Ano de 1932. São Paulo passava pela Revolução Constitucionalista sendo alvo de uma crise bélica armada pelo governo federal liderado por Getúlio Vargas. Anúncios na imprensa piracicabana colocavam a disposição de "refugiados e pobres" quartos para moradia. Sem muitos detalhes de como poderia ser feita a ocupação. A confiança e honestidade imperavam há 84 anos atrás. Engraçado é ver neste anúncio publicado pelo jornal O Momento, em 27 de agosto daquele ano que uma funerária local oferecia condições mais em conta para funerais e, se preciso, de forma gratuita. Mais interessante é ver que a empresa utilizada espaço publicitário para anunciar o serviço gratuito. (Edson Rontani Júnior)
quinta-feira, 29 de setembro de 2016
quinta-feira, 8 de setembro de 2016
O fim do P.S.
* Edson Rontani Júnior –
jornalista
Litera scripta Manet (A palavra escrita permanece) – Horácio
Pouca gente se deu conta. A
geração atual talvez nem o tenha conhecido. Mas, a era digital acabou há tempos
com ele. O P.S. já não faz parte de nossa escrita há anos, ao contrário de seu
parente mais próximo o “obs.”, ou observação, que escrevemos nos ofícios ou no e-mail
para chamar a atenção do receptor de nossa mensagem.
O P.S., ou post-scriptum (escrito depois) no latim, teve por muitas décadas a
função de corrigir esquecimentos humanos em cartas, artigos de jornais e
memorandos empresariais. Foi um recurso utilizado pelos datilógrafos ao
concluir seus escritos. Com o uso da máquina de escrever, era trabalhoso ter de
datilografar um conteúdo novamente do início ao fim. Utilizava-se, então, um
adendo ao seu final, na intenção de corrigir lapsos de memória. Ou até mesmo
para demonstrar que foi realizada alguma correção ou atualização no conteúdo
principal.
Com o uso de computadores, o
simples ato de copiar e colar, ou ainda, salvar um novo teor sobre o antigo
arquivo, possibilitou a interação propícia para alterar em qualquer momento aquilo
que se escreve.
Quem usou a máquina de escrever
sempre agradeceu a esta invenção da escrita humana. O P.S. servia para corrigir
falhas, enganos e tinha o sobrepujante papel de dar destaque diante de todo o
conteúdo da carta ou o qualquer coisa que fosse datilografada. E para as
cansadas mãos de quem dedilhava sobre o teclado, um “ufa!” para não ter que
escrever tudo de novo. Em certos documentos era deixado um espaço, ao final,
para observações posteriores a fim de complementar seu total teor.
Ao longo da história, o P.S. deixou
seu ar nostálgico, conforme é visto nos cinemas, quando a abandonada mocinha
lia a carta de despedida do namorado dizendo que ia para a guerra e “p.s.: eu
te amo!”. Foi muito utilizada nas citações de políticos, do mundo corporativo,
e principalmente nas cartas (as quais não existem mais!) ... Na música, os
Beatles enunciarem seu amor com o sucesso “P.S. : I Love You”.
A invenção do P.S., pode se dizer,
foi feita na modernidade. Não se sabe quando ou quem foi o seu autor. Apostam
que Guttemberg tenha sido seu inventor, durante o processo das prensas. Mas,
estudos indicam seu uso muitos séculos antes, até mesmos pelos escribas
egípcios ou pela igreja durante a propagação do conhecimento religioso, ou até
pelas tragédias gregas. Mas foi durante o Império Romano que se propagou.
Há de se convir que foi um
modismo aproveitado em todo o mundo, independente do dialeto ou da grafia
utilizadas. Nas cadeiras acadêmicas, o P.S. foi substituído pelas “notas de
rodapés”, recurso também utilizado pelos jornais ao longo dos anos no século
passado, porém com a denominação de “errata”, que possuía o mesmo fundamento do
“post-scriptum”, corrigir falhas ou lapsos.
Talvez para muitos, sua ida não
cause uma lacuna emocional na escrita humana. Para outros, foi uma invenção
que, até certo tempo, ajudou muito na expressão da língua.
P.S.: Creio ter expressado tudo o que pensava, não necessitando de
um “post-scriptum”. Mas, para não perder o hábito...
(publicado no Jornal de Piracicaba de 08/03/2023)
domingo, 4 de setembro de 2016
Jornalistas escrevem com as mãos ?
* Edson
Rontani Júnior – jornalista pós-graduado em jornalismo
contemporâneo
Recordo-me de quando ainda
cursava a graduação em
jornalismo. Fiz , na ocasião, um trabalho referente às reações
dos órgãos de repressão no Brasil durante os anos 70. Um dos estudos apontava para
um jornalista que teve quebrados os dedos das mãos por ter publicado uma
matéria contra os interesses da ditadura. Seria uma lição para que ele nunca
mais se prostrasse diante de uma máquina de escrever e dedilhasse sua ferocidade
crítica em novas
matérias. No dia seguinte, o mesmo jornal publicou uma
matéria na capa de autoria do próprio jornalista com o título : “Será que eles
pensam que jornalista escreve com as mãos?”.
A manifestação do editor torna claro
que os dedos do jornalista servem como extensão do cérebro, o centro do
pensamento humano. Que o diga a ciência a qual criou tecnologia para pessoas
acamadas se comunicarem com o movimento das pálpebras ou de músculos faciais.
Ou, ainda, Stephen Hawking, físico britânico, acometido por esclerose
amiotrófica, há décadas preso em uma cadeira de rodas, que escreve livros, através
de óculos infravermelhos e, pela movimentação de certos músculos da face,
consegue ordenar letra ou palavra para se expressar.
Na Rússia, o espancamento de
profissionais da imprensa é exemplar. Em novembro de 2014, Oleg Kashin teve
pernas, mandíbula e dedos esmigalhados por barras de ferro para que, como
jornalista, não pudesse andar, falar e escrever. Kashin escreveu uma série de
matérias sobre uma floresta a ser derrubada para dar espaço a uma rodovia. De 2005 a 2010, a Rússia liderou
mundialmente o ranking de atentados contra jornalistas. Foram mais de 100 ações
contra funcionários, donos de jornais, dentre elas 50 mortes. O leste europeu é
manchete constante nos jornais, por reações a matérias jornalísticas que ferem
interesses de poderosos.
Já na China, o índice de caça aos
escritores é nula, pois poucos ousam se confrontar com um governo repressor. Nos
Estados Unidos, a crítica é constante e respeitada. Tem seu poder consolidado
diante da sociedade.
Escrever o básico ou ir além dele
confronta-se em muito com o olhar comercial, e, muitas vezes, fere ascensões em carreiras
profissionais. Desde que lançada comercialmente nos anos 90, a internet tornou-se uma
nova forma de comunicação. Não é considerada confiável, a exemplo do jornal ou
da televisão. Mas, é democrática. A crise denominada de “primavera árabe”
motivou um corte total à internet em países como o Egito. É a forma mais atual
contra a expressão. Antigamente, perseguia-se aquele que falasse demais, hoje,
tira-se o cabo da parede e perde-se contato com o mundo. Que o diga Julian
Assange, criador do WikiLeakis.
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