o Trabalho (OSBP) e Educação Moral e
Cívica (EMC) ensinavam antes de tudo o respeito, a dignidade e conhecer que o
seu limite vai até onde começa o limite do outro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">“Coragem
e orgulho. Mas ... e o medo ? Que medo ?!?”. Novamente o conflito com meu ego
toma corpo. “Às favas”. Lá fui vestido de farda militar com o ombreira escrita
monitor do Tiro de Guerra desfilar nos Jogos Regionais do Interior de 1986, no
Estádio Barão da Serra Negra. Uma única volta nas laterais do campo. Foi a
apoteose. Segurava uma das bandeiras, a qual creio que tenha sido a do
município. E teve, confesso, o olhar incansável de uma atleta vinda de outra
cidade que a todo momento me fitava dando intenção de um certo paquerar.
Sabe-se quem lá era. A timidez falou mais alto que o medo ou a vergonha. E
assim foi ... De centro de atenção para público. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Nos
últimos anos acompanhei diversos desfiles sejam eles realizados sob sol ou
chuva, pela Governador Pedro de Toledo ou Boa Morte. Muitos amigos desfilaram
por esta vida e hoje além de estarem apenas na memória, ausentes deste mundo
terreno, mostraram um pouco de como é este palco chamado de vida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12.0pt;"><o:p><i> (Publicado no Jornal de Piracicaba em 6 de setembro de 2023 e na Tribuna Piracicabana de 16 de setembro de 2023)</i></o:p></span></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2366614268534324680.post-31988703344656369682023-09-07T22:30:00.006-03:002023-09-07T22:30:44.803-03:00De um tempo que não volta ...<p> <b style="text-align: center;"><i><span style="font-size: 12pt;">Edson Rontani Júnior – jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba</span></i></b></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Semana
passada veiculamos nas mídias sociais do IHGP um vídeo conseguido no Tik Tok.
Durava pouco mais de dois minutos. Originalmente foi gravado em VHS e mostrava
o passeio de alguém nas ruas e avenidas de Piracicaba nos anos 1980. Como
provocação, o título foi “Assim era o Google Street View nos anos 80”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Parece
ser algo banal, mas este vídeo ajudou a remexer a massa cinzenta de muita gente
que hoje beira os 50 anos de idade e que viveu a década de 1980 com sua
efervescência cultural. Falar que a vida era mais difícil financeiramente para
esta geração ninguém, falou. E era, embora muitos fossem ainda jovens e sequer
tinham a preocupação de sustentar um lar, numa época na qual a inflação chegava
aos 80% ao mês (!!!).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Mas
muitos lembraram como era acolhedora nossa “terrinha”. O vídeo apresentava um
passeio rápido pela Governador Pedro de Toledo e muitos se lembraram da Lobrás,
a Lojas Brasileiras, umas das primeiras lojas de departamento, verdadeiro
shopping center para a época. Tal loja, situada entre a Dom Pedro II e a Rangel
Pestana, meio da Governador no lado direito, tinha de tudo: roupas, revistas, LPs,
alimentos, presentes e até uma lanchonete no fundo onde era possível sentar-se
logo no balcão e comer um x-salada ou um bauru ... nada mais. Eram os hamburgers
da época. A Lobrás era a loja do tipo em que você dizia à vendedora : “só vim
dar uma olhadinha” e ela a seguia por todos os corredores. Daí você ia na seção
de balas e pegava uns 100 gramas Chita hortelã e saia desconcertado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">O
mais criativo foram os comentários sobre o vídeo. Uns lembraram da Portalarga,
tradicional loja do comércio local, da família Maluf que vestiu por quase um
século o piracicabano. Outros lembraram do Kraide Magazine situado embaixo do
Clube Coronel Barbosa na praça José Bonifácio. O vídeo teve até a última
quinta-feira 180 mil interações (orgânicas). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Estes
pensamentos nos levaram a viajar no tempo e lembrar do Shopping Center Ziliat,
da família Petrin. Como era gostoso, antes da aula noturna, parar e comer um
prato executivo, ver a fonte instalada no centro deste “mallzinho” e sentir-se
feliz por a cidade possuir um shopping mesmo que ele fosse uma pequena galeria.
O local abrigou nos anos 1930 um cinema, depois foi a fábrica de Balas Atlante
e mais recentemente uma papelaria e um supermercado. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">O
vídeo também lembrou de lojas como A Musical da família Pousa, a Brasserie dos
Lescovar, o Shopping Cidade Alta, O Cacau do Basso Rolim, da Galeria Brasil
quando ainda era um atrativo noturno aos finais de semana... Os mais antigos
ainda irão se lembrar do seu Balacini na Banca Gianetti bravo com as pessoas
que folheavam jornais e revistas e saiam sem comprar nada. Ou ainda os potes
que enchiam os olhos dos petizes do seu Passarela na loja situada ao lado
esquerdo do Cine Politeama.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Mas,
o vídeo referido no início do texto nos remete à uma mudança cultural provocada
pela TV que então despontava como sucesso a Xuxa, “Rainha dos Baixinhos”, num
período pré “Amigos” em que três duplas sertanejas criaram um rumo para a
cultura musical tomando uma cerveja que hoje é jogada ao ostracismo por todos.
Aliás, os anos 80 trouxeram consigo a formação de um gênero conhecido por “new
wave” na música, com expoentes como Gang 90 e as Absurdetes, João Penca e Seus
Miquinhos Amestrados, Léo Jaime, Lulu Santos, Kid Abelha e Seus Abóboras
Selvagens, Ira !, Barão Vermelho, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso etc etc
etc ...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">As
imagens são nostálgicas. Mostram locais que se foram. Espaços mágicos nos quais
vivemos, os quais nos trazem à memória pessoas que já partiram. Períodos
especiais de nossa vida. Saudade ... de um tempo que não volta mais ...<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Visualize o vídeo <a href="https://fb.watch/mWcDNjAYPP/" target="_blank">clicando aqui</a></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><i>(Publicado no Jornal de Piracicaba de 30 de agosto de 2023 e na Tribuna Piracicabana de 09 de setembro de 2023)</i></p>Edson Rontani Júniorhttp://www.blogger.com/profile/11112326053942870996noreply@blogger.com0