O local passa impercebível nos dias de hoje. A primeira unidade do Corpo de Bombeiros de Piracicaba surgiu em decorrência de um grande incêndio que atingiu, em 1955, o Supermercado Munhoz (ou Casa Munhoz), estabelecimento este situado à margem do córrego do Itapeva, hoje cruzamento da avenida Armando de Salles Oliveira com a rua Moraes Barros. Piracicaba não contava na época com serviços de combate a incêndio, dependendo de cidades como Campinas para controle do fogo. Em agosto de 1956, a cidade ganhou esta primeira unidade com uma pequena torre para observação de fumaça, algo nada útil para os dias atuais numa cidade tomada por grandes edificações. Talvez vocês nem saiba, mas o prédio da foto continua intocado, situado hoje em área ocupada pela Semutri e Sema, na avenida doutor Paulo de Moraes, bem em frente á saída do Varejão da Paulista. (Edson Rontani Júnior)
domingo, 19 de junho de 2022
quinta-feira, 9 de junho de 2022
23 de maio
Edson Rontani Júnior, presidente do Instituto
Histórico e Geográfico de Piracicaba
O
triste resultado da manifestação ecoou de forma tímida em Piracicaba. No dia 23
de maio de 1932, portanto, há 90 anos, a mídia local nada informou sobre o
embate armado ocorrido na praça da República. Talvez não pela distância de 160
quilômetros entre nossa cidade e a capital paulista. Talvez porque a informação
viesse de forma mais lenta que nos dias de hoje. A distância não era
percorrida, à época, nas duras horas e pouco que levamos atualmente. Já a
comunicação à distância tinha rápida (para a época) condução com o telégrafo, o
qual necessitava de interpretação pelos que conhecessem o código morse.
Aquele
23 de maio, perpetuado depois como o Dia da Juventude Constitucionalista, foi o
estopim para a Revolução de 1932 que dentro de um mês terá lembrado seus 90
anos. O cenário à época era de descontentamento com a Constituição em vigor,
datada de 1891, a qual não delimitava os poderes do presidente da República
que, por sua vez, governava o país como queria. Contra este autoritarismo,
manifestantes vão às ruas da capital de São Paulo e, em certo momento, pretendiam
invadir a sede no PPP (Partido Popular Paulista), simpatizante ao governo
Getúlio Vargas. Membros do partido se municiam de armas e granadas. O resultado
a história definiu como MMDC, sociedade então secreta que eclodiu com a
insurreição civil contra o governo federal. MMDC foram perpetuados nas
carteiras escolares do passado e muitos sabiam na ponta da língua que eram
Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, mortos no 23 de maio.
Piracicaba
possuía o “Jornal de Piracicaba”, “O Momento” e “Gazeta de Piracicaba”, jornais
quase diários. Cada um composto por parcas quatro páginas. A cidade possuía
cerca de 20 mil habitantes que se informavam por estes veículos. A reviravolta
na capital paulista sequer saiu na imprensa daqui. O mesmo ocorreu com o fim da
Revolução de 1932, no dia 2 de outubro, quando toda a imprensa paulista se calou
diante deste fato visto que grande maioria de seus defensores foi deportada
para Portugal.
O
23 de maio se tornou conhecido como a data dos jovens que clamavam pela
liberdade e por direitos garantidos numa constituição. Foram jovens que
partiram às ruas solicitando esta liberdade que hoje possuímos, sendo que os
MMDCs tinham 14, 21, 25 e 30 anos. O mais moço era Dráusio Marcondes de Sousa
(o D do MMDC), 14 anos, alvejado pelo PPPistas, falecendo dia 28 de maio. A
juventude é também lembrada na Revolução de 1932 como o caso do escoteiro Aldo
Chioratto morto em Campinas aos 9 anos depois de alvejado por uma granada
lançada de um avião. Já em Piracicaba, o registro de jovens espelha-se em Natal
Meira Barros, atingido no pescoço por uma rajada de metralhadora na cidade de
Cruzeiro aos 17 anos, falecendo dias depois.
O
Dia da Juventude Constitucionalista precisa ser lembrado com carinho o tanto
quanto os paulistas olham para o 9 de julho. A Constituinte saiu em 1934, dois
anos depois do embate. Nesta nova carta magna foram implantados direitos que
ainda hoje usufruímos como a dissociação dos poderes executivo, legislativo e
judiciário; defesa judicial com direito ao “habeas corpus”; ensino gratuito
para adultos inclusive na zona rural e tantos outros.
A
mídia impressa de Piracicaba passou a dar ênfase à causa constitucionalista a
partir do 9 de julho, ecoando por aqui os ares paulistas. Este JP na edição de
12 de julho de 1932 entoava uma retórica que funcionou nos três meses da
Revolução: “Matto Grosso ao lado de São Paulo. Enorme affluencia de civis aos
postos de alistamento. Minas, Rio Grande e Santa Catharina integrados na arrancada
paulista. Innumeras adhesões”. Com o tempo o governo federal esmagou as forças
de oposição. Foi-se a causa, ficaram as memórias dos jovens do 23 de maio.
(Artigo publicado no Jornal de Piracicaba de 08 de junho de 2022)