O carnaval foi adiado. Sua
realização foi marcada para abril, mês em que normalmente comemora-se a Páscoa.
Uma situação como esta colocaria o Brasil em polvorosa. Foi o que ocorreu em
1912, há exatos 102 anos. Cabe lembrar que o carnaval era uma festa popular sem
a concorrência do cinema, da internet, do rádio e da televisão que sequer
existiam no país. Os únicos concorrentes de peso eram livros, jornais e teatro.
José Maria Paranhos Júnior, o
barão do Rio Branco havia falecido em 10 de fevereiro de 1912 provocando
comoção nacional por sua dedicação à diplomacia brasileira. Foi ele o
responsável por delinear geograficamente o país, formando o mapa que hoje
conhecemos da nação brasileira. Estima-se em 300 mil pessoas presentes ao seu
velório e enterro, equivalendo a quase toda a população de Piracicaba ou 25%
dos habitantes do Rio de Janeiro no época.
A recente história mostra que por
duas ocasiões o carnaval foi adiado. A mais antiga ocorre em 1892, quando o
ministro do interior, Fernando Lobo Leite Pereira, resolveu alterar a festa
popular para 26 de junho, alegando que o mesmo gerava muito lixo e que o novo
mês era mais “salutar” para o brasileiro, distante do calor peculiar da época.
Como bom sambistas, o brasileiro comemorou o carnaval nos dois meses.
Barão do Rio Branco chegou ao
panteão dos heróis nacionais. É um dos postulantes, desde 2002, a ocupar um
espaço no “Livro de Aço” do Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em
Brasília. Hoje ... esquecido, em
Piracicaba é nome de um colégio público que iniciou suas atividades em 13 de
maio de 1897, inicialmente como Grupo Escolar de Piracicaba recebendo a
denominação de “Barão” em 1907.
Decretado luto oficial por sua
morte, isso atrapalharia o carnaval de 1912 que ocorreria no sábado seguinte ao
falecimento, 17 de fevereiro. Os festejos deveriam ser adiados para 6 a 10 de
abril. O Brasil não tinha sequer um século de independência diante de Portugal
e desde então foi comandado por regentes imperadores, rainha e presidentes.
Barão do Rio Branco passava a ser um estrategista de peso, dividindo com eles
seu posicionamento social e político. Criou um lugar no imaginário coletivo e
na adoração pública. Ainda é visto como um importante formador da nação
brasileira, não apenas da delimitação geográfica, mas também na concepção do
ideal nacionalista, que então deixava de lado os estereótipos europeus trazidos
pelos colonizadores ao longo dos 300 anos anteriores.
Barão do Rio Branco teve maior
reconhecimento quando morto, do que vivo. Foi o responsável pela transição
política entre império e república, realizando acordos internacionais para
ocupação de territórios sem utilizar-se de armas ou de guerra. Serviu a quatro
presidentes. Foi jornalista habilidoso assumindo o Itamaraty em 1902, em cuja
sede, na Guanabara pautava os principais jornais do país através de pseudônimos
escrevendo artigos de profundidade política. (Edson Rontani Júnior, jornalista)
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