Edson Rontani Júnior, jornalista e diretor da Academia Piracicabana de Letras
Cleo
Monteiro Lobato encontrou uma forma curiosa para mostrar aos Estados Unidos as
obras de seu avô, o icônico Monteiro Lobato. Ao traduzir nomes e conceitos de
suas obras, não encontrava termos similares na língua anglo-saxã. Imagine
apresentar a Little Nose (Narizinho) ou personagens da mitologia brasileira
como o Saci Pererê e a Cuca. Diríamos, assim, que não “daria liga” para uma
publicação comercial. Aproveitando a onda, Cleo adaptou linguagens dos anos
1920 e 1930 para aquilo que a atualidade considera politicamente correto, para
não ferir ninguém.
Faço
este enunciado para lembrar do desafio a cultura piracicabana ao entrarmos no
quinquagésimo ano de criação da Academia Piracicabana de Letras, cujos 49 anos
são lembrados neste 11 de março. A partir desta data, a entidade passa a
estabelecer metas para seu cinquentenário, relendo e adaptando para a
atualidade o ideal de seu criador, João Charini, quando, em 1972, na antiga sede
da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, fundou a Academia seguindo moldes de
entidades similares existentes em capitais e vários outros municípios.
A
Academia Piracicabana de Letras contou com a presidência de Chiarini de 1972 a
1988, quando ele faleceu e cujo mandato foi completado por seu vice Haldumont
Nobre Ferraz. Em seguida vieram Miguel Ângelo Ciavarelli Nogueira dos Santos,
José Henrique Carvalho Cocenza, Maria Helena Aguiar Corazza, Gustavo Jacques
Dias Alvim e atualmente Vitor Pires Vencovsky. Em todo este tempo, a entidade
viveu sempre de dotação orçamentária própria, com a colaboração de seus membros
e doações de verdadeiros mecenas que acreditam na cultura como transformadora
social e educacional. Essa solidariedade provoca, inclusive, a publicação
semestral da Revista da Academia, coletânea poesias e artigos de seus
componentes.
A
Academia segue por base a Academia Francesa de Letras. É ocupada por 40 membros
considerados os “imortais”, cada qual representando um patrono que no passado
se dedicou à Piracicaba. Possui membros correspondentes os quais não ocupam
cadeira. Na fundação, a Academia tinha outras categorias de “associados”, entre
os quaisestavam personalidades como JK – o presidente Juscelino Kubitscheck de
Oliveira – e o escritor Jorge Amado que, junto a Zélia Gattai, era padrinho de
casamento de Chiarini.
Seus
membros são escolhidos através de edital e é necessário ter contribuído para a
literatura. Possui hoje profissionais de várias categorias como contadores de
histórias, poetas, advogados, médicos, jornalistas, cirurgiões-dentistas,
apenas para citar alguns.
Os
50 anos, a serem celebrados de forma presencial em março de 2022 – até lá
esperamos ter dominado o coronavírus e a vacinação –, nos engajando em
preservar a literatura, adaptar-nos aos novos formatos de leitura como e-books
e outras mídias digitais, e, o mais importante, preservar a cultura
piracicabana, nossa verdadeira joia imaterial. Papel importante é formar novos
escritores e amantes das letras. Após longo tempo de interrupção de aulas
presenciais, foram suspensas atividades junto aos alunos, mas o distanciamento
social e confinamento proporcionaram o aumento de acesso on line de produções
editoriais e ao streaming cultural.
Como
fez a bisneta de Lobato, o reinventar-se constante é uma necessidade diária. E
para isso, boa vontade e dedicação não faltam.
Para
finalizar, parabéns ao empenho da diretoria atual da Academia de Letras,
liderada pelo professor Vitor Vencovsky, composta ainda por Aracy Ferrari,
Carmen Pilotto, Cássio Negri, Ivana Negri e Waldemar Romano. Nós, escritores,
somos muito gratos a vocês pela dedicação nestes três últimos anos.
(Artigo publicado no Jornal de Piracicaba dia 10/03/2021 e na Tribuna Piracicabana dia 12/03/2021)
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