Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
De
passatempo a ícone da comunicação autoral e alternativa. Assim notabilizou-se o
primeiro fanzine publicado no Brasil que, no último dia 12 de outubro,
completando seus 59 anos. Como brincadeira de gente grande, o fanzine “Ficção”
surgiu para preencher a lacuna entre os fãs das histórias em quadrinhos no
final de 1965, numa época de ebulição do mercado editorial brasileiro em que
desfilavam grandes editoras que propagavam a nona arte, como O Cruzeiro, Ebal,
Vecchi, La Selva, Lord Cochrane, RGE, Bloch e muitas outras que faliram ou se
fundiram com multinacionais.
Publicação
feita no fundo do quintal e nas horas vagas, o “Ficção” não tinha pretensão de
ser o primeiro fanzine do país. Foi lançado como “boletim” e apenas em meados
dos anos 1970 recebeu esta denominação por estudiosos em comunicação. Não
pretendia ser um marco ao catalogar tudo o que foi lançado no mercado de
quadrinhos. Era um delicioso passatempo no qual o funcionário público do estado
de São Paulo Edson Rontani se dedicava para falar sobre sua maior paixão.
Tem
seus antecedentes. Isso nos anos 1940 quando foi impulsionado pelos seriados de
cinema produzidos pela Republic Films, os quais apresentavam os heróis da era
dourada dos quadrinhos como Flash Gordon, Batman, Superman, Zorro e tantos outros
personagens, hoje sob posse da DC Comics e da Marvel Comics. Estes seriados
eram exibidos nos Teatro Santo Estevão e no Teatro São José. Rontani em
companhia de seu amigo Oswaldo de Andrade eram tão fascinados em reter estas
memórias que criavam seus próprios gibis desenhados a mão e distribuídos entre
os amigos. Assim propagavam as emoções vistas na tela.
Esta
paixão fez com que anos mais tarde houvesse a necessidade de se
profissionalizar e procurar pessoas – fora de Piracicaba – para conversar sobre
quadrinhos. Cria-se o “Ficção”, impresso em mimeógrafo, com páginas grampeadas,
envelopado e enviado pelos Correios. Recebiam esta publicação grandes expressões
da época como Adolfo Aizen, Maurício de Souza, Lyrio Aragão, Jô Soares, José
Mojica Marins (o “Zé do Caixão”), Gedeone Malagola e muitos outros. Maioria
desconhecidos pelo público que surfa pela internet.
“Ficção”
circulou até o início dos anos 1970, período em que professores, comunicadores
e estudiosos perceberam seu pioneirismo na comunicação alternativa e autoral.
Estabelecia-se então o primeiro fanzine publicado no Brasil, algo ainda
reverenciado nos dias atuais.
Os
primeiros registros do fanzine são datados dos anos 1920 nos Estados Unidos e
hoje – em pleno período de avanço tecnológico digital – ainda é feito tanto lá
fora quando no Brasil, de maneira artesanal e com muita paixão. Não é a toa que
fanzine é a união das palavras fanatic (fã) e magazine (revista), ou seja, a
revista feita pelo fã.
Produto
genuinamente piracicabano, terra tão cheia de cultura e com grandes revelações,
o fanzine vem sendo reverenciado neste mês por chegar aos seus 59 anos, com
atividades realizadas em universidades e republicações que serão feitas em todo
o país. Não faltaram manifestações no último final de semana. As mídias sociais
digitais, inclusive, impulsionam para que isso se torne mais evidente. É
referência inclusive em estudos científicos, embora desconhecido na terra natal
de seu autor.
Como
passatempo, virou marco na comunicação. Talvez porque seu criador nunca pensou
em fazê-lo um trabalho pioneiro - procurava o meio e nunca o fim como
reconhecimento, para colher sua devida colocação na arte nacional.
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