* Edson
Rontani Júnior – jornalista pós-graduado em jornalismo
contemporâneo
Recordo-me de quando ainda
cursava a graduação em
jornalismo. Fiz , na ocasião, um trabalho referente às reações
dos órgãos de repressão no Brasil durante os anos 70. Um dos estudos apontava para
um jornalista que teve quebrados os dedos das mãos por ter publicado uma
matéria contra os interesses da ditadura. Seria uma lição para que ele nunca
mais se prostrasse diante de uma máquina de escrever e dedilhasse sua ferocidade
crítica em novas
matérias. No dia seguinte, o mesmo jornal publicou uma
matéria na capa de autoria do próprio jornalista com o título : “Será que eles
pensam que jornalista escreve com as mãos?”.
A manifestação do editor torna claro
que os dedos do jornalista servem como extensão do cérebro, o centro do
pensamento humano. Que o diga a ciência a qual criou tecnologia para pessoas
acamadas se comunicarem com o movimento das pálpebras ou de músculos faciais.
Ou, ainda, Stephen Hawking, físico britânico, acometido por esclerose
amiotrófica, há décadas preso em uma cadeira de rodas, que escreve livros, através
de óculos infravermelhos e, pela movimentação de certos músculos da face,
consegue ordenar letra ou palavra para se expressar.
Na Rússia, o espancamento de
profissionais da imprensa é exemplar. Em novembro de 2014, Oleg Kashin teve
pernas, mandíbula e dedos esmigalhados por barras de ferro para que, como
jornalista, não pudesse andar, falar e escrever. Kashin escreveu uma série de
matérias sobre uma floresta a ser derrubada para dar espaço a uma rodovia. De 2005 a 2010, a Rússia liderou
mundialmente o ranking de atentados contra jornalistas. Foram mais de 100 ações
contra funcionários, donos de jornais, dentre elas 50 mortes. O leste europeu é
manchete constante nos jornais, por reações a matérias jornalísticas que ferem
interesses de poderosos.
Já na China, o índice de caça aos
escritores é nula, pois poucos ousam se confrontar com um governo repressor. Nos
Estados Unidos, a crítica é constante e respeitada. Tem seu poder consolidado
diante da sociedade.
Escrever o básico ou ir além dele
confronta-se em muito com o olhar comercial, e, muitas vezes, fere ascensões em carreiras
profissionais. Desde que lançada comercialmente nos anos 90, a internet tornou-se uma
nova forma de comunicação. Não é considerada confiável, a exemplo do jornal ou
da televisão. Mas, é democrática. A crise denominada de “primavera árabe”
motivou um corte total à internet em países como o Egito. É a forma mais atual
contra a expressão. Antigamente, perseguia-se aquele que falasse demais, hoje,
tira-se o cabo da parede e perde-se contato com o mundo. Que o diga Julian
Assange, criador do WikiLeakis.
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