* por Edson Rontani Júnior, presidente do Núcleo
Voluntários de Piracicaba / Sociedade de Veteranos MMDC – São Paulo
Este é o valor da terra estremecida
É o poema da glória piracicabana
Pela pátria a lutar, vida por vida,
Tombaram com bravura soberana!
Dor e martírio de uma raça forte
Que é luz e ideal de um sentimento novo!
Sobre as pedras não existe a morte,
Porque não morre quem defendeu um povo!
As letras de poema escrito
por Francisco Lagreca ainda repousam sobre o Monumento ao Soldado
Constitucionalista, também denominado Monumento aos Voluntários de Piracicaba.
Ele situa-se na Praça José Bonifácio em frente à emissora Rádio Difusora de
Piracicaba. A localização é estratégica pois ao seu lado funcionou o Teatro
Santo Estevão, um dos principais pontos de entretenimento e de encontro da
sociedade piracicabana na primeira metade do século passado. O Teatro não
existe mais. O Monumento permanece no local original, mesmo tendo sido
transferido no início dos anos 1980 para a praça em frente ao Cemitério da
Saudade, no Bairro Alto.
A concentração dos
voluntários piracicabanos ocorreu em frente ao Santo Estevão. Dados históricos
mostram que pelo menos 800 pessoas saíram de Piracicaba rumo a São Paulo, onde
pegariam suas armas, receberiam treinamento e partiriam para o fronte de
batalha, na região norte de São Paulo, com maior ênfase para o Vale do Paraíba
e cidades como Cruzeiro. A concentração trouxe um fervor a Piracicaba. A cidade
parou para acompanhar a marcha dos voluntários que se aglomeraram diante de tão
pomposo Teatro. Cantando, tomaram subida pela Rua Boa Morte, escoltados por
membros da Banda Lira Guarani, que tocavam hinos de exaltação, findando o
trajeto na Estação de Trem da Paulista.
A obra homenageia os combatentes voluntários
na Revolução de 1932. Sua construção foi decidida pelo poder público, através
do prefeito Luiz Dias Gonzaga, em conjunto com voluntários e familiares
daqueles que tombaram na luta pelo 9 de julho.
O monumento foi instalado
na Praça José Bonifácio em 1938, seis anos após a Revolução Constitucionalista
em que paulistas se rebelaram contra o governo federal liderado por Getúlio
Vargas.
Para a obra, foi contratado
o escultor Lélio Coluccini, italiano da cidade de Pietrasanta, região da
Toscana, nascido em 3 de dezembro de 1910. Este chegou com a família ao Brasil quando
tinha dois anos. Era de uma família de artesãos em mármore que na cidade de
Campinas (São Paulo) fundaram a Marmoraria Irmãos Coluccini. Tinha um dom
natural com a escultura que a família acabou investindo profundamente nele.
Lélio, em 1924, retorna para a Itália, morando com a avó Teresa, e estudando no
Instituto de Arte Stagio Stagi em Pietrasanti. Tinha 28 anos quando concluiu o
Monumento ao Soldado Constitucionalista em Piracicaba. Deixou obras memoráveis
no Brasil, como a escultura A Caçadora, pertencente ao acervo do Museu da Arte
Moderna de São Paulo. Faleceu em Campinas em 24 de julho de 1983.
O Monumento ao Soldado
Constitucionalista segue o estilo art déco e é tombado pelo CODEPAC – Conselho
de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba.
Em 1979, o prefeito João
Herrmann Neto inicia a remodelação da Praça José Bonifácio, criando um calçadão
presente até a primeira gestão do prefeito Barjas Negri (2004/2008). Com o
calçadão, o poder executivo acreditava que o piracicabano teria um local para
se distrair com a família. Não havia uma Rua do Porto forte como hoje, um lago
na rua do Porto, um local para se caminhar como o existente na Estação da
Paulista. A diversão do piracicabano era ir à Escola Agrícola (ESALQ).
Shoppings só viriam anos mais tarde. Foram incentivados o programa “Domingão”
com atividades de lazer e práticas esportivas na praça. Para isso, seriam
retirados todos os monumentos situados em seu entorno, como o Monumento a Luiz
de Queiróz, o busto de José Bonifácio, a marquise das bandeiras existente ao
final da rua Santo Antonio e o Monumento ao Soldado Constitucionalista. Este
foi o último a ser desmontado. João Herrmann Neto chegou a subir um trator
enfrentando familiares de combatentes que montaram por dias um cordão diante do
monumento para impedir sua retirada. De nada adiantou. Em 1980, o Monumento foi
transposto para a praça em frente ao Cemitério da Saudade (hoje Praça Vitório
Angelo Cobra, o Cobrinha).
Após polêmicas, a justiça
determina o retorno do Monumento ao local original, seguindo decisões do
Tribunal de Justiça de São Paulo e do Supremo Tribunal Federal. A reinstalação
ocorre em 18 de dezembro de 1988.
Uma das placas homenageia
os piracicabanos mortos em combate na Revolução de 1932: Alexandre Petta, Claudionor Barbieri, Ennes Silveira Mello, José Homero Roxo, Natal Meira Barros, Romário
de Mello Nery, Silvio Cervellini e Francisco Souza.
O IPPLAP (Instituto de
Pesquisas e Planejamento de Piracicaba) catalogou o Monumento como tendo sua
estrutura em granito com estátuas em bronze. A art déco se faz presente
conforme o padrão da década de 1930, com blocos de pedra com diferentes
medidas, com um obelisco na parte central com o brasão da república brasileira
feito em bronze. As estátuas encontram-se em três faces, com exceção daquela
cuja parte direciona-se à rua Prudente de Moraes. Numa delas, uma mulher
estende para o alto uma coroa de louro; noutra, um soldado em pé segurando uma
espingarda diante de outro sentado ao chão; na terceira face um soldado abraça
uma mulher com um bebê com ares de ser sua esposa e seu filho, enquanto a outra
mão acalenta a cabeça de outra mulher aparentando ser sua mãe, em prantos, com
a face para o chão.
O Monumento está
completando este ano seus 75 anos de construção e 25 anos de retorno ao local
de origem.
Recente visita realizada
pelo Núcleo Voluntários de Piracicaba – MMDC notou que o local continua
servindo para abrigar pedintes durante as noites assim como crianças e adultos
que utilizam-se do Monumento para sentar ou escalá-lo, de forma inadvertida.
Pombos fazem do seu topo, poleiros tranquilos. Durante nossa seção de fotos,
tivemos que afugentá-los com pets e latinhas encontradas nas proximidades. Na
parte inferior é comum encontrar ação da natureza como oxidação nas placas de
metais e presença de pequenos enxames de abelhas. No geral, sua conservação é
boa. Não se tem notícias de vandalismos recentes neste Monumento.
O
vereador Pedro Kawai (PSDB) solicita informações ao Executivo, através do
requerimento 550/2013, sobre a possibilidade de revitalização dos monumentos na
Praça José Bonifácio, no centro de Piracicaba.
O mesmo
assunto foi objeto da Indicação 1232/2013, protocolada em 8 de março, sendo
reivindicada pelos freqüentadores da praça a revitalização e a restauração dos
monumentos. “A praça é um dos mais importantes pontos turísticos da cidade,
sendo necessário que esteja em ótimo estado”, afirma o vereador.
“Muitos dos monumentos na praça traduzem a
história de Piracicaba, necessitando deixar os mesmos com aparência agradável e
apresentável aos visitantes que freqüentam este local”, aponta o vereador na
justificativa da propositura.
* Texto, pesquisa e fotos de Edson Rontani Júnior –
jornalista, membro do Instituto Histório e Pedagógico de Piracicaba e
presidente do Núcleo Voluntários de Piracicaba
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