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quinta-feira, 11 de julho de 2024

Retratando os retratistas

 Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

Dias destes passei horas – deliciosas horas – catalogando fotografias em papel. “Retratos” doados por famílias, empresas, entidades. Muitas me fizeram recordar do passado como o acervo doado pelo Marcelo Batuíra, diretor deste matutino, resgatando a memória dos anos 70, 80, 90 ... Grande maioria está passando por catalogação e digitalização para posterior compartilhamento nos meios digitais do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba.

Outro acervo que chamou minha atenção foi uma sequência de fotos dos anos 80 de autoria de Diógenes Banzatto, que trabalhou no extinto “O Diário”. São registros de nossa Piracicaba, em especial a enchente de 1983, ainda hoje lembrada como uma das mais temíveis para o comércio e moradores da rua do Porto e adjacências. Não por coincidência, uma destas fotografias, que media o equivalente a meia folha de sulfite, na condição preto e branca como era comum na época, mostra uma casa tomada pela água até seu forro. Um telhado ainda não submerso e um cão. Sim ! Um cão no telhado. Logo veio-me à memória o cavalo que também ficou num telhado no sul do pais na recente cheia que atingiu o Rio Grande do Sul.

O que demonstra isso ? A história se repete. Um eterno repetir. E o que mais ? Não aprendemos nada com esta repetição. Caímos nos mesmos erros do passado. Fácil é colocar o dedo no nariz dos outros. Mas, Banzatto teve a sensibilidade de registrar aquele momento, talvez a bordo de um barco, mas o registro é ímpar e, 40 anos atrás se assemelha aquilo que hoje ganhou destaque nos noticiários internacionais.

Este é o papel do fotógrafo profissional. Ter a vista aguçada para aquilo que deve e pode interessar às grandes massas. Hoje, maioria tem uma câmera na mão, acoplada ao smartphone. Mas poucos sabem utilizá-la. Não usá-la com filtros de aplicativos ou sobrepondo emojis, mas tendo foco no interesse.

A fotografia está completando 200 anos de criação em breve. Na verdade, a data de 1826 é o marco da criação (ou primeiro registro histórico) feita pelo francês Joseph Nicéphore Niépce. Foi ele quem conseguiu fixar com produtos químicos uma cena num papel fotográfico. Outros tentaram. Conseguiram meio intento. Revelavam a foto mas ela não se fixava no vidro, no chumbo, no papel ... Foi uma criação coletiva. Depois movimentou indústrias desde fábricas de máquinas, filmes, ou dos “retratos” em estantes, álbuns de casamento ou de aniversário. Memórias registradas para a posteridade.

Aí me socorro do saudoso Samuel Pfromm Neto em seu “Dicionário de Piracicabanos”, meu livro de cabeceira, para conhecer um pouco mais destes retratistas locais. Aqui nestas páginas já falamos de João Cozzo, o “nosso Marc Ferrez”. Este último, descendente francês que na época do Império registrou cenas de norte a sul do país, passando inclusive por Piracicaba fotografando nosso salto. Cozzo fez o mesmo em nossa cidade. É autor das principais imagens registradas em nossa história do início do século passado. Mostrou o meio-ambiente nas margens do rio Piracicaba assim como registrou o urbanismo crescente com o desenvolvimento populacional.

Tivemos também a família Bischof que até os anos 1980 manteve loja no Centro com produtos fotográficos e revelações. José, Isabel, Rodolfo, Oswaldo, Oscar, Frida, Leonor e Elza formavam sua família, no amor pelos registros fotográficos. Administravam loja de produtos elétricos além de ateliê fotográfico. Representações comerciais tivemos com os Fuji, Outsubo, Cantarelli, Caprecci, Filetti e outros. Foi mais uma segmentação do comércio levada ao ostracismo pela evolução do computador ... dos celulares ...

Jornais do passado nos apresentam curiosidades como uma loja especializada em brinquedos para crianças. Publicidades destes matutinos ancestrais, lá por volta de 1894, são estampadas anunciando que a Fotografia Pompe, que atendia num sobrado onde hoje é a rua Moraes Barros, vendia produtos para datas religiosas como Natal e dia de Reis, além de fotos, claro.

Registradores de fatos em fotos de papel dos anos 80 e 90 ainda povoam Piracicaba, em longevas amizades. Perdemos o citado Banzatto, assim como Henrique Spavieri. Mas ainda nos encontramos nas ruas com Pauléo Tibério, Davi Negri, Marcelo Germano, Alessandro Mascchio, Matheus Medeiros e tantos outros que prosseguem com este ofício bicentenário.

Li não sei onde que nossa memória se vai quando nosso retrato é tirado de uma estante. Acaba-se tudo. Finda-se uma vida e uma memória perpetuada atrás de um papel revelado por produtos químicos.


quinta-feira, 4 de julho de 2024

O canto do uirapuru

Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba 

Vermelho, preto e amarelo. Uma conjunção de cores berrantes. Um canto incomparável. Assim tomou forma um índio que se apaixonou por uma bela jovem de cabelos negros, pele avermelhada, lábios contidos. Para que não sofresse pelo amor não correspondido, o deus Tupã o transformou nesta pequena ave. Toda vez que via sua amada, como num choro eterno, cantava para ela, atraindo sua atenção sem que a mesma soubesse que ele a admirava.

Assim é a lenda de Quaraçá e Anahi, numa espécie de Romeu e Julieta tupiniquim. É uma lenda forte no norte brasileiro, contada em verso e prosa do amor não correspondido. Outra vertente diz que aquele que ouve o canto do pássaro tem sorte, felicidade, vida eterna ou realiza seu desejo mais profundo. O pássaro é o uirapuru da variação irapurá, ou seja, o pássaro que não é pássaro.

Mas, raios ! Onde encontrar este animalzinho que se esconde fortuitamente por entre a floresta ? Foi o que fez John Dalgas Frisch nos anos 1960 quando passou várias temporadas gravando o cantar de pássaros nas mais diversas áreas deste Brasil. Tudo foi compilado em LPs ouvidos exaustivamente por amantes de pássaros presos em gaiolas. Aí que surge a cultura de colocar o disco para o canário ou o curió, estimulando o enjaulado animalzinho a seguir a sinfonia amazônica gravada em forma fonográfica por Dalgas e outros seguidores.

John Dalgas Frich faleceu dia 22 de junho passado. Houve repercussão de sua morte e seu trabalho pela internet. Foi um pioneiro na fauna brasileira. Não teve quem o igualasse no registro de sons da natureza. Não deixou herdeiros à altura.

Respeitado no exterior, Dalgas foi exemplo do observador da natureza, numa inspiração que teve de seu pai Svend Frisch, consagrado pintor das aves e fauna brasileiras. No início dos anos 1960 lançou seu primeiro disco trazendo para a cidade os sons da selva, num mercado comercial que se tornou interessante, levando o LP a ficar várias temporadas entre os mais vendidos. Publicou livros e outras extensões culturais de seu conhecimento. Perseguiu como um doido o uirapuru, até que o encontrou logo próximo às 7 horas da manhã do dia 9 de novembro de 1962, no Acre, quando caminhava pelo seringal Bagaço em Rio Branco. Nem a respiração de Dalgas era possível ser ouvida na gravação feita com colossais microfones que lembravam os alto falantes Delta tão usuais então ou na atualidade igual às pequenas parabólicas. O LP intitulado “Vozes da Amazônia” mostra ao mundo todo o raro uirapuru, apresentando oito cantos diferentes.

Dalgas escreveu livros (alguns com seu pai, amigo de Picasso), gravou sons reproduzidos atualmente em forma sintetizada. Criou um nicho de atenção histórica e cultural nunca antes explorado no Brasil. Foi “sui generis” ou um autodidata em toda a produção feita ao longo de seus 94 anos de vida.

Foi um observador único da natureza alegando em entrevistas que recebeu um dom divino de ajudar a preservar a vida animal. Quando tinha oito anos, numa área rural em que vivia, um colega pega uma espingarda de pressão e atira na primeira ave que vê. O animalzinho cai sangrando ao chão. A sua companheira começa a gritar ao presenciar a cena. Isso lhe marcou até o final da vida. Naquele momento notou que tinha uma sina importante diante deste mundo terreno.

Lançou em 1974 um compacto curioso voltado às festas natalinas com Noite Feliz e Jingle Bells executados por uma composição de sons de pássaros. Existe até relógios cujas horas são executadas com sons das aves que ele coletou Brasil afora.

Nesta linha, Piracicaba foi seguidora deste ícone. Sua fauna aparece em duas publicações acadêmicas. Uma é “Aves do campus Luiz de Queiróz”, coletânea de autores com 200 espécies de aves no campus USP de Piracicaba. “Aves do campus Unicamp”, também coletânea, registra 170 espécies que vivem no dia a dia da Universidade. Um viva a Dalgas que inspirou todo esse universo !


domingo, 30 de junho de 2024

Olha o passarinho !

Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba 

Confesso que fiquei maravilhado. Era lá por volta de 1981 ... 82 ... Não me recordo ao certo. Num álbum comemorativo que vi na casa de minha avó Julieta deparo com um Nhô Quim em carne em osso. Era um álbum de família de uma comemoração esportiva. Então, uma criança com 12 anos, fiquei boquiaberto. Por vários anos só conhecia o Nhô Quim pelos desenhos de meu pai publicados neste JP.

Ver as fotos, era algo que nos fazia viajar pela imaginação, como o que ocorrera nesta mesma época em que Robin Williams personificou Popeye no cinema. Oras ! Como pode criar vida um personagem criado no bico da pena de nanquim ? No papel é fácil caricaturar (que vem de carregare, em italiano) em detalhes como as bochechas, o bíceps de Popeye e o jeito tresloucado quando come o espinafre enlatado. Mas na vida real, não é nada comum.

Foi assim que notei que o Nhô Quim era igualzinho ao do papel. Bigode, chapéu de palha, calça “pula brejo” e botina, entre outros detalhes. Sim, muito antes do termo existir, o avatar era vivido por Cícero Correa dos Santos, fotógrafo que deixou sua marca na imprensa local no século passado. Nasceu em Rio Claro em 1915 e faleceu em Piracicaba no ano de 1994. Carnavalesco, fã e diretor do XV de Novembro, recebeu o nome da praça onde está a Sapucaia ao lado do Estádio Barão da Serra Negra além de nominar o Centro Poliesportivo das piscinas do Clube Cristóvão Colombo, entre tantas outras homenagens.

Todo este enunciado foi para lembrar um dos retratistas mais queridos da cidade. Pessoa ímpar que fez centenas de amizades e registrou a vida social de Piracicaba.

Outros registros feitos na cidade, aqueles iniciais de nossa história, remontam o ano de 1895. Estes, não fotográficos e sim fonográficos. Adelardo de Aguiar e Souza possui seu nome nos anais de Piracicaba como sendo o proprietário de um – se não o – dos primeiros fonógrafos da cidade. O aparelho era novidade no final do século retrasado. Executava músicas. Era um trambolho mas também gravava sons em cilindros de cera que mais apresentava ruídos e chiados. As pessoas eram felizes mesmo assim, com tamanha tecnologia inovadora. Um destes exemplos, moderno para a época e gravado na década de 1910 pode ser conferido no site da Biblioteca Nacional, na condução de Fabiano Lozano, em meros 30 segundos de zunidos .... ops ... de reprodução. Em setembro de 1895, Adelardo resolveu apresentar sua fantástica novidade tecnológica gravando discursos de Joaquim Morais Sampaio (intendente municipal) e Antonio de Melo Cotrim (professor). Uma curiosidade que era noticiada nos jornais locais !

Voltando à arte fotográfica, a imagem do salto do rio Piracicaba foi impressa, em 1897 (!!!) num poster de 1,20 metro por 30 cm de largura, como presente para o jornal Gazeta de Piracicaba. A obra foi de Arthur Lobenwein, um dos primeiros fotógrafos da cidade. Natural da Áustria, criou em Piracicaba a Fotografia Vienna situada num trecho onde hoje está a rua Governador Pedro de Piracicaba sem maiores referências. Foram de sua inspiração e cessão as fotografias que compuseram o Almanak de Piracicaba para 1900, talvez uma das referências históricas mais importantes da cidade, de forma graciosa, compondo 10 cenas que envolvem a Catedral de Santo Antonio e o Engenho Central.

Assim é o cenário fotográfico de Piracicaba explorado dias atrás nestas páginas e que remontaram curiosidades e manifestações pelas mídias sociais.

A fotografia foi uma arte hoje legada a banalidade pelos smartphones e mídias sociais que expões fatos fulos à nossa rotina numa sequência de informações que nos bombardeiam entre o irreal e o banal. Democratiza e torna acessível uma ferramenta restrita a poucos, anos atrás, mas nos joga num caos de informações que passam por nosso feed como se não tivesse importância alguma.

Aos pioneiros, nossa homenagem !

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Morrer pela bala, não pela fome

Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

Nascido em Mineiros do Tietê, interior de São Paulo, cidade próxima a Barra Bonita e Jaú, Leônidas Andrade Fogaça veio a Piracicaba na adolescência. Segundo seu filho, Eduval Morales Fogaça, em 1932, quando houve o início do recrutamento dos voluntários na cidade de Piracicaba para a Revolução Constitucionalista, Leônidas e seu amigo Oscarlino Assis se alistaram. Pensando que seus pais teriam orgulho, foi para casa contar o feitio. Sua mãe chorou. O pai, friamente, comento que ele “nada mais havia feito que sua obrigação”.

Embarcou de trem na Estação da Paulista, sobre os prantos do pai. Chegou a Estação da Luz em São Paulo de lá marcharam por 350 quilômetros até Queluz, leste paulista, região de Guaratinguetá. 

Uma das memórias passada ao filho demonstrou uma situação temorosa: “quando precisei usar o fuzil pela primeira vez a arma falhou, não disparou ! A bala ficou presa no cano e tive que desmontá-la para que pudesse ser útil na próxima investida”.

Edu Fogaça comenta que o pai falava sempre da escassez durante o conflito, principalmente de comida. Muitas vezes o que os voluntários dispunham era a xepa, a comida não consumida anteriormente, requentada. Leônidas e Oscarlino se voluntariaram para transportar a comida em um local próximo. Leônidas tinha um irmão que era militar graduado à época, Eliziario de Andrade Fogaça. O capitão do regimento que lhe passou a ordem de transporte salientou do perigo no trajeto, respondendo bravamente: “vim disposto a morrer por bala, não de fome”. “Meu pai fez este trabalho durante determinado tempo, o que lhe valeu uma promoção no campo de luta a tenente, por ato de bravura”, disse Edu.

“Só soube disso muitos anos depois da Revolução. Certa vez passei a notar que ele recebia pelo Correio o Diário Oficial, em cuja etiqueta vinha seu nome escrito tenente. O questionei se não havia erro pois seu irmão é quem tinha esta patente militar. Foi aí que ele me contou a história que relatei. Naquela época os ‘velhos’ eram bem mais discretos”, diz Edu Fogaça.

“Com o tempo ele passou a me dedicar atenção diante de sua experiência na Revolução de 1932. Havia dias em que o fogo da artilharia inimiga era muito intenso. Meu pai e companheiros precisavam ficar deitados no mato por um longo tempo. Certo dia, quando as rajadas pararam, meu pai disse aos amigos que aquele não seria o dia de morte de todos bravamente afirmando: ‘olhem onde eu me deitei !  Estava sem querer em cima de uma medalhinha de Nossa Senhora Aparecida... perdida... inexplicavelmente, no meio do mato”. A razão : ele era devoto de Nossa Senhora.

Leônidas, em pleno campo de batalha recebeu a informação de que sua mãe, Amélia Ferreira Fogaça (casada com João de Andrade) estava gravemente enferma. Ele dirigiu-se ao comandante solicitando autorização para viajar e visitar sua mãe. O pedido foi negado. Foi conversar com o capitão amigo do irmão, o qual lhe disse que seria difícil o comandante voltar atrás na sua decisão.

“Me alistei para matar inimigos. Mas, até agora não vi nenhum na minha frente. Quem me impedir de ver minha mãe, será meu inimigo”, disse. Depois de muita relutância, conseguiu o visto com esforço deste capitão. Como era inverno, o capitão cedeu a Leônidas seu agasalho. Até a Estação da Luz, em São Paulo, ele pensava em como chegar a Piracicaba sem um centavo no bolso. Na plataforma de embarque, um soldado lhe bateu continência. Mais para frente, outros fizeram a mesma reverência. Chega um grupo de soldados quem param à sua frente, batem continência e perguntam se poderiam lhe ajudar. Ele conta a história, recebeu uma refeição e conseguiu passagem a Piracicaba. Muito tempo depois percebeu que o agasalho que lhe fora dado em Queluz era de um capitão, com as divisas militares e ele estava, então, sendo confundido com um militar graduado. Dias depois sua mãe melhorou e ele retornou a Queluz. Contou a situação ao real capitão e riram. O oficial lhe falou que ficava feliz, pela recuperação da mãe, de protegê-lo do frio e ter contribuído para chegar a Piracicaba. Leônidas casou-se com Anna Moraes Fogaça.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Dos Urupês à Noiva da Colina

 Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba 

Caipira sofrido, sertanista, apático à vida das grandes cidades. Assim é um dos contos de “Urupês”, escritos por Monteiro Lobato entre 1914 e 1917. Essa era a versão do brasileiro esquecido pelo poder público, que carpia, criava porcos e pitava um cigarro de palha. “Urupês” é uma sequência de crônicas criticando o Brasil nas duas primeiras décadas do século passado. Foram publicadas no jornal “O Estado de São Paulo” e na “Revista do Brasil”. O caipira era Jeca Tatu, tema da primeira crônica intitulada exatamente “Urupês”, publicada em 23 de dezembro de 1914 no Estadão.

Urupê é um fungo que forma cogumelos em árvores. Lobato disse, certa feita, que sua mãe lhe chamava de urupê quando vadiava enquanto criança (“parece urupê de pau podre”, dizia). Urupê apresenta um Jeca Tatu descalço, com roupa maltrapilha, barba a fazer e acompanhado de um animal de estimação. Precisava se adequar à modernidade. Eis que surgem ações sanitárias contra doenças típicas do campo, estas encabeçadas pelo Instituto Adolfo Lutz, em especial para conscientizar sobre as condições sanitárias adequadas. Parênteses ... Jeca andava descalço e pisava sobre o esgoto que corria a céu aberto. Com isso, tinha fraquezas e era desmotivado. Eis que Cândido Fontoura tem ideia de promover uma cultura educativa e a venda de itens de seu laboratório Fontoura Serpe & Cia. Foca em doenças parasitárias como o amarelão. Junto ao ilustrador Belmonte, cria o manual Fontoura que alguns conheceram através do elixir Biotônico Fontoura. A cartilha teve mais de 100 milhões de exemplares impressos.

Do urupê criado na capital paulista, demos um salto a Piracicaba em junho de 1948. A cidade, assim como muitas do interior deste Brasil, ainda levava a fama de ser povoada por “caipiras”. Hoje digamos que somos, com muito orgulho, caipira ... caipiracicabanos, sim, senhor !!!

Vamos à rua São José, proximidades da praça José Bonifácio. A sociedade no final dos anos 40 circulava por ali. Espaço ideal para tudo. Clube Coronel Barbosa, Teatro São José, sede do E. C. XV de Novembro e um alto-falante que transmitia programas da Rádio Difusora. O esporte era atração nestas transmissões. Neste trecho também estava o Challet Paulista (embrião da atual Casa Raya), loja de produtos esportivos e apostas comandada por Armintos Raya. O XV estava em campanha para se tornar um time profissional. Eis que o gerente do Challet (cujo nome a história tristemente omitiu ...) decide criar um concurso de desenhos sobre as partidas do alvinegro. Aparece apenas um adolescente de 15 anos que rabisca uns desenhos agradando ao gerente que semanalmente expõe estes traços na vitrine do Challet. Detalhe, os desenhos tinham que fazer referência ao XV.

O jovem, resolve personificar um caipira como representante do XV. Cada partida disputada, um desenho. Não tinha nome este caipira. Nota-se que o caipira que representava o alvinegro tinha sua fonte inspirada no Jeca Tatu. Inicialmente até recebeu este nome: o Jeca. Bom, o XV subiu para a elite do esporte paulista. O desenho era de autoria de Edson Rontani. Rocha Netto, representante da Gazeta Esportiva, pega um destes cartazes, ruma a São Paulo, e o mostra a Thomás Manzoni, diretor do jornal. Achou as linhas mal tracejadas, sem técnicas adequadas (os desenhos eram feitos em sobras de papel a lápis). Pede uma repaginação na arte por Nino Borges, que tinha tradição em desenhar mascotes de times para figurinhas de balas e álbuns. Assim, em janeiro de 1949, a Gazeta publica o nascimento do Nhô Quim, que completa este ano seus 75 anos “oficiais”. O nome da mascote foi dado por Rocha e Thomás, como diminutivo de “sinhô” Quinze.

O Jornal de Piracicaba publica em 1952 o primeiro clichê feito por Eugênio Luiz Losso em cima de desenho de Edson Rontani, num processo caro para a época que vivia prensas tipográficas. De 1952 a 1997, quando faleceu, Rontani, desfilou o caipira por todos os jornais locais.

Teve variações não constantes sob a pena de Archimedes Dutra, Almir Bortolassi, Manolo, Nino Borges, Cardona, Messias de Mello, Orlando Pizzi e Luiz Moreira, entre outros da imprensa paulistana. Para não ser uma cópia fiel da Gazeta, o jornal O Governador mostrou nosso Nhô Quim vestido de terno preto, como um verdadeiro papa-defuntos. Com o tempo torna-se o caipira que conhecemos hoje e remete muito ao caipira “urupê” de Lobato. Um viva ao aniversariante do mês !  

(Publicado no Jornal de Piracicaba de 2 de junho de 2024)

quinta-feira, 6 de junho de 2024

O cancelamento de Lobato

 Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

A história se repete constantemente. Uma mente brilhante. Um comerciante das palavras e não um escritor, como ele mesmo se identificava. Monteiro Lobato é alvo constante do cancelamento. Foi jogado à berlinda depois de ter vida e fama feitas através de seus livros. Isso ocorre em 1941 quando foi acusado pelo crime de lesa-pátria por cartas pessoais dirigidas ao presidente Getúlio Vargas. Pegou xilindró por alguns meses.

Seu pensamento eugenista e preconceituoso, que representavam a sociedade do início do século passado, provocam um novo cancelamento endossado inclusive por uma de suas bisnetas que tem tentado reescrever suas obras para a geração atual.

Lobato deixou seu legado. Fez de tudo: crônicas, críticas, poesias, livros de ficção ... E ocupou todos os veículos disponíveis em sua época: cartas, jornais, livros ... É inegável sua contribuição para a história e cultura ao longo de seus 66 anos de vida.

Lobato passou por nossas vizinhanças. Em São Pedro, iniciou uma longa jornada pela qual hoje é esquecido. Lá, ele perfurou a terra na intenção de encontrar petróleo. Com a criação, em 1931 da Companhia Petróleos do Brasil, acreditava que o combustível fóssil jorraria do chão no interior paulista. Passou a perfurar no bairro de Araquá (São Pedro) e no distrito de Riacho Doce (Alagoas). Nunca encontrou petróleo. Gastou toda a riqueza acumulada com seus livros e foi perseguido como agitador social pelo governo Getúlio Vargas. Chegou a visitar Piracicaba por volta de 1907, referindo-se à cidade em carta escrita em março daquele ano, quando assumiu o cargo de promotor público em Areias, no Vale do Paraíba.

Existem registros de que Lobato tenha feito pesquisas e prospecções na divisa norte do município de São Pedro com Charqueada (Xarqueada, no início do século passado), em área que hoje pertence a Águas de São Pedro compradas por Moura Andrade para implantação desta nova cidade. Porém, os passos iniciais não foram feitos por ele e sim pelo Serviço Geológico da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, cujo governador então era Júlio Prestes e o secretário de agricultura era Fernando Costa. Lobato seguiria os passos em busca do petróleo iniciados pelo italiano Ângelo Ballone que perfurou dois poços os quais chegaram a 1.615 metros, bem além das perfurações de Lobato.

Águas de São Pedro, se hoje tem a fama por suas águas medicinais, deve grande parte à estes pesquisadores. No início do século passado, quando a região passou a ser ocupada por fazendeiros, um determinado trecho de São Pedro apresentava forte cheiro similar ao querosene, que emanava de suas terras. O Bairro do Querosene, que então abrigava a fazenda de Ângelo Franzin, depois comprada por Octávio Moura Andrade para a instalação da estância de Águas de São Pedro, despertou a curiosidade de muitos investidores inclusive o governo federal.

Entre 1915 e 1931 foram feitas diversas análises do material recolhido nos ribeirões de Araquá e Tuncum. Mas não passou disso. Os governos estadual e federal não se empenharam em aprofundar as pesquisas e apenas com a intromissão de iniciativas particulares é que a situação mudou.

Lobato criou a Companhia Petróleos do Brasil devido à forte influência que possuía na sociedade. Buscava investidores prometendo-lhes fortunas. Agregou valores diante de poderosos principalmente ao lançar ações de sua empresa na Bolsa de Valores. Em apenas quatro dias, vendeu metade das ações disponíveis. Chegou a declarar na época que, após o petróleo, a indústria do ferro seria sua futura investida. Um ano depois incorporou a Companhia Petróleo Nacional e em 1936 fundou a terceira sua última empresa mineradora, a Companhia Matro-Grossense de Petróleo. 

No Poço Tuncun, quando chegou-se à uma prospecção de 314 metros, foi recolhida a quantidade de 20 litros de petróleo. Os ânimos ficam mais fervorosos. Chega-se a uma escalada de 758 metros terra abaixo. Encontraram-se várias camadas de terra impregnada à óleo. Em setembro de 1928, encontrou-se a presença de petróleo com base parafínica de cor verde. Não se sabe porque, mas o poço foi tapado e abandonado.

Lobato acabou com sua fortuna nesta tentativa de mostrar que “o petróleo é nosso”. E a história mais um vez foi cancelada.

(Publicado na Tribuna Piracicabana de 07 de junho de 2024)

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Industrial Humberto D’Abronzo – 50 anos

por Edson Rontani Júnior

 


O início se deu pelo movimento de imigração na segunda metade do século retrasado. Brasil e Itália tinham acordos visando a mão de obra destes europeus. Com o fim do escravagismo negreiro, a promessa de nova vida, e a intenção de aumentar a população brasileira, muitas famílias deixam o “velho mundo” e partem para América do Sul. O Brasil foi um dos destinos.

Em 1896, Giuseppe, então aos 62 anos de idade, deixa a cidade de Cassandrino, no interior de Nápoles (Itália). Parte em um navio cargueiro com a esposa e os quatro filhos para o Brasil. Entre os filhos estava Paschoal – também citado como Pasquale em alguns registros (01/09/1886 – 1951), com 10 anos de idade. Este, anos depois, casa-se com a paulistana Rosa (16/3/1893 – 14/11/1969). A família aporta em Santos e ruma para o interior paulista. Trabalha na colheita de café e algodão na fazenda da família Amaral, situada em Mombuca, quando ainda distrito de Capivari. Segundo relato de familiares, a fazenda era dos pais de Moacyr Amaral Santos, um dos fundadores da ACIPI, proprietário do jornal local “O Momento” e ministro do Supremo Tribuna Federal nos anos 1960.

Desta cidade partem para Piracicaba, onde Paschoal cria, em 1910, à travessa Maria Maniero, paralela ao Engenho Central, uma pequena produtora de vinagre e licores. Moravam ali perto, na avenida Barão de Serra Negra. Com o tempo passa a produzir refrigerantes gasosos. Seus dois irmãos têm a mesma ideia: Domingos, com engarrafadora de bebidas em Rio Claro, e Francisco, em Charqueada. Uma das irmãs, Paschoalina, casou-se com Vicente Orlando, patriarca da tradicional Tubaína e Gengibirra Orlando, ainda hoje fabricada.

Paschoal tem seis filhos: Maria (Mariquinha), Luzia, Rafael, Anna (Aninha), Suzana e Humberto. O caçula tornou-se esportista, industrial de renome, futebolista e político. Faleceu 50 anos atrás, em 23 de maio de 1974. É a ele que esse artigo dá destaque a partir de agora.

Humberto D’Abronzo nasceu em Piracicaba à 9 de junho de 1915, segundo registros oficiais. Foi o homem da família. Do outro irmão, Rafael, são raros os registros já que ele faleceu no início da juventude.

Humberto foi jogador de futebol rezendino, sendo identificado em alguns registros como “Junqueira”, atuando na Sucrière, associação desportiva do Engenho.

Dividia o fabrico de engarrafados com seu pai. No final dos anos 1940 resolve apenas envasar caninha, deixando de lado as demais bebidas, incluindo o tradicional Vinho D’Abronzo, com pura qualidade italiana. É aí que surge a Caninha da Serra e o Quá Quá 40 rebatizadas anos depois de Caninha Tatuzinho, que carregava o slogan do “melhor aperitivo nacional”. Este marketing tentava associar pequenos goles da bebida para abrir o apetite.

A D’Abronzo S/A envasava a caninha produzida por outra empresa em barracão ainda hoje existente à rua Boa Morte em frente ao Lar Coração de Maria. Era a fábrica da família Del Nero que produzia a Aguardente 21. Existiam também outros fornecedores.

O mercado acolheu a produção piracicabana. A Tatuzinho chegou a ter 300 funcionários diretos e outros que trabalhavam na logística operando 60 caminhões de entrega. Estes veículos percorriam o Brasil assim como alguns países da América do Sul. D’Abronzo chegou a importar da Argentina máquinas com capacidade de produzir 45 mil garrafas por hora, para um estoque de 10 milhões de litros da caninha.

A fábrica, que começou num tímido barracão ao lado do Engenho Central, passou para a avenida Maria Elisa (próximo a Farmácia do seu Pacheco/Dito da Farmácia) avançando pela avenida Rui Barbosa em barracões ainda preservados.

Nos anos 1950, D’Abronzo se envolve com o futebol sendo cartola do basquete do XV de Piracicaba e do Clube Atlético Piracicabano (CAP), que, junto a Armandinho Dedini, teve intenção de transformá-lo em um rival do XV com contratações volumosas visando entrar na divisão principal do futebol paulista. Nesta época surgem nomes renomados como Mazola e Waldemar Blatkauskas entre outros.

Deixa o Estádio Dr. Koch para dedicar-se ao Estádio Barão de Serra Negra como presidente do alvinegro local entre 1965 e 1970, por dois mandatos. O XV havia sido rebaixado para a segunda divisão em 1965 e coube a D’Abronzo elevar o time em disputada final realizada em janeiro de 1968 numa recordação ainda hoje lembrada por muitos e que fez a cidade parar.

Devido à esta exposição, entra na política postulando a prefeitura da cidade. Acabou não concorrendo.

Foram seis décadas de vida. Muito tempo dedicado a Piracicaba. Muitas atividades para um espaço determinado de linhas deste matutino. Muitos nomes também o auxiliaram nesta jornada. Uma infinidade de nomes, aliás. Foi comendador pela Ordem de São Paulo Apóstolo e Ordem São Francisco, além de ter sido agraciado pelo título de cidadão piracicabano. Seu filho, Pasqual D’Abronzo lembra que conviveu com Humberto por 24 anos, e que boas recordações deste período são gratas, como diversões e amizades com empresários, políticos e personalidades da sociedade piracicabana. “Ele deve ser lembrado como exemplo de italiano visionário e empreendedor que deu certo”, diz.

O fim é triste. Ocorreu às 5 horas da madrugada de 23 de maio de 1974, 50 anos atrás, após dias de internações na Clínica Amalfi. A vida se esvai aos 58 anos de idade. A causa foi um infarto do miocárdio, tendo como declarante Luiz Carlos Longatto atestado o óbito pelo doutor José Eduardo Mello Ayres. A vida se foi. O legado ficou.

(Publicado no Jornal de Piracicaba de 26/05/2024)

Mães de maio

 Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

Mães que passam despercebidas do olhar e da atenção do piracicabano. Perderam seu interesse cívico e turístico. Mas duas mães estão lá, dia e noite nos 365 dias do ano, chova ou faça sol.

Uma das mães está ajoelhada aos prantos. Com um vestido longo e um véu que lhe encobre a face escondida pelas duas mãos. São as mãos as únicas partes desnudas. Demonstra estar inconsolada. Em sua cabeça, uma mão.

Outra mãe está em pé, no outro lado. Esta, por sua vez, tem sua face à mostra e os dois pés desnudos, sendo que um lhe dá suporte para ficar um tanto mais alta, apoiada pelas pontas dos dedos. Com vestimenta similar à outra mãe, esta, por sua vez é mais despojada, expondo parcialmente sua face, as pontas dos pés e as mãos. A mão direita aliás parece agarrar como se não quisesse largar algo. A outra mão segura um bebê de colo, aparentemente dormindo, sem qualquer traje e com cabelo ainda em formação.

Ao centro das duas mães, um homem fardado para ir à guerra, com capacete, coldre, porta cartuchos, cinto apoiado por suspensório, farda e botina. Este homem pousa sua mão direita sobre a cabeça da mãe que está ajoelhada, nos remetendo ser esta sua verdadeira mãe que, chorando, desespera-se por sua partida na incerteza de que ele retornará com vida ao seio familiar. A mão esquerda ele coloca sobre o ombro esquerdo da outra mãe, que além do peso físico ao segurar o filho, agarra-o dando-nos a chance de saber que este era seu marido, pai de seu filho. Ambos se beijam na boca. As mãos falam muito, pois estamos diante da cena de uma despedida. Um breve até logo ou um eterno adeus para alguns piracicabanos que partiram da cidade. Um choro entre duas mães que se perpetua há quase 90 anos.

Assim é a obra em bronze de Lélio Coluccini, situada na praça José Bonifácio. Mais fácil para localizar, encontra-se em frente a Rádio Difusora e o Clube Coronel Barbosa. É o Monumento ao Soldado Constitucionalista de 1932 e que representa a mãe piracicabana, por muito e muito tempo. Não existe apenas esta face, mas vamos concentrar neste lado do Monumento. Tem ao seu centro, apontando para a matriz de Santo Antonio, uma bela dama que segura uma coroa de louro, representando a liberdade e a República Brasileira. Do outro lado, dois combatentes, sendo um em pé com uma arma longa e outro sentado como se tivesse sido atingido por um projétil.

Coluccini foi muito profundo ao projetar em tamanho real as figuras. Mas, a grosso modo, parece que todas são bem maiores que um ser humano médio. Isso é uma forma de reverenciar piracicabanos, paulistas e brasileiros num período delicado de nossa história. Aliás, as estátuas estão assumindo uma cor verde incondizente diante do puro bronze que era visto poucos anos atrás.

As mães “invisíveis” foram colocadas na praça 7 de Setembro (denominação de então) em 1938, bancadas por doações populares. Foi o segundo monumento aos voluntários da Revolução de 1932, sendo o primeiro o jazigo aos combatentes situado no Cemitério da Saudade. Ficaram realmente invisíveis de 1981 a 1988 quando o monumento foi desmontado e levado para a praça em frente ao Cemitério da Saudade, numa tentativa de modernizar o calçadão da praça José Bonifácio. Mas, devemos deixa-las invisíveis ou vale a pena parar alguns minutos para contemplar tal obra de arte? Afinal, o Monumento está lá há 86 anos e é impossível você nunca ter notada sua presença.

Foi o prefeito Luiz Dias Gonzaga e uma comissão de cidadãos que contrataram o escultor Lélio Coluccini, italiano da cidade de Pietrasanta, região da Toscana. Este chegou com a família ao Brasil quando tinha dois anos. Era de uma família de artesãos em mármore que na cidade de Campinas (São Paulo) fundaram a Marmoraria Irmãos Coluccini. Estudou no Instituto de Arte Stagio Stagi em Pietrasanti. Tinha 28 anos quando concluiu o Monumento ao Soldado Constitucionalista em Piracicaba. Deixou obras memoráveis no Brasil, como a escultura A Caçadora, pertencente ao acervo do Museu da Arte Moderna de São Paulo. Nasceu em 3 de dezembro de 1910 e faleceu em Campinas no dia 24 de julho de 1983.

A localização do monumento ocorre por ter sido neste espaço, em 16 de julho de 1932, a apresentação do 1º. Batalhão Piracicabano (também chamado “Noiva da Colina”), para a Estação da Paulista, rumo a capital do estado. Muitas mães ficaram “órfãs” a partir deste dia ...

(Publicado no Jornal de Piracicaba de 19 de maio de 2024)