Edson Rontani Júnior, jornalista
Interior
de São Paulo. Ano de 1932. Estava deflagrada uma guerra civil que se tornou
conhecida por Revolução Constitucionalista. O cenário era a cidade de Campinas.
O dia 18 de setembro daquele ano. Período da manhã. Uma importante mensagem
deveria ser entregue. Seu conteúdo estava anotado em um pedaço de papel. Não se
sabe se escrito a mão, por telegrama ou datilografado. A incumbência foi dada a
um escoteiro, o estafeta do dia, que deveria percorrer alguns quarteirões para
entregar a mensagem a alguém. Eis que no trajeto, um teco-teco sobrevoa os céus
campineiros, lança uma granada e estilhaços atingem o mensageiro. Aldo
Chioratto (foto abaixo) falece em seus tenros nove anos de idade. Pertencia ao Grupo de
Escoteiros que auxiliava na Epopeia Paulista, a qual clamava por uma constituição
atualizada e revista. A Constituição de então tinha ares do império.
Uso
essa premissa para evocar G. K. Chesterton (foto abaixo), influente intelectual britânico na
virada do século retrasado, para demonstrar sua máxima de que “não foi o mundo
que piorou; as coberturas jornalísticas é que melhoraram muito”. Então, um
questionamento: em época de What’s app ou Telegram, teria sido poupada a vida
do pequeno Chioratto ?
Ao longo do tempo, as mensagens caminharam em vários formatos. Mensageiros andaram longas distância a pé, no lombo do cavalo, a bordo de naus ... criando um hiato entre o acontecimento e seu reconhecimento. Tiradentes amargou três anos na cadeia após ser preso e julgado esperando clemência da rainha D. Maria I. Isso porque as mensagens iam e viam cruzando fisicamente o Oceano Atlântico.
Chesterton,
portanto, tem razão ao dizer que a cobertura das notícias melhorou. Hoje temos
conhecimento quase instantâneo do ocorrido. Algo que, num passado não muito
distante apenas rádio e televisão possuíam. Jornais, revistas e cinema tinham a
lacuna de dias. Não muito raro era acompanhar o resultado do XV de Piracicaba
nas páginas deste jornal dois dias após a partida disputada. A equipe jornalística
tinha de acompanhar pessoalmente o jogo, pegar longa estrada, texto a ser
escrito, fotografia ser revelada, isso na madrugada ou no dia seguinte da
partida normalmente realizada durante a noite.
A
cobertura jornalística da Guerra do Golfo (1990/1991) proporcionou imagens ao
vivo do Oriente Médio. Porém, os jornalistas não estavam preparados para narrar
tais acontecimentos. Pensemos que temos um padrão para a narração de uma
partida de futebol. Trinta anos atrás não tínhamos algo assim na CNN ou na
Aljazeera no que se tratava de uma guerra.
O
atual conflito escolhido pelas mídias envolve Rússia e Ucrânia. Dezenas de
outras ações militares ou civis ainda estão em curso (alguém se lembra do
Afeganistão ou da Síria?). Tornou-se comum o ucraniano estar em uma live e uma
bomba explodir à sua cabeça. E de imediato esse tipo de informação chega ao
ocidente ou qualquer outra parte do mundo. A reportagem é completa, com imagem
e áudio, feita por pessoas que sequer são profissionais da comunicação. Mas são
pessoas que estão no “aqui agora”, real on time. Dias atrás, um tradicional
jornal da capital paulista reportou que a guerra da Ucrânia está ditando novas
narrativas jornalísticas, citando o aplicativo TikTok como seu fiel mensageiro.
Mídias digitais, aliás, foram banidas na Rússia. Isso incomoda o poder. Tempos
atrás perseguia-se a pessoa para calá-la fisicamente. Hoje para evitar a
propagação de uma mensagem é mais simples: desconecta-se o fio da tomada e
ninguém tem conhecimento de um fato.
Tempos
atrás tínhamos um deserto de informações. Os acontecimentos ocorriam e não
sabíamos. Hoje temos um excesso de informações, que nos chegam de forma
caótica. O filtro disso é a cabeça de cada qual. Mas que a maneira de fazer
jornalismo, melhorou ... isso é fato. E salve Chesterton !
(publicado no Jornal de Piracicaba de 30 de março de 2022 e na Tribuna Piraciabana de 5 de abril de 2022)