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domingo, 14 de março de 2021

Rumo ao cinquentenário

 Edson Rontani Júnior, jornalista e diretor da Academia Piracicabana de Letras

 

Cleo Monteiro Lobato encontrou uma forma curiosa para mostrar aos Estados Unidos as obras de seu avô, o icônico Monteiro Lobato. Ao traduzir nomes e conceitos de suas obras, não encontrava termos similares na língua anglo-saxã. Imagine apresentar a Little Nose (Narizinho) ou personagens da mitologia brasileira como o Saci Pererê e a Cuca. Diríamos, assim, que não “daria liga” para uma publicação comercial. Aproveitando a onda, Cleo adaptou linguagens dos anos 1920 e 1930 para aquilo que a atualidade considera politicamente correto, para não ferir ninguém.

Faço este enunciado para lembrar do desafio a cultura piracicabana ao entrarmos no quinquagésimo ano de criação da Academia Piracicabana de Letras, cujos 49 anos são lembrados neste 11 de março. A partir desta data, a entidade passa a estabelecer metas para seu cinquentenário, relendo e adaptando para a atualidade o ideal de seu criador, João Charini, quando, em 1972, na antiga sede da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, fundou a Academia seguindo moldes de entidades similares existentes em capitais e vários outros municípios.

A Academia Piracicabana de Letras contou com a presidência de Chiarini de 1972 a 1988, quando ele faleceu e cujo mandato foi completado por seu vice Haldumont Nobre Ferraz. Em seguida vieram Miguel Ângelo Ciavarelli Nogueira dos Santos, José Henrique Carvalho Cocenza, Maria Helena Aguiar Corazza, Gustavo Jacques Dias Alvim e atualmente Vitor Pires Vencovsky. Em todo este tempo, a entidade viveu sempre de dotação orçamentária própria, com a colaboração de seus membros e doações de verdadeiros mecenas que acreditam na cultura como transformadora social e educacional. Essa solidariedade provoca, inclusive, a publicação semestral da Revista da Academia, coletânea poesias e artigos de seus componentes. 

A Academia segue por base a Academia Francesa de Letras. É ocupada por 40 membros considerados os “imortais”, cada qual representando um patrono que no passado se dedicou à Piracicaba. Possui membros correspondentes os quais não ocupam cadeira. Na fundação, a Academia tinha outras categorias de “associados”, entre os quaisestavam personalidades como JK – o presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira – e o escritor Jorge Amado que, junto a Zélia Gattai, era padrinho de casamento de Chiarini.

Seus membros são escolhidos através de edital e é necessário ter contribuído para a literatura. Possui hoje profissionais de várias categorias como contadores de histórias, poetas, advogados, médicos, jornalistas, cirurgiões-dentistas, apenas para citar alguns.

Os 50 anos, a serem celebrados de forma presencial em março de 2022 – até lá esperamos ter dominado o coronavírus e a vacinação –, nos engajando em preservar a literatura, adaptar-nos aos novos formatos de leitura como e-books e outras mídias digitais, e, o mais importante, preservar a cultura piracicabana, nossa verdadeira joia imaterial. Papel importante é formar novos escritores e amantes das letras. Após longo tempo de interrupção de aulas presenciais, foram suspensas atividades junto aos alunos, mas o distanciamento social e confinamento proporcionaram o aumento de acesso on line de produções editoriais e ao streaming cultural.

Como fez a bisneta de Lobato, o reinventar-se constante é uma necessidade diária. E para isso, boa vontade e dedicação não faltam.

Para finalizar, parabéns ao empenho da diretoria atual da Academia de Letras, liderada pelo professor Vitor Vencovsky, composta ainda por Aracy Ferrari, Carmen Pilotto, Cássio Negri, Ivana Negri e Waldemar Romano. Nós, escritores, somos muito gratos a vocês pela dedicação nestes três últimos anos.


(Artigo publicado no Jornal de Piracicaba dia 10/03/2021 e na Tribuna Piracicabana dia 12/03/2021)

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