Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Foi um nome que colocava respeito. Afinal, ministro chefe da Casa Civil da República não era título para qualquer um. Me recordo que, lá por meados dos anos 1990, noticiava eu, pelas ondas da Rádio Alvorada AM, na extinta frequência dos 910 kilohertz, fatos de um governo que prometia esperança para o país. Havíamos passado pela abertura democrática em 1984, tivemos eleição de Tancredo Neves, a posse de seu vice José Sarney e em seguida foi empossado o “caçador de marajás”, Collor de Mello. Era um período de transição na qual o brasileiro buscava sua identidade.
Foi
uma época de falta de esperança. A inflação atingiu astronômicos 80% ao mês.
Era como receber 1 mil reais no início do mês e ele valer apenas 20%. O poder
de compra caiu drasticamente. Em 1994 surge o Plano Real, equiparando o real ao
dólar norte-americano. Ou, seja 1 real vale 1 dólar. A prática mostrou ser pura
utopia, pois logo em seguida a crise na Argentina fez a moeda brasileira perder
por 2 a 1, ou seja, o dólar valorizou 100% em poucos meses. Mas de lá para cá
aprendemos a controlar a moeda, evitando, nestes 31 anos, de cortar os zeros
comidos pela inflação galopante ou mudar a denominação de nossa moeda.
Pode
não ter sido o “ovo de colombo” na economia ou na política. Mas ajudou na
identidade do brasileiro.
Isso
tudo foi contado no livro “O caipira e o príncipe”, produção independentes do
autro, lançado em Piracicaba na segunda semana de novembro por um dos
personagens que participou destas ações em Brasília junto ao governo FHC, o
“quase” piracicabano Xico Graziano. Nascido na vizinha Araras, Xico tem os pés
em Piracicaba por ter estudado no Colégio Sud Menucci e ter se graduado na
ESALQ. Foi o caipira representando Piracicaba no governo federal nos anos 1990,
em conjunção com outro piracicabano, Barjas Negri, o qual atuou como Secretário
do Ministério da Saúde, assumindo em seguida a pasta quando o titular José
Serra se candidatou a presidente da República. Xico disse, no lançamento, que
pretendia publicar o livro “O caipira e o príncipe” apenas depois do
falecimento do ator principal do enredo, Fernando Henrique Cardoso. Mas sua
veia de escritor aguçou a necessidade de colocar no papel todo bastidor vivido
em Brasília na segunda metade dos anos 1990. Triste é saber que, conforme
anunciado no lançamento do livro, FHC está em estado delicado de saúde, sem
reconhecer as pessoas, relembrar os fatos, ou conforme disse Xico, “esperando a
vida apagar-se aos poucos” ...
A
obra pode não ser vista como uma elegia ao tucanato do PSDB mas coloca em evidência
nomes esquecidos pelo brasileiro como o ministro das comunicação Sérgio Motta,
o governador Mário Covas, o ministro da saúde José Serra e outros vistos como
personagens que moldaram o Brasil anos após a redemocratização. São bastidores
necessários para se conhecer porque o país é assim hoje. Assim, como Laurentino
Gomes fez com a história pré República ou Elio Gaspari discorreu na coleção
sobre a ditadura iniciada em 1964.
Nada
de endeusar partido esse ou aquele, principalmente em época de polarização
política. Mas curioso é ver, através do livro como um caipira tão próximo a nós
viu, vivenciou e esteve tão perto do poder que regulou a política, a economia e
a sociedade por cerca de uma década.
Piracicaba
teve vários caipiras no poder. Isso pode ser visto nos livros locais desde a
época da independência, passando por Prudente de Moraes (piracicabano não nato,
mas de fato). Agora, triste é ver que toda essa dedicação ao poder caia no
esquecimento em época de internet, com total desinteresse da geração atual. Faz
parte do ciclo natural da vida ...