Páginas

quinta-feira, 5 de junho de 2025

No mundo da lua

Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

Ela já foi cortejada por muita gente, mas continua lá. Por mais que o ser humano tenha nela pisado, ainda é um objeto de obsessão e desejo. Foi cantada por poetas ao longo de vários milênios. A Lua é tão distante e tão próxima da Terra que ainda instiga a ciência e os corações apaixonados.

Aliás, foi um galante Cary Grant ou James Stewart que prometeu laçar a lua para sua namorada num filme do sempre impecável ítalo-americano Frank Capra. No cinema ela inspirou até James Bond e o vilão Gru que a reduziu, trancafiando o satélite natural em sua casa misteriosa. Mas, qual sua influência ? No passado era a guia para as marés, para as plantações e – acho que ainda hoje – serve para agendarmos a visita ao cabelereiro ou barbeiro.

Glenn Miller imortalizou seus vistosos raios romantizados por nós, terráqueos, em 1939 através de sua “Moonlight Serenade”, composição que ele próprio fez com Mitchell Parish. Vira e mexe, a serenata ao luar retorna em novas releituras e volta ao topo das execuções musicais. Pena que Miller não pôde nunca mais pode ver a Lua, já que repousa no fundo das águas devido à queda de seu avião na viagem que ele fazia da Grã-Bretanha para Paris durante a Segunda Guerra Mundial. Triste história para quem fez uma elegia para um dos mais belos fenômenos da natureza.

A Lua também foi motivo de briga política entre as grandes potências internacionais. Era o ponto de chegada dos humanos caso uma guerra nuclear viesse a ser desencadeada, conforme grande corrente dos anos 1950 e 60. Ou você tinha um bunker em casa para enfrentar a radiação ou partia para a Lua na tentativa de colonizá-la como tivemos na Guerra Fria com americanos e russos enviado ao espaço símios e cães, e depois homens. Não deu certo. Tivemos que continuar vivendo em solo terrestre cantando e versejando sobre os raios lunares. Agora por que “lunar” se falamos “lua”? Coisa de nossa língua que sofre forte influência do latim, do grego, do árabe ... É algo como freio e frenagem.

Nossa tão cansada MPB também elegeu a lua para grandes hits. Raul Seixas se enamorou por ela louvando São Jorge montado num jumento. Aliás, foi no dragão que São Jorge combatia que Monteiro Lobato se inspirou para criar sua Cuca que marcava presença em seu Sítio. Guilherme Arantes estava no mundo da lua em “No lindo balão azul”, alegando que era cientista e vivia num papo futurista.

Eis o xis da questão. Devaneios, pensamentos distantes, fases de num namoro ou paixão sempre são interrompidos com um “ei ! tá no mundo a Lua?”. O distanciamento nos coloca em solo lunático.

Porém, a história demonstra outra situação já que “viver no mundo da Lua” veio dos pensamentos pré Revolução Industrial de alguns ingleses não muito bem vistos pela sociedade de então. Os membros da “Sociedade Lunar de Birmingham”, cidade da Inglaterra, eram considerados extremos malucos pois pensavam em criar veículos movidos a motor automáticos e não por animais, ou, ainda, fazer um balão voar pelos ares manuseado por um ser humano. Parecia a mais profunda verve da imaginação de Jules Verne. Mas, não era. Foram eles os criadores dos protótipos do veículo e do avião. Só que ninguém os entendia. A “Sociedade” queria criar melhores condições de vida para a humanidade. Ciência não existia e dogmas religiosos eram contra boa parte das inovações benéficas para a humanidade. A igreja demonizou a criação de garfos por possuímos pinças naturais conhecidas por dedos. O tempo demonstrou que o pensamento de gente que se encontra hoje nos anais da ciência mundial tenderia a prevalecer melhorando nossa vida. Entre os membros da “Sociedade Lunar”, aqueles que viviam com a cabeça na Lua, estavam Erasmus Darwin (avô de Charles), Joseph Priestley (que descobriu o oxigênio – chegando a misturá-lo à água) e James Watt (criador da bomba de combustão que drenava água para minas de carvão depois utilizada em locomotiva e veículos).

Resumindo, se alguém lhe falar que você está no mundo da Lua. Tenha orgulho. As grandes invenções surgiram das mentes de lunáticos.


Nenhum comentário: