Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Houve
uma semana, no início dos anos 1990, em que os cinemas do Shopping Piracicaba –
denominados de Cine Center – apresentaram um filme por dia. Foi uma sequência
de obras esquecidas comercialmente. Estes filmes foram apresentados em várias
partes do país como propaganda para o mercado do VHS que estava em alta. Os
cinemas estavam situados na área de brinquedos, ao lado da praça da
alimentação, depois substituído por um bingo.
Um
dos cinemas do Shopping apresentou esta sequência cujo lançamento eu acompanhava
pelos jornais locais. Eis que me deparo com um dos filmes de Frank Sinatra,
rodado em preto e branco, que seria apresentado naquela semana. Se não me falha
a tarde, foi apresentado numa quarta-feira às 14 horas. Lá fui eu ao Shopping.
Era amigo do gerente, seu Silvio, pessoa boníssima, que na cidade representava
o Grupo Paris Filmes, coordenado por Márcio Fraccaroli. Como eu escrevia
críticas sobre lançamentos do cinema em um extinto jornal, tinha bilheteria
liberada. Cinéfilo desde criança, era um êxtase ver um filme preto e branco na
telona, coisa rara naquele período. Os filmes antigos estavam sendo colorizados
e exibidos na TNT ou vendidos em VHS na intenção de introduzir antigos
clássicos de boa bilheteria ao gosto do público jovem. Não deu certo.
Muito
bem. Na plateia, eu mais um casalzinho apaixonado que não botou os olhos na
tela, em momento algum. Eu delirava ao ver Sinatra em close numa telona.
Não
foi um dos melhores filmes de Sinatra. Ele sequer cantava. Mas a história de
“Sob o domínio do mal”, rodado em 1962 pelo diretor John Frankenheimer – autor
dos principais thrillers dos anos 60 e 70 –, é no mínimo curiosa. A obra foi
tirada de circulação por cerca de 30 anos. Motivo: ele, como veterano da Guerra
da Coreia, tinha a missão – inconsciente – de matar um senador. Meses depois, a
trama se tornou real com o assassinato de John Kennedy, em novembro de 1963.
Para evitar que o filme inspirasse atitudes similares ou fosse acusado de ter
sido o motivador do crime contra o presidente dos Estados Unidos, resolve-se
tirá-lo das projeções. Ostracismo. Voltou, como relatei anteriormente, como um
pseudoclássico, já sem seu sucesso inicial.
Sinatra
era um soldado norte-americano na Coreia que foi capturado e nele fizeram
tamanha lavagem cerebral ele agia como um robô programado, agindo como um doce
com amigos e animais, mas com intenção de cometer uma série de más ações.
Em
2011, o mote volta à tona, desta vez na televisão com o seriado “Homeland”, com
oito temporadas. Porém, na primeira, um oficial da CIA é capturado no Iraque e
retorna aos EUA como herói. Porém, ele teve a missão para que, numa das
homenagens que ele receberia, entraria num bunker com o presidente
norte-americano e deveria acionar um explosivo que levava ao corpo. Não detonou
– desculpem o spoiler – tanto que o seriado levou oito longos anos para ser
concluído.
Por
que todo este relato ? Por recentemente ter ocupado as manchetes o tiro de
raspão na orelha levado durante comício do candidato Trump. Os alvos sempre são
políticos e muitas vezes presidentes.
Como
curiosidade, assisti recentemente “O dia de Chacal”, 1973, de Fred Zinnemann,
tendo desta vez como alvo o general Charles de Gaulle, presidente da França nos
anos 1960. A trama é idêntica: uma pisada no pé na colonização da Argélia, motiva
um grupo a tirar o líder governamental da presidência francesa.
Na
vida real tivemos casos semelhantes como a morte do arquiduque Francisco
Fernando, sucessor do império Austro-Húngaro, eclodindo a Primeira Grande
Guerra. No Brasil, João Pessoa, governador da Paraíba, também foi alvo de
homicídio enquanto cumpria seu mandato. Trouxe alvoroço na sociedade
brasileira, estopim da Revolução de 1930. Na vizinha Argentina, Cristina
Kirchner foi salva por um estopim que falhou, um ano atrás. A mesma sorte não
teve o primeiro ministro japonês, Shinzo Abe, assassinado por uma arma caseira
– armamentos são proibidos no país – alvo de atentado durante aparição pública.
Entre
a realidade e a ficção, fiquemos com o filme de Sinatra. Menos dolorido.
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