Rumo
ao estrelado. Fama. Dinheiro. Ascensão profissional. Tudo isso e muito mais...
mais e mais! Nunca o que se tem é o suficiente. Assim, pode-se resumir a moral
de uma sequência de filmes proporcionados pelo período de confinamento em casa
durante a pandemia contra o corona vírus. As emissoras de TV e os serviços de
streaming colocam a disposição uma gama de filmes nacionais feitos na década de
2010 mostrando que o cinema brasileiro está seguindo um passo que se iguala à
linguagem comercial de Hollywood.
Muitas
destas produções foram feitas com recursos públicos, patrocinadas pela Globo
Filmes e distribuídas pela Paris Filmes. A Paris aliás manteve em Piracicaba
duas salas de cinema no Shopping Center Piracicaba dos anos 1980 aos anos 2000.
Foram as primeiras salas exibidoras de um shopping na região. Enfrentou a fuga
dos expectadores principalmente na segunda metade dos anos 1980 motivada pela
ascensão do home video, ou VHS. Ainda me lembro da gentileza do seu Silvio,
gerente do Cine Center, e sua luta para trazer público para produções que se
tornaram célebres com o passar dos anos.
Dentre os filmes vistos durante a pandemia, destaco alguns que envolvem artistas como personagens principais. Começando por “Bingo: o rei das manhãs” (2017), narrando a vida do ator pornográfico Arlindo Barreto, filho de Márcia de Windsor, e sua estada como o palhaço “Bozo” no SBT. Bingo foi o nome escolhido para evitar disputas judiciais com os criadores do palhaço norte-americano. Arlindo veio de família abastada mas joga a carreira no ralo por ser usuários de drogas. É uma ótima referência para quem viveu a infância nos anos 80.
Da
loira para a pimentinha, “Elis” (2016) é um filme emocionante que mostra o
quanto esteve perdida Elis Regina durante toda sua carreira, mesmo amparada
pelo caloroso (ao menos no filme) César Camargo Mariano. Andréa Horta consegue
convencer, mesmo dublando os originais interpretados por Elis. Bela e
emocionante produção.
“Tim
Maia” (2014) é um dos melhores filmes nacionais da década de 2010. Vale a pena
ser visto. Mostra – também – Tião Maia, Roberto Carlos e Erasmo Carlos na
composição inicial dos “Sputniks”, grupo que embalava as noites cariocas em 1957.
Depois, cada qual tomou um rumo na vida. Tim vai para os Estados Unidos, acaba
preso. Volta ao Brasil e vai de novo para a cadeia. Anos mais tarde alcança o
sucesso como o “Rei do soul”. Um filme com muita reviravolta e marcante
principalmente pela presença de um convincente Babu Santana interpretando Tim
de boca suja, adepto à bebida e às drogas. Angustiante e triste, principalmente
numa das cenas mais marcantes: abandonado pelos amigos e drogado, Tim chama a
polícia segurando uma metralhadora e pede aos PMs que o levem preso, pois
precisa de ajuda e quer se ver livre do vício.
“Chacrinha: o velho guerreiro” (2018) é um ótimo exercício sobre os anos dourados do rádio e da tv. Abelardo Barbosa veio para confundir e não explicar e, claro, distribuir bacalhau. Stepan Nercessian está impecável sob a direção de Andrucha Waddington. Mostra sua longa carreira pelo Rio de Janeiro e São Paulo dos anos 1940 a 1980. É uma obra de arte do cinema nacional. Bem dirigido e com ótimos efeitos que são difíceis de imaginar que o brasileiro vem conseguindo realizar. Mostra entre outros sua relação amorosa com Clara Nunes e Elke Maravilha. Curioso é ver que, no final dos anos 1970, Chacrinha e suas chacretes ficam sem emissora para seus programas. Passam a realizar shows pelo Brasil afora. Foi nesta época que ele visitou Piracicaba na primeira ou segunda AgroFeira, por volta de 1979, na Nova Piracicaba, uma espécie de Festa do Peão para a época. Essa passagem, claro, não é apresentada no filme.
De todas essas produções com artistas brasileiros, algumas lições podemos tomar. Uma delas é Roberto Carlos ter unanimidade como “O Rei”. Ele aparece em todas as obras, com exceção de “Bingo” e “Elis”. Todos os artistas retratados saíram do nada e conseguiram sucesso, dinheiro, diversão. Em todos, a “alegoria” da ascensão e a queda marcam presença no roteiro. Muitos chegam ao “fundo do poço” pelo inebriante desejo de querer mais, seja dinheiro, bebidas ou drogas (lembra como Elis morreu?). Ter tudo o que se deseja como sonho de consumo, fez de todos sozinhos na multidão. Bendita pandemia !
(Publicado na Tribuna Piracicabana e no Jornal de Piracicaba de 22 de setembro de 2019)
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