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domingo, 26 de dezembro de 2021

Corpo de Vigilantes Noturnos de Piracicaba


 

   "O Corpo de Vigilantes Nocturnos de Piracicaba é uma organização que excellentes serviços vem prestando á cidade. Ainda em sua phase inicial, o Corpo de Vigilantes já conta com um effectivo de 20 homens, rigorosamente uniformizados e bem disciplinados.

   O sr. dr. Corino do Espírito Santo, delegado de Policia, bem auxiliado pelo sr. João Pereira Nobre, chefe dos vigilantes, vem desenvolvendo energicos esforços a fim de tornar o Corpo de Vigilantes Nocturnos uma corporação de plena efficiencia e isenta de falhas, quer disciplinares, quer de serviço, argumentando-lhe o numero de homens e melhorando-o sempre até tornar-se uma organização perfeitamente á altura dessa grande necessidade para Piracicaba.

   Na gravura acima vemos o Corpo de Vigilantes quando, ha dias, contava apenas com 15 homens, e sua directoria, composta dos srs. Angelo Palma, André Ferraz Sampaio, Elias Zaidan Maluf e Esmeraldo Müller. No centro, os srs. Ricardo Ferraz de Arruda Pinto, prefeito municipal e dr. Carino do Espírito Santo, delegado de Policia.

   (Jornal de Piracicaba, 5 de fevereiro de 1939)




quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Jornalistas e jornalismo

 

Edson Rontani Júnior, jornalista, vice-presidente do IHGP e tesoureiro da Academia Piracicabana de Letras

 

Houve um tempo em que o profissional de jornalismo era formado “na marra”. Aquele tipo que Kirk Douglas interpretou no clássico “A montanha dos sete abutres”, de Billy Wilder. Douglas era um repórter que postergava o resgate de uma pessoa soterrada em uma mina. Ele tinha a forma de como tirar tal pessoa de lá. Mas, para que tirá-la se isso dava manchete e vendia jornal? Estamos falando de um filme rodado nos anos 1950. A realidade hoje é diferente, mas lembra em muito como a imprensa explorou o caso dos jogadores mirins presos na caverna da Tailândia, em 2018.

No Brasil, a profissão foi regulamentada e tornou-se uma das poucas da área de comunicação social a exigir diploma para ser exercida. Em 2009, cai a obrigatoriedade de diploma para ser jornalista, dividindo a área entre aqueles que obtiveram o registro profissional por decisão judicial e aqueles que são intitulados jornalista profissional, que possuem diploma de graduação.

Porém, nestas escolas – graduação acadêmica e na escola da vida – formaram-se jornalistas de renome como Roberto Marinho, Adolpho Aizen, Samuel Weiner, Carlos Lacerda, José Hamilton Ribeiro, David Nasser, Joel Silveira, João Saldanha (técnico da Seleção Brasileira campeã em 1970) e tantos outros. Na campo internacional, a sabedoria vai além das cadeiras de graduação quando nos referimos da Gay Talese ou os ganhadores do Nobel da Paz 2021, Maria Ressa e Dmitry Muratov.

Essas linhas servem para reverenciar uma mente importante para nosso jornalismo local, falecido na última sexta-feira. Izidoro Polacow nos deixou aos 100 anos de idade. Não vi sequer uma linha sobre sua partida nas mídias e cabe aqui o registro. Confesso que não o conheci, muito menos seu jornalismo praticado nos anos 1960 e 1970. Mas seu nome era comumente citado em casa por meu pai, colaborador dos jornais locais, dentre os quais estava o “Diário de Piracicaba” onde Polacow trabalhou com outros expoentes da mídia local, que escreviam com um olho na máquina de datilografar e outro olho na tesoura (estávamos em pleno andamento dos Atos Institucionais, dentre eles o AI-5). Fizeram jornalismo com maestria, escrevendo notícias que não podiam ser escritas. Até epidemia de sarampo no interior paulista era alvo dos censores. Polacow é elogiado por muitos que fizeram “escola” com ele.

Tivemos nossos mestres que nos ensinaram além da graduação nas faculdades. Ensinaram “na unha” como ter um perfil crítico, imparcial e com responsabilidade. Sebastião Ferraz, Domarco, “Tuca”, Losso Netto, o “pai” de todos jornalistas Cecílio Elias Netto, dentre outros vieram de escolas dos anos 1950 ou 60 numa época em que a imprensa ainda era vista como o quarto poder constituído no Brasil. Muitos amigos, conhecidos, profissionais passaram por aqui, e, assim como outro jornalista que diariamente se diz “velho e cansado”, às vezes falha minha memória nestes 42 anos dedicados ao jornalismo e a história de Piracicaba. A história antes de mais nada precisa ser revista. Ou melhor ... escrita. As gerações vêm e vão. Se a história não é perpetuada, acabamos caindo no esquecimento e cada qual importância possui neste mundo terreno.

Ou como diria nosso decano, o “tio” Cecílio: “quanto mais velho se fica na profissão, mais se repete, mesmo porque leitores antigos vão morrendo, jovens vão chegando e, na verdade, nada há de novo sob o sol”. Vamos em frente ! Bom Natal !

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Piracicaba fantástica

 

Edson Rontani Júnior, jornalista, vice-presidente do IHGP e diretor da Academia Piracicabana de Letras

 

“Não saia na rua a noite senão o ‘ligera’ vai pegar você”. Muitas crianças se assustavam com essa ameaça paterna ou, principalmente, materna. Tal pessoa era conhecida também como andante, pedinte, mendigo ou “o homem do saco”, que pegava as criancinhas, colocava-as em um saco e seguia não se sabe para onde. Falavam que tal figura devorava as crianças. Nos anos 1970, quando cinquentões como eu curtíamos a infância, era um motivo para não sair de casa.

Eis que Waldemar Iglésias Fernandes publica, numa edição pioneira do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP), o livro “Lendas e crendices de Piracicaba e outros estados”, datado de 1975, vendido principalmente em jornaleiros e bancas de revistas da cidade. “Bertico”, o Alberto Thomazi, era autor da capa ilustrando um ritual católico diante da morte, presumindo-se ocorrer na época do escravagismo.

Eis que em sua página 21, apresenta-se a história do turco (!!!) que come criança. Xenofobia pura ou preconceito étnico nos dias de hoje. O popular “politicamente incorreto”. Iglésias mostra estupefação ao dizer que os piracicabanos “não simpatizavam com esses civilizados e cultos orientais, vindos de tão longe com língua tão estranha”. Há registros de muitos anos atrás nos jornais de Piracicaba de queixas à polícia por pais aflitos contra os turcos “antropófagos”. Essa é a Piracicaba fantástica, com suas histórias surpreendentes, algo que a torna única diante de outras regiões.

O autor do livro fez um apanhado de lendas e crendices que viajaram o interior do país, oriundas de uma miscigenação cultural, de culturas estrangeiras e nacionais, como aquelas perpetuadas pelos índios. Lembra da tal “cobrona” que virá no final dos tempos comer os pecadores e está com parte do corpo instalado embaixo da matriz de Santo Antonio ? Existem variantes da mesma situação no Amazonas e no Centro-Oeste. Dizem que esta lenda dominou muitos encontros indígenas diante da fogueira instalada ao lado das ocas.

Iglésias nasceu no Bairro Alto. Foi lá que nos anos 1930 brincou na rua, com terra batida, e ouviu muitas dessas culturas compiladas na publicação. Era comum se reunir embaixo dos postes elétricos para contar estórias ...  Época em que a imaginação pegava carona apenas nos livros de Jules Verne. Quando lançado em 1975, as lendas e crendices ainda fazia arrepiar os petizes. A época era outra. Até King Kong, Drácula e Piranha nos faziam pular dos assentos de cinema. O efeito hoje é o mesmo ? Não entremos neste mérito ... Quando adulto, Iglésias fez um abecedário de todas as lendas, crendices e músicas que ouviu “com o precioso socorro dos irmãos e irmãs”, salienta.

Interessante é ver que desde o lançamento do livro até hoje, alguns conceitos mudaram. Como por exemplo, o “véu da noiva” que é confundido com aquela canalização que percorre o Mirante e deságua próximo a ponte pênsil. Na verdade, o véu é a bruma que cobre o leito do rio Piracicaba de madrugada, em determinadas épocas do ano.

O sono do salto, o rio que seca, o coqueiro assombrado, a matriz sobre um vulcão, Nossa Senhora dos Prazeres X Santo Antonio ... São contos acrescidos de vertentes pessoais que Waldemar Iglésias Fernandes nos presenteia neste livro que tem uma necessidade de ser reeditado, haja visto o interesse e sucesso pela “Coleção Lendas de Piracicaba”, livros lançados por Ivana Maria França de Negri ilustrados por sua neta Ana Clara de Negri Kantovitz. “A Cobrona” lançado recentemente na Biblioteca Municipal e outros espaços tem atraíram o interesse dos petizes que ainda não se iniciaram no mundo digital.

Uma ótima pedida para que lendas e crendices não se afastem de nosso tão rico folclore e, tristemente, um dia virem lenda !

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Para gostar de ler

 

Edson Rontani Júnior, jornalista, vice-presidente do IHGP e diretor da Academia Piracicabana de Letras


“No meio do caminho tinha um livro ... Tinha um livro no meio do caminho”... Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, que encontrou uma pedra no meio de seu percurso, me lembro como descobri o gosto pela leitura. Aliás, Drummond foi um dos responsáveis por isso.

Época em que crônicas eram consideradas rasas, sem aprofundamento. Eram histórias curtas que mexiam com nossa imaginação, tamanha criatividade de seu autor. Foi quando perdurou o bordão “inteligência de gibi”, taxando de forma pejorativa quem não lia livro, mas sim quadrinhos. Ledo engano... Hoje, gibi é artigo de luxo. Já parou para ver quanto custam ?

Lá pelos idos da segunda metade da década de 1970, o ensino fundamental recebeu orientação de iniciar crianças à leitura com uma série lançada pela Editora Ática, denominada “Para Gostar de Ler”. Livro fino, bem simples, cada volume era aguardado pelos professores que faziam provas com base nas crônicas escritas por estrelas da literatura brasileira como Drummond, Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Mário Quintana, Vinícius de Moraes, Loureço Diaféria, Luís Fernando Veríssimo, Lima Barreto, Clarice Lispector, Ignácio de Loyola Brandão, Mário de Andrade, Lygia Fagundes Telles e tantos outros. A nata da escrita brasileira ! Foram dezenas e dezenas de expoentes.

Com mais de 100 mil exemplares por edição, “Para Gostar de Ler” teve quase 50 edições. Todas bem trabalhadas. Crônicas selecionadas de forma cuidadosa. Coletânea de ouro ! O objetivo não era ensinar gramática, e sim iniciar os jovens leitores à escrita de qualidade.

Confesso eu que não era muito afável à leitura na infância, mas este impulso me fez tornar jornalista, historiador e escritor. Claro que houve aí mãos dos professores Orlando Veneziano, Conceição Brasil e Francislídio Beduschi, grandes estimuladores do pensamento aos quais dou hoje “a mão à palmatória”. Foram mestres que todo pupilo esperava ter.

Tudo isso me veio à lembrança depois de tomar conhecimento do lançamento em outubro do livro “Os Sabiás da Crônica”, Editora Autêntica, reunindo 90 textos de Rubem Braga, Vinícius de Moraes, Fernando Sabino, Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), Carlinhos de Oliveira e Paulo Mendes de Campos. Boa parte, senão todos, desconhecidos da geração que se informa pelas mídias digitais ou cria dancinhas medíocres diante do Tik Tok. Por que este relançamento ? Para atingir um público como eu, com ar de nostalgia, que esperará pela black friday para ver seu preço baixar e comprar por uma plataforma digital a versão impressa – é lógico ! -, e ter acesso ao pensamento atemporal de personalidades que em muito contribuíram para nossa literatura.

Em época na qual a informação está mais rasa, consumida através de postagens em mídias digitais, além dos pontos de vida díspares, a leitura continua sendo uma ferramenta de empoderamento. “Veja” da semana passada traz um embate dos cientistas que combateram o coronavírus e sofreram ameaça por pessoas que negam a aplicação da vacina e testagem em seres humanos. Todos os cientistas ouvidos pregam a leitura e o conhecimento como fator elucidativo diante de pré conceitos sem fundamentos. É óbvio...

Já a pesquisa recentemente divulgada, conduzida por cientistas da Noruega e da França, o bom e velho papel representa maior retenção da mensagem no cérebro humano, se comparado com e-readers, tablet, PC ou smartphone. O impresso mexe com o senso cognitivo, proporcionando sequências lógicas fornecidas por dicas motoras, sensitivas e de raciocínio. Porém, o que vemos hoje ? Confiança no digital, leitura rápida e o “eu sei tudo”... Que tipo de leitor e escritor estão sendo preparados para o futuro ?

domingo, 21 de novembro de 2021

Rádio Difusora de Piracicaba - PRD-6


Radialistas da Difusora nos anos 1950 : Helio Rodrigues, Rubens Bisson, Elias Rodrigues, Onishi, Artemio di Lello, Edson Rontani e Aurélio Scalise


A Rádio Difusora foi fundada em 12 de outubro de 1933, como Rádio Clube por João Sampaio Góes. A programação de inauguração foi das 8 da manhã até as 11h30 do dia seguinte e consistia de cumprimentos de amigos e mensagens do comércio e entidades locais. As festividades contaram com apresentação de orquestras, bandas e cantores. Ela foi uma das primeiras emissoras fundadas no Brasil.

Em 1944, trocou seu nome para Rádio Difusora, que permanece até hoje. Em 1950, o casal Aristides e Maria Conceição Figueiredo, que tinha uma rádio em Uberlândia (MG), comprou a estação, pois João Góes achava que a televisão iria acabar com o rádio. Com nova filosofia administrativa, a Difusora foi conquistando espaço e ganhando cada dia mais anunciantes, pois a publicidade até então praticamente inexistente na emissora, passou a ter atenção especial da diretoria que assumiu.

Nessa fase, a Difusora passou a movimentar mais sua programação,  com a implantação de rádio-novela, novos programas de auditório e grandes shows com orquestras e artistas famosos da Rádio Nacional, como Nelson Gonçalves, Marlene, Ângela Maria, Emilinha Borba, Carlos Galhardo e outros.

Em 1962, faleceu Aristides Figueiredo, um dos maiores idealizadores do rádio piracicabano, que há 12 anos comandava a estação, deixando a direção da Difusora nas mãos da esposa Maria Conceição Figueiredo, que, com determinação fez a emissora crescer ainda mais. Após três anos sozinha à frente da Rádio e sem filhos, convidou sua sobrinha e afilhada Maria Conceição Pippa e seu noivo José Roberto Soave para ajudá-la na administração.

Assim em 1965, a estação iniciou a fase sob o comando de José Roberto Soave. Com um trabalho sério e grande capacidade administrativa, investiu bastante nas transmissões de jogos e no jornalismo, que era sua paixão. Soave deu maior dinamismo à emissora, transformando-a, gradativamente, em uma rádio voltada à prestação de serviços à comunidade, visto que, a partir da década de 70, os shows de auditório começam a se extinguir, e as rádios tiveram que encontrar uma nova maneira de atrair a atenção do ouvinte. E o jornalismo foi um delas.

Foi nessa época que as gincanas começaram a surgir na cidade, organizadas pela Rádio Difusora, uma ideia criativa de Roberto Soave. Elas ocorriam no programa Show das Três, apresentado por Attinilo José. "Eu pedia, no ar, para as pessoas trazerem, em 20 minutos, determinado objeto à emissora. Quem conseguisse ganhava um prêmio oferecido pelo patrocinador", recorda-se. Com o passar do tempo, a disputa foi tomando tal proporção que se formaram até escuderias para participar, criando equipes com a EkypéXato, Zoom-Zoom, EkyPeralta e Ekypelanka, que, mais tarde transformaram-se em escolas de samba que fizeram muito sucesso nos anos de ouro do carnaval de Piracicaba. "As gincanas passaram a mobilizar uma multidão de pessoas e duraram cerca de dez anos", diz Attilino José, radialista a mais de 40 anos.

O maior feito de Soave na emissora foi a implantação da freqüência modulada (FM), em 1977, outro pioneirismo da PRD-6. Após visitar estações de FM nos estados Unidos, ele importou todos os equipamentos, implantou a FM aqui e aproveitou, na mesma época, para substituir e modernizar toda a aparelhagem da  AM. E a difusora tornou-se, mais uma vez, referência para todo o interior de São Paulo e até para outros Estados, que vinham à Piracicaba para conhecer aquela inovação antes de implantar o mesmo sistema de transmissão. Com essa nova aquisição - FM 102,3 Mhz -, um novo estilo de programação foi incorporado a ela. A estação, a única da região, virou referência para a comunidade jovem que surgia, pois sua programação seguia o padrão americano, numa verdadeira revolução para a época.Em 1997, ocorreu o falecimento de José Roberto Soave, que dedicou 33 anos de sua vida à Rádio Difusora, levando o nome de nossa cidade para além dos limites de São Paulo. Esse período foi marcado pelo pioneirismo, arrojo e pela visão administrativa do grande empreendedor José Roberto Soave. (Texto original do site da emissota)

segunda-feira, 19 de julho de 2021

16 de julho de 1932

 Edson Rontani Júnior, jornalista

 

A data era 16 de julho de 1932. O relógio marcava 13 horas. O local era a praça 7 de setembro (atual praça José Bonifácio), proximidades da rua São José. Estava montado o cenário. A cidade compunha, assim, o 1º. Batalhão Piracicabano que partiu para Quitaúna na capital paulista (hoje cidade de Osasco). Foi assim que Piracicaba engajou-se na Revolução Constitucionalista cujo levante se deu em 9 de julho de 1932, ou seja, 89 anos atrás. Foram 200 membros que se apresentaram.

Exatamente neste local foi que se inscreveram os primeiros voluntários conclamados na reunião realizada em 12 de julho, à tarde, no Teatro Santo Estevão, tendo como líderes do encontro Francisco Lagreca, Alberto Vollet Sachs, Luiz Dias Gonzaga, Sebastião Nogueira Lima, Nelson Camponez de Oliveira, Mário Neme, Haldumont Nobre Ferraz, Moacyr Amaral Santos e outros.

Também denominado pela imprensa como 1º. Batalhão de Piracicaba ou Batalhão Noiva da Colina, este contingente era comandado pelo tenente do Exército Augusto Gomes, responsável pelo Tiro de Guerra 542. No campo de Batalha nossos conterrâneos eram liderados 2º. sargento Juvenal Fernandes de Oliveira e pelo capitão Boaventura.

A história mais conhecida é que estes voluntários partiram da praça 7 de setembro marchando pela rua Boa Morte, recebendo pétalas de rosas atiradas pelos populares, acompanhados das bandas União Operária e Capitão Lorena. A Banda União seguiu com os voluntários pelo trem da Paulista até a capital paulista.

Diariamente partiam os voluntários. Relatos posteriores dos participantes dizem que 600 pessoas (entre homens e mulheres) se alistaram. Nos jornais, o prefeito Luiz Dias Gonzaga escreveu cartas abertas, dizendo que Piracicaba havia mandando 1 mil voluntários. Próximo ao final do conflito, o mesmo disse que havia enviado 3.500 e que, se preciso, enviaria mais.

As listas de inscrições foram feitas de forma descentralizadas. Jornais de época traziam nomes, dias e horários de embarques, mas não são fontes fidedignas para afirmações históricas, uma vez que muitos se inscreveram nas centrais de outras cidades. O voluntariado era feito por idealismo, embora registros mostram que muitos foram à batalha na intenção de se encaixarem em empregos prometidos caso São Paulo vencesse as forças federais de Getúlio Vargas. A maioria ficou a ver navios ...

Os piracicabanos foram agrupados no 14º Regimento de Infantaria, 4º. Batalhão de Caçadores da Reserva, 5º e 6º. Regimentos de Infantaria, 2º. Batalhão dos Funcionários Públicos, Exército Constitucionalista dos setores Leste e Norte e outras divisões. Atuaram em Bocaina, Areias, Silveiras, Queluz, Itapira, Cruzeiro, Vale do Paraíba e áreas situadas no norte do estado.

A primeira baixa que o Batalhão Piracicabano teve foi com Ennes Silveira Melo, então com 26 anos, falecendo em 17 de agosto de 1932 no Hospital do Sangue em Cruzeiro. Ele e mais três companheiros foram alvejados por metralhadoras quando construíram um abrigo antiaéreo numa trincheira.

Os piracicabanos receberam das forças federais a alcunha de “Columna Maldita” pelas atrocidades cometidas. As mesmas eram negadas por nossos conterrâneos, os quais alegavam que tudo não passava de ‘fake news” com objetivo de abalar o moral da tropa. 

Muitos relatos dos campos de batalha eram feitos por correspondência. Os jornais locais também tinham seus informantes, voluntários que atuavam como fonte de notícias: Mário Neme (“O Momento”), Jacob Dihel Neto, Pedro Krähenbühl (O Momento) e Antonio Moraes Sampaio (Jornal de Piracicaba).

A Revolução Constitucionalista terminou em 2 de outubro de 1932. A cobertura dos jornais se deu por mais dois ou três dias, existindo uma grande lacuna no retorno aos piracicabanos à sua terra. Motivo: Getúlio Vargas impusera a censura à imprensa e deportou para Portugal os líderes do movimento. A cidade volta, então, à sua normalidade.

(publicado no Jornal de Piracicaba de 14 de julho de 2021 e na Tribuna Piracicabana de 16 de julho de 2021)

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Revolução de 1932 será lembrada através de lives

 

Erike Silva O Caçador de Histórias

 

Os 89 anos da Revolução Constitucionalista de 1932, comemorados em 9 de julho, feriado estadual, renderão uma série de atividades desenvolvidos ao longo deste mês. A principal delas será uma sequência de entrevistas pelas redes sociais que entrevistarão estudiosos e escritores sobre o levante armado que tinha intenção de depor o presidente da época Getúlio Vargas.

Os temas focarão na vida de piracicabanos que partiram para o fronte de batalha, em especial a região norte do estado de São Paulo, em cidades como Cruzeiro e Areias. O coordenador da atividade, Edson Rontani Júnior, jornalista e estudioso da época, diz que a intenção é propagar às novas gerações o ganho democrático proporcionado em 1932, que ocasionou uma nova constituição dois anos depois, garantindo condições ainda hoje usufruídas no Brasil como o habeas corpus, ensino gratuito e as bases da CLT (leis trabalhistas), além da dissociação dos poderes legislativo, executivo e judiciário.

As transmissões ocorrerão nas redes sociais e começam neste sábado, às 10 horas, com entrevista cedida por Erike Silva, conhecido como “O Caçador de Histórias”. Morador de São José do Barreiro, região montanhosa, por onde existem registros do Batalhão Piracicabano. Foi nesta pequena cidade, com pouco mais de 4 mil habitantes, que foi dado o primeiro tiro da Revolução durante reconhecimento de área pelas tropas federais que se depararam com os voluntários paulistas.

No dia 10 de julho, o entrevistado será Rodrigo Guttemberg, que falará do papel histórico da revolução. Em 17 de julho, o entrevistado será Eric Apolinário, autor do livro “Inverno Escarlate” e no dia 24 o publicitário Ricardo Della Costa abordará assuntos inéditos sobre a Revolução através de seu livro “Revolução de 1932” publicado pela Panda Books.

As apresentações se encerram em 31 de julho com uma série de vídeos sobre os ícones de Piracicaba na Revolução Constitucionalista. As apresentações serão sempre às 10 horas, no Instagram (@antigapiracicaba), Facebook (@fotoeahistoria e @voluntariosdepiracicaba1932), YouTube (Antiga Piracicaba) e do blog fotoeahistoria.blogspot.com

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Cachaça e oração

 Edson Rontani Júnior, jornalista 

Virou meme nas redes sociais digitais a manifestação do papa Francisco dizendo que o brasileiro não tem jeito: “é muita cachaça e pouca oração”. A frase, feita em tom de brincadeira, pegou de surpresa até o interlocutor que solicitou sua intervenção pela situação atual. Esta imagem da cachaça está enraizada na cultura popular e ... Piracicaba tem sua inegável contribuição! Produtores das famosas caninhas e pingas ao longo do século passado, chegamos a ser referência da aguardente extraída da cana de açúcar.

Originária do sul da Ásia, a cana de açúcar chegou ao solo americano importada pelos europeus que aqui nos colonizaram. Sua fermentação era moeda de troca no império português.

O historiador Luis Felipe de Alencastro diz que a cachaça era a moeda mais valorizada na época do Brasil colônia para o escravagismo. Em “O Trato das Viventes – Formação do Brasil no Atlântico Sul – Séculos XVI e XVIII” ele afirma que os portugueses proibiram a comercialização do produto para garantir ao mercado europeu o consumo da bagaceira e do vinho. A cachaça virou, então, uma moeda no mercado paralelo para a compra de escravos negros para o Brasil. Angola e Luanda foram os países que mais comercializavam a mão de obra escrava em troca da bebida. Um em quatro negros trazidos destes locais eram trocados pela cachaça.

Aguardente é a bebida conseguida com qualquer vegetal doce. Cachaça é a aguardente obtido exclusivamente através da cana de açúcar. Pinga é o nome popular da cachaça. No início, o seu processo de fabrico era um constante pingar em um grande coador. Caninha ou aguardente de cana doce são variações do linguajar.

Todos eles foram cultivados, produzidos ou envasados em Piracicaba no século passado. A memória mais recente remonta às marcas Cavalinho e Tatuzinho, esta última ainda produzida em Rio Claro pela empresa Três Fazendas, da família Almeida.

A história pela produção da caninha tem ligação direta com as antigas cervejarias, como subproduto fabricado então pelas famílias Wagner, D’Abronzo, Carmignani e outras.

Caetano Carmignani era italiano, chegando ao Brasil em 1887. Em Piracicaba, no ano de 1904, criou a Cerveja Cavalinho, seguida dos refrigerantes da mesma marca. A fábrica estava instalada na avenida Dona Francisca, Vila Rezende, produzindo a Caninha Cavalinho a partir de 1910. A industrialização da marca ocorre em 1934, após o falecimento do patriarca Caetano. Produzia também bebidas conhecidas do piracicabano como a gengibirra e cotubaína.

Ainda em atividade, a Destilaria Capuava foi fundada em 1886 por imigrantes dinamarqueses, acostumados com a aquavit, bebida bem consumida nos países escandinavos, proveniente de cereais ou tubérculos como a batata, acrescidos de ervas aromáticas. Porém, foi com a cana de açúcar que a empresa se tornou notória no mercado.

Jacob Wagner, avô do artista plástico Renato Wagner, foi produtor de cerveja em barril, o chope. Não se arriscou com a aguardente, mas possuía uma famosa cervejaria no Centro de Piracicaba, com garrafas lacradas com bolinha de gude no seu gargalo.

A fama de cachaceiro talvez tenha chegado ao papa através de um forte marketing realizado nos anos 1960 pela Caninha Tatuzinho, produto da empresa criada em 1910 por Paschoal D’Abronzo, também imigrante italiano que incialmente veio colher café na fazenda dos Amaral (da família da artista plástica Tarsila) em Mombuca. A empresa tentou exportar a aguardente adoçada com o nome Samba’s Rhum, nos anos 1960.

Piracicaba teve usinas, destilarias, revendedores e consumidores que criaram esta exótica visão que possuímos. Mas como todo pecado reverte-se em penitência, oremos ... E não nos esqueçamos de um gole para o santo ...

(Publicado no Jornal de Piracicaba dia 2 de junho de 2021 e na Tribuna Piracicabana dia 4 de junho de 2021) 

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Mais que juventude

 Edson Rontani Júnior, jornalista 

Não apenas a juventude, mas sim toda a sociedade se mobilizou em 1932 quando, em 23 de maio daquele ano, começava uma marcha pela democracia no Brasil. A data passou a ser lembrada como o Dia da Juventude Constitucionalista – em Piracicaba há decreto legislativo criado em 2017 -, em lembrança à morte de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, que formaram o MMDC, sociedade civil secreta que articulou o levante contra o governo de Getúlio Vargas.

Historicamente, foi neste dia em que, na capital paulista, a população foi às ruas num movimento que exigia uma nova Constituição no país. Os manifestantes foram recebidos à bala pelos simpatizantes de Vargas que ocupavam um prédio na praça da República. Foi o estopim para que, de 9 de julho a 2 de outubro de 1932, os paulistas pegassem armas e evitassem o avanço das tropas federais vindas do Mato Grosso, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O saldo resultou em mais de 900 mortos pelo lado paulista, número superior às mortes ocasionadas pelo envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial.

O fervor pela causa fez com que a sociedade toda se mobilizasse, tendo como liderança personalidades como Luiz Dias Gonzaga (prefeito na época), Alberto Vollet Sachs, Sebastião Nogueira de Lima, Aldrovando Fleury, Mário Neme, Thales Castanho Andrade  e outros, que, além de coordenar as ações dos “voluntários de Piracicaba” também empunharam armas e foram aos frontes de batalha. A Revolução de 1932 pode ser considerada uma “guerra de trincheiras”, assim como foi a Primeira Guerra Mundial: o objetivo era evitar o avanço das forças federais para o interior do estado de São Paulo.

Piracicabanos foram coordenados, nos combates, pelo tenente do exército Boaventura. Em Piracicaba, a liderança era do tenente do exército Augusto Gomes, chefe do Tiro de Guerra 542. Vollet Sachs secretariou a primeira reunião que criou o 1º. Batalhão Piracicaba, também denominado de Batalhão Piracicabano e Batalhão Noiva da Colina pela imprensa local. Esses jovens foram alcunhados pelas forças federais de “Columna Maldita”, por sua sagacidade e atitudes mercenárias junto aos prisioneiros ou nas ações de patrulha e assalto.

Duzentos destes piracicabanos deixam a cidade no sábado, 16 de julho de 1932, e partem pelos trens da Cia. Férrea Paulista rumo a Quitaúna, Osasco (na época, bairro da capital paulista), quartel general do embate. A juventude constitucionalista, aceita em Piracicaba, deveria possuir mais de 18 anos. Era comum alterar espontaneamente sua idade para se alistar e evitar o vexame de estar na juventude e permanecer em Piracicaba sem defender a causa.

Assim encontraram seu derradeiro gesto de amor à pátria jovens como Ennes Silves Mello, Claudionor Barbieri, Jorge Jones e Natal Meira Barros. Este último, fugindo duas vezes de sua casa, partiu para São Paulo e, durante patrulha de reconhecimento em Pinheiros recebe uma rajada de metralhadora e morre devido à hemorragia ao ser atingido no pescoço. Tinha apenas 17 anos de idade.

Não existem registros concretos sobre a participação de escoteiros nesta Revolução. Na região, todos se emocionaram com a morte de Aldo Chioratto, escoteiro e, na função de mensageiro – a comunicação viajava pessoalmente à época – foi atingido por uma granada lançada de um avião federal. Falece devido aos estilhaços. Tinha apenas 9 anos de idade.

A ação dessa juventude, mais que juventude, motivou uma constituinte que, em 1934, definiu nova lei magna no país, cujos princípios ainda hoje vigoram no Brasil. 

(Artigo publicado no Jornal de Piracicaba em 19 de maio de 2021 e na Tribuna Piracicabana de 22 de maio de 2021)


domingo, 9 de maio de 2021

Lendas e crendices de Piracicaba


O ano era 1975. O livro era esperado ansiosamente pela população de Piracicaba. “Lendas e crendices de Piracicaba e outros estudos” foi distribuído e vendido em bancas de jornais. Este original, foi adquirido na Agência Cury de Revistas, na Galeria Brasil. A obra era de autoria de Waldemar Iglésias Fernandes, lançado pelo Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba. Numa época em que a imaginação funcionava formada por aquilo que ouvia-se falar à meia boca, ou pelo folclore, o autor, desafiava as crendices da cidade, como o sono do salto do rio Piracicaba que, numa fração de minuto, dorme e deixa de fazer barulho. O mesmo rio seca de tempos em tempos como se fosse uma alma rancorosa pelo que o ser humano faz ao meio ambiente, proporcionando pular de pedra em pedra, mas, com as chuvas, se enche e engole o ser provocador. O turco que sai às ruas e come às crianças é outra crendice que hoje pode ser considerada demais de politicamente incorreta. Já a Catedral de Santo Antonio é objeto de vários estudos, sendo um que relata que a mesma foi construída sobre um vulcão inativo, o qual nunca mais teria erupções respeitando a casa santa. Outra é sobre uma cobrona que tem sua cabeça na Catedral e seu rabo na rua do Porto. É a maior cobra do mundo ! Quando chegarmos ao final do mundo, ela sairá da sua toca comendo todos em punição pelos pecados cometidos. Lenda indígena contada desde sempre. “Lendas e Crendices” pode ser considerado um best-seller piracicabano. Tem sua única edição esgotada. 




terça-feira, 27 de abril de 2021

O legado de 21 de abril

 Edson Rontani Júnior, jornalista 

Piracicaba tem tradição e é um celeiro de profissionais dedicados à ciência odontológica. Desde 1915 forma profissionais em odontologia, sendo que muitos destes passaram pela Faculdade de Farmácia e Odontologia (1915 a 1935), Faculdade de Farmácia e Odontologia de Piracicaba (1957 a 1967), encampada depois pela Unicamp com a denominação de Faculdade de Odontologia de Piracicaba (de 1967 até os dias atuais). Existem, também, profissionais que por aqui atuam, mas se formaram pela Unimep no campus situados em Lins, na Fundação Hermínio Ometto/Uniararas de Araras, São Leopoldo-Mandic de Campinas e outras.

O legado deste 21 de abril é extenso. A data marca o enforcamento de Tiradentes no ano de 1792 por ordem da Coroa Portuguesa, considerado traidor por incentivar a separação do Brasil diante de Portugal, tido pela história como inconfidente, junto a outros 10 julgados. A partir do primeiro governo Getúlio Vargas, nos anos 1930, busca-se nele a personificação de herói para o Brasil, o mártir da nação. Foi quando, criou-se uma doutrinação “mea culpa” tornando-o referência cívica. Por falta de registros fotográficos, o barbeiro/dentista prático e alferes do Exército de Portugal, passou por um checkup que remetia sua imagem ao simbolismo cristão. Magro e barbado. Virou patrono da odontologia brasileira. Figura como o primeiro herói inscrito no Panteão da Pátria e da Liberdade, situado em Brasília. Inaugurou a galeria de benfeitores nacionais em 1992, no bicentenário de seu enforcamento.

A profissão pregada por Tiradentes deixou um importante legado a Piracicaba. A primeira instituição de graduação na cidade surgiu em 1915. A Escola de Farmácia e Odontologia de Piracicaba (depois Escola de Farmácia e Odontologia Washington Luiz e mais tarde Prudente de Moraes) era uma instituição privada, que chegou a funcionar também no salão nobre do Museu Prudente de Moraes. Torquato da Silva Leitão foi seu primeiro presidente e Octávio Teixeira Mendes seu primeiro secretário. Por anos foi dirigida por Jorge Augusto de Silveira. As aulas começaram em 10 de janeiro de 1915 com a primeira turma sendo formada em 27 de novembro de 1916, no Teatro Santo Estevão. Encerrou suas atividades 20 anos depois, em 1935.

A história da odontologia é anterior a criação desta instituição. O “Almanak de 1900”, coordenado por Manoel de Camargo, trazia uma citação curiosa, relatando que o Padre Galvão, em 3 de agosto de 1868, retornava de uma viagem de São Paulo, para onde partiu a fim de realizar molde para uma dentadura. Esta mesma publicação trazia publicidade de três consultórios odontológicos sediados em Piracicaba, com trabalhos feitos por Adelardo de Souza, João Mac Knight e George Gooda.

Nestes mais de 100 anos de formação profissional, Piracicaba teve inúmeros profissionais que se destacaram na odontologia. Foram muitos, mas fica o registro de alguns, como Enéas Lemaire de Moraes, Erasto da Fonseca, Bruno Ferraioli, Paulo Teixeira Mendes ... No serviço público, a ação de Gentil Calil Chaim foi essencial para um trabalho pioneiro que formou o Serviço Odontológico Municipal (SOM) levando atendimento também para a zona rural de Piracicaba. Expoentes como Antonio Oswaldo Storel levaram a participação da odontologia da política, sendo este Secretário do Bem-Estar nos anos 1970, e depois primeiro presidente da EMDHAP, Secretário Municipal do Desenvolvimento Social, vereador e postulante à prefeito da cidade. Claro que são poucas linhas para descrever toda a dedicação de muitos à cidade. Assim como não se pode esquecer do professor Antonio Carlos Neder, verdadeiro cientista da odontologia, um dos pioneiros da farmacologia. Criou no início dos anos 1980 a fórmula da goma de mascar que auxiliava na eliminação das bactérias que causavam a cárie, patenteando-a como “Den-Den” e por iniciativa própria entregou sua patente para a RDA (República Democrática Alemã, a parte socialista do país, anexa à União Soviética). Foi convidado para a Secretaria Nacional de Saúde durante o governo Collor de Mello e coordenou a instalação da Faculdade de Medicina em Tocantins.

O 21 de abril deste ano será marcado, pelo segundo ano, pelo isolamento. As atividades corriqueiras desta data, como evento na Praça José Bonifácio ou hasteamento das bandeiras na Associação dos Dentistas foram cancelados. Mas quem tiver a oportunidade não deve deixar de ler algumas histórias sobre a arte do dentista no livro “Museu Odontológico Drª. Grace Harriet Clark Alvarez”, de autoria de Waldemar Romano e Reinaldo José Salvego, também dentistas, lançado em 2005 por ocasião dos 25 anos desta instituição.

(Publicado no Jornal de Piracicaba de 21 de abril de 2021 e na Tribuna Piracicabana de 23 de abril de 2021)

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Ano um

Edson Rontani Júnior, jornalista

 A Estação da Paulista estava triste. Era 20 de março de 2020. Acontecia o primeiro final de semana festivo em louvor a São José, organizado pela paróquia da Paulista. Como era tradição, seria uma festividade cultuada em dois finais de semana. Ocorreu em apenas um final de semana e quase à míngua.

O medo que estava por vir, deixou todos atônitos. Sentíamos este medo à distância, desde dezembro na China e na Europa. Estava avançando para o Brasil. Pouco depois chegaria a Piracicaba. A covid já estava em terra verde e amarela, obrigando-nos ao confinamento na quarentena que completou um ano esta semana.

“Não vou mais à escola, nem ao shopping?”, perguntou o adolescente. Afirmação negativa. Tudo fechado! Restaurantes, comércio ... tudo parou.

Na TV assistíamos ao Papa em orações numa cena nunca antes imaginada, dando indulgência plenária para toda a população mundial. Sozinho caminhava com chuva pelas ruas de Roma. Em paralelo, tanques de guerra eram utilizados para carregar caixões e mais caixões de mortos na Itália pelo sars cov 2.

Mais tempo em casa. Um dia ... dois dias ... Semana após semana ... Incertezas com relação ao dia de amanhã. Medo de ser contaminado e contaminar. Ser o vetor de transmissão. Ser considerado como um “boi” quando tentava-se entender o que era a tal “imunização do rebanho”.

A única solução era trancar-se em casa em pleno outono rigoroso, período em que as doenças respiratórias se propagam com maior facilidade.

Exercícios no lar, pois parques e academias estavam fechadas. As ruas eram locais de insegurança, não relacionada à criminalidade, e sim à atenção sanitária.

“Já viu isso antes, pai?”, perguntou o adolescente. A resposta, mais uma vez, foi negativa, mas uma busca na internet demonstrou que a gripe espanhola também atingiu Piracicaba em 1918, acometendo centenas e tirando a vida de cerca de 60 pessoas.

Tudo passa e isso passará rápido, era o pensamento. A máscara facial tipo cirúrgica, vendida a 9,90, em caixa com 100 unidades, logo após o Carnaval do ano passado, chegou na faixa dos 100 reais ... 150 reais ... “É um exagero !”, alguém deve ter pensado, Isso remeteu às máscaras compradas em 2009 durante a proliferação da gripe suína, as quais acabaram sendo utilizadas de proteção quando aquele precavido foi pintar a casa e protegeu-se ao lixar a massa corrida passada na parede.

De tanto ficar em casa, a cachorrinha de estimação habituou-se a ser a primeira a ir a porta quando o motociclista tocava a buzina, trazendo a refeição pedida por aplicativo. Festas de 50 anos, festas de casamento ... canceladas! Foi um efeito dominó.

É passageiro, pensou de novo aquela pessoa incauta que em junho esperava participar das festas juninas da igreja do bairro. Não houve festa junina. Nem passear no Engenho Central foi possível, pois cancelaram a Paixão de Cristo e a Festa das Nações. Já estava tomando corpo uma mudança social que parecia não acabar. E não acabou.

E o convívio social? Já era difícil prestar atenção durante as aulas na faculdade, lembrou uma pessoa. Assistir aula no quarto, ao lado da cama, ou lado do vídeo game ... Concorrência injusta. Segundo ano longe dos amigos, da paquera da escola. Lembrou a muitos a convivência social noturna de quem estudou na Unimep Centro e toda sexta-feira ia matar a sede com os amigos no Popeye ou na Prosit. Recordação rica que não volta e que alguns deixarão de ter.

Neste um ano de pandemia aprendemos muito. Desconhecemos muito também. O vírus se fortaleceu. Os hospitais de campanha, quando desinstalados, nos deram noção de que tudo estava acabando. Pensamos estar imunes durante o verão, o réveillon e as férias de dezembro e janeiro. Há quem tenha cancelado a rotina para ir a praia nos dias de Carnaval deste ano. E mande-lhe ostentação nas mídias sociais digitais.

Um ano depois a situação está mais crítica. A Semana Santa não terá suas celebrações tradicionais mais uma vez. Cinemas fechados, jogos de futebol suspensos, encontros familiares fora de cogitação. Neurose de tocar em algo e ser contaminado, desde uma publicação impressa até produtos comprados no supermercado.

Um ano se passou. A preocupação não cedeu. Está .... “mais preocupante” ...

(Publicado no Jornal de Piracicaba dia 24 de março de 2021 e na Tribuna Piracicabana dia 26 de março de 2021)

quarta-feira, 24 de março de 2021

Ano dois

 

Edson Rontani Júnior, jornalista

Aquilo que era estatística começou a dar sua cara. Virou nome. Mortes pela covid-19 que eram representadas por gráficos passaram a ser nominados. Numa breve limpeza da minha agenda de telefones, exclui um ... dois ... três... Foram vários amigos que nos deixaram durante a pandemia. As vítimas passaram a se aproximar de nós, deixando saudade eterna motivada pela pandemia que em 2021 entrou em seu segundo ano.

Há um ano atrás escrevi nestas páginas um relato sobre o primeiro ano desta situação que ainda perdura. Em janeiro de 2020 víamos pelos noticiários o sofrimento dos chineses. Uma Itália despedaçada com centenas de mortes. O Papa em sua peregrinação solitária dando sua unção de forma coletiva a um público que não mais saía de casa. Mortos deixados ao chão em países da América Central. Era uma guerra contra um inimigo invisível. Mas tudo parecia muito longe de nós.

O ano de 2021, segundo da pandemia atual, trouxe novidades. O vírus de alastrou mais. Matou mais. Entraves políticos colocaram a atenção ao próximo em segundo lugar. Quem vacina primeiro ? Estado tal ou a nação ? A corrida vacinal provoca controvérsias que muitos brasileiros não entenderam. Na Índia, o Estado incentiva a família a cremar em casa os falecidos por tal temida doença. Variantes, insatisfação com o uso da máscara, filas e drive trhu para vacinação. Vacinação em escala. Opa ! Parece que surgiu uma luz no fim do túnel.

Nunca me esquecerei na proximidade do Carnaval de 2021 (que não houve) uma viagem feita para o oeste do estado. Melhor parar nesta churrascaria de beira de estrada para almoçar. Ou chego ao meu destino e como por lá ? Imperou a segunda vontade. Chegando à uma cidade próxima a Botucatu, deparo-me numa cidade vazia, colapsada pela alta ocupação das UTIs. Fase vermelha. Nem sabia o que era isso pois Piracicaba balançava pela fase amarela e laranja. Aí a forme apertou. Tudo fechado. A sorte é que a farmácia ainda recebia clientes e foi lá que um saco de batata e um isotônico compuseram minha tão esperada refeição naquela ocasião.

Passear deixou de ser um passatempo prazeroso. Não havia onde ir. Tudo fechado. Academias, parques, shoppings ... Enquanto a vacina não avançasse, tudo voltaria ao patamar de 2020. Chegamos aos 600 mil mortos. Em contrapartida, o processo vacinal evoluía de forma exemplar, algo que não ocorria em outros países. Chegaram a comentar que a estrutura do Sistema Único de Saúde é algo que serve de exemplo de eficácia, pois tem uma metodologia pensada nos anos 1980 quando surgiu o SUDS (Sistema Único de Descentralizado de Saúde) e que se vingou nas décadas seguintes. Como disse ... ouvir falar ... Mas louvemos a estes profissionais que aplicaram milhares de doses aos finais de semana, durante feriados, durante a noite.

O segundo semestre de 2021 – ano dois da pandemia – chegou com uma melhoria na qualidade do brasileiro. As festas começaram a ser remarcadas. O jovem sorri para sua amada para renovar a data dos votos conjugais. O aniversário de 50 anos volta a ser replanejado. A cachorrinha ainda continua indo a porta sabendo que o motociclista de aplicativo veio entregar a refeição.

Quando o governo do estado anuncia em março de 2022 que as máscaras poderão ser dispensadas em locais abertos, tivemos um alívio tal qual desafrouxamos o último botão do paletó numa tarde de sexta-feira. Poderemos respirar livremente em alguns locais. Em breve, em todos os locais. A pandemia pode regredir a uma endemia. Talvez em breve o “novo normal” seja deixado de lado e retomemos nossa vida como antes.

Mas, vamos com calma. Tristeza não tem fim, felicidade sim, já dizia o poeta, torcendo para que daqui um ano, eu não volte à estas páginas cronicando sobre o terceiro ano. Saúde a todos !

domingo, 14 de março de 2021

Rumo ao cinquentenário

 Edson Rontani Júnior, jornalista e diretor da Academia Piracicabana de Letras

 

Cleo Monteiro Lobato encontrou uma forma curiosa para mostrar aos Estados Unidos as obras de seu avô, o icônico Monteiro Lobato. Ao traduzir nomes e conceitos de suas obras, não encontrava termos similares na língua anglo-saxã. Imagine apresentar a Little Nose (Narizinho) ou personagens da mitologia brasileira como o Saci Pererê e a Cuca. Diríamos, assim, que não “daria liga” para uma publicação comercial. Aproveitando a onda, Cleo adaptou linguagens dos anos 1920 e 1930 para aquilo que a atualidade considera politicamente correto, para não ferir ninguém.

Faço este enunciado para lembrar do desafio a cultura piracicabana ao entrarmos no quinquagésimo ano de criação da Academia Piracicabana de Letras, cujos 49 anos são lembrados neste 11 de março. A partir desta data, a entidade passa a estabelecer metas para seu cinquentenário, relendo e adaptando para a atualidade o ideal de seu criador, João Charini, quando, em 1972, na antiga sede da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, fundou a Academia seguindo moldes de entidades similares existentes em capitais e vários outros municípios.

A Academia Piracicabana de Letras contou com a presidência de Chiarini de 1972 a 1988, quando ele faleceu e cujo mandato foi completado por seu vice Haldumont Nobre Ferraz. Em seguida vieram Miguel Ângelo Ciavarelli Nogueira dos Santos, José Henrique Carvalho Cocenza, Maria Helena Aguiar Corazza, Gustavo Jacques Dias Alvim e atualmente Vitor Pires Vencovsky. Em todo este tempo, a entidade viveu sempre de dotação orçamentária própria, com a colaboração de seus membros e doações de verdadeiros mecenas que acreditam na cultura como transformadora social e educacional. Essa solidariedade provoca, inclusive, a publicação semestral da Revista da Academia, coletânea poesias e artigos de seus componentes. 

A Academia segue por base a Academia Francesa de Letras. É ocupada por 40 membros considerados os “imortais”, cada qual representando um patrono que no passado se dedicou à Piracicaba. Possui membros correspondentes os quais não ocupam cadeira. Na fundação, a Academia tinha outras categorias de “associados”, entre os quaisestavam personalidades como JK – o presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira – e o escritor Jorge Amado que, junto a Zélia Gattai, era padrinho de casamento de Chiarini.

Seus membros são escolhidos através de edital e é necessário ter contribuído para a literatura. Possui hoje profissionais de várias categorias como contadores de histórias, poetas, advogados, médicos, jornalistas, cirurgiões-dentistas, apenas para citar alguns.

Os 50 anos, a serem celebrados de forma presencial em março de 2022 – até lá esperamos ter dominado o coronavírus e a vacinação –, nos engajando em preservar a literatura, adaptar-nos aos novos formatos de leitura como e-books e outras mídias digitais, e, o mais importante, preservar a cultura piracicabana, nossa verdadeira joia imaterial. Papel importante é formar novos escritores e amantes das letras. Após longo tempo de interrupção de aulas presenciais, foram suspensas atividades junto aos alunos, mas o distanciamento social e confinamento proporcionaram o aumento de acesso on line de produções editoriais e ao streaming cultural.

Como fez a bisneta de Lobato, o reinventar-se constante é uma necessidade diária. E para isso, boa vontade e dedicação não faltam.

Para finalizar, parabéns ao empenho da diretoria atual da Academia de Letras, liderada pelo professor Vitor Vencovsky, composta ainda por Aracy Ferrari, Carmen Pilotto, Cássio Negri, Ivana Negri e Waldemar Romano. Nós, escritores, somos muito gratos a vocês pela dedicação nestes três últimos anos.


(Artigo publicado no Jornal de Piracicaba dia 10/03/2021 e na Tribuna Piracicabana dia 12/03/2021)

domingo, 28 de fevereiro de 2021

Cultura com rótulos

Edson Rontani Júnior, jornalista

Houve uma época em que era como sentir perfume... Abrir um LP e exalar o cheiro de sua capa, ou pegar uma revista e aproximá-la do nariz para que o olfato fosse tentado pelo seu cheiro de tinta ... cheiro de novo. Essa época é desconhecida para alguns. Para os conhecedores, é pura nostalgia!

O livro impresso, a música gravada em cassete ou LP, o filme em Super-8 ou VHS, entre outros itens, formavam o supra sumo da cultura com rótulos. Para se ter noção, você colocava o bolachão numa pick-up (toca-discos ou vitrola como diriam os mais antigos) e, num rito supremo, viajava com a música, acompanhava as letras do encarte e se inebriava com as fotos da capas (algumas, inclusive, com certo apelo que mexiam com a libido masculina). 

Foi uma época de cultura com rótulo. Isso mesmo. Como o rótulo que identifica o refrigerante de cola ou a caixa do tênis de marca. O mundo digital acabou com isso. Consumimos livros com capas simples, sem trabalho artístico, com títulos muitas vezes apelativos e conteúdo ínfimo e no formato de e-book. As músicas em streaming ou em MP3 não trazem tais rótulos. Para conhecer o clip ou ler mais sobre seu intérprete, necessitamos de buscadores ou sites de vídeo. Antes, até os anos 1990, ouvia-se a música no rádio, comprava-se a mídia e, nos jornais, revistas e TV, tínhamos o complemento visual do artista. O show midiático diante do mundo de estrelas, mudou muito. Ganhar um disco de platina ou de ouro seguem formatos que caíram em desuso. Não existe mais a “parada de sucesso” com as músicas mais tocadas nas emissoras. Democratizou-se o acesso à música criando-se uma generalização assustadora com opções e formas de acessá-las. Por um outro lado, deixamos de ser reféns de emissoras de tv e rádio que nos injetavam músicas a bel prazer. Nossa única opção era mudar o dial.

Os discos de acetato, conhecidos por 78 rotações, traziam poucas músicas. Uma de cada lado no início. Depois passaram a ter mais. No Brasil, a RCA Victor lança a Victrola, nome comercial para um aparelho que tocava discos. O produto era a música nele gravado e as capas eram simples, impressas em papel jornal. Com o tempo, passaram a receber desenhos e logotipos das gravadoras. Quando o LP surgiu, nos anos 1950, passou-se a ter mais músicas (5 a 6 em cada lado) e a concepção artística mudou com manifestações artísticas entre desenho e fotos em ambos os lados de sua capa. Era comum ter um prefácio na contra capa escrito por alguém de renome. Tivemos um fator de proximidade entre o intérprete e seu público, seus fãs. Quantas jovens não compravam os discos apenas para ter a foto de seu ídolo em papel acartonado em sua estante ...

Na década de 1960, a Phillips cria a fita cassete, tornando portátil o som em veículos e em gravadores de mão. Era uma sensação que cheirava à ostentação. No início dos anos 1980 surge o walkman criado pela Sony. Uma forma individual de ouvir música em fita cassete e o aparelho podia ser acoplado na cintura da calça. 

Em 1981 surge o CD, compact disc. Gravado a laser. Piracicaba foi uma das primeiras produtoras do CD no Brasil, através da Phillips que por aqui se instala na Unileste, partindo em seguida para a Zona Franca de Manaus devido aos incentivos fiscais.

No final dos anos 1990, o Napster cria uma briga comercial envolvendo os direitos autorais, afinal era possível compartilhar pela internet músicas sem autorização alguma. O mercado tenta regular isso com o iPod, tocador digital que foi o princípio dos aplicativos de streaming. Com eles, os rótulos passam a ser excluídos do currículo do artista. Apenas nome e canção são apresentados. Antes, líamos até o seu tempo de execução e os respetivos autores da canção e da letra.

Para se ter noção o quanto importante foram os rótulos das músicas, há de se lembrar que existem livros que catalogaram as 100 melhores capas de LPs divididos por década.

E ainda para comprovar a mudança comportamental que tivemos com as capas, lembra-se daquela língua berrantemente vermelha? Pois, é. Dela poucos sabem quem foi seu autor, mas muitos sabem do que se trata. E, alguns, vão lembrar que foi o ícone artístico que ligou um rótulo ao grupo Rolling Stones. Bons tempos !

(Publicado no Jornal de Piracicaba em 24 de fevereiro de 2021)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

TV Piracicaba – canal 26: a primeira emissora do interior paulista

 Por Marcelo Bandeira

Você sabia que Piracicaba foi uma das cidades que possuiu a primeira emissora de televisão do interior do Estado de São Paulo? O pioneirismo se deu em 1953, quando a família Guidotti, por intermédio de João, José, Rubens e Ronald, adquiriu a concessão do canal 26 UHF, três anos após a inauguração da TV Difusora de São Paulo (PRF-3), ou simplesmente, TV Tupi, em 18 de setembro de 1950 pelo precursor Assis Chateaubriand Bandeira de Mello. O estúdio foi montado na rua São José, 835, e a torre de transmissão erguida na rua Fernando Lopes, no bairro Pauliceia, onde funcionou por muito tempo a torre de transmissão da rádio “A Voz Agrícola do Brasil AM (580 KHz)”, hoje “Rádio Jovem Pan News AM (910 KHz)”.  Esse local foi sede, também, da Rádio Alvorada FM (97,1 MHz), inaugurada em 1982, hoje Rádio 97 FM, emissora de frequência modulada arrendada atualmente à Igreja Universal do Reino de Deus. Na década de 1990 essa torre de transmissão, que abrigou o sistema irradiante de emissoras de rádio e TV, foi desmontada para dar lugar ao residencial Guaracy, um conjunto de prédios construído no local.

Mas, voltando para a televisão, a TV Piracicaba – canal 26, apresentava na sua grade de programação, seriados e filmes do famoso canal 07 (TV Record de São Paulo). Os saudosos Ary Pedroso e Rubens Lemaire de Moraes eram os apresentadores de algumas das atrações veiculadas, além da participação do, também, radialista Idalício Castelani, que posteriormente viria a apresentar, na Difusora FM (102,3 MHz), os inesquecíveis programas “Porque Hoje é Domingo” e “Sertanejo Cinco Estrelas”. Integraram a equipe da pioneira: Ariovaldo Albuquerque e Arildo José como câmeras-man, João Guardia, Eduardo Paparotto Filho e Silvio Takara nas funções de técnico de manutenção, além de outros nomes da imprensa e dos meios de comunicação.

Os jogos do XV de Novembro e os bailes do Clube Coronel Barbosa, à época os mais requintados da cidade, também eram destaques na telinha do canal 26. A queda do edifício Comurba, ocorrida em 1964, na praça José Bonifácio, foi alvo de cobertura da TV Piracicaba, que operava das 13h30 às 17h e, à noite, das 22h às 2h.

Fim

A primeira emissora de televisão piracicabana funcionou de 1953 a 1972, porém o custo de manutenção dos transformadores e transmissores era alto e não havia patrocinadores interessados em anunciar, muito menos um departamento comercial formado. Os profissionais que se dedicavam à emissora trabalhavam como voluntários, ou quando não, pagavam para estar na TV. Diante dos problemas financeiros e a falta de apoiadores, a família Guidotti decidiu encerrar as transmissões, na década de 1970, deixando um vazio em Piracicaba.

O município só passou a contar, novamente, com uma emissora de televisão genuína na década de 1990, quando foi inaugurada a TV Beira Rio, tendo como sede algumas salas de um edifício comercial localizado nas imediações do Shopping Piracicaba. Atualmente a emissora está no ar na frequência digital de 26.1 UHF e com o nome de TV Ativa.

A última emissora a entrar no ar em sinal aberto em Piracicaba foi a TV Câmara – emissora da Câmara de Vereadores de Piracicaba. O início, nos anos 2000, se deu por meio de transmissão a cabo, ou seja, somente quem tinha um pacote de TV por assinatura da NET poderia ter acesso ao conteúdo da TV Legislativa. Em 2013 a Agência Nacional de Telecomunicações autorizou para o munícipio a concessão do canal 60.4 UHF à TV Câmara, que atualmente opera na frequência 11.3 UHF.

A TV Jornal de Limeira (SP) (40.1 UHF) e a TV Opinião de Araras (SP) (41.1 UHF) também têm retransmissoras em Piracicaba, sendo que apresentam em suas programações algumas notícias do munícipio.

Atualizado em 12/01/2021.

Marcelo Bandeira é jornalista.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Limiar de uma nova década

 

Por Edson Rontani Júnior, jornalista

 

Alguns irão se deter na inútil discussão: a década começa no ano zero ou ano um ? Vamos seguir por princípio que a década de 20, do atual século, começou em primeiro de janeiro passado e se estende até o dia 31 de dezembro de 2030. Mas, este não é o propósito deste artigo. Seu objetivo é lembrar que estamos entrando numa década de definições, principalmente diante da pandemia do coronavírus que nos desacomodou e está definindo o que é o “novo normal”.

Neste novo cenário, não podemos esquecer que Piracicaba terá muito a se movimentar ao longo desta década.

Um destes pontos é a comemoração dos 200 anos da independência do Brasil diante do reino de Portugal, em 2022. Lembrado em 7 de setembro ainda é motivo de dúvidas quando jornalistas vão às ruas realizar enquetes populares e torna-se evidente a confusão entre Dom Pedro Primeiro e Deodoro da Fonseca e o real motivo de comemoração da data.

Foi em lembrança pelo centenário da independência que Lídia de Rezende construiu o Marco em “oblação” a Dom Pedro, em terras do Engenho Central que depois cedeu espaço para a avenida Armando Césare Dedini.

Em 1922, o centenário da Independência parou a cidade. O Brasil ainda respirava um ar inebriante da República, instaurada 33 anos e já se deparava com paulistas e mineiros na presidência, no que a história nos ensina como sendo a “política do café com leite”. O poder público criou diversas solenidades para lembrar a data, algumas das quais podem ser vistas na rede através de um filme rodado na época e restaurado pelo Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba. Produção esta feita pela Independencia Film para a Exposição Nacional do governo federal.

Foi no fervor das comemorações que a Companhia Paulista de Estradas de Ferro revolucionou uma nova área que surgia em Piracicaba, conhecida até então pela Chácara Nazareth e pela Igreja dos Frades Capucinhos. Também em 2022 comemora-se o centenário da instalação da Estação de Trem da Paulista, que, inclusive denominou o novo bairro que surgiu além da avenida doutor Paulo de Moraes. A via férrea não existe mais. O espaço foi palco do Varejão da Paulista, de circos que por ali se instalaram e também virou o Sambódromo da cidade no final da década de 1990. Hoje é um parque de lazer e ocupa um centro cultural exemplar. O terminal ferroviário era promessa do início do século, prevendo que estivesse pronto em 1902. Funcionava como o término da Estrada de Ferro da Paulista. Talvez por isso, por anos, Piracicaba foi considerada “fim de linha”, motivado por que os trens e seus vagões encerravam sua viagem em área ao lado de onde por anos encontrou-se a Metalúrgica Alvarco.

No próximo ano, comemora-se o cinquentenário da Academia Piracicabana de Letras, criada em 8 de março de 1972. O ideal de João Chiarini permanece ativo, buscando novos leitores e escritores num período de domínio da escrita e propagação digitais.

Também nos aproximamos do cinquentenário do Salão de Humor de Piracicaba, criado em 1974 e que, em 1976 tornou-se internacional, trazendo para nossa terrinha, pela primeira vez, um artista internacional: Sergio Aragonés, hoje com 83 anos, espanhol de nascimento, mas criado no México, de onde despachou nos anos 1960 e 1970 suas impagáveis piadas para as franquias da revista Mad publicada em todo o planeta. A ideia que surgiu em O Diário para tirar a mordaça criada pela livre expressão da imprensa, expôs Piracicaba ao longo dos últimos 50 anos de uma forma exemplar.

Poderiam ser enunciados aqui todas as datas festivas futuras desta década. Não existe este propósito. O objetivo é chamar a atenção à sociedade em geral para algumas datas consideradas como deveras importantes para nossa querida “Noiva da Colina”. E que não caiam no esquecimento ...

Publicado no Jornal de Piracicaba em 13/01/2021 e na Tribuna Piracicabana em 16/01/2021.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Estação da Ituana no Bairro Alto


É anunciada em 1877 nos jornais a inauguração da estação de Constituição, marcada para o dia 20 de fevereiro (A Provincia de S. Paulo, 18/2/1877)


78 pessoas estavam trabalhando no aplainamento do terreno para feitura da estação da estrada de ferro Ituana. O terreno, localizado no Bairro Alto, foi cedido pelo sr. Carlos Navarécio, gratuitamente, mede 16 x 20 braças na Rua Direita e 20 x 86 na Rua Quitanda

do jornal Piracicaba, Folha Imparcial de 3/12/1876

Descrição contida no livro "Os Pioneiros", de Irineu Travaglia, 1976, Gráfica Portinho Cavalcanti