Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Saindo do Mercado Municipal, o tão pejorativo “Mercadão”, após um pastel com uma caçulinha Guarani, deparo com a rua Dom Pedro I. Bom, até aí, tudo bem. Ando mais cem metros e vejo a rua Dom Pedro II. Coincidência pai e filho serem denominados com ruas paralelas? Aí vem a dúvida de um petiz prestes a participar do Enem:
-
Senhor, por que dom Pedro I é mais moço que seu filho ?
“Como
assim?”, pensei eu. Daí, saquei! O primeiro foi retratado quando moço em muitos
quadros e a sua imagem se perpetuou assim. Também pudera! O responsável pela
independência do Brasil deveria ter sua imagem propagada como um jovem, viril e
com outros adjetivos. O segundo foi mais fotografado que pintado em telas. A
fotografia só surgiu um ano depois de Segundo nascer. Isso foi em 1826 e daqui
dois anos teremos o bicentenário da criação da fotografia. Segundo perpetuou
sua imagem em milhares de fotografias. Muitas como o “velhinho” que conhecemos.
Aliás, dom Pedro, o segundo, foi o grande mecenas para que a fotografia
aportasse em nossas terras, incentivando fotógrafos como Marc Ferrez e Augustus
Morand, ordenando a presença de um retratista em suas comitivas. É imenso o
registro de sua vida social em fotografias.
Bom.
Entro no carro e parto para o Museu Prudente de Moraes. Curioso é ver que o
Museu fica a uma quadra da rua que leva o nome do terceiro presidente do
Brasil. Mas a Piracicaba Republicana tem disso. Ruas, monumentos, prédios ...
todos eles com citações de personalidades que compuseram nossa República depois
de quase quatro séculos de administração por monarcas como reis, regentes,
imperadores etc etc etc. Quem nunca parou para admirar as peças em exposição
neste local que foi casa e escritório de Moraes, aquele que admirados falamos como
sendo o “primeiro presidente civil do Brasil”, como mérito por ter vivido em
nossa amada cidade.
Novamente
no carro, dirijo-me para uma rede atacadista na finalidade de comprar um fardo
de refrigerante. Ops ! Olha a República estampada aí de novo ! Rua Regente
Feijó. Mas, filho, Feijó não viveu na República e sim foi Regente do Império
Brasileiro. Sabemos disso. Mas ele tinha leve queda para a linha republicana, e
historiadores dizem que foi o primeiro chefe do executivo nacional, isso em 12
de outubro de 1835, quando o Ato Adicional de 1834 transformou a Regência em
Una, ou seja, as decisões eram tomadas única e exclusivamente pelo ocupante da
Regência. Uns podem ver nisso um ato ditatorial, mas como Feijó foi eleito
pelos rígidos parâmetros da época, respirou por alguns anos o ar republicano.
Vou
para a Paulista e no caminho subo a Rua do Vergueiro. Seria o senador Vergueiro
? Teve relação com a República ? Bom. Não vamos entrar neste mérito.
As
ruas centrais da cidade são devidamente nominadas em homenagem àqueles que
administraram este Brasil. Era uma tendência comum na primeira metade do século
passado.
No
meio do caminho, aparece a rua Floriano Peixoto, uma rua totalmente reta que
começa acima da avenida Independência, tem seu caminho cortado pelo terreno da
Santa Casa e finda com um trecho sem saída em área próxima a Chácara Nazareth.
Peixoto teve ligação direta com a República. Foi veterano da Guerra do Paraguai
e primeiro vice-presidente da República junto a Deodoro da Fonseca. Este
renunciou ao cargo de presidente passando no meio de seu mandato o bastão a
Floriano, que presidiu a república de 1891 a 1894. Depois veio o “piracicabano”
Prudente de Moraes.
Do
Centro, a cabeça viaja lá pelos lados da Sorveteria Paris. “Mas o churrasquinho
do Bar do Décio era uma delícia”, me vem à memória naquilo que se tornou
saudade lá pelos anos 1980. Os dois estabelecimentos comerciais (o primeiro
ainda existe) situam-se no cruzamento da Santa Cruz com a rua Marechal Deodoro.
Outra rua sem curvas, retíssima, que começa ao lado da Escola Prudente de
Moraes (olha ele aí de novo) e acaba como uma rua sem fim dois quarteirões após
a avenida Independência, tendo ao seu lado a rua Regente Feijó.
São histórias curiosas neste mês de novembro, cujo dia 15 serviu como emenda para o final de semana, feriado nacional em consagração à República do Brasil. Foi o fim do império e o início de repúblicas que vão da velha, à nova e à contemporânea (sempre cheia de surpresas...)
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