Conheci Christiano Diehl Neto talvez na época em que esta foto foi tirada. Foto, aliás, de acervo particular do próprio Christiano. Ele era fotógrafo do "Jornal do Povo Piracicabano", publicação existente em Piracicaba entre 1977 e 1979. Foi lá que tive minha iniciação no jornalismo, com apenas 11 anos de vida.
O Jornal do Povo tinha redação na rua Rangel Pestana, bem ao meio do quarteirão, do lado direito, numa casa que ainda hoje existe, na qual está montada uma das sedes da Odontoclinic. Dava um prêmio de 10 cruzeiros para quem tivesse sua charge publicada aos finais de semana.
Incentivado por meu pai, desenhista, rabisquei uns desenhos até que certa vez o mesmo saiu na página 2 do Jornal. Era um índio vestido de tanga e um catequista, ambos na praia, numa homenagem a José de Anchieta que escrevia poemas na areia. O índio pergunta : escrevendo poesia ? E o catequista: Não ! Calculando o custo de vida.
"Custo de Vida" era um bordão na época. Rendia manchetes nos jornais e charges nas páginas internas. Foi trocada anos depois pelo termo inflação e não está mais na moda atualmente.
Depois, Paulo Sérgio Markun me convidou junto a meu irmão Eron e aos primos Lorivaldo, Fernando e Mauro a montarmos a página infantil do jornal. Tudo pela farra. Sem ganhar nada. Era o "Jornal do Povo Júnior", última página do último caderno. A primeira pauta foi sobre as filas, enormes, que eram feitas em frente às papelarias de Piracicaba em período anterior às aulas. Piracicaba tinha a Libral, Católica e Brasil, como as únicas opções de papelaria e livraria. Lá fui eu, com minha Instamac Kodak na Libral, que ficava na rua Boa Morte ao lado da Budasom (outra loja que enchia meus olhos, ao ver nas vitrines capas de filmes Super 8 do Superman, dos desenhos da Disney ...).
Entrevistei pessoas, colhi testemunhos, fotografei e fui à redação onde escrevi uma matéria sobre as longas filas e o tempo de espera para adquirir o material escolar. Coloquei na mão do Paulo Markun. Dias depois perguntei a ele sobre a matéria. Ele ficou indignado. "Eu sei onde está", disse-me. Tempos depois voltei e lá estava minha matéria, duas laudas em papel jornal, amassada, como se tivesse sido rejeitada pela grande editor que, com peso na consciência, tirou-a da lata de lixo, desamassou-a e aproveitou-a naquela semana. Assim, estreei como repórter jornalístico.
Foi então que Christiano Diehl Neto entrou na parada. Me orientou sobre fotografia e sobre revelação. Ele trabalhava no estúdio junto ao "Negão", que de tanto chamar-lhe pelo apelido, nunca soube qual era seu verdadeiro nome.
O Jornal do Povo era de propriedade de João Herrmann Netto e buscava mostrar as verdades da cidade. Se isso fosse possível principalmente por estar na mão do prefeito de então, que mergulhava-se naquilo que denominou-se historicamente como "Mar de Lama". Lá conheci Emílio Moretti, o Walter Puga Jr. e sua irmã, o Peninha, a Beatriz Elias e outros.
Diehl trabalhou na tradicional Outsubo na rua XV de Novembro, centro de referência para quem gostava de fotos e cinema. Revelei lá muitos filmes Super-8, numa época em que a revelação era feita em São Paulo, demorando cerca de 20 dias para retornar e agravar a ansiedade em saber se a filmagem tinha saído a contento.
Christiano registrou momentos importantes da política local como a vinda de Lula, acima, a Piracicaba, no Estádio Barão da Serra Negra, durante encontro da União Nacional dos Estudantes (UNE), período em que a entidade era proibida de existir pela ditadura militar. Manifestações ocorriam em estádios ou ginásios. Locais fechados para evitar tumultos.
Outro exemplo de fotojornalismo genuíno é a campanha pelo Rio Piracicaba por volta de 1979, quando a imprensa divulgava cartazes e páginas em preto com a inscrição em branco "O Rio Está Morto", brigando pela manutenção da captação de água para Piracicaba, contrariado o Sistema Cantareira, que levaria água do Rio para a cidade de São Paulo, na gestão do governador Paulo Maluf.
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