Edson Rontani Júnior, jornalista
Piracicaba
ainda não existia no formato que conhecemos. Foi quando, no final do século
XVIII, formou-se uma ação separatista que buscaria tornar o Brasil independente
do Reino de Portugal. A cidade ainda era um povoado quando o separatismo foi
estrangulado pela Coroa Portuguesa, em 1789.
O primeiro recenseamento que se tem história é de 1775, quando a “Noiva da Colina” tinha 231 habitantes, os quais moravam em 45 casas com fogão (um luxo na época!). Os índios não participaram da contagem. Habitavam a vila 37 meninos e 26 meninas de até 7 anos; 21 homens e 17 mulheres de 7 a 14 anos; 61 homens e 61 mulheres entre 15 e 60 anos; três homens acima de 60 anos e 5 mulheres com mais de 50 anos. Uma cidade grande para pouca gente.
Talvez aquilo que a história deixou cravado como Inconfidência Mineira nem tenha ecoado por nossas terras. Ao fim dela, já havia o dobro de habitantes por aqui, ou seja, 550 pessoas. No ano da Independência do Brasil, em 1822, a cidade possuía 3 mil moradores.
Anos mais tarde, Piracicaba abrigou a família do Barão de Rezende, o qual deixou grande legado para o município. Ele teve familiares envolvidos na Inconfidência.
Tudo começa com João Rezende Costa e sua esposa, Helena Maria, que iniciaram no Brasil a dinastia dos Rezende. Aportaram em Lagoa Dourada, Minas Gerais, vindos das Ilhas de Açores, meio do Oceano Atlântico. O filho deles, José de Rezende Costa (1728-1800), capitão do Exército Real, atuou na Inconfidência. O filho deste, homônimo, por sua vez, também foi considerado inconfidente.
Os dois Rezende e demais insurgentes foram condenados à morte junto a Tiradentes. Foram ao todo 11 deles que teriam a vida ceifada. Mas, apenas Tiradentes recebeu a sentença de morte. A Rainha Maria, “a louca”, mudou a pena na véspera do enforcamento, em 20 de abril de 1792. Dez foram exilados e um enforcado.
Os
dois Resende Costa são despachados para a ilha de São Tiago de Cabo Verde,
Guiné-Bissau (África). O Rezende pai morreu por lá dez anos depois, aos 62
anos.
Já
Rezende filho foi o mais jovem dos inconfidentes. Tinha 26 anos à época e, após
cumprir os 10 anos do exílio, vai para Portugal em 1803, vivendo em Lisboa até
1809, quando consegue, excepcionalmente, autorização para voltar ao Brasil. Foi
conselheiro de Dom Pedro I, ajudando-o na Independência do Brasil.
José
de Rezende Costa, o pai, nunca deve ter pisado em Piracicaba. O mesmo não
ocorreu com seus sucessores, especialmente o Barão de Rezende. Porém, sua
ossada foi entregue em 1993 à Faculdade de Odontologia de Piracicaba (Unicamp),
onde, nas mãos do professor Eduardo Daruge, constatou-se que eram realmente
deste inconfidente. Daruge recebeu ossadas de três pessoas. Aquela de Rezende
era a mais completa.
Seus
ossos estavam em uma cova rasa na Via da Cacheu, na África e com a ajuda uma
índia, ama da família, soube-se a localização geográfica onde ele foi
enterrado. Com base numa tomografia da parte óssea, em auxílio com a University
College London (Inglaterra), foi possível criar uma imagem computadorizada fiel
da face do inconfidente.
Pai
e filho foram homenageados com a denominação de Resende Costa num município com
11 mil habitantes, a 186 km da capital Belo Horizonte, Minas Gerais. Rezende
pai repousa no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto (MG).
O
legado de seu descendente Barão de Rezende ficou em Piracicaba. Mas, ai, já é
outra história...
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