Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Ela já foi cortejada por muita gente, mas continua lá. Por mais que o ser humano tenha nela pisado, ainda é um objeto de obsessão e desejo. Foi cantada por poetas ao longo de vários milênios. A Lua é tão distante e tão próxima da Terra que ainda instiga a ciência e os corações apaixonados.
Aliás,
foi um galante Cary Grant ou James Stewart que prometeu laçar a lua para sua
namorada num filme do sempre impecável ítalo-americano Frank Capra. No cinema
ela inspirou até James Bond e o vilão Gru que a reduziu, trancafiando o
satélite natural em sua casa misteriosa. Mas, qual sua influência ? No passado
era a guia para as marés, para as plantações e – acho que ainda hoje – serve
para agendarmos a visita ao cabelereiro ou barbeiro.
Glenn
Miller imortalizou seus vistosos raios romantizados por nós, terráqueos, em
1939 através de sua “Moonlight Serenade”, composição que ele próprio fez com Mitchell
Parish. Vira e mexe, a serenata ao luar retorna em novas releituras e volta ao
topo das execuções musicais. Pena que Miller não pôde nunca mais pode ver a Lua,
já que repousa no fundo das águas devido à queda de seu avião na viagem que ele
fazia da Grã-Bretanha para Paris durante a Segunda Guerra Mundial. Triste
história para quem fez uma elegia para um dos mais belos fenômenos da natureza.
A
Lua também foi motivo de briga política entre as grandes potências
internacionais. Era o ponto de chegada dos humanos caso uma guerra nuclear viesse
a ser desencadeada, conforme grande corrente dos anos 1950 e 60. Ou você tinha
um bunker em casa para enfrentar a radiação ou partia para a Lua na tentativa
de colonizá-la como tivemos na Guerra Fria com americanos e russos enviado ao
espaço símios e cães, e depois homens. Não deu certo. Tivemos que continuar
vivendo em solo terrestre cantando e versejando sobre os raios lunares. Agora
por que “lunar” se falamos “lua”? Coisa de nossa língua que sofre forte
influência do latim, do grego, do árabe ... É algo como freio e frenagem.
Nossa
tão cansada MPB também elegeu a lua para grandes hits. Raul Seixas se enamorou
por ela louvando São Jorge montado num jumento. Aliás, foi no dragão que São
Jorge combatia que Monteiro Lobato se inspirou para criar sua Cuca que marcava
presença em seu Sítio. Guilherme Arantes estava no mundo da lua em “No lindo
balão azul”, alegando que era cientista e vivia num papo futurista.
Eis
o xis da questão. Devaneios, pensamentos distantes, fases de num namoro ou
paixão sempre são interrompidos com um “ei ! tá no mundo a Lua?”. O
distanciamento nos coloca em solo lunático.
Porém,
a história demonstra outra situação já que “viver no mundo da Lua” veio dos
pensamentos pré Revolução Industrial de alguns ingleses não muito bem vistos
pela sociedade de então. Os membros da “Sociedade Lunar de Birmingham”, cidade
da Inglaterra, eram considerados extremos malucos pois pensavam em criar
veículos movidos a motor automáticos e não por animais, ou, ainda, fazer um
balão voar pelos ares manuseado por um ser humano. Parecia a mais profunda
verve da imaginação de Jules Verne. Mas, não era. Foram eles os criadores dos
protótipos do veículo e do avião. Só que ninguém os entendia. A “Sociedade”
queria criar melhores condições de vida para a humanidade. Ciência não existia
e dogmas religiosos eram contra boa parte das inovações benéficas para a
humanidade. A igreja demonizou a criação de garfos por possuímos pinças
naturais conhecidas por dedos. O tempo demonstrou que o pensamento de gente que
se encontra hoje nos anais da ciência mundial tenderia a prevalecer melhorando
nossa vida. Entre os membros da “Sociedade Lunar”, aqueles que viviam com a
cabeça na Lua, estavam Erasmus Darwin (avô de Charles), Joseph Priestley (que
descobriu o oxigênio – chegando a misturá-lo à água) e James Watt (criador da
bomba de combustão que drenava água para minas de carvão depois utilizada em
locomotiva e veículos).
Resumindo,
se alguém lhe falar que você está no mundo da Lua. Tenha orgulho. As grandes
invenções surgiram das mentes de lunáticos.
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