Edson Rontani Júnior, jornalista
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Tome dez cruzeiros. É para investir em você. Não gaste em bobeira. Compre um
livro !
Recebi
então os tais dez cruzeiros. O local foi um apartamento na capital paulista. O
ano creio que tenha sido 1979. Estava no apartamento de meus tios Franklin e
Ivana quando isso ocorreu. Numa das descidas do prédio fui à banca de jornais
em busca de um livro. O dono da banca tinha um nome que soava estranho para
mim, totalmente ingênuo. Era o “seu” Carolino, algo inconcebível para quem até
aquela idade só conhecia Carolinas, uma delas a mãe do Antonio Carlos.
Devido
à proximidade de nossas famílias, conheci um lado muito humano de Antonio
Carlos que depois teria apenas o Thame como nome popular. Íamos por diversas
vezes à sua residência situada na rua Boa Morte, em frente ao “Piracicabano”
como, por exemplo, para ver em sua calçada o Carnaval de 1980 passar pelo Centro
da cidade. Ou nas festas de fim de ano, saborear as delícias preparadas por seu
cunhado, o professor Ercílio Denny, casado com Valderez e pai e Danielle.
Ercílio era dono de uma mão mágica que tornava a gastronomia em algo peculiar.
Foi pouco antes que mantive contato com o “seu” Juca, pai de Thame, pessoa
sempre bem humorada. De longe a memória me leva a um passado em que o via
sentado numa cadeira de rodas, vitimado pelo diabetes. A mesma cadeira de rodas
emprestada numa noite fria pelo Antonio Carlos e que abrigou meu pai, Edson
Rontani, nos últimos anos de vida, após amputar uma das pernas também motivado
pelo diabetes.
Lá
por volta de 1982, Thame sai candidato a prefeito por Piracicaba. Perde para
Adilson Maluf. Investe mais em seu nome. Em 1984 volto a cruzar com ele, desta
vez de forma profissional. Eu como sonoplasta da Rádio Difusora FM e ele como
apresentador e radialista da Rádio Difusora AM tendo ao seu lado como fiel
assessor o jornalista César Costa. Foi mais ou menos nesta época que Thame empreende-se
num estabelecimento que foi o point na cidade, na década de 1980: Jardin’s, uma
moderna lanchonete que anunciava sua especialidade o “capitão”, hamburger com
tenra carne e ingredientes que lembram hoje os lanches gourmets... Ficava no
cruzamento da Moraes com a Bejamin, antes o Posto de Combustíveis Santo Antonio
da família Degaspari.
Antonio
Carlos volta a cruzar meu caminho por diversas vezes na década de 1990, quando
coordenei o jornalismo da Rádio Alvorada A. M. Em todas, ele gostava de lembrar
– em tom de brincadeira – que o dia 13 de junho não era feriado por ser seu
aniversário e sim por ser dia de Santo Antonio, padroeiro de Piracicaba. Aprendi
muito com ele. “Entenda que eleitor vota com o coração e não com a razão”, foi
uma de suas máximas. Me recordo que nas eleições de 1992, prometeu muitas
coisas e as cumpriu: instalar a Casa do Diabético, realizar a integração dos
ônibus urbanos com os terminais, ampliar os prontos-socorros, entre outros.
Gostaria de não entrar no cenário político. Ter lembranças tão e somente do
homem gentil que conheci. Mas não poderia deixar de anotar aqui algo que tem
muita razão, tendo proferido nos microfones da Alvorada: “se eu chego
segunda-feira de manhã na prefeitura e meus secretários dizem que está tudo
bem, alguém está mentindo, pois uma cidade com 200 mil habitantes não ter
problemas é impossível”. Em 1996 me proporcionou algo ímpar para a vida de um
piracicabano: entrevistar o ex-prefeito Salgot Castilon, cuja compilação ainda
devo ter esquecida numa VHS que nem tenho mais onde assistir. Thame me
contratou para auxiliar na campanha de seu sucessor, o professor Humberto de
Campos, e deu a função à equipe de tv de ouvir o conceituado Salgot. Que honra
ser recebido em seu apartamento no edifício Rio Negro, Centro da cidade.
Thame
como pessoa é unanimidade pelo estilo pacífico, dono de uma retórica impecável.
Sobre
os 10 reais do início, foi mais que um presente. Confesso que não comprei um
livro. Adquiri na banca de jornais do “seu” Carolino a edição número 1 da
revista Cinemin que passava a ser reeditada por Aldofo Aizen em sua EBAL. Tive
a coleção completa com mais de 100 edições. Menos de dez anos após ter ganho
tal dinheiro, já atuava como jornalista, inclusive como crítico de cinema em “O
Diário”, à época comandado por Alfredo Barbara Neto e depois com a volta de
Cecílio Elias Neto. Creio, então, que não gastei os dez cruzeiros em bobeira,
Antonio Carlos ...
Artigo publicado na Tribuna Piracicabana de 30/04/2022 e na Gazeta de Piracicaba de 5 de maio de 2022.
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