Edson Rontani Júnior, jornalista
O
rio Piracicaba sempre foi um “divisor de águas” para a cidade. De um lado o
Centro e do outro a Vila Rezende. Foi a partir dele que outros bairros surgiram
e a cidade teve sua expansão urbana. Porém, a união entre ambos os lados sempre
foi um desafio ao piracicabano. Isso deixou de ser preocupação há 145 anos,
quando foi concluída a ponte em frente ao Mirante com o objetivo comercial de
ligar uma linha férrea de Piracicaba a Limeira.
A
“Ponte do Mirante” foi concluída em 15 de maio de 1875, sendo a primeira ponte
de concreto armado do país. Antes o tráfego era feito numa ponte situada nas
proximidades, porém, construída em madeira, necessitando de reparos constantes
devido à vazão do rio.
A
obra foi concebida pelos Irmãos Rebouças, por isso, a denominação oficial de
“Ponte Irmãos Rebouças”, segundo lei 3.399 de 27 de fevereiro de 1992, assinada
pelo prefeito José Machado. Antonio Pereira Rebouças Filho (1839-1874) e André
Pinto Rebouças (1838-1898) eram negros, numa época em que vigorava a escravidão
no Brasil.
São
considerados desbravadores pois venceram o preconceito que a sociedade tinha em
relação aos negros, aos escravos e aos seus descendentes. Naturais da Bahia, eram
filhos de negros livres. Para se ter noção, o censo de então distinguia a
população local composta de 8 mil habitantes e 5.400 escravos.
Os
irmãos formaram-se em engenharia pela Escola Central Militar do Rio de Janeiro.
Foram a Londres e Paris onde aprofundaram estudos sobre ferrovias e portos. André
deixou importantes obras pelo Brasil, em especial no abastecimento e docas do
porto do Rio de Janeiro.
A
obra inicialmente contou com a supervisão de Walter John Hammond contratado
pela Paulista, o qual solicitou à uma empresa britânica a tecnologia para sua
construção, através de projeto criado por Antonio Rebouças em 1874. Foi Antonio
quem definiu tipos de trilho, locomotivas, vagões e carros de passageiro que
poderiam passar pela ponte. A Ponte Irmãos Rebouças é considerada uma obra de
arte pela engenharia. Rebouças desenhou sozinho o projeto da ponte, encaminhando-o
a Londres para confecção do material a ser utilizado para sua construção.
O
material era todo importado: rodantes, locomotivas, trilhos, máquinas e
acessórios para oficinas de reparo e manutenção. Antonio Rebouças não viu a
finalização das obras. Faleceu aos 34 anos por complicações da malária.
Depois
delas, vieram outras pontes: Caio Tabajara Esteves de Lima (ao lado da Ponte
Rebouças), Walter Radamés Accorsi e José Antonio de Souza - Zé do Prato (ao
lado do Shopping Center), Ponte ou Passarela Pênsil José Dias Nunes - Tião Carreiro,
Ponte ou Passarela Estaiada Aninoel Dias Pacheco, Ponte José Luiz Guidotti e
Pedro Francisco Prudente (conhecidas como Ponte do Morato), Ponte Romeu Pinazzi
(Ponte do Caixão), Ponte de Santa Terezinha, pontes sobre o Ribeirão Piracicamirim,
pontes sobre o Córrego do Itapeva (que hoje não existem mais), Ponte de Ferro
Joaquim Nunes (Artemis) e tantas outras que encurtaram as distâncias na cidade.
Fotos
não muito recentes mostram trens circulando pela Ponte Rebouças, no sentido
Armando Salles-Juscelino Kubitscheck. O trem, antes, passava pela Curva do S,
próximo ao Estádio Roberto Gomes Pedrosa, e, quando havia partidas de futebol,
o maquinista tocava o apito e, diz a lenda, o XV de Novembro sempre marcava um
gol após esta atitude. Bendito seja esse maquinista !
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