Páginas

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Como era verde o meu vale

 * por Edson Rontani Júnior, jornalista

 

“Como era verde o meu vale”, de John Ford. premiado em 1942 com o Oscar de melhor filme, sempre foi um de meus filmes preferidos. Na minha infância e adolescência, um de meus sonhos era assistir filmes preto e branco na telona do cinema, para notar detalhes que a televisão não proporcionava.

Aficionado pela sétima arte, sempre alimentei uma paixão de assistir obras clássicas às quais tinha que me privar do sono e passar madrugadas diante das “sessões corujas”

Me lembro que nos anos 70 e início dos anos 80 Piracicaba me proporcionou ver obras até então acessíveis apenas em cinemas.

Me lembro das idas ao Cine Politeama, situado em plena Praça José Bonifácio, onde hoje encontra-se o estacionamento do Bradesco. O rememorar não cheira a pipoca ou Coca-Cola que hoje infestam os cinemas. Aliás, refrigerante só entrou na sala dos cinemas em Piracicaba na segunda metade dos anos 80. Antes, tínhamos de nos contentar com a água encanada do bebedouro e algumas balinhas. Me recordo como se fosse hoje o cheiro das revistas novinhas que a criançada comprava antes das sessões na Banca de Revistas do Gianetti, situada embaixo da Rádio Difusora. Outra nostalgia que ainda hoje me remonta é o cheiro da doceria do “seu” Passarela, situada onde hoje está a porta de entrada do Banco Itaú. Ficava maravilhado com tantos baleiros de vidro, tantas guloseimas…

Me recordo de algumas passagens que o Politeama proporcionou na infância, pois foi ali que nos anos 70 fui testemunha da composição de “Os Trapalhões” iniciando-se com a dupla Dedé e Didi e finalizando-se como quarteto auxiliado pelo Mussum e pelo Zacarias. Foi lá também que vi o “rei” Roberto Carlos correndo a 300 km por hora ou em busca do diamante cor de rosa.

Nesta época, a Praça José Bonifácio era o ponto de lazer do piracicabano. Era o nosso “shopping center”. Nos anos de 1980 e 1981, quando foi realizado o calçadão da Praça, quem não chegou a andar de bicicleta, jogar pingue-pongue ou xadrez no “Domingão” organizado pela Coordenadoria de Turismo (COOTUR) ?

O Politeama também me frustrou, pois, se não me engano, em 1977, fui assistir ao filme “Sansão e Dalila” - isso mesmo, aquele com o Vitor Mature de 1949! - e o bilheteiro não me deixou entrar por considerar o filme impróprio para uma criança ! “Em que uma história bíblica pode ferir a ingenuidade de uma criança de dez anos?”, pensei ?

Afora do meu tempo, acredito que ocorreu no início dos anos 60, uma história clássica que muitos piracicabanos já ouviram, quando alunos da ESALQ levaram um corvo em uma sacola de compras e, durante a exibição do filme, o soltaram no Politeama. Se é lenda ou não, eu não sei dizer. Não estava lá para confirmar. Mas, sei que o filme parou e foi uma arruaça para pegar a ave, a qual só foi dominada quando caiu ao lado da tela de exibição.

O Politeama se foi. Tínhamos o Cine Rívoli, na rua Benjamin Constant, como a maior sala da cidade. Foi lá também que vi os primeiros filmes de sagas como “De Volta para o Futuro” e “Indiana Jones”, nos anos 80.

Ver filmes clássicos na grande tela continuava sendo minha obsessão. Só consegui matar esta vontade, acredito que entre 1982 e 1983, quando foi reinaugurado o Cine Broadway, na rua São José, ao lado do atual PoupaTempo Estadual. Me lembro que, quando reinaugurado, a cidade toda foi assistir ao filme “A Lagoa Azul”, o filme mais água com açúcar da época, que emocionou plateias em todo o mundo.

São saudades de um tempo que não volta mais. Nos cines Paulistinha ou Colonial nunca pisei. Cheguei a ir aos saudosos Cine Arte (no Teatro Municipal) e ao Cine Center 1 e 2 do Shopping Piracicaba.

Os tempos hoje são outros. É … Como era verde o meu vale …