* Edson Rontani Júnior –
jornalista
Litera scripta Manet (A palavra escrita permanece) – Horácio
Pouca gente se deu conta. A
geração atual talvez nem o tenha conhecido. Mas, a era digital acabou há tempos
com ele. O P.S. já não faz parte de nossa escrita há anos, ao contrário de seu
parente mais próximo o “obs.”, ou observação, que escrevemos nos ofícios ou no e-mail
para chamar a atenção do receptor de nossa mensagem.
O P.S., ou post-scriptum (escrito depois) no latim, teve por muitas décadas a
função de corrigir esquecimentos humanos em cartas, artigos de jornais e
memorandos empresariais. Foi um recurso utilizado pelos datilógrafos ao
concluir seus escritos. Com o uso da máquina de escrever, era trabalhoso ter de
datilografar um conteúdo novamente do início ao fim. Utilizava-se, então, um
adendo ao seu final, na intenção de corrigir lapsos de memória. Ou até mesmo
para demonstrar que foi realizada alguma correção ou atualização no conteúdo
principal.
Com o uso de computadores, o
simples ato de copiar e colar, ou ainda, salvar um novo teor sobre o antigo
arquivo, possibilitou a interação propícia para alterar em qualquer momento aquilo
que se escreve.
Quem usou a máquina de escrever
sempre agradeceu a esta invenção da escrita humana. O P.S. servia para corrigir
falhas, enganos e tinha o sobrepujante papel de dar destaque diante de todo o
conteúdo da carta ou o qualquer coisa que fosse datilografada. E para as
cansadas mãos de quem dedilhava sobre o teclado, um “ufa!” para não ter que
escrever tudo de novo. Em certos documentos era deixado um espaço, ao final,
para observações posteriores a fim de complementar seu total teor.
Ao longo da história, o P.S. deixou
seu ar nostálgico, conforme é visto nos cinemas, quando a abandonada mocinha
lia a carta de despedida do namorado dizendo que ia para a guerra e “p.s.: eu
te amo!”. Foi muito utilizada nas citações de políticos, do mundo corporativo,
e principalmente nas cartas (as quais não existem mais!) ... Na música, os
Beatles enunciarem seu amor com o sucesso “P.S. : I Love You”.
A invenção do P.S., pode se dizer,
foi feita na modernidade. Não se sabe quando ou quem foi o seu autor. Apostam
que Guttemberg tenha sido seu inventor, durante o processo das prensas. Mas,
estudos indicam seu uso muitos séculos antes, até mesmos pelos escribas
egípcios ou pela igreja durante a propagação do conhecimento religioso, ou até
pelas tragédias gregas. Mas foi durante o Império Romano que se propagou.
Há de se convir que foi um
modismo aproveitado em todo o mundo, independente do dialeto ou da grafia
utilizadas. Nas cadeiras acadêmicas, o P.S. foi substituído pelas “notas de
rodapés”, recurso também utilizado pelos jornais ao longo dos anos no século
passado, porém com a denominação de “errata”, que possuía o mesmo fundamento do
“post-scriptum”, corrigir falhas ou lapsos.
Talvez para muitos, sua ida não
cause uma lacuna emocional na escrita humana. Para outros, foi uma invenção
que, até certo tempo, ajudou muito na expressão da língua.
P.S.: Creio ter expressado tudo o que pensava, não necessitando de
um “post-scriptum”. Mas, para não perder o hábito...
(publicado no Jornal de Piracicaba de 08/03/2023)
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