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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Autódromo de Piracicaba

 


Foto do cartódromo de Piracicaba cuja construção ocorreu entre 1964/65, sendo o segundo no estado de São Paulo. O primeiro era o de Interlagos. A área era próxima a rodovia que liga Piracicaba a Rio Claro, perto das Indústrias Dedini. O projeto era do arquiteto João Chaddad, seguindo ideia de Maks Weiser, com 1.500 metros de extensão e reta de 800 metros. O terreno possuía cerca de 55 mil metros quadrados. No início das obras, foi realizado coquetel para autoridades e convidados. A obra foi realizada pela prefeitura que na época era comandada pelo comendador Luciano Guidotti, o qual recebeu a visita de membros da Willis Competição, e, a certo momento, um deles sussurrou ao ouvido do prefeito : "essa obra teve ter o dedo de Weiser, pois o autódromo foi feito para os carros dele ganharem as disputas"... Guidotti desmanchou a obra e nunca mais tocou no assunto. Foto e história contidas no livro "Corridas & Pilotos de Piracicaba", de Maks Weiser, de 2012. (Edson Rontani Júnior)

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Erotides de Campos


Erotides de Campos recebe o nome do Teatro Municipal situado no Engenho Central, em Piracicaba. Nasceu em Cabreúva em 1896, falecendo em Piracicaba em 1945.
É conhecido pelas composições que se alastraram pelo Brasil numa época em partituras musicais eram artigos de luxo e presente de aniversário.

Em 1907, compôs o dobrado "Porto Arthur", referência à cidadela russa na guerra contra o Japão, que ganhou notoriedade. Em 1908, mudou-se para Piracicaba, passando a integrar o conjunto musical da cidade. Em 1918, teve sua primeira composição editada para piano e orquestra, a valsa "Mariinha", feita em parceria com Melo Aires. No mesmo ano, mudou-se para a cidade de São Carlos, também no interior paulista. Naquela cidade, organizou a orquestra do Cine São Carlos. Em 1923, mudou-se para Pirassununga, ainda em São Paulo, onde passou a fazer parte do grupo Chorões. Em 1926, teve gravada pelo cantor Vicente Celestino sua obra de maior sucesso, a valsa "Ave Maria", que conheceria diversas outras gravações: em 1939, por Augusto Calheiros; em 1941, pela dupla Alvarenga e Ranchinho e, em 1947, por Francisco Alves, entre outros. Em 1932, retornou para Piracicaba, lá estabelecendo residência definitiva. Em 1958, teve a valsa "Vera" gravada por Alberto Calçada no LP "Cascata de valsas - Alberto Calçada e seu conjunto" da Chantecler. Em 1959, sua valsa-serenata "Ave Maria" foi gravada por Onéssimo Gomes para o LP "Serestas do Brasil Nº 3" da gravadora Radyo Long Play com arranjos do maestro Aldo Taranto. Grande instrumentista, tocava flauta, clarineta, violão e piano. Entre suas mais de 230 composições estão choros, sambas, valsas, maxixes, marchinhas, dobrados, tangos e charlestons. Ao longo de sua carreira, utlizou-se de diversos pseudônimos: Gil Neves, Pan, Pan Eropos, Eropos e Jonas Teves. Quando criança, utilizou o nome de Erotides Jonas de Campos. Neves era sobrenome de sua mãe Francisca da Silveira Neves. Faleceu de ataque cardíaco. (FONTE: AQUI)


Partitura de "Erothides" na revista Ariel de janeiro/1925



sábado, 29 de agosto de 2020

O espelho de Narciso

 

Edson Rontani Júnior, jornalista

 


O sonho de Ícaro: voar como os pássaros. Preso em um labirinto, de lá ele queria sair. Para isso, fez asas similares às dos pássaros. Porém, as penas foram coladas com cera de abelha. Conseguiu levantar voo e não deu atenção às orientações para que não se aproximasse do sol, pois o calor derreteria a cera, desfazendo suas asas. Dito e feito. As asas ficaram frágeis e ele caiu no mar, onde morre.

O sonho de Narciso: ter vida longa desde que nunca se contemplasse. Uma das variantes históricas conta que ele tinha uma irmã gêmea. Ambos se vestiam iguais e tinham as mesmas personalidades. Acabaram assumindo um amor platônico e, quando, ela morre, Narciso passa a contemplar seu próprio reflexo na água crendo que via sua irmã.

Ambas histórias podem ter origem na mitologia grega. Narciso teve variantes provindas dos indo-europeus seguindo uma mitologia a qual diz que a alma poderia ser roubada por bestas marinhas caso refletisse na água.

Na “mitologia atual”, deu-se asas e espelhos para ícaros e narcisos no formato de smartphone. E o melhor, contemplou narcisistas e não-narcisistas com câmera no verso e no anverso do aparelho. As populares selfies, sensação mercadológica a partir de 2012, impulsionaram os antigos telefones móveis. Afinal, o celular hoje é um cinema/tv portátil, é um computador de bolso, é uma câmera de fotografia, é um geolocalizador e ... também funciona como telefone!

Os indo-americanos acreditavam que o reflexo na água roubava a alma. Aliás, é o mesmo mito usado quando a fotografia foi inventada, há cerca de 200 anos atrás. Até se tornar um produto comercial, houve muita resistência. Sua criação não serviu para perpetuar o instante fotografado. Teve por objetivo unicamente fazer comércio. Depois descobriu-se que a união de vários fotogramas criava a imagem em movimento e surgiu o cinema. Haaa ... Aí deu tempo de esquecer que o registro fotográfico roubava a alma ...

Para os narcisistas, o mercado criou o Facebook (livro de faces ... na tradução livre), uma das 20 marcas mais valiosas do mundo, com altíssima valorização em menos de duas décadas desde sua criação. Algo que a Coca-Cola e outras marcas demoraram anos para alcançar.

Dados não muito recentes, precisamente de 2014 (pouco tempo depois dos smarts terem câmera reversa), foram tiradas 880 bilhões de fotografias, maioria de nós mesmos, as selfies.

Sobre esse narcisismo exacerbado, infinitas teses foram geradas. Sempre estamos sorrindo, no meio de amigos, exercitando-nos fisicamente ou comendo algo gostoso. São as mais polidas fotos de si mesmo (por isto, selfie vem de yourfelf). É um mundo irreal ou temos realmente tudo o que expomos nesta vitrine? É questão de status? Pode ser. O papel aqui não é ser o psicólogo de plantão, mas mostrar como uma ação mercadológica provoca tendências que geram dúvidas se é modismo ou algo que veio para ficar. É comum ver acidentes fatais durante a pose para a selfie, como já registrados em Piracicaba e no mundo todo. Em consequência, mexemos com o ego. Já notou que as academias possuem parede de vidro e os restaurantes expandiram-se mais para a rua? Consequência da necessidade da exposição.

Dependência social ou busca pela auto-estima. Melhor refletir. Ou dar o espelho a Narciso.

(Artigo publicado no Jornal de Piracicaba de 26/08/2020 e na Tribuna Piracicabana de 28/08/2020)


domingo, 23 de agosto de 2020

Revista Mirante

 


O Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba está disponibilizando a versão digital em fotos da revista Mirante, publicada e idealizada por Renato Wagner, renomado artista plástico da cidade de Piracicaba. A publicação saiu na segunda metade dos anos 1950 até os anos 1960, sendo relançada nos anos 1980. O acervo traz na íntegra, alguma edições, das quais pode-se acompanhar fatos da sociedade piracicabana de então além de comerciais de empresas.

Confira o álbum digital clicando aqui

Para ter acesso ao acervo do JPG, clique aqui


Retorno dos campeões - XV de Piracicaba - 1968

Janeiro de 1968. O XV de Novembro de Piracicaba retornava à divisão especial do futebol paulista, após vencer o campeonato de 1967 (encerrado em janeiro do ano seguinte). Em Piracicaba, a equipe alvinegra é recebida com festa na cidade de Piracicaba (S.P.).


domingo, 16 de agosto de 2020

José de Alencar e seu Til



No governo Itaúna, era ministro da Justiça o Sr. José Martiniano de Alencar, cargo que assumiu em 16 de julho de 1868, no 23º. gabinete, cujo presidente era o visconde de Itaboraí.

Nesse mesmo ano, com o pseudônimo de Senio, publicou A Pata da Gazela e Gaúcho. Em 1871 publicou Tronco de Ipê, e, em 1872, Til, romance este que, em outra fase do "Os Pioneiros", fizemos uma exposição das informações deixadas nesse livro pelo autor, que provam de maneira cabal sua presença na antiga fazenda, onde mais tarde se construiu a Fazenda Carioba.

Apraz-nos dizer aos leitores que estamos nos aprofundando em detalhes para desvendar os acontecimentos que antecederam a fábrica, cuja fundação é anterior a 1884, de acordo com o "Almanaque da Província de São Paulo" desta data. (Obras raras - BN.)

Alencar tinha muitos amigos em São Paulo, onde passava as férias, destacando-se o Dr. Camarim, um dos seis da Colônica Paulistana de estudantes a quem pertenciam, também o conselho Jesuíno Marcondes e o Dr. Luiz Alvares; Dr. Antonio Nunes Aguiar, "meu imediato e êmulo, que foi depois meu amigo e colega de ano em São Paulo, era o "Aguiarzinho", filho do general de mesmo nome"; os colegas de pensão, Dr. Costa Pinto e José Brusque; os colaboradores da revista semanal Ensaios Literários, João Guilherme Whitaker, Almeida Pereira, Dr. José Machado Coelho de Castro Otaviano e Olímpio Machado, redatores da Gazeta Oficial (Como e porque sou romancista - ed. 1893, por José de Alencar).

Há uma afirmação de que o segundo volume de Till foi escrito em partes, isto é, foi enviado ao jornal à medida que o autor foi escrevendo, entre 19 de dezembro e 16 de janeiro de 1872, tempo em que foi publicado em folhetins no jornal do Rio, República.

O primeiro volume foi remetido para a impressora, sem o segundo, em 15 de dezembro, pois, na nota final aposta ao segundo volume de Guerra dos Mascates ele justifica o atraso do segundo numa desculpa truncada e à margem de dúvidas:

"A culpa é do autor e ele confessa contrito.
Poderia alegar em seu favor que logo depois de remetido à tipografia o original, teve necessidade de ir a Baependi fazer uso das águas de Caxambu, que lhe eram aconselhadas. Nem venha o leitor com sua contrariedade, lembrando que nesse decurso escrevi ele o Til para o folhetim da República. É o Till desses livros que se compõem com material próprio, fornecido pela reminiscência, e que portanto se podem escrever e viagem, sobre a perna, ou num canto de mesa de jantar." (obra citada)
Em primeiro lugar, o trecho "se compõem co material próprio, fornecido pela reminiscência", atesta que ele esteve numa fazenda, distante uma légua (6,6 km) abaixo da confluência do rio Atibaia com o Jaguari, no Piracicaba, conforme conta no livro,Til.

Em segunda análise, vamos tentar reconstituir por meio dessas informações e mais as camufladas do livro Till, naturalmente para resguardar da curiosidade pública nomes de pessoas conhecidas como Galvão, Aguiar, etc., o itinerário do autor: em 1870 deixou o Ministério da Justiça e foi a São Paulo, onde em atenção aos colegas começou o romance em apreço. O 1º volume foi publicado entre 21 de novembro a 13 de dezembro de 1871, e, naturalmente, nesta última data foi para a impressora, B. L. Garnier - Rio. Continuou a publicar o segundo volume em folhetins, que saiu em 19 de dezembro e 16 de janeiro de 1872, quando teve a necessidade de ir a Baependi, o que se deu entre aquelas datas do segundo volume, já por ser fim de ano, já por estar em férias. Em viagem pela central até Cruzeiro e dali a valou ou trôlei até Baependi, escreveu, na perna, alguns fascículos e naquela cidade escrevia na mesa de jantar. O terceiro e quarto volume foram publicados no jornal entre 18/1 a 7/2 e 10/2 a 20/03/1872, respectivamente.
 
O primeiro volume teve 19 publicações, o segundo 25, o terceiro 20 e o quarto 38 folhetins. O jornal era publicado todos os dias menos às segundas.

"Ao passar pro Campinas, soube que o bugre fora preso na véspera por gente de Aguiar, e então animou-se a volta à Santa Bárbara." (4º. vol - Til.)

Mas o autor de tantos predicados,o irrepreensível, o literato de muitos adjetivos, como político nem sempre podia oferecer o outro lado da face, assim, pensavam os editores Salvador de Mendonça e Ferreira de Mendonça em seus "retratos políticos".

"José de Alencar - eis um homem original, verdadeira contradição viva e desfazer num dia o que edificou na véspera.

Conspiração perpétua do ato contra a intenção que o concebeu.

J. de Alencar duvida de tudo: só não duvida da fortuna e quer surpreender-lhe os segredos.
A natureza tem caprichos. Há criaturas dualistas, sem perderam a unidade do seu ser.

Tal é o ministro da Justiça. É preciso distinguir o homem-idéia, do home-fato. O segundo não quer saber do primeiro.

Como um célebre personagem de um romance de Alexandre Dumas que se dia reproduzido em uma criatura inteiramente diversa em sentimentos , instintos e caráter, acreditou em dupla natureza: o autor do Guarani e é bom e mau ao mesmo tempo."

Transcrição do livro "Os Pioneiros", 1976, de Irineu Travaglia, Gráfica Portinho Cavalcanti Ltda, Rio de Janeiro

domingo, 2 de agosto de 2020

Um certo capitão ...

Edson Rontani Junior, jornalista



Tudo surgiu muito antes do que se pensa. Mas, como se sabe, a história é contada pelos vencedores. Assim, Piracicaba tem seu marco de fundação como sendo o primeiro de agosto de 1767. É a data oficial em que se fixou moradia por aqui, sendo que a região, desde 1693, era apenas um entreposto para bandeirantes. Era um ponto de passagem.

Em seu “Manual de História Piracicaba”, escrito por Guilherme Vitti e publicado pelo Jornal de Piracicaba durante as comemorações do segundo centenário de Piracicaba, o autor diz que a distribuição da Sesmaria de Piracicaba (primeiro nome de nosso vilarejo), ocorre na década de 1690 sem o propósito de sua ocupação. Quase um século mais tarde é elevada à Povoação, graças a Antonio Correa Barbosa, destinado a ser o povoador da cidade.

Recebemos diversas denominações como Freguesia de Piracicaba, Vila Nova da Constituição (em homenagem à carta magna de Portugal), Cidade da Constituição e, em 1887, é oficialmente denominada de Cidade de Piracicaba. Registros históricos demonstram que em 1693 a sesmaria de Piracicaba foi requerida por Pedro de Morais Cavalcanti, justificando que pretendia povoar a região. Ficou só na intenção ...

Mas, de onde vem seu nome? Bom, cada cabeça tem uma sentença. O mais popular (“lugar onde o peixe para”) teve várias outras interpretações como “peixe que chega”, “lugar onde chega o peixe”, “colheita de peixe”, “lugar onde se ajunta peixe”, “rio por onde sobem os peixes”, ou “lugar em que se apanha o peixe com facilidade”.

O nome veio de uma expressão indígena que, segundo Vitti, era falado como “percicaba”, “piracicava” ou “piracicaba”. A história foi tão ingrata que não se sabe quais índios instituíram o nome de tão bela cidade interiorana. O autor arrisca dizer que podem ter sidos tribos dos barranqueiros, guaianeses, caiapós ou colorados, que sumiram com o tempo após serem acuados por outras tribos mais fortes ou, ainda, serem índios nômades em vias de extinção.

O capitão-mor de Itu, fez o primeiro registro da tradução de seu nome. Disse Vicente de Costa Taques Góes e Aranha, em memórias escritas em próprio punho durante a fundação da cidade, que aqui é “onde o peixe chega” ou “lugar onde chega o peixe”. O resto, é lenda. Ajuda a alimentar a imaginação humana.

Antonio Correa Barbosa veio para mudar a história. De entreposto, ele criou a vila que começaria bem ao lado do rio Piracicaba.  Ocupou parte de onde, quatro décadas antes, havia sido concluída parte da estrada (“picadão”), que levaria os bandeirantes para o Mato Grosso durante a “febre do ouro” brasileira. O local serviria de destino para Cuiabá e tinha a vantagem do rio Piracicaba estar próximo ao rio Tietê, alternativas para navegação rápida ao centro-oeste brasileiro.

Porém, no meio do rio havia piranhas! Ou melhor índios paiaguás e caiapós que lançavam flechas sobre os desbravadores. A história conta que, de uma expedição com cerca de 300 homens brancos, os índios deixarem apenas cinco para que contassem o feitio para a posteridade.

O sertanista Antonio Correa Barbosa aparece neste meio tempo como povoador da junção do rio Piracicaba como Rio Tietê. Lá, ele deveria gerir um depósito de sal, uma fábrica de canoas e cultivar cereais para a colônia Forte de Iguatemi, divisa de onde depois seria criado o Paraguai. O local era pantanoso. Desagradou nossoo povoador. Este, pegou sua comitiva de desbravadores (aproximadamente 40 pessoas) e percorreu o Piracicaba até chegar onde hoje conhecemos como a mata ciliar entre Piracicaba e Limeira. Os desbravadores eram vadios (homem sem local fixo de trabalho), dispersos (homem sem família constituída) e vagabundos (andarilho e sem moradia fixa), termos, segundo Guilherme Vitti, que seguiam as colocações usuais de então. Barbosa tinha 32 anos à época da fundação.

Já por aqui estabelecido, em 1770, o capitão-general da província de São Paulo incumbe Correa Barbosa de reabrir o picadão para o Mato Grosso. Conclui a obra em quatro meses, recebendo em seguida o título de Capitão-Povoador.

Já na década de 1770, Piracicaba passa a atrair a atenção dos moradores de Itu, Porto Feliz e São Carlos (distrito de Piracicaba), que por aqui vem constituir moradia e família. Isso fez com que, de vilarejo, a capitania propusesse a criação de uma povoação, o que ocorreu em 31 de julho de 1784, data em que a cidade se expande além rio Piracicaba. Foi neste dia em que se delimita o primeiro arruamento da cidade. Antonio Correa Barbosa teria de expandir a cidade para um perímetro estipulado entre o rio Piracicaba e ribeirão do Itapeva (hoje avenida Armando de Salles Oliveira) findando-se próximo à área do Terminal Rodoviário Intermunicipal.

Esta seria, num brevíssimo relance, a vida em de Piracicaba há 253 anos atrás. Tudo iniciado por um certo capitão ... 

(Artigo publicado no Jornal de Piracicaba em 29/07/2020 e expandido para esta versão publicada na Tribuna Piracicabana de 01/08/2020)

domingo, 19 de julho de 2020

O Nove de Julho em meio à pandemia

O ideal do 9 de Julho não foi esquecido em Piracicaba, mesmo com a antecipação do feriado para 25 de maio em decorrência da pandemia. Assista à esta entrevista veiculada em 09/07/2020 pela TV Ativa.

terça-feira, 7 de julho de 2020

“Zé do Burro” – de Piracicaba a Cannes

Por Edson Rontani Júnior, jornalista

Pode ter sido setembro. Ou também pode ter sido outubro. O ano é certeza: 1994. O local é o Sesc Piracicaba, quando foi convidado para uma palestra o ator e diretor Anselmo Duarte, dono de extenso currículo no cinema e na televisão. Cheguei a abordá-lo ao final da apresentação para falar sobre cinema, a sétima arte que entretém, inebria e cria cinéfilos como eu. Na mão, um pequeno gravador cassete para registrar tão nobres palavras do nosso maior cineasta premiado lá fora. Anselmo Duarte se envolve com a conversa, pois pergunto e cito seus filmes desde a Atlântida, passando pela Vera Cruz e culminando com o clássico “O Pagador de Promessas” (1962). Nesta conversa bem ao meu lado, de olhos arregalados por minha desenvoltura e conhecimento sobre o cinema, estava o radialista Jamil José Neto, primeiro presidente da rádio Educativa FM e locutor das principais emissoras de rádio da cidade.  

Desta noite primaveril tenho largas recordações: Anselmo Duarte estava ávido em conversar sobre cinema numa época em que as pessoas ainda voltavam aos poucos para o cinema depois de uma larga e brusca queda na bilheteria provocada pelo desaparecimento do público que se confinava em casa pelo home vídeo (o VHS). Não sei se ainda possuo esta conversa gravada.

Sei que ele procurava se esquivar de dar louros ao elenco de “O Pagador”, primeiro filme a ser indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e único a vencer o Palma de Ouro do Festival de Cannes, na França. Dava a clara impressão que o filme era dele, teve o sucesso que obteve por sua única e total dedicação, num ego inflamado como um galo que empina sua crista no galinheiro. Gloria Menezes, Dionísio Azevedo, Norma Bengell tiveram seus méritos no filme, mas muito pouco Anselmo comentou sobre eles.

Muito menos sobre Leonardo Villar, piracicabano de nascimento, e que interpretou o papel principal do “Pagador”, o Zé do Burro, que morre para pagar uma promessa a qual salvou seu burro Nicolau, e é impedido de entrar na igreja quando o padre Dionísio Azevedo sabe que ela foi feita em terreiro de umbanda.


Leonardo Villar e Glória Menezes


O filme em si é a personificação de Leonardo Villar, é a batuta do diretor Anselmo Duarte, é uma dedicação total do elenco assim, como tornou célebre a história de Dias Gomes adaptada pelo próprio diretor. Villar faleceu na sexta-feira passada, dia 3, e tornou-se um ilustre desconhecido em Piracicaba, onde nasceu em 25 de julho de 1924. Mas, até aí, tudo bem. Uma cidade tão efervescente culturalmente, e o avanço da tecnologia, não merece ser culpada por filhos como Villar, Francisco Milani, Léo Batista, Roberto Cabrini, Gilberto Barros, Caçulinha e muitos outros que conheceram a fama através da TV ou do cinema.

Leonildo Motta, seu nome real, trabalhou como alfaiate em nossa cidade e foi a São Paulo tentar sorte no teatro, partindo para o cinema e terminou a carreira na TV, atuando na Tupi e na Globo. Na Tupi fez a versão brasileiro do show “I love Lucy”, intitulado “Alô, Doçura”, ao lado de Cleyde Yáconis. Apareceu na telinha pela última vez em "Passione” (2010/11, na Globo).

“Pagador” teve uma série de controversas principalmente entre Anselmo e Dias Gomes. O autor da história dava um tom mais político nela. Na adaptação, Anselmo criou um roteiro com apelo cinematográfico. Entrou no meio da discussão o produtor Anibal Massaini e a distribuidora Cinedistri. Leonardo Villar foi considerado tímido demais para o papel principal e chegou a ser cotado para ser substituído por Mazzaropi. O filme deu no que deu. Em Cannes, esteve ao lado de Federico Fellini, Vittorio de Sica, Luis Bruñuel, Sidney Lumet, Agnès Varda e Michelangelo Antonioni. Passou a perna em todos. Foi o auge do cinema brasileiro. Se ganhou a Palma e concorreu ao Oscar, boa parte desta consagração deveu-se a Villar, o piracicabano que com seu burro foi até a Europa.

(Publicado na "Tribuna Piracicabana" e na "Gazeta de Piracicaba" em 07 de julho de 2020)

sábado, 4 de julho de 2020

Tempo suficiente



Edson Rontani Júnior, jornalista

Estamos ainda no período de confinamento, nos escondendo e nos protegendo contra o corona vírus. Para alguns, é uma proteção que garante a vida. Para outros, é um período enfadonho. Para mais alguns, é um período produtivo em que você tem mais tempo para si, para curtir a família, ficar em casa, sair da rotina. Mas traz saudade, sim. Principalmente de ver os parentes, de participar daquela comemoração, de ir ao shopping sem destino algum, ou de ter uma vida social que nos “obriga” com o maior prazer a participar de churrascos, ir a piscina ou mesmo uma roda de amigos num barzinho qualquer.

Mas, foi a busca pelo confinamento que me fez dedilhar estas linhas. A história não é de hoje, mas pode ser atual.


Estamos à beira de uma guerra nuclear. A história envolve um bancário que adora ler. Lê no café da manhã, lê durante o trabalho, lê no momento da folga ... Tem paixão em conhecer aquilo que a sabedoria humana transformou em palavras impressas. Seleciona os principais pensadores e debulha-se sobre as pequenas letras. Num certo dia, o bancário decide ler um livro no cofre do banco em que trabalha, o local mais tranquilo que ele encontrou. Lá dentro, ele sente uma explosão – estamos à beira de uma guerra nuclear, lembra? Ao sair, nota que nada mais existe além de escombros. Foi a hecatombe.

Feliz da vida, não se roga pela perda dos amigos. Não se abala. Fica contente pois tem “tempo suficiente” para ler todos os livros que quiser, sem ser incomodado, já que todos foram dizimados. Corre para a Biblioteca Pública – ela permaneceu em pé ! – e passa a selecionar os livros para amanhã, os livros para depois de amanhã, para a semana que vem ... e assim por diante.

“Ploft!” ... Sem querer, o bancário que era extremamente míope, pisa em seus óculos tipo “fundo de garrafa” quebrando-o. Não enxergava um palmo à frente sem eles ... “Tempo suficiente para o que, agora?”, diz.



A história é um conto escrito em 1953 por Lynn Venable, adaptada por Rod Serling em 1959 para o seriado televisivo “Além da Imaginação”. O bancário era vivido por Burgess Meredith que uma década depois tornou-se o Pinguim no seriado “Batman” e duas décadas depois foi o treinador de Sylvester Stallone em “Rocky” (o primeiro). O episódio se chama “Tempo Suficiente”.

Na época, a televisão tornava-se um dos mais ágeis meios de comunicação. Adentrava aos lares, e competia diretamente com o cinema. O cinema exigia um certo ritual para ser consumido (roupa, horário, transporte, guloseima e ... ingresso!). A televisão chegava de graça. Com a “Guerra Fria” era esperada uma aniquilação imediata da raça humana. Muitas residências americanas possuíam bunkers subterrâneos esperando um ataque nuclear russo.

Mas isso não vem ao caso. Nosso personagem buscava o confinamento para fazer o que mais gostava: ler e aguçar sua imaginação. Hoje, a imaginação está na ponta dos dedos, no smartphone, na smartv ou no computador. Dar uma cutucada na imaginação retomou a preguiça já que tudo está aí, com fácil acesso.

O confinamento e o distanciamento social proporcionado na atualidade deixaria o personagem do episódio numa situação que ele almejava: preso em casa lendo os livros que quisesse.

Sempre é bom lembrar que como países abaixo dos trópicos, onde o calor marca presença inclusive nesse início de inverno, o brasileiro torna-se inquieto e não arreda o pé de ir a rua. Não há por que ficar em casa. Me lembro de uma conversa que tive com Alceu de Marozzi Righetto, secretário municipal da Ação Cultural, há uns 30 anos atrás: europeu e asiático se confinam involuntariamente em casa pois na maioria dos meses a temperatura chega próxima ou abaixo dos 10 graus negativos. Não há por que sair. Tem-se de ficar em casa e esperar a próxima onda de sol. No confinamento surgiram os grandes pensadores universais, intelectuais de renome, expoentes do pensamento universal. No Brasil, confinamento é chato e “bater perna” não trouxe nenhum Nobel para nós.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Sozinho na multidão


Rumo ao estrelado. Fama. Dinheiro. Ascensão profissional. Tudo isso e muito mais... mais e mais! Nunca o que se tem é o suficiente. Assim, pode-se resumir a moral de uma sequência de filmes proporcionados pelo período de confinamento em casa durante a pandemia contra o corona vírus. As emissoras de TV e os serviços de streaming colocam a disposição uma gama de filmes nacionais feitos na década de 2010 mostrando que o cinema brasileiro está seguindo um passo que se iguala à linguagem comercial de Hollywood.


Muitas destas produções foram feitas com recursos públicos, patrocinadas pela Globo Filmes e distribuídas pela Paris Filmes. A Paris aliás manteve em Piracicaba duas salas de cinema no Shopping Center Piracicaba dos anos 1980 aos anos 2000. Foram as primeiras salas exibidoras de um shopping na região. Enfrentou a fuga dos expectadores principalmente na segunda metade dos anos 1980 motivada pela ascensão do home video, ou VHS. Ainda me lembro da gentileza do seu Silvio, gerente do Cine Center, e sua luta para trazer público para produções que se tornaram célebres com o passar dos anos.



Dentre os filmes vistos durante a pandemia, destaco alguns que envolvem artistas como personagens principais. Começando por “Bingo: o rei das manhãs” (2017), narrando a vida do ator pornográfico Arlindo Barreto, filho de Márcia de Windsor, e sua estada como o palhaço “Bozo” no SBT. Bingo foi o nome escolhido para evitar disputas judiciais com os criadores do palhaço norte-americano. Arlindo veio de família abastada mas joga a carreira no ralo por ser usuários de drogas. É uma ótima referência para quem viveu a infância nos anos 80.


Ainda no SBT, a vida de uma das loiras platinadas da tv brasileira foi relatada em “Hebe: a estrela do Brasil” (2019), onde Andréa Beltrão se esforça para tentar (tentar mesmo ...) chegar perto da simpatia de Hebe. A história se passa nos anos 80, quando a apresentadora é despojada pela censura do governo militar, buscando elevar a audiência com várias entrevistas, entre elas, junto à Roberta Close (“a mulher mais bonita do Brasil”) ou quando Dercy Gonçalves mostra seus seios ao vivo dizendo ser mais bonita que o travesti. O filme de afunda na amargura conjugal de Hebe com seu marido Lélio Ravgnani.


Da loira para a pimentinha, “Elis” (2016) é um filme emocionante que mostra o quanto esteve perdida Elis Regina durante toda sua carreira, mesmo amparada pelo caloroso (ao menos no filme) César Camargo Mariano. Andréa Horta consegue convencer, mesmo dublando os originais interpretados por Elis. Bela e emocionante produção.


Na música, de uma forma muito fantasiosa e deixando clara suas mágoas junto a Roberto Carlos, “Minha fama de mau” (2019) torna evidente que Erasmo Carlos quer para si o título de “criador da Jovem Guarda”. Um filme bem feito, bem editado, embora a interpretação das músicas fique a desejar. Mostra o início da vida de Erasmo junto a Roberto e Tim Maia, entre outras situações. Mas, ao final parece uma baita dor de cotovelo.


“Tim Maia” (2014) é um dos melhores filmes nacionais da década de 2010. Vale a pena ser visto. Mostra – também – Tião Maia, Roberto Carlos e Erasmo Carlos na composição inicial dos “Sputniks”, grupo que embalava as noites cariocas em 1957. Depois, cada qual tomou um rumo na vida. Tim vai para os Estados Unidos, acaba preso. Volta ao Brasil e vai de novo para a cadeia. Anos mais tarde alcança o sucesso como o “Rei do soul”. Um filme com muita reviravolta e marcante principalmente pela presença de um convincente Babu Santana interpretando Tim de boca suja, adepto à bebida e às drogas. Angustiante e triste, principalmente numa das cenas mais marcantes: abandonado pelos amigos e drogado, Tim chama a polícia segurando uma metralhadora e pede aos PMs que o levem preso, pois precisa de ajuda e quer se ver livre do vício.



“Chacrinha: o velho guerreiro” (2018) é um ótimo exercício sobre os anos dourados do rádio e da tv. Abelardo Barbosa veio para confundir e não explicar e, claro, distribuir bacalhau. Stepan Nercessian está impecável sob a direção de Andrucha Waddington. Mostra sua longa carreira pelo Rio de Janeiro e São Paulo dos anos 1940 a 1980. É uma obra de arte do cinema nacional. Bem dirigido e com ótimos efeitos que são difíceis de imaginar que o brasileiro vem conseguindo realizar. Mostra entre outros sua relação amorosa com Clara Nunes e Elke Maravilha. Curioso é ver que, no final dos anos 1970, Chacrinha e suas chacretes ficam sem emissora para seus programas. Passam a realizar shows pelo Brasil afora. Foi nesta época que ele visitou Piracicaba na primeira ou segunda AgroFeira, por volta de 1979, na Nova Piracicaba, uma espécie de Festa do Peão para a época. Essa passagem, claro, não é apresentada no filme.

De todas essas produções com artistas brasileiros, algumas lições podemos tomar. Uma delas é Roberto Carlos ter unanimidade como “O Rei”. Ele aparece em todas as obras, com exceção de “Bingo” e “Elis”. Todos os artistas retratados saíram do nada e conseguiram sucesso, dinheiro, diversão. Em todos, a “alegoria” da ascensão e a queda marcam presença no roteiro. Muitos chegam ao “fundo do poço” pelo inebriante desejo de querer mais, seja dinheiro, bebidas ou drogas (lembra como Elis morreu?). Ter tudo o que se deseja como sonho de consumo, fez de todos sozinhos na multidão. Bendita pandemia !

(Publicado na Tribuna Piracicabana e no Jornal de Piracicaba de 22 de setembro de 2019)

segunda-feira, 22 de junho de 2020

A Ponte Irmãos Rebouças

A Ponte do Mirante ou Ponte Irmãos Rebouças foi construída há 145 anos atrás. Conheça um pouco mais sobre esta história da primeira ponte de concreto armado do Brasil. 

domingo, 14 de junho de 2020

Ponte Irmãos Rebouças


Edson Rontani Júnior, jornalista

O rio Piracicaba sempre foi um “divisor de águas” para a cidade. De um lado o Centro e do outro a Vila Rezende. Foi a partir dele que outros bairros surgiram e a cidade teve sua expansão urbana. Porém, a união entre ambos os lados sempre foi um desafio ao piracicabano. Isso deixou de ser preocupação há 145 anos, quando foi concluída a ponte em frente ao Mirante com o objetivo comercial de ligar uma linha férrea de Piracicaba a Limeira.
A “Ponte do Mirante” foi concluída em 15 de maio de 1875, sendo a primeira ponte de concreto armado do país. Antes o tráfego era feito numa ponte situada nas proximidades, porém, construída em madeira, necessitando de reparos constantes devido à vazão do rio.
A obra foi concebida pelos Irmãos Rebouças, por isso, a denominação oficial de “Ponte Irmãos Rebouças”, segundo lei 3.399 de 27 de fevereiro de 1992, assinada pelo prefeito José Machado. Antonio Pereira Rebouças Filho (1839-1874) e André Pinto Rebouças (1838-1898) eram negros, numa época em que vigorava a escravidão no Brasil.
São considerados desbravadores pois venceram o preconceito que a sociedade tinha em relação aos negros, aos escravos e aos seus descendentes. Naturais da Bahia, eram filhos de negros livres. Para se ter noção, o censo de então distinguia a população local composta de 8 mil habitantes e 5.400 escravos.
Os irmãos formaram-se em engenharia pela Escola Central Militar do Rio de Janeiro. Foram a Londres e Paris onde aprofundaram estudos sobre ferrovias e portos. André deixou importantes obras pelo Brasil, em especial no abastecimento e docas do porto do Rio de Janeiro.


Os irmãos Rebouças foram contratados pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sendo Antonio seu diretor técnico. A obra é concluída em 1875 mas sua utilização para o transporte férreo ocorre apenas dois anos depois uma vez que a Paulista desiste de explorar a linha. Foi o tempo que ajudou a unir a Companhia Ytuana de Estradas de Ferro e a Companhia União Sorocabana, esta, aliás, já explorava a estação de trem no Centro de Piracicaba, onde situa-se na atualidade o Terminal Central de Integração.
A obra inicialmente contou com a supervisão de Walter John Hammond contratado pela Paulista, o qual solicitou à uma empresa britânica a tecnologia para sua construção, através de projeto criado por Antonio Rebouças em 1874. Foi Antonio quem definiu tipos de trilho, locomotivas, vagões e carros de passageiro que poderiam passar pela ponte. A Ponte Irmãos Rebouças é considerada uma obra de arte pela engenharia. Rebouças desenhou sozinho o projeto da ponte, encaminhando-o a Londres para confecção do material a ser utilizado para sua construção.  



O material era todo importado: rodantes, locomotivas, trilhos, máquinas e acessórios para oficinas de reparo e manutenção. Antonio Rebouças não viu a finalização das obras. Faleceu aos 34 anos por complicações da malária.
Depois delas, vieram outras pontes: Caio Tabajara Esteves de Lima (ao lado da Ponte Rebouças), Walter Radamés Accorsi e José Antonio de Souza - Zé do Prato (ao lado do Shopping Center), Ponte ou Passarela Pênsil José Dias Nunes - Tião Carreiro, Ponte ou Passarela Estaiada Aninoel Dias Pacheco, Ponte José Luiz Guidotti e Pedro Francisco Prudente (conhecidas como Ponte do Morato), Ponte Romeu Pinazzi (Ponte do Caixão), Ponte de Santa Terezinha, pontes sobre o Ribeirão Piracicamirim, pontes sobre o Córrego do Itapeva (que hoje não existem mais), Ponte de Ferro Joaquim Nunes (Artemis) e tantas outras que encurtaram as distâncias na cidade.
Fotos não muito recentes mostram trens circulando pela Ponte Rebouças, no sentido Armando Salles-Juscelino Kubitscheck. O trem, antes, passava pela Curva do S, próximo ao Estádio Roberto Gomes Pedrosa, e, quando havia partidas de futebol, o maquinista tocava o apito e, diz a lenda, o XV de Novembro sempre marcava um gol após esta atitude. Bendito seja esse maquinista !



sexta-feira, 12 de junho de 2020

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Romeu Ítalo Ripoli

Trecho do filme "Nhô Quim - Caipira Centenário", no qual se fala sobre Ripoli, presidente do alvinegro de Piracicaba.

terça-feira, 2 de junho de 2020

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Inconfidentes


Edson Rontani Júnior, jornalista


Fazenda Santa Genebra (Família Barão Geraldo Rezende), Acervo do Museu Paulista da USP

Piracicaba ainda não existia no formato que conhecemos. Foi quando, no final do século XVIII, formou-se uma ação separatista que buscaria tornar o Brasil independente do Reino de Portugal. A cidade ainda era um povoado quando o separatismo foi estrangulado pela Coroa Portuguesa, em 1789.

O primeiro recenseamento que se tem história é de 1775, quando a “Noiva da Colina” tinha 231 habitantes, os quais moravam em 45 casas com fogão (um luxo na época!). Os índios não participaram da contagem. Habitavam a vila 37 meninos e 26 meninas de até 7 anos; 21 homens e 17 mulheres de 7 a 14 anos; 61 homens e 61 mulheres entre 15 e 60 anos; três homens acima de 60 anos e 5 mulheres com mais de 50 anos. Uma cidade grande para pouca gente.

Talvez aquilo que a história deixou cravado como Inconfidência Mineira nem tenha ecoado por nossas terras. Ao fim dela, já havia o dobro de habitantes por aqui, ou seja, 550 pessoas. No ano da Independência do Brasil, em 1822, a cidade possuía 3 mil moradores.

Anos mais tarde, Piracicaba abrigou a família do Barão de Rezende, o qual deixou grande legado para o município. Ele teve familiares envolvidos na Inconfidência.

Tudo começa com João Rezende Costa e sua esposa, Helena Maria, que iniciaram no Brasil a dinastia dos Rezende. Aportaram em Lagoa Dourada, Minas Gerais, vindos das Ilhas de Açores, meio do Oceano Atlântico. O filho deles, José de Rezende Costa (1728-1800), capitão do Exército Real, atuou na Inconfidência. O filho deste, homônimo, por sua vez, também foi considerado inconfidente.

Os dois Rezende e demais insurgentes foram condenados à morte junto a Tiradentes. Foram ao todo 11 deles que teriam a vida ceifada. Mas, apenas Tiradentes recebeu a sentença de morte. A Rainha Maria, “a louca”, mudou a pena na véspera do enforcamento, em 20 de abril de 1792. Dez foram exilados e um enforcado.

Os dois Resende Costa são despachados para a ilha de São Tiago de Cabo Verde, Guiné-Bissau (África). O Rezende pai morreu por lá dez anos depois, aos 62 anos. 

Já Rezende filho foi o mais jovem dos inconfidentes. Tinha 26 anos à época e, após cumprir os 10 anos do exílio, vai para Portugal em 1803, vivendo em Lisboa até 1809, quando consegue, excepcionalmente, autorização para voltar ao Brasil. Foi conselheiro de Dom Pedro I, ajudando-o na Independência do Brasil.

José de Rezende Costa, o pai, nunca deve ter pisado em Piracicaba. O mesmo não ocorreu com seus sucessores, especialmente o Barão de Rezende. Porém, sua ossada foi entregue em 1993 à Faculdade de Odontologia de Piracicaba (Unicamp), onde, nas mãos do professor Eduardo Daruge, constatou-se que eram realmente deste inconfidente. Daruge recebeu ossadas de três pessoas. Aquela de Rezende era a mais completa.

Seus ossos estavam em uma cova rasa na Via da Cacheu, na África e com a ajuda uma índia, ama da família, soube-se a localização geográfica onde ele foi enterrado. Com base numa tomografia da parte óssea, em auxílio com a University College London (Inglaterra), foi possível criar uma imagem computadorizada fiel da face do inconfidente.

Pai e filho foram homenageados com a denominação de Resende Costa num município com 11 mil habitantes, a 186 km da capital Belo Horizonte, Minas Gerais. Rezende pai repousa no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto (MG).

O legado de seu descendente Barão de Rezende ficou em Piracicaba. Mas, ai, já é outra história...

terça-feira, 19 de maio de 2020

Lago John ou João


   Foto do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba. Possível ano de 1986. Autor ignorado. O registro fotográfico foi tirado talvez da região do bairro Castelinho, mostrando ao fundo Piracicaba em sua região central. À esquerda a região da Rua do Porto, ao centro um lago conhecido por Lago do João (João Herrmann Neto) por uns e lado John Lennon por outros, possuir o formato de J (incline a cabeça para a esquerda para notar), e à direita o prédio em construção do Centro Cívico, idealizado na segunda gestão do prefeito Adilson Benedito Maluf.

   Note-se alguns detalhes:
   - A Rua do Porto delimitava-se apenas à ela mesma, ou seja, a rua que beirava a margem esquerda do Rio Piracicaba. O complexo gastronômico era pequeno na época. Depois acabou invadindo também a avenida Alidor Pecorari e tomando a região ribeirinha com a construção do Projeto Beira-Rio patrocinado pela Petrobrás.
   - O Lago da Rua do Porto era totalmente aberto. Por anos, recebeu o descaso da administração pública, conhecido como uma grande pântano sem tratamento. O Parque de Lazer prefeito João Herrmann Netto foi construído mais tarde.
   - O Centro Cívico, pretendido pela administração Maluf abrigaria uma série de entidades. Quando assumiu em 1989, o prefeito José Machado transferiu para lá os setores administrativos da Prefeitura, antes ocupando espaço na praça dos Três Poderes, hoje sediando na sua quase totalidade a Câmara de Vereadores.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

A gripe que parou Piracicaba

O comércio fechou suas portas. Restaurantes parados. Jogos de futebol cancelados. Tudo isso aconteceu em Piracicaba.


sábado, 11 de abril de 2020

Confinamentos



Edson Rontani Júnior, jornalista
   Aulas suspensas, ano letivo interrompido, comércio fechado. Tudo para enfrentar a pandemia. Eram dias quentes em Piracicaba naquela primavera de 1918. Um inimigo oculto afetava a cidade, trazendo a preocupação com o desconhecido. Não havia cura. Ainda era costumeira a existência de leprosários e sanatórios para confinar pessoas distantes da sociedade.
   - “Não há o que se fazer”, deve ter pensado alguém, ante à tão temida gripe espanhola que assolou o planeta naquele período, atingindo meio bilhão de pessoas.
   Piracicaba não ficou distante desta pandemia. Importada da Europa durante a Primeira Guerra, deixou a cidade de quarentena, matando 88 pessoas e atingindo outras 4.178, em especial as residentes no Porto João Alfredo (Ártemis) e outros bairros então considerados como zona rural. A cidade tinha perto de 30 mil habitantes. O prédio da Escola Sud Menucci virou hospital e internações eram feitas nas residências dos adoentados.
   A influenza espanhola cancelou partidas de futebol, fechou o comércio e confinou as pessoas em casa. A gripe atingiu os presidentes Venceslau Brás e Rodrigues Alves (que seria empossado e acabou falecendo em consequência dela). Na capital paulista, eram 5 mil novos casos por dia. Durante os três meses da pandemia, foram 5.500 mortos e 200 mil infectados.
   A história mostra ainda que outros confinamentos - voluntários ou não - existiram. Um foi o leprosário criado em 1885 por Manuel Farraz de Arruda Campos no bairro dos Alemães, popularmente chamado de “isolamento”. Os portadores do mal de Hansen eram segregados pela sociedade e se confinavam em casa. Quando adoecidos, eram recolhidos por Maneco Ferraz, inclusive escravos alforriados, para que não definhassem à míngua.
   Confinamento social também oferecia o Hospício dos Alienados criado pelo Barão de Serra Negra, funcionando a partir de 1º de janeiro de 1898, abrigando na Casa de Misericórdia os enfermos como local transitório até conseguirem vaga no hospital de Juquery. O local abrigava no máximo 10 “alienados”, cinco de cada sexo. Segundo seu administrador, dr. Torquato da Silva Leitão, através de relatos da época, chegou a atender 110 “enfermos, dos quais 55 nacionais e 55 estrangeiros, 46 homens e 64 mulheres”.
   Dentre outros locais de confinamento edificados em Piracicaba, estava o Sanatório São Luiz, criado sob a égide de Emílio Ribas, diretor do serviço sanitário de São Paulo. Seu projeto foi iniciado em 1905, funcionando até 1930. A obra era um anseio da sociedade, erguida por dedicação do Barão de Rezende e seu genro João Conceição. Nele, eram asiladas no máximo 30 pessoas, em 16 quartos, desde portadores do mal de Hansen até debilitados de atividades motoras ou cerebrais. Havia inclusive um imenso bosque no Sanatório - na Vila Rezende -, no qual eram receitados passeios para aquilo que se denominava como “cura de ar”. Foi o primeiro sanatório para tuberculosos do país. O ideal de sua criação foi propagado por Lydia de Rezende, filha do Barão, em memória a seu irmão Luiz, que morreu pela tuberculose.
 Em 1886, O recenseamento foi tão detalhado que se deteve até mesmo no percentual das enfermidades mais comuns. Em Piracicaba, foram registrados 32 alienados, 109 aleijados, 19 cegos, 16 morféticos, 21 surdos-mudos.


sexta-feira, 3 de abril de 2020

Paula (do Basquete)


Ficou conhecida como “Magic Paula” em alusão ao jogador de basquete americano “Magic Johnson”. Na escola já demonstrava intimidade com a bola, mostrando uma facilidade acima do comum para o esporte. Começou a treinar no Clube das Bandeiras, uma equipe feminina de sua cidade natal, onde também jogava sua irmã. Com apenas 10 anos estreou na equipe como titular. Dois anos depois seria convidada para jogar no time de Assis, indo morar longe de sua família.

O clube seria extinto em 1976 e Paula iria para Jundiaí, também no interior paulista, defender as cores do Colégio Divino Salvador. Na época com 14 anos, foi convocada pela primeira vez para a seleção brasileira, se tornando a mais jovem atleta a integrar o time. Se tornaria titular absoluta do Brasil no ano seguinte, quando completaria 15 anos de idade. Seu primeiro resultado importante com a equipe seria em 1977, com o vice-campeonato sul-americano no Peru.

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