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quarta-feira, 27 de maio de 2020

Inconfidentes


Edson Rontani Júnior, jornalista


Fazenda Santa Genebra (Família Barão Geraldo Rezende), Acervo do Museu Paulista da USP

Piracicaba ainda não existia no formato que conhecemos. Foi quando, no final do século XVIII, formou-se uma ação separatista que buscaria tornar o Brasil independente do Reino de Portugal. A cidade ainda era um povoado quando o separatismo foi estrangulado pela Coroa Portuguesa, em 1789.

O primeiro recenseamento que se tem história é de 1775, quando a “Noiva da Colina” tinha 231 habitantes, os quais moravam em 45 casas com fogão (um luxo na época!). Os índios não participaram da contagem. Habitavam a vila 37 meninos e 26 meninas de até 7 anos; 21 homens e 17 mulheres de 7 a 14 anos; 61 homens e 61 mulheres entre 15 e 60 anos; três homens acima de 60 anos e 5 mulheres com mais de 50 anos. Uma cidade grande para pouca gente.

Talvez aquilo que a história deixou cravado como Inconfidência Mineira nem tenha ecoado por nossas terras. Ao fim dela, já havia o dobro de habitantes por aqui, ou seja, 550 pessoas. No ano da Independência do Brasil, em 1822, a cidade possuía 3 mil moradores.

Anos mais tarde, Piracicaba abrigou a família do Barão de Rezende, o qual deixou grande legado para o município. Ele teve familiares envolvidos na Inconfidência.

Tudo começa com João Rezende Costa e sua esposa, Helena Maria, que iniciaram no Brasil a dinastia dos Rezende. Aportaram em Lagoa Dourada, Minas Gerais, vindos das Ilhas de Açores, meio do Oceano Atlântico. O filho deles, José de Rezende Costa (1728-1800), capitão do Exército Real, atuou na Inconfidência. O filho deste, homônimo, por sua vez, também foi considerado inconfidente.

Os dois Rezende e demais insurgentes foram condenados à morte junto a Tiradentes. Foram ao todo 11 deles que teriam a vida ceifada. Mas, apenas Tiradentes recebeu a sentença de morte. A Rainha Maria, “a louca”, mudou a pena na véspera do enforcamento, em 20 de abril de 1792. Dez foram exilados e um enforcado.

Os dois Resende Costa são despachados para a ilha de São Tiago de Cabo Verde, Guiné-Bissau (África). O Rezende pai morreu por lá dez anos depois, aos 62 anos. 

Já Rezende filho foi o mais jovem dos inconfidentes. Tinha 26 anos à época e, após cumprir os 10 anos do exílio, vai para Portugal em 1803, vivendo em Lisboa até 1809, quando consegue, excepcionalmente, autorização para voltar ao Brasil. Foi conselheiro de Dom Pedro I, ajudando-o na Independência do Brasil.

José de Rezende Costa, o pai, nunca deve ter pisado em Piracicaba. O mesmo não ocorreu com seus sucessores, especialmente o Barão de Rezende. Porém, sua ossada foi entregue em 1993 à Faculdade de Odontologia de Piracicaba (Unicamp), onde, nas mãos do professor Eduardo Daruge, constatou-se que eram realmente deste inconfidente. Daruge recebeu ossadas de três pessoas. Aquela de Rezende era a mais completa.

Seus ossos estavam em uma cova rasa na Via da Cacheu, na África e com a ajuda uma índia, ama da família, soube-se a localização geográfica onde ele foi enterrado. Com base numa tomografia da parte óssea, em auxílio com a University College London (Inglaterra), foi possível criar uma imagem computadorizada fiel da face do inconfidente.

Pai e filho foram homenageados com a denominação de Resende Costa num município com 11 mil habitantes, a 186 km da capital Belo Horizonte, Minas Gerais. Rezende pai repousa no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto (MG).

O legado de seu descendente Barão de Rezende ficou em Piracicaba. Mas, ai, já é outra história...

terça-feira, 19 de maio de 2020

Lago John ou João


   Foto do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba. Possível ano de 1986. Autor ignorado. O registro fotográfico foi tirado talvez da região do bairro Castelinho, mostrando ao fundo Piracicaba em sua região central. À esquerda a região da Rua do Porto, ao centro um lago conhecido por Lago do João (João Herrmann Neto) por uns e lado John Lennon por outros, possuir o formato de J (incline a cabeça para a esquerda para notar), e à direita o prédio em construção do Centro Cívico, idealizado na segunda gestão do prefeito Adilson Benedito Maluf.

   Note-se alguns detalhes:
   - A Rua do Porto delimitava-se apenas à ela mesma, ou seja, a rua que beirava a margem esquerda do Rio Piracicaba. O complexo gastronômico era pequeno na época. Depois acabou invadindo também a avenida Alidor Pecorari e tomando a região ribeirinha com a construção do Projeto Beira-Rio patrocinado pela Petrobrás.
   - O Lago da Rua do Porto era totalmente aberto. Por anos, recebeu o descaso da administração pública, conhecido como uma grande pântano sem tratamento. O Parque de Lazer prefeito João Herrmann Netto foi construído mais tarde.
   - O Centro Cívico, pretendido pela administração Maluf abrigaria uma série de entidades. Quando assumiu em 1989, o prefeito José Machado transferiu para lá os setores administrativos da Prefeitura, antes ocupando espaço na praça dos Três Poderes, hoje sediando na sua quase totalidade a Câmara de Vereadores.