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quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Para gostar de ler

 

Edson Rontani Júnior, jornalista, vice-presidente do IHGP e diretor da Academia Piracicabana de Letras


“No meio do caminho tinha um livro ... Tinha um livro no meio do caminho”... Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, que encontrou uma pedra no meio de seu percurso, me lembro como descobri o gosto pela leitura. Aliás, Drummond foi um dos responsáveis por isso.

Época em que crônicas eram consideradas rasas, sem aprofundamento. Eram histórias curtas que mexiam com nossa imaginação, tamanha criatividade de seu autor. Foi quando perdurou o bordão “inteligência de gibi”, taxando de forma pejorativa quem não lia livro, mas sim quadrinhos. Ledo engano... Hoje, gibi é artigo de luxo. Já parou para ver quanto custam ?

Lá pelos idos da segunda metade da década de 1970, o ensino fundamental recebeu orientação de iniciar crianças à leitura com uma série lançada pela Editora Ática, denominada “Para Gostar de Ler”. Livro fino, bem simples, cada volume era aguardado pelos professores que faziam provas com base nas crônicas escritas por estrelas da literatura brasileira como Drummond, Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Mário Quintana, Vinícius de Moraes, Loureço Diaféria, Luís Fernando Veríssimo, Lima Barreto, Clarice Lispector, Ignácio de Loyola Brandão, Mário de Andrade, Lygia Fagundes Telles e tantos outros. A nata da escrita brasileira ! Foram dezenas e dezenas de expoentes.

Com mais de 100 mil exemplares por edição, “Para Gostar de Ler” teve quase 50 edições. Todas bem trabalhadas. Crônicas selecionadas de forma cuidadosa. Coletânea de ouro ! O objetivo não era ensinar gramática, e sim iniciar os jovens leitores à escrita de qualidade.

Confesso eu que não era muito afável à leitura na infância, mas este impulso me fez tornar jornalista, historiador e escritor. Claro que houve aí mãos dos professores Orlando Veneziano, Conceição Brasil e Francislídio Beduschi, grandes estimuladores do pensamento aos quais dou hoje “a mão à palmatória”. Foram mestres que todo pupilo esperava ter.

Tudo isso me veio à lembrança depois de tomar conhecimento do lançamento em outubro do livro “Os Sabiás da Crônica”, Editora Autêntica, reunindo 90 textos de Rubem Braga, Vinícius de Moraes, Fernando Sabino, Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), Carlinhos de Oliveira e Paulo Mendes de Campos. Boa parte, senão todos, desconhecidos da geração que se informa pelas mídias digitais ou cria dancinhas medíocres diante do Tik Tok. Por que este relançamento ? Para atingir um público como eu, com ar de nostalgia, que esperará pela black friday para ver seu preço baixar e comprar por uma plataforma digital a versão impressa – é lógico ! -, e ter acesso ao pensamento atemporal de personalidades que em muito contribuíram para nossa literatura.

Em época na qual a informação está mais rasa, consumida através de postagens em mídias digitais, além dos pontos de vida díspares, a leitura continua sendo uma ferramenta de empoderamento. “Veja” da semana passada traz um embate dos cientistas que combateram o coronavírus e sofreram ameaça por pessoas que negam a aplicação da vacina e testagem em seres humanos. Todos os cientistas ouvidos pregam a leitura e o conhecimento como fator elucidativo diante de pré conceitos sem fundamentos. É óbvio...

Já a pesquisa recentemente divulgada, conduzida por cientistas da Noruega e da França, o bom e velho papel representa maior retenção da mensagem no cérebro humano, se comparado com e-readers, tablet, PC ou smartphone. O impresso mexe com o senso cognitivo, proporcionando sequências lógicas fornecidas por dicas motoras, sensitivas e de raciocínio. Porém, o que vemos hoje ? Confiança no digital, leitura rápida e o “eu sei tudo”... Que tipo de leitor e escritor estão sendo preparados para o futuro ?

domingo, 21 de novembro de 2021

Rádio Difusora de Piracicaba - PRD-6


Radialistas da Difusora nos anos 1950 : Helio Rodrigues, Rubens Bisson, Elias Rodrigues, Onishi, Artemio di Lello, Edson Rontani e Aurélio Scalise


A Rádio Difusora foi fundada em 12 de outubro de 1933, como Rádio Clube por João Sampaio Góes. A programação de inauguração foi das 8 da manhã até as 11h30 do dia seguinte e consistia de cumprimentos de amigos e mensagens do comércio e entidades locais. As festividades contaram com apresentação de orquestras, bandas e cantores. Ela foi uma das primeiras emissoras fundadas no Brasil.

Em 1944, trocou seu nome para Rádio Difusora, que permanece até hoje. Em 1950, o casal Aristides e Maria Conceição Figueiredo, que tinha uma rádio em Uberlândia (MG), comprou a estação, pois João Góes achava que a televisão iria acabar com o rádio. Com nova filosofia administrativa, a Difusora foi conquistando espaço e ganhando cada dia mais anunciantes, pois a publicidade até então praticamente inexistente na emissora, passou a ter atenção especial da diretoria que assumiu.

Nessa fase, a Difusora passou a movimentar mais sua programação,  com a implantação de rádio-novela, novos programas de auditório e grandes shows com orquestras e artistas famosos da Rádio Nacional, como Nelson Gonçalves, Marlene, Ângela Maria, Emilinha Borba, Carlos Galhardo e outros.

Em 1962, faleceu Aristides Figueiredo, um dos maiores idealizadores do rádio piracicabano, que há 12 anos comandava a estação, deixando a direção da Difusora nas mãos da esposa Maria Conceição Figueiredo, que, com determinação fez a emissora crescer ainda mais. Após três anos sozinha à frente da Rádio e sem filhos, convidou sua sobrinha e afilhada Maria Conceição Pippa e seu noivo José Roberto Soave para ajudá-la na administração.

Assim em 1965, a estação iniciou a fase sob o comando de José Roberto Soave. Com um trabalho sério e grande capacidade administrativa, investiu bastante nas transmissões de jogos e no jornalismo, que era sua paixão. Soave deu maior dinamismo à emissora, transformando-a, gradativamente, em uma rádio voltada à prestação de serviços à comunidade, visto que, a partir da década de 70, os shows de auditório começam a se extinguir, e as rádios tiveram que encontrar uma nova maneira de atrair a atenção do ouvinte. E o jornalismo foi um delas.

Foi nessa época que as gincanas começaram a surgir na cidade, organizadas pela Rádio Difusora, uma ideia criativa de Roberto Soave. Elas ocorriam no programa Show das Três, apresentado por Attinilo José. "Eu pedia, no ar, para as pessoas trazerem, em 20 minutos, determinado objeto à emissora. Quem conseguisse ganhava um prêmio oferecido pelo patrocinador", recorda-se. Com o passar do tempo, a disputa foi tomando tal proporção que se formaram até escuderias para participar, criando equipes com a EkypéXato, Zoom-Zoom, EkyPeralta e Ekypelanka, que, mais tarde transformaram-se em escolas de samba que fizeram muito sucesso nos anos de ouro do carnaval de Piracicaba. "As gincanas passaram a mobilizar uma multidão de pessoas e duraram cerca de dez anos", diz Attilino José, radialista a mais de 40 anos.

O maior feito de Soave na emissora foi a implantação da freqüência modulada (FM), em 1977, outro pioneirismo da PRD-6. Após visitar estações de FM nos estados Unidos, ele importou todos os equipamentos, implantou a FM aqui e aproveitou, na mesma época, para substituir e modernizar toda a aparelhagem da  AM. E a difusora tornou-se, mais uma vez, referência para todo o interior de São Paulo e até para outros Estados, que vinham à Piracicaba para conhecer aquela inovação antes de implantar o mesmo sistema de transmissão. Com essa nova aquisição - FM 102,3 Mhz -, um novo estilo de programação foi incorporado a ela. A estação, a única da região, virou referência para a comunidade jovem que surgia, pois sua programação seguia o padrão americano, numa verdadeira revolução para a época.Em 1997, ocorreu o falecimento de José Roberto Soave, que dedicou 33 anos de sua vida à Rádio Difusora, levando o nome de nossa cidade para além dos limites de São Paulo. Esse período foi marcado pelo pioneirismo, arrojo e pela visão administrativa do grande empreendedor José Roberto Soave. (Texto original do site da emissota)