Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Chegamos à época de renovação. Natal e ano novo. Um ciclo eterno criado pelos calendários ao longo dos dois últimos milênios. É um período para parar e pensar no que foi feito ao longo do ano e soltar aquele estupefato: “nossa ! como o ano voou”, sem lembrarmos das promessas feitas um ano atrás, muito menos se as cumprimos. Mas assim é o ciclo natural da vida.
É
também um período de conhecimento e reflexão sobre o passado. Aqui cabe
resgatar algo além do bom velhinho Noel e lembrar fatos que ocorreram em
dezembro na nossa amada Piracicaba.
Para
isso nos debruçamos diante dos tradicionais trabalhos feitos através dos Almanaks
para Piracicaba de 1900 e 1914, e nos trabalhos preciosíssimos de Mário Neme
dos anos 1930 e Samuel Pfrom Netto.
Dezembro
é histórico. Neste mês, no ano de 1893, deixa Piracicaba Ernest Lehmann,
austríaco de nascimento. Diretor da Escola Real de Agronomia de Monsiedel, veio
a Campinas quando recebeu a incumbência de administrar a Fazenda São João da
Montanha. Esta área havia sido comprada por Luiz de Queiroz para criar uma
escola prática agrícola. Não conseguiu colocar em atividade a escola, queixando-se
da falta de recursos financeiros por isso. Deixou Piracicaba em um dezembro.
Foi
em dezembro de 1915 que a então Escola Prática de Agricultura Luiz de Queiróz,
a atual ESALQ, recebe pela segunda e definitiva vez a presença de Nicolau
Athanasoff, emérito professor com estudos superiores na Bélgica, Alemanha e
Suíça. Com toda sua carga de conhecimento, foi um dos precursores da zootecnia
nesta entidade de ensino. Nascido na Bulgária, naturalizou-se brasileiro e
dedicou seus 70 anos ao conhecimento científico, com hábitos humildes: residia
numa casa simples situada ao lado do estábulo de bovinos situada nas
dependências da Escola Agrícola.
Ainda
na Escola de Agricultura, Getúlio Vargas, convidado como paraninfo, não
compareceu na formatura da turma de 1938, realizada em dezembro. Enviou como
representante Adhemar de Barros, futuro governador de São Paulo, ilustre nativo
de Piracicaba.
Uma
história que precisa ser relida e recontada é aquela que envolve a atriz Lyson
Gaster, espanhola de nascimento que adotou Piracicaba como sua terra. Foi uma
das mais reconhecidas atrizes do país. Teve vida ativa nos principais teatros
brasileiros de 1919 a 1948. E foi em dezembro deste último ano que ela
aposentou-se encerrando as atividades da Companhia de Comédias Lyson Gaster.
Fez diversas apresentações no Teatro Santo Estêvão.
Após
o 15 de novembro de 1889, quando surgiu a República, Piracicaba tem novidades
no comando político. A Câmara de Vereadores é substituída em dezembro de 1891
pelo Conselho de Intendência Municipal, algo similar ao poder executivo atual,
sendo comandada por Amador de Campos Pacheco, Antonio Moraes Sampaio, Jacob Diehl,
João Batista de Silveira Mello, João Gomes Marques, João Guidi e Paulo de Moraes
Barros.
A
data máxima da cristandade foi escolhida para a criação da Santa Casa de
Piracicaba. José Pinto de Almeida, nascido em Portugal (1811), viveu em nossa
cidade até seu falecimento (1885). Inspirado em tradições portuguesas,
implantou em nossas terras a Irmandade do Santíssimo Sacramento por volta de
1850. A ordem surgiu na Idade Média e no Brasil existem registros desde 1549
relatados por Manuel da Nóbrega, líder da primeira missão jesuítica a América.
Esta iniciativa de José Pinto de Almeida serviu de base para a criação da Santa
Casa de Misericórdia de Piracicaba em 1854, completando em 25 de dezembro seus
170 anos de fundação. No início, a Santa Casa funcionava na rua José Pinto de
Almeida (Centro) entre as ruas Moraes Barros e XV de Novembro.
E
assim, aos poucos, não apenas em dezembro, mas ao longo dos doze meses de
vários anos, Piracicaba foi se delineando e deixando muita história que compete
a nós resgatar.
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