* por Edson Rontani Júnior
No dia a dia, o dentista trata a
dentição de seres humanos com os quais se relaciona. Esses podem expressar qual
dente dói ou indicar dores faciais que lhes acometem. Uma área pouco conhecida,
inclusive para os dentistas, é a odontologia veterinária. Tratar o canal de um
leão ou curar a fratura no bico de um papagaio é realidade para Mariana Ramos
da Silva (foto abaixo), médica veterinária e mestre na área pela Universidade Federal Rural
de Pernambuco.
Ela atua como “dentista de
animais”, ou seja, é médica veterinária com serviços voltados exclusivamente para
a odontologia veterinária, atendendo as áreas presentes na odontologia convencional
como periodontia (o osso que segura o dente), endodontia (canal), dentística
(restaurações), ortodontia (dentes desalinhados), implantodontia (dentes
perdidos), cirurgias buco-maxilo (boca, maxila, mandíbula e face) etc.
Mariana, que atualmente é residente
do serviço de odontologia veterinária e cirurgia oral na Universidade de
Wisconsin-Madison (EUA), diz que esta atuação é desconhecida pela maioria das
pessoas, inclusive dos profissionais da odontologia.
Ela declara que a dedicação a
área é necessária, pois “percebi como era grande a carência de um tratamento
odontológico qualificado para os animais; da mesma forma que os problemas
bucais causam dor nas pessoas, o mesmo ocorre nos animais e é preciso ter
sensibilidade e responsabilidade com os seres que dependem inteiramente dos
nossos cuidados”.
Por ser uma área relativamente
nova aqui no Brasil, infelizmente a falta de informação ainda existe, inclusive
entre os próprios veterinários que muitas vezes, de forma equivocada, convidam dentistas
para realizar procedimentos nos seus pacientes. Os dentistas, por sua vez,
desconhecem a lei 5.517 que regulamenta e confere competência exclusiva ao médico
veterinário na prática da clínica médica e cirúrgica em animais. Os sujeitos
que desrespeitam de forma consciente ou inconsciente estão sujeitos à pena pelo
exercício ilegal da profissão. “Mas este quadro está mudando; a odontologia é a
especialidade dentro da Medicina Veterinária que mais tem se desenvolvido nos
últimos anos e o Brasil é um centro de referência na América latina desde a
criação da Associação Brasileira de Odontologia Veterinária, em 2002” , diz a profissional.
Incidências – A doença periodontal é a causa mais comum dos problemas bucais nos animais. Segundo pesquisas, mais de 85% dos cães e gatos acima de três anos são portadores da doença em algum grau. A falta de higiene bucal é um dos fatores que contribuem para este problema. Em segundo lugar, estão os tratamentos endodônticos. As fraturas dentais são muito freqüentes, principalmente nos cães. Isto ocorre porque ainda existe o hábito de dar ossos a estes animais, que impõe uma grande força na oclusão, levando à quebra dos dentes. A melhor forma de “limpar os dentes” é com escovação diária, igual àquela feita nos seres humanos.
A maior parte dos
veterinários-dentistas atende, com maior freqüência, cães e gatos. Por
possuírem um contato direto, dentro de casa, com os membros da família os
cuidados com a saúde destes animais são um fator não só de preocupação
individual com o bichinho, mas fundamentalmente uma questão de saúde pública. Neste
quadro, os cães são os que mais sofrem com problemas bucais.
Mariana lembra que “a odontologia
não compreende só os dentes, mas todo o complexo estomatognático, incluindo
ossos faciais, músculos, articulações etc”. Nos animais não é diferente. Os bicos
das aves representam sua mandíbula e maxila, além de membros articulados que
usam para levar o alimento à boca. Problemas nestas estruturas como fraturas ou
infecções, podem acarretar em dificuldade na apreensão dos alimentos ou até a
total incapacidade de se alimentar. E a prática demonstra que o animal é mais
“humano” que o homem, pois aceita a ajuda para curar-lhe de uma doença, não
reclama e ... não chora ao pagar a conta ...
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