* Edson Rontani Júnior,
jornalista e cinéfilo
Foi numa tarde fria de 1981 que
conheci uma loira deslumbrante. Todo seu fascínio foi tomado por uma cena
clássica : ao passar pelo respiradouro de uma estação de metrô, sua saia se
levantava, com isso, elevando também a libido masculina de seu parceiro. A
apresentação desta loira foi feita por um respeitado programador de cinema de
nome Paulo Perdigão, o qual nunca conheci mas senti, como muitos, por sua morte
em 2006.
Na verdade, Perdigão me
apresentou Norma Jean mitificada pelo cinema como Marilyn Monroe, uma loira
exuberante que se tornou um símbolo sexual nos anos 50. Foi através de uma das
várias “Sessão da Tarde” que a conheci em “O Pecado Mora ao Lado” o qual ela
estreou junto com Tom Ewell, um impagável comediante que infelizmente não
conseguiu seu lugar no hall da fama. Foi um medíocre notável.
Essas mal tracejadas linhas foram
escritas em memória daquilo que Paulo Perdigão criou nos anos 80, uma legião de
fãs que hoje estão na casa dos 40 ou 50 anos e que ficaram à sua mercê numa
época em que filmes só eram assistidos no cinema ou na televisão por antena
convencional (nada de tv a cabo e muito menos parabólica). Isso criou pessoas
frustradas, pois os filmes eram exaustivamente reprisados e muitas vezes
jogados em
horários ingratos. Ou eram a tarde ou no início da madrugada,
para maldição daqueles que trabalhavam durante o dia.
Lembro-me que assisti muitos
filmes sem saber sua conclusão. Eles começavam por volta da meia noite ou uma
da madrugada, de forma que seu desfecho se daria lá pelas três horas da
madrugada. Confesso que vi o fim de muitos filmes apenas com o advento do DVD. Foi algo que comecei nos anos 80 e só conclui nos últimos anos. Taí um dos motivos
pela frustração que - eu e uma geração de cinéfilos - tivemos de Paulo Perdigão
...
A “Sessão da Tarde”, ainda hoje em exibição pela Rede
Globo , foi um achado para muitos que nos anos 80 viam
sucessos das décadas anteriores. Ela era o aposentar das produções
hollywodianas. Aquele filme que passou em horário nobre quando inédito na tv e
depois reprisado, quando chegava à “Sessão da Tarde”, era para ser devolvido à
sua distribuidora. Não interessava mais ao público.
Foram anos promissores nos quais
muitos viram clássicos do cinema como “Tarde Demais Para Esquecer”, “Melodia
Imortal” ou “Férias de Amor”. Além de Marilyn Monroe, fomos apresentados a
astros como William Holden, David Niven e a diretores com John Huston, Billy
Wilder ou Douglas Sirk. Tinham ainda Jerry Lewis, Os Três Patetas e filmes em
preto e branco. Isso só de repetiria em meados da década de 1990 na Fox ou na
TNT, dois canais de sinal fechado.
A TVS, hoje SBT, foi mais
generosa com os amantes do cinema. Aos domingos entre 21 e 22 horas apresentava
clássicos não mais exibidos, a não ser pelo Telecine Cult. Foi lá que vi Lana
Turner se desesperar em “Imitação de Vida” ou em “Madame X”, vi o careca Telly
Savallas ser um sargento durão em “Beau Geste” (versão dos anos 60), Jerry
Lewis em “Qual o Caminho para a Guerra”, ou assistir aos clássicos do horror
como “Museu de Cera”, “Assassinatos na Rua Morgue”, entre outros. O ruim é que
lembro de Perdigão – que me frustrou – mas nem sei quem era o programador da
TVS – que tanto alimentou minha cultura cinematográfica.
Hoje durmo feliz, sonhando com
Marilyn Monroe. Confesso que tive o privilégio de ser enfeitiçado pelo sexy
appeal desta loira cinematográfica que grande maioria sequer se lembra. Mas
confesso, sou feliz por ter vivido uma época na qual imperava na televisão o
amor colegial, sem agressividade, sem tirania e o melhor, sem induzir o
expectador à violência. Grato, Perdigão !
(Publicado no Jornal de Piracicaba de 11 de maio de 2022)
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