* Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Houve
um tempo em que as famílias se reuniam para ver “retratos”. Também houve um
tempo em que as famílias registravam seus piqueniques na ESALQ com “retratos”.
E esses retratos não eram instantâneos. Demoravam dias para serem revelados.
Iam para São Paulo onde concentravam as grandes máquinas de revelação. Isso foi
nos anos 1960 e 70. Já nos anos 80, a evolução chega a Piracicaba através de
famosas redes e as fotografias tinham seus negativos revelados em ampliados em
nossa terra. Você levava numa loja, dava um passeio e em uma hora estava
pronto. E levava um álbum de cortesia. A agonia pela espera terminava aqui e
começava o horror ao ver fotografias borradas, tremidas, fora de foco ou de
pessoas com os olhos fechados ou boca aberta.
Tudo
isso soa de forma estranha no mundo moderno em que vemos na tela do celular o
resultado de uma foto. Tão estranho quanto falar para a geração atual o que é
um LP pulando ou sobre o som de um disco riscado.
Já
são quase 200 anos que a fotografia foi inventada pelos franceses. Chegou ao
Brasil pelos europeus e dom Pedro 2° foi seu grande incentivador. Piracicaba
nunca ficou distante dos “retratos” e dos retratistas. João Cozzo é considerado
como um dos importantes fotógrafos paisagistas da cidade, tendo criado dezenas
de cartões-postais com cenários da cidade. Suas fotos possuíam assinatura, tal
qual um artista plástico faz com sua tela a óleo. Cartões-postais, aliás,
formaram colecionadores, recordações e fizeram negócio em todo o mundo. A Foto
Rápido Cozzo, já em meados do século passado, era uma empresa de revelações
expressas de filmes fotográficos. Mas, não tão rápidas como as que me referi no
início do texto. Não demoravam tanto quanto a tal uma semana para ir a São
Paulo e retornar. Cabe lembrar que o processo era manual e o filme era
monocromático.
Contribuiu
em muito para o surgimento de fotógrafos profissionais a mudança tecnológica de
impressão de jornais. Até o início dos anos 70 as fotos precisavam virar peça
de clicheria, grandes carimbos de metal que formavam a prensa e davam o
resultado final no papel jornal.
Já
nos anos 50 e 60, a cidade possuía renomados profissionais como Cantarelli,
Lacorte, Isolino Nascimento, Idálio Filetti e Cícero Correa dos Santos. Cobriam
os fatos na imprensa e também atuavam como retratistas de eventos sociais de
forma particular. Foram os magos da
inovação química, com retoques feitos com pincel, coloriram fotos preto e
branco, embaçavam o que aparecia em segundo plano e recortavam objetos
indesejados captados pela angulação ou foco.
Os
jornais passam a ter novas gerações nos anos 70 e 80 como Henrique Spavieri,
Pauléo (cuja foto de Chico Mendes visitando o CENA é icônica e foi uma das
últimas antes do ecologista ser assassinado), Christiano Diehl Neto, Davi
Negri, Diógenes Banzatto e outros que a memória não me deixa recordar. Nos anos
90, ainda a imprensa, nos proporciona presenças como Bolly Vieira, Marcelo
Germano, Alessandro Maschio, os irmãos Victor (Haroldo e Aristeu), Claudinho
Coradini, Matheus Medeiros e tantos outros. Alguns destes começaram bem antes
na profissão. Como disse, a memória falha, mas não deixo de registrar também a
contribuição dos retratistas Antonio Trivelin, Del Rodrigues e das Isabela
Borghesi e Amanda Vieira – que representam o universo feminino na arte da
fotografia.
E
com a ação destes fotógrafos a memória “retratista” nunca morre e permanece
registrando a história de Piracicaba.
(Artigo publicado no Jornal de Piracicaba de 20 de julho de 2022 e na Tribuna Piracicabana de 28 de julho de 2022)