quinta-feira, 22 de julho de 2021
segunda-feira, 19 de julho de 2021
16 de julho de 1932
Edson Rontani Júnior, jornalista
A
data era 16 de julho de 1932. O relógio marcava 13 horas. O local era a praça 7
de setembro (atual praça José Bonifácio), proximidades da rua São José. Estava
montado o cenário. A cidade compunha, assim, o 1º. Batalhão Piracicabano que
partiu para Quitaúna na capital paulista (hoje cidade de Osasco). Foi assim que
Piracicaba engajou-se na Revolução Constitucionalista cujo levante se deu em 9
de julho de 1932, ou seja, 89 anos atrás. Foram 200 membros que se
apresentaram.
Exatamente
neste local foi que se inscreveram os primeiros voluntários conclamados na
reunião realizada em 12 de julho, à tarde, no Teatro Santo Estevão, tendo como
líderes do encontro Francisco Lagreca, Alberto Vollet Sachs, Luiz Dias Gonzaga,
Sebastião Nogueira Lima, Nelson Camponez de Oliveira, Mário Neme, Haldumont
Nobre Ferraz, Moacyr Amaral Santos e outros.
Também
denominado pela imprensa como 1º. Batalhão de Piracicaba ou Batalhão Noiva da
Colina, este contingente era comandado pelo tenente do Exército Augusto Gomes,
responsável pelo Tiro de Guerra 542. No campo de Batalha nossos conterrâneos
eram liderados 2º. sargento Juvenal Fernandes de Oliveira e pelo capitão
Boaventura.
A
história mais conhecida é que estes voluntários partiram da praça 7 de setembro
marchando pela rua Boa Morte, recebendo pétalas de rosas atiradas pelos
populares, acompanhados das bandas União Operária e Capitão Lorena. A Banda União
seguiu com os voluntários pelo trem da Paulista até a capital paulista.
Diariamente
partiam os voluntários. Relatos posteriores dos participantes dizem que 600
pessoas (entre homens e mulheres) se alistaram. Nos jornais, o prefeito Luiz
Dias Gonzaga escreveu cartas abertas, dizendo que Piracicaba havia mandando 1
mil voluntários. Próximo ao final do conflito, o mesmo disse que havia enviado 3.500
e que, se preciso, enviaria mais.
As
listas de inscrições foram feitas de forma descentralizadas. Jornais de época
traziam nomes, dias e horários de embarques, mas não são fontes fidedignas para
afirmações históricas, uma vez que muitos se inscreveram nas centrais de outras
cidades. O voluntariado era feito por idealismo, embora registros mostram que
muitos foram à batalha na intenção de se encaixarem em empregos prometidos caso
São Paulo vencesse as forças federais de Getúlio Vargas. A maioria ficou a ver
navios ...
Os
piracicabanos foram agrupados no 14º Regimento de Infantaria, 4º. Batalhão de
Caçadores da Reserva, 5º e 6º. Regimentos de Infantaria, 2º. Batalhão dos
Funcionários Públicos, Exército Constitucionalista dos setores Leste e Norte e
outras divisões. Atuaram em Bocaina, Areias, Silveiras, Queluz, Itapira,
Cruzeiro, Vale do Paraíba e áreas situadas no norte do estado.
A
primeira baixa que o Batalhão Piracicabano teve foi com Ennes Silveira Melo, então
com 26 anos, falecendo em 17 de agosto de 1932 no Hospital do Sangue em
Cruzeiro. Ele e mais três companheiros foram alvejados por metralhadoras quando
construíram um abrigo antiaéreo numa trincheira.
Os piracicabanos receberam das forças federais a alcunha de “Columna Maldita” pelas atrocidades cometidas. As mesmas eram negadas por nossos conterrâneos, os quais alegavam que tudo não passava de ‘fake news” com objetivo de abalar o moral da tropa.
Muitos
relatos dos campos de batalha eram feitos por correspondência. Os jornais
locais também tinham seus informantes, voluntários que atuavam como fonte de notícias:
Mário Neme (“O Momento”), Jacob Dihel Neto, Pedro Krähenbühl (O Momento) e Antonio
Moraes Sampaio (Jornal de Piracicaba).
A
Revolução Constitucionalista terminou em 2 de outubro de 1932. A cobertura dos
jornais se deu por mais dois ou três dias, existindo uma grande lacuna no
retorno aos piracicabanos à sua terra. Motivo: Getúlio Vargas impusera a
censura à imprensa e deportou para Portugal os líderes do movimento. A cidade
volta, então, à sua normalidade.
(publicado no Jornal de Piracicaba de 14 de julho de 2021 e na Tribuna Piracicabana de 16 de julho de 2021)