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quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Jornal de Piracicaba - 122 anos

 Edson Rontani Júnior, leitor do Jornal de Piracicaba desde os anos 1970


O primeiro contato que tive com um jornal foi em meados dos anos 1970. O mesmo foi por mim criado quando ainda criança, em mimeógrafo a álcool e distribuído entre os familiares. Na segunda metade da mesma década, a vida profissional se aproximava de forma tímida. Passei a colaborar com o suplemento infantil de um jornal local que teve vida curta.

No início dos anos 1980, na Escola Estadual Jorge Coury um professor queria incentivar a leitura. E a lição de casa era trazer, toda segunda-feira, na primeira aula que começava às 7h10, o resumo de uma matéria jornalística publicada no final de semana num dos jornais da cidade. Confesso que aquilo era considerado um martírio para mim, por pura preguiça e dificuldade de escrever. Com o passar dos tempos percebi que aquilo era uma fisioterapia mental, que proporcionava viajar para locais nunca imaginados, expandir a mente e propiciar leitura e uma escrita concisas. O professor, para tirar a timidez dos jovens na faixa de 12 anos, escolhia alguns alunos e os chamava à frente da sala solicitando que estes lessem um resumo do artigo. O coração acelerava. Hoje sou grato ao doutor Orlando Veneziano, advogado e presidente do Lar dos Velhinhos, por ter dado este empurrão que trilhou meu destino profissional no qual abracei o jornalismo.

O Jornal de Piracicaba passa, então, a ser uma leitura obrigatória para mim. Os artigos que eu lia e resumia vinham deste matutino que completa 122 anos de atividade.

Em 1983, ainda pré-adolescente, fui chamado pela dona Antonietta Rosalina da Cunha Losso Pedroso para ocupar uma vaga no matutino. Apreensão ! Alegria ! Euforia ! Em sua sala situada no prédio da Moraes Barros, dona Antonietta pede para eu afiar o bico de pena e assumir uma prancheta de desenho. “Epa !”, pensei. “Dona Antonietta: é para eu desenhar?”. A resposta: “claro, você não é filho do Edson Rontani, o desenhista?”. Bom, refleti muito e discordei do ditado que “filho de peixe, peixinho é”, pois a única iniciação artística que tive foi em duas medíocres telas a óleo em um curso oferecido gratuitamente no Mobral, então na Tiradentes, perto da creche onde hoje está a praça da Biblioteca Municipal. Bola prá frente.

Anos depois, já trabalhando profissionalmente em comunicação, veio a ordem do gerente Luis Gonzaga Hercoton, para que fizéssemos uma programação suave e sem agressividade nas ondas das rádios Difusora AM e FM, pois falecera o doutor Losso Netto, defensor por anos do jornalismo aqui estampado. Uma perda que parou Piracicaba.

Mais tarde, o JP volta a cruzar minha vida. Ganhei com minha equipe o Prêmio Losso Netto de Jornalismo no Curso de Comunicação Social da Unimep categoria rádio. Um orgulho.

Semana passada numa bicicletaria, o atendente confunde os Rontani e disse-me que lia muito meus desenhos no JP. Ficou impregnado na história da família e da sociedade a coluna “Você Sabia?” publicada inicialmente aos domingos no “Jornalzinho”, suplemento infantil, num gentil convite feito em 1990 pelo Marcelo Batuíra. Houve um rapaz que muitos anos atrás instalou uma parabólica em casa e me agradeceu pois tinha tirado uma boa nota na escola com base nas curiosidades que ele leu nesta coluna. Até explicar a diferença entre Alexandre Dumas e Alexandre Dumas Filho, o abismo era grande ... Esse reconhecimento funciona como uma herança que carrego com muito orgulho, pois, o velho Rontani já se foi há 25 anos atrás e a memória perpetuada por estas páginas é uma dádiva intangível. Aliás, foi nestas páginas que o velho Rontani iniciou carreira como publicitário e desenhista com seus desenhos sendo publicados em 1952, quando estreou o Nhô Quim do XV de Novembro desenhando-a até falecer em 1997.

Completar estes 122 anos é motivo de festa. É manter uma marca consolidada e notória mais que no jornalismo e na comunicação, na vida de nossa sociedade. Parabéns !

(publicado no jornal de Piracicaba de 03/08/2023)