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quarta-feira, 19 de maio de 2021

Mais que juventude

 Edson Rontani Júnior, jornalista 

Não apenas a juventude, mas sim toda a sociedade se mobilizou em 1932 quando, em 23 de maio daquele ano, começava uma marcha pela democracia no Brasil. A data passou a ser lembrada como o Dia da Juventude Constitucionalista – em Piracicaba há decreto legislativo criado em 2017 -, em lembrança à morte de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, que formaram o MMDC, sociedade civil secreta que articulou o levante contra o governo de Getúlio Vargas.

Historicamente, foi neste dia em que, na capital paulista, a população foi às ruas num movimento que exigia uma nova Constituição no país. Os manifestantes foram recebidos à bala pelos simpatizantes de Vargas que ocupavam um prédio na praça da República. Foi o estopim para que, de 9 de julho a 2 de outubro de 1932, os paulistas pegassem armas e evitassem o avanço das tropas federais vindas do Mato Grosso, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O saldo resultou em mais de 900 mortos pelo lado paulista, número superior às mortes ocasionadas pelo envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial.

O fervor pela causa fez com que a sociedade toda se mobilizasse, tendo como liderança personalidades como Luiz Dias Gonzaga (prefeito na época), Alberto Vollet Sachs, Sebastião Nogueira de Lima, Aldrovando Fleury, Mário Neme, Thales Castanho Andrade  e outros, que, além de coordenar as ações dos “voluntários de Piracicaba” também empunharam armas e foram aos frontes de batalha. A Revolução de 1932 pode ser considerada uma “guerra de trincheiras”, assim como foi a Primeira Guerra Mundial: o objetivo era evitar o avanço das forças federais para o interior do estado de São Paulo.

Piracicabanos foram coordenados, nos combates, pelo tenente do exército Boaventura. Em Piracicaba, a liderança era do tenente do exército Augusto Gomes, chefe do Tiro de Guerra 542. Vollet Sachs secretariou a primeira reunião que criou o 1º. Batalhão Piracicaba, também denominado de Batalhão Piracicabano e Batalhão Noiva da Colina pela imprensa local. Esses jovens foram alcunhados pelas forças federais de “Columna Maldita”, por sua sagacidade e atitudes mercenárias junto aos prisioneiros ou nas ações de patrulha e assalto.

Duzentos destes piracicabanos deixam a cidade no sábado, 16 de julho de 1932, e partem pelos trens da Cia. Férrea Paulista rumo a Quitaúna, Osasco (na época, bairro da capital paulista), quartel general do embate. A juventude constitucionalista, aceita em Piracicaba, deveria possuir mais de 18 anos. Era comum alterar espontaneamente sua idade para se alistar e evitar o vexame de estar na juventude e permanecer em Piracicaba sem defender a causa.

Assim encontraram seu derradeiro gesto de amor à pátria jovens como Ennes Silves Mello, Claudionor Barbieri, Jorge Jones e Natal Meira Barros. Este último, fugindo duas vezes de sua casa, partiu para São Paulo e, durante patrulha de reconhecimento em Pinheiros recebe uma rajada de metralhadora e morre devido à hemorragia ao ser atingido no pescoço. Tinha apenas 17 anos de idade.

Não existem registros concretos sobre a participação de escoteiros nesta Revolução. Na região, todos se emocionaram com a morte de Aldo Chioratto, escoteiro e, na função de mensageiro – a comunicação viajava pessoalmente à época – foi atingido por uma granada lançada de um avião federal. Falece devido aos estilhaços. Tinha apenas 9 anos de idade.

A ação dessa juventude, mais que juventude, motivou uma constituinte que, em 1934, definiu nova lei magna no país, cujos princípios ainda hoje vigoram no Brasil. 

(Artigo publicado no Jornal de Piracicaba em 19 de maio de 2021 e na Tribuna Piracicabana de 22 de maio de 2021)


domingo, 9 de maio de 2021

Lendas e crendices de Piracicaba


O ano era 1975. O livro era esperado ansiosamente pela população de Piracicaba. “Lendas e crendices de Piracicaba e outros estudos” foi distribuído e vendido em bancas de jornais. Este original, foi adquirido na Agência Cury de Revistas, na Galeria Brasil. A obra era de autoria de Waldemar Iglésias Fernandes, lançado pelo Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba. Numa época em que a imaginação funcionava formada por aquilo que ouvia-se falar à meia boca, ou pelo folclore, o autor, desafiava as crendices da cidade, como o sono do salto do rio Piracicaba que, numa fração de minuto, dorme e deixa de fazer barulho. O mesmo rio seca de tempos em tempos como se fosse uma alma rancorosa pelo que o ser humano faz ao meio ambiente, proporcionando pular de pedra em pedra, mas, com as chuvas, se enche e engole o ser provocador. O turco que sai às ruas e come às crianças é outra crendice que hoje pode ser considerada demais de politicamente incorreta. Já a Catedral de Santo Antonio é objeto de vários estudos, sendo um que relata que a mesma foi construída sobre um vulcão inativo, o qual nunca mais teria erupções respeitando a casa santa. Outra é sobre uma cobrona que tem sua cabeça na Catedral e seu rabo na rua do Porto. É a maior cobra do mundo ! Quando chegarmos ao final do mundo, ela sairá da sua toca comendo todos em punição pelos pecados cometidos. Lenda indígena contada desde sempre. “Lendas e Crendices” pode ser considerado um best-seller piracicabano. Tem sua única edição esgotada.