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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Informação por uma “gazzetta”

 Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

O Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba disponibiliza em seu site mais de 1 mil fotografias com os três primeiros anos do jornal “Gazeta de Piracicaba”, que circulou na cidade de janeiro de 1881 a julho de 1938. Infelizmente, no acervo não constam as edições do primeiro ano. Estão disponíveis páginas de 1882 a 1884. Algumas carcomidas pelo tempo ou pelo manusear. São 141 anos de impressão em papel jornal cujas edições com certeza ficaram algum tempo exposto sobre a radiação solar seja na entrega ou nos pontos de venda de então. Essa precariedade fez com que o acervo físico fosse fechado ao público em geral.

Dediquei muita atenção ao ano de 1932 nas edições da Gazeta. Isso porque pretendo lançar em breve um livro sobre o comportamento da sociedade local naquele ano, em especial durante a Revolução Constitucionalista. O matutino dividia espaço com este “Jornal de Piracicaba” e o “Momento”.

A “Gazeta de Piracicaba”, no período analisado, media 54 cm na vertical por 38 cm na horizontal. As edições de 1932 encontram-se em um volume único, dando noção que sua proporção horizontal pode ter sido refilada para a encadernação. Possuía como redator à época Lauro A. C. de Almeida e como proprietário e gerente Chistovam Donatz. Em nenhuma edição deste período foi possível constatar onde ficava sua sede ou onde era impresso. Não havia expediente publicado. Era um jornal com uma diagramação à frente do seu tempo, com colunas concisas que não confundiam a leitura e tinha uma sequência de matérias bem dispostas. Possuía uma visualização espaçada, naquilo que consideramos no jornalismo como uma diagramação mais limpa. Usava e abusava de titulação trabalhada como caracteres repletos de serifas. Neste período, tinha uma coluna fixa na capa intitulada “Notícias Rápidas”, com drops sobre a Revolução em todo o Estado de São Paulo. Não deu tanto destaque à causa constitucionalista tanto quanto o “Jornal de Piracicaba e “O Momento”. Mantinha, durante este conflito, colunas na capa sobre assuntos hoje banais como a influência galesa e saxã na língua brasileira, entre outros. Circulava de terça-feira a domingo com quatro páginas. Eram publicadas colunas tradicionais como “Cultho Catholico”, “Sociaes” e a programação de cinemas. No período de 22 de setembro a 19 de novembro de 1932 teve seu tamanho reduzido para 38 cm na vertical por 38 cm na horizontal, próximo ao tabloide, motivado possivelmente pela escassez do papel jornal. Mesmo assim, as colunas tradicionais foram mantidas, tal qual os anúncios, e a Revolução Constitucionalista não era tão explorada quanto aos dois outros concorrentes.

“Gazeta de Piracicaba” publicava colunas diárias de Euclydes do Amaral e de Jacob Dihel Neto intitulada “O proposito do Batalhão Piracicabano”.

Carolina Martin, que atualmente reside em Santos, mas por alguns anos catalogou e organizou o acervo de jornais do Instituto Histórico, se empenhou em um estudo de outro período. Foram dias e dias lendo, anotando e avaliando seu conteúdo para um estudo que está compilado num site, com o tema “A Educação na Imprensa Republicana: Gazeta de Piracicaba 1882-1903”. Nove anos de análises meticulosas feita em conjunta com o pesquisador Cesar R. A. Vieira.

A intenção é tornar pública uma sequência de notícias, artigos de opinião e anúncios publicados pela “Gazeta de Piracicaba” envolvendo temas sobre a educação. Aparecem análises sobre os internatos femininos, educação, imigrantes, escravos alforriados e outros. O estudo também aborda escolas históricas da cidade como o Colégio Piracicabano e o Nossa Senhora D’Assunção, e os primeiros Grupos Escolares. A obra é um deleite por conhecermos professores que hoje são nominados com logradouros ou escolas e que desfilam no estudo. O resultado final pode ser conferido no site do IHGP, de forma gratuita, sem ter que pagar nada. Lembrando que jornais foram denominados de “Gazeta” já que gazzetta era um moeda italiana cujo valor equivalia à compra de um jornal.


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