Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
O Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba disponibiliza em seu site mais de 1 mil fotografias com os três primeiros anos do jornal “Gazeta de Piracicaba”, que circulou na cidade de janeiro de 1881 a julho de 1938. Infelizmente, no acervo não constam as edições do primeiro ano. Estão disponíveis páginas de 1882 a 1884. Algumas carcomidas pelo tempo ou pelo manusear. São 141 anos de impressão em papel jornal cujas edições com certeza ficaram algum tempo exposto sobre a radiação solar seja na entrega ou nos pontos de venda de então. Essa precariedade fez com que o acervo físico fosse fechado ao público em geral.
Dediquei
muita atenção ao ano de 1932 nas edições da Gazeta. Isso porque pretendo lançar
em breve um livro sobre o comportamento da sociedade local naquele ano, em
especial durante a Revolução Constitucionalista. O matutino dividia espaço com
este “Jornal de Piracicaba” e o “Momento”.
A
“Gazeta de Piracicaba”, no período analisado, media 54 cm na vertical por 38 cm
na horizontal. As edições de 1932 encontram-se em um volume único, dando noção
que sua proporção horizontal pode ter sido refilada para a encadernação.
Possuía como redator à época Lauro A. C. de Almeida e como proprietário e
gerente Chistovam Donatz. Em nenhuma edição deste período foi possível
constatar onde ficava sua sede ou onde era impresso. Não havia expediente
publicado. Era um jornal com uma diagramação à frente do seu tempo, com colunas
concisas que não confundiam a leitura e tinha uma sequência de matérias bem
dispostas. Possuía uma visualização espaçada, naquilo que consideramos no
jornalismo como uma diagramação mais limpa. Usava e abusava de titulação
trabalhada como caracteres repletos de serifas. Neste período, tinha uma coluna
fixa na capa intitulada “Notícias Rápidas”, com drops sobre a Revolução em todo
o Estado de São Paulo. Não deu tanto destaque à causa constitucionalista tanto
quanto o “Jornal de Piracicaba e “O Momento”. Mantinha, durante este conflito,
colunas na capa sobre assuntos hoje banais como a influência galesa e saxã na
língua brasileira, entre outros. Circulava de terça-feira a domingo com quatro
páginas. Eram publicadas colunas tradicionais como “Cultho Catholico”,
“Sociaes” e a programação de cinemas. No período de 22 de setembro a 19 de
novembro de 1932 teve seu tamanho reduzido para 38 cm na vertical por 38 cm na
horizontal, próximo ao tabloide, motivado possivelmente pela escassez do papel
jornal. Mesmo assim, as colunas tradicionais foram mantidas, tal qual os
anúncios, e a Revolução Constitucionalista não era tão explorada quanto aos
dois outros concorrentes.
“Gazeta de Piracicaba” publicava colunas
diárias de Euclydes do Amaral e de Jacob Dihel Neto intitulada “O proposito do
Batalhão Piracicabano”.
Carolina
Martin, que atualmente reside em Santos, mas por alguns anos catalogou e
organizou o acervo de jornais do Instituto Histórico, se empenhou em um estudo
de outro período. Foram dias e dias lendo, anotando e avaliando seu conteúdo
para um estudo que está compilado num site, com o tema “A Educação na Imprensa
Republicana: Gazeta de Piracicaba 1882-1903”. Nove anos de análises meticulosas
feita em conjunta com o pesquisador Cesar R. A. Vieira.
A intenção é tornar pública uma
sequência de notícias, artigos de opinião e anúncios publicados pela “Gazeta de
Piracicaba” envolvendo temas sobre a educação. Aparecem análises sobre os
internatos femininos, educação, imigrantes, escravos alforriados e outros. O
estudo também aborda escolas históricas da cidade como o Colégio Piracicabano e
o Nossa Senhora D’Assunção, e os primeiros Grupos Escolares. A obra é um
deleite por conhecermos professores que hoje são nominados com logradouros ou
escolas e que desfilam no estudo. O resultado final pode ser conferido no site
do IHGP, de forma gratuita, sem ter que pagar nada. Lembrando que jornais foram
denominados de “Gazeta” já que gazzetta era um moeda italiana cujo valor
equivalia à compra de um jornal.
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