* Edson Rontani Júnior
Buscar novos leitores para as
histórias em quadrinhos é um desafio perseguido não apenas no Brasil. Foi-se o
tempo de ir à banca de revista para escolher uma publicação ou outra, do mesmo
jeito que hoje dedicamos minutos de nossas vidas em lojas de CDs ou DVDs.
Confesso que sou do tempo em que ir à banca de jornais e revistas era um relax,
no qual minha vista se inflava com as capas de revistas da EBAL, RGE, Abril,
Vecchi e tantas outras desconhecidas da geração atual.
Nosso país foi muito frutífero no
lançamento de revistas em quadrinhos, os populares gibis. Em alguns anos, os
títulos lançados no mercado chegavam a superar em impressão até mesmo os mais
importantes livros considerados best-sellers.
Comemorar, então, o Dia Nacional
dos Quadrinhos, lembrado neste 30 de janeiro, seria um indelicado eufemismo. A
batalha agora envolve em manter os leitores de mangás consumindo o produto
impresso, ou seja, a bendita revista de história em quadrinhos. Os
jornais já enfrentam esse desafio desde o início da década. O mundo digital
levou a leitura feita através de impressão física fadada ao passado. Luluzinha
e Mônica são anacronismos que agradam pessoas como eu. Aí o mercado aparece com
Luluzinha Teen e Mônica Jovem.
O Dia dos Quadrinhos é uma data
genuinamente brasileira. Foi neste dia, em 1869, que Ângelo Agostini, publicou
na “Vida Fluminense” a primeira história em quadrinhos que se tem registro no
país. As aventuras de Nhô Quim satirizava o império português, em especial com
concordar com a manutenção do escravagismo.
Se hoje a data merece lembrança,
ela ocorre também pela dedicação de gente como Roberto Marinho, Aldofo Aizen e
Roberto Civita, editores das mais importantes revistas já lançadas no país. “O
Globo Juvenil”, “O Lobinho”, “O Guri”, entre tantos outras foram publicações de
suas editoras, Globo, EBAL (Editora Brasil América Ltdª.) e Abril. Não passavam
de “enlatados”, ou seja, reprodução de tiras ou histórias que fizeram sucesso
nos Estados Unidos no período pré e durante Segunda Guerra Mundial. Seus
expoentes eram Batman, O Homem Borracha, Namor O Príncipe Submarino, Spirit,
Superman e muitos outros. As crianças babavam com as capas feitas. Infelizmente,
boa parte das revistas tinha seus miolos impressos em papel jornal, fácil de
rasgar, o que as tornou raras, encontradas apenas nas mãos de poucos
colecionadores. As revistas em quadrinhos surgiram, no final dos anos 1930,
após o sucesso dos suplementos de jornais com tiras.
Muitos outros contribuíram para o
mercado editorial, como as famílias La
Selva nos anos 50 e depois as editoras Bloch e Vecchi. As
únicas que se mantêm na ativa, dentre aquelas que viveram os anos dourados, são
a Editora Abril e a Editora Globo (que assumiu as publicações da RGE – Rio Gráfica Editora – e O Cruzeiro).
Em compensação, o mercado
editorial das HQs nos brindou com expoentes de alto nível. Dentre estes estão Gedeone
Malagola, Jaime Cortez, Nico Rosso, Lyrio Aragão e, claro, Maurício de Sousa, o
mais ativo quadrinistra na atualidade.
Gonçalo Júnior, no espetacular livro
“A Guerra dos Gibis”, conta tudo isso e muito mais, revelando bastidores da
rivalidade entre Roberto Marinho e Adolfo Aizen, que começaram juntos nos anos
1930. Aizen, aliás, é considerado o pai das histórias em quadrinhos no país.
Foi ele quem trouxe ao Brasil as primeiras histórias dos estúdios Disney,
adquiridas depois pela Editora Abril. Sua editora, a EBAL, tinha primazia pela
qualidade das publicações. A tradução e o uso da tipografia nos balões surtiam
um belo efeito artesanal, hoje substituído pelos computadores.
Visualizar o futuro das HQs é
confundi-las com charges ou caricaturas. São diferentes dos cartoons. A
garantia de que irão existir é concreta, sejam vistas digitalmente ou
impressas. O certo é que passado histórico o país possui graças às
desbravadores como Agostini, Aizen e Marinho. Difícil é olhar no horizonte e
não visualizar sequer um expoente que segure a onda como esses pioneiros. Bom
dia dos quadrinhos !
* o autor é jornalista e pós-graduado em jornalismo
contemporâneo
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