* por Edson Rontani Júnior, jornalista
Recentemente, me deparei com um equipamento,
que em muito participou de minha vida, o qual pensei estar legado ao passado.
Fui ao Posto Fiscal do Estado, situado no antigo Fórum da rua do Rosário e lá
encontro uma máquina de escrever sobre uma bancada. Por incrível que possa parecer,
ela estava acorrentada ao apoio da bancada. Pensei comigo que, por ser peça de
museu, pudesse ser cortejada pelo amigo do alheio ou, quem sabe, já possua um
valor inestimável que faça crescer os olhos diante de tal preciosidade composta
por metais e plástico.
Noutro dia, visitei um despachante e notei
que pelos menos quatro máquinas de escrever estavam lançadas ao longo de um
extenso balcão. Bom … a partir daí, mudei meu conceito. As máquinas de escrever
ainda fazem parte de nossas vidas!
Ao longo do século passado, as máquinas de
escrever eram essenciais não apenas no mundo corporativo, como também nas
correspondências, nos acordos comerciais, nos trabalhos escolares na intenção de
substituir o manuscrito e dar um toque sofisticado aos documentos.
Confesso que faço parte de uma geração que
ser orgulhava em ganhar uma máquina de escrever de presente no Natal. Saber
datilografia era um passo para reconhecimento profissional. Era exigência de
mercado. Diploma de datilografia e carteira de habilitação eram passaportes
para iniciar uma profissão.
Quando a informática começou a tomar volume,
nos anos 1990, a máquina de escrever foi perdendo espaço para os desktops, scanners
e impressoras. A máquina de escrever podia ter a habilidade de uma impressora
com a utilização do papel carbono (daí o CC – cópia carbono – dos e-mails), sem
a possibilidade de corrigir o que se escrevesse errado. O surgimento do
corretivo foi uma dádiva aos datilógrafos que não tinham de, digitar, digo,
datilografar tudo de novo.
À máquina remete qualquer um ao cheiro de
graxa, aos dedos sujos por trocar sua fita vermelha e preta e aos palavrões
quando os caracteres enroscavam. Aliás, o modelo qwert é um padrão que precisa
ser repensado. As teclas da máquina de escrever não seguiam a ordenação
alfabética pois quando se datilografava, o mecanismo iria proporcionar
homéricas enroscadas dos tipos. Aí criou-se este sistema, hoje propagado como
qwerty (com Y ao final), nulo quando digitamos com os polegares nos
smartphones.
Aliás, a máquina teve influência do padre
brasileiro Francisco João de Azevedo, que a apresentou em 1861. A história
relega o invento ao exterior, onde foi patenteado primeiro. Algo como ocorreu
com os irmãos Wright e Santos Dumont na criação do avião.
Como peça de museu, uma notícia que remonta
à nostalgia. A máquina de escrever volta inclusive a fazer parte do serviço
secreto de vários países europeus. Depois do vazamento das informações pelo
Wikileaks, Rússia e Alemanha gastaram fortunas para comprar as máquinas de
escrever para seus agentes. Acreditam que o mundo off line é mais seguro que a
aldeia globalizada perpetuada por George Orwell e Marshall McLhuan.
Isso me faz sentir mais moderno e pouco
antiquado ....
(Artigo publicado no Jornal de Piracicaba de 11 de março de 2016)
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