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Edson Rontani Júnior, jornalista e cinéfilo
“Este deve ser o início de uma grande
amizade”. Com esta frase, encerra-se o filme “Casablanca”, de 1942, considerado
por muitos como um dos cinco melhores de todos os tempos. Foi dita por Claude
Rains, militar nada adepto à expansão nazista no norte a África, dirigida a
Humphrey Bogart, um bon-vivant dono de um cabaré em plena Segunda Guerra
Mundial. Para mim, a frase resume meu romance e a longa amizade com a Sétima
Arte, que fazem parte de minha vida desde a infância.
Confesso que já assisti aos principais
filmes lançados pelo cinema norte-americano desde o início do século passado. Os
ruins, também assisti. E, muitas vezes, me confundo com a ficção e a realidade.
Aliás, este é o papel do cinema. Serve de válvula de escape do cotidiano, este,
tão massacrado com violência, escândalos e falta de esperança.
Por muitas e muitas horas estive sentado
diante de uma telona do cinema ou perante a TV buscando explicações para a
realidade ou me escondendo dela. Assim, confesso que o cinema me fez enamorar
pela vida, pelo sentido culto de nossa existência terrena. Os beijos românticos
dados em musas como Rita Hayworth, Marilyn Monroe, Doris Day e tantas outras me
fizeram apaixonar pelo cinema. Os finais felizes me trouxeram esperança.
Também li obras através de adaptações de
livros cujos nunca cheguei a tocar, como “Ben Hur”, “...E O vento Levou” e “O
Morro dos Ventos Uivantes”. Foi o único acesso que tive com mestres da
literatura e premiados com o Pulitzer ou com o Nobel. Dentre eles, destaco
Rudyard Kipling, Nathaniel Howthorne, Ernest Hemingway, Philip K. Dick e George
Orwell.
O cinema é uma forma de conhecer amores,
romances e dramas para quem tem preguiça - como eu - de ficar dias folheando um
livro. Mas, o cinema abre essas portas até porque, antes da internet, era
difícil o acesso a eles. Hoje e-readers e tablets nos contemplam com filmes
nunca exibidos no cinema, TV ou formatos domésticos como o DVD, ou com livros
nunca lançados no Brasil.
Grandes clássicos da Sétima Arte, expoentes
do cinema expressionista alemão, a nouvelle vague francesa e até mesmo os films
noir, criaram, não apenas em mim, aquilo que estudiosos classificam como
“imaginário popular”, memórias de moral, de edificação e de temor. Ou você vai
me dizer que Frankenstein e Drácula (de Mary Shelley e Bram Stocker,
respectivamente) se tornaram conhecidos pelo livro e não pelo cinema ?
Aí surgiu o computador... É outra história! O
bom diálogo, o roteiro bem pontuado, as tiradas de expressão deram lugar à
forma digital, presente hoje em maioria dos filmes. Vi dias destes as trilogias
“Robocop”, “X-Men” e “Transformers”. Bons filmes. Mas, qual a moral ? Se é que
ela existe ... Destruição, confrontos, brigas pelo interesse individual e muito
efeito. É assim que o cinema vem educando as gerações atuais. Afinal, isso é
que dá bilheteria. A ganância pelo ganho monetário estragou não um namoro, mas
uma paixão que, também segundo os especialistas, pode acabar a qualquer momento.
Amizade ... que seja a continuidade do início conforme o diálogo de
“Casablanca”.
Matéria publicada na Tribuna Piracicabana no dia 23/05/2013
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