* por Edson Rontani Júnior,
jornalista
Confesso que esperava a mesada semanal de
meu pai para comprar minhas fitas cassetes. Isso nos, hoje, longínquos anos 80.
Era pouco, mas sempre bem vindo para um pré-adolescente que ainda não
trabalhava. Talvez fossem sete ou dez cruzeiros toda semana. E com o dinheiro
ia próximo a praça José Bonifácio, na Budasom, comprar uma ou duas fitas Basf.
Normalmente eram as de 60 minutos, pois as de 90 minutos (com maior capacidade
de gravação) eram mais caras. As fitas de cromo, então, eram inatingíveis
objetos de consumo, de tão caras.
Sem medo de ser nostálgico, a fita cassete
me impulsionou a ter paixão pela música. Isso no início dos anos 80. Gostava
tanto de ouvir as FMs da região (na verdade, só existiam a Andorinhas de
Campinas e a Difusora de Piracicaba) que passava a maior parte de meu dia – era
estudante – ouvindo e decorando as músicas. Isso me fez trabalhar em duas emissoras
de rádio ao longo de 15 anos.
Com uma fita cassete eu poderia eternizar
aquele momento, aquela música, aquele estilo de FM conhecido como “música de
elevador”, no qual as emissoras apresentavam apenas a hora certa, poucos
comerciais e muitas músicas. Nos anos 80, você tinha acesso ao LP, tape de rolo
(caro demais) ou então a fita cassete. Era moda passar o long-play para o
cassete e assim poder levar a música para você quisesse.
Lembro-me que sair na rua com um tape
(toca-fitas), de braço dado com a namorada, era um invejado status. Algo
similar a hoje ter um smartphone ou um carro de padrão médio. Você era medido
pelas marcas Fiorucci (jeans), Pool (camiseta), All Star (tênis) e o Tojo (equalizador
do tape). Parece engraçado, mas eram assim os anos 80.
E, nada mais que nostálgico, a fita cassete
está completando seu cinquentenário! Ela é o avô dos iPads atuais. Funcionava
de forma analógica e tinha a caneta Bic como sua melhor amiga, para que fosse
rebobinada.
A fita cassete ou K-7 foi chegou aos 50 anos
em setembro passado, desenvolvida pela Philips, através do engenheiro Lou
Ottens. Foi o meio caseiro mais ágil criado pelo homem para se reter
informações como entrevistas, músicas, gravações ... Os direitos autorais de
reproduções vieram depois, lógico.
Com o cassete, era possível levar qualquer
gravação a qualquer lugar. Seja em gravadores de mesa, sistemas três em um,
carro... Um passo importante veio com a Sony que criou o walkman, algo similar
aos MP3s, porém analógicos.
Lembro-me de ter ficado surpreso ao ler num
jornal da capital que eu havia ganho o concurso de uma famosa marca de batata
frita e como prêmio levei um walkman da Sony, de primeira geração. Este
aparelho me acompanhou por anos. Me motivou ainda mais a ficar diante do
aparelho de som para gravar as músicas que eu mais admirava.
Quem viveu em Piracicaba os anos 70 e os
anos 80 deve se lembrar. A Som 6, na Galeria Brasil, era o centro de encontro
de quem gostasse de música. Vitrines, prateleiras, toca-discos, fones de
ouvido... Imensa, ela tinha vários ambientes para você escolher a música e onde
ouvi-la. E vivia lotada!
O mundo digital surgiu. A gravação analógica
passou a integrar museus. E com o avanço da tecnologia, a fita cassete perdeu
seu glamour, ou como diriam, foi desmagnetizada.
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