Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Um acervo acessível. Não naquilo que se trata de acessibilidade com rampas. Mas, sim, acessível onde a pessoa estiver. É para isso que o Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba tem trabalhado nos últimos anos. Pois, com a pandemia aprendemos muito. Surgiram aplicativos e plataformas de consulta a distância sem a necessidade de presença para pesquisar no material físico. Empresas aprenderam com o home office ou o modelo híbrido. Dias atrás foi destaque a demissão de 1 mil funcionários que estavam nestas condições num banco de renome no país.
Recentemente,
folheando um jornal de 50 anos atrás notei que deveria tomar total cuidado pois
ao virar de forma rápida o mesmo tenderia a rasgar. Não era este meu propósito.
Se estou folheando um veículo da imprensa local lançado meio século atrás, quem
seria eu nesta ordem? Não queria ser a ferramenta que impediria de tê-lo
conservado por mais e mais anos.
Isso
nos ensina muito. Institutos locais e centros de documentação estão cada vez
mais restritivos com relação às consultas pessoais. Por conta destas condições
e também por ações consideradas como vandalismos, as quais posso enunciar
algumas aqui: o surrupiar de um bem; o recorte de parte da página; ou rasgar a
página toda de um livro, um caderno etc.
Há
receio de abrir documentos originais por vários motivos. Um foi enunciado
acima. Outro é sua conservação. Três pastas encontradas recentemente em nosso
acervo destaca a vida de Antonio Pádua Dutra, tudo muito bem conservado, com
seus telegramas enquanto em terras europeias, assim como suas correspondências
manuscritas um século atrás. Separadas em papel manteiga, estavam fotos da
época. Tudo daria um livro. Se não for inventariado, não pode ser aberto à
população.
Pois,
bem. Há mais de dez anos nas gestões de Pedro Caldari e Vitor Pires Vencovsky,
o IHGP tem se lançado ao mundo digital como forma de facilitar a propagação da
história de Piracicaba. Para isso tem na plataforma Flickr mais de 13 mil
registros fotográficos. O acervo de fotos do Jornal de Piracicaba dos anos 1980
a 2000 aos poucos está sendo disponibilizado. Importante salientar é que todo o
acervo pode ser visto e baixado gratuitamente, em resoluções que vão da versão
web até para a confecção de imensos painéis, como pode ser visto em redes
supermercadistas locais.
Há
o que ser feito. Há muito a ser feito, diga-se. O IHGP tem vídeos e palestras
em plataformas de streaming. Está lançando agora em setembro seu podcast no
Spotify. Em breve terá uma sequência entrevistas no seu videocast. Tudo para
registrar a atualidade para o futuro e resgatar o passado com gente que possui
muito conhecimento.
A
história de Piracicaba remonta 258 anos de vida. Até mais, se formos levar em
conta as expedições que por aqui se aportaram, mas não fincaram raízes, ou as
monções discutidas mas nunca efetivadas pelos povoadores. Não temos toda esta
história. Algumas delas só é possível em consulta presencial em Portugal, para
onde eram enviadas cartas e deliberações em geral para escrutínio da coroa
real.
Assim,
criamos vários públicos que se interessam por um passado longínquo e curioso.
Outro que viveram meados do século passado e lembram muito mais do que nós,
porque conviveram com outras pessoas naquele período. E a geração que vive a
expansão de Piracicaba com, por exemplo, as boates, os parques industriais, os
shoppings centers e aquela memória mais afetiva que ainda povoa nossa
lembrança, sejam elas dos anos 70, 80 ou 90... Ao estarmos no primeiro um
quarto do atual século, cabe lembrar que os anos 2000 já têm uma carga
histórica de passado. Uma carga preciosa a ser preservada e divulgada.
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