Edson Rontani Júnior, jornalista
Aulas suspensas, ano letivo interrompido,
comércio fechado. Tudo para enfrentar a pandemia. Eram dias quentes em
Piracicaba naquela primavera de 1918. Um inimigo oculto afetava a cidade,
trazendo a preocupação com o desconhecido. Não havia cura. Ainda era costumeira
a existência de leprosários e sanatórios para confinar pessoas distantes da
sociedade.
- “Não há o que se fazer”, deve ter pensado
alguém, ante à tão temida gripe espanhola que assolou o planeta naquele
período, atingindo meio bilhão de pessoas.
Piracicaba não ficou distante desta pandemia.
Importada da Europa durante a Primeira Guerra, deixou a cidade de quarentena,
matando 88 pessoas e atingindo outras 4.178, em especial as residentes no Porto
João Alfredo (Ártemis) e outros bairros então considerados como zona rural. A
cidade tinha perto de 30 mil habitantes. O prédio da Escola Sud Menucci virou
hospital e internações eram feitas nas residências dos adoentados.
A influenza espanhola cancelou partidas de
futebol, fechou o comércio e confinou as pessoas em casa. A gripe atingiu os
presidentes Venceslau Brás e Rodrigues Alves (que seria empossado e acabou
falecendo em consequência dela). Na capital paulista, eram 5 mil novos casos por
dia. Durante os três meses da pandemia, foram 5.500 mortos e 200 mil
infectados.
A história mostra ainda que outros
confinamentos - voluntários ou não - existiram. Um foi o leprosário criado em
1885 por Manuel Farraz de Arruda Campos no bairro dos Alemães, popularmente
chamado de “isolamento”. Os portadores do mal de Hansen eram segregados pela
sociedade e se confinavam em casa. Quando adoecidos, eram recolhidos por Maneco
Ferraz, inclusive escravos alforriados, para que não definhassem à míngua.
Confinamento social também oferecia o Hospício dos Alienados criado pelo
Barão de Serra Negra, funcionando a partir de 1º de janeiro de 1898, abrigando
na Casa de Misericórdia os enfermos como local transitório até conseguirem vaga
no hospital de Juquery. O local abrigava no máximo 10 “alienados”, cinco de
cada sexo. Segundo seu administrador, dr. Torquato da Silva Leitão, através de
relatos da época, chegou a atender 110 “enfermos, dos quais 55 nacionais e 55
estrangeiros, 46 homens e 64 mulheres”.
Dentre outros locais de confinamento
edificados em Piracicaba, estava o Sanatório São Luiz, criado sob a égide de
Emílio Ribas, diretor do serviço sanitário de São Paulo. Seu projeto foi
iniciado em 1905, funcionando até 1930. A obra era um anseio da sociedade,
erguida por dedicação do Barão de Rezende e seu genro João Conceição. Nele,
eram asiladas no máximo 30 pessoas, em 16 quartos, desde portadores do mal de
Hansen até debilitados de atividades motoras ou cerebrais. Havia inclusive um
imenso bosque no Sanatório - na Vila Rezende -, no qual eram receitados
passeios para aquilo que se denominava como “cura de ar”. Foi o primeiro
sanatório para tuberculosos do país. O ideal de sua criação foi propagado por
Lydia de Rezende, filha do Barão, em memória a seu irmão Luiz, que morreu pela tuberculose.
Em 1886, O recenseamento foi tão detalhado
que se deteve até mesmo no percentual das enfermidades mais comuns. Em
Piracicaba, foram registrados 32 alienados, 109 aleijados, 19 cegos, 16
morféticos, 21 surdos-mudos.
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