Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Na última quarta-feira (8 de outubro de 2025), a história de Piracicaba foi reescrita. Mais uma vez reescrita. E desta vez sua história foi resgatada à oito mãos, sendo dedilhada por Barjas Negri, Miromar Rosa, Kátia Mesquita e Fábio Bragança. Com a publicação do livro “1001 Ruas”, produção independente dos autores, resgata-se não apenas uma lista de endereços e sim personalidades homenageadas em logradouros como ruas, avenidas, vielas, travessas, viadutos e afins.
Para
quem não tem destino, qualquer caminho serve, já dizia um velho ditado. Porém,
as ruas são referência para nossa rotina diária. Imagine como eram as
referências no passado: pegue a rua direita (que partia do rio Piracicaba),
siga até o bairro alto (no alto da colina esquerda do rio) e próximo você
encontra o bairro dos alemães (em homenagem à colônia germânica aqui
estabelecida). São pequenos exemplos que nos norteiam na direção a ser tomada.
Passear
pelas ruas é um conhecimento curioso e gostoso. Afinal, vamos à Governador
visitar as lojas sem muitas vezes estudar quem foi Pedro de Toledo, interventor
federal em São Paulo no início dos anos 1930, deportado para Portugal por ter
colaborado com os paulistas na Revolução Constitucionalista. Aliás, existem
poucas referências – apenas em anúncios em jornais – sobre a rua João Pessoa,
anteriormente denominada de rua do Commércio e posteriormente Pedro de Toledo.
A mudança de nome de qualquer logradouro hoje demanda não apenas da mudança das
placas em cada esquina e sim na mudança cartorial e suas avenças financeiras.
Temos
bairros com ruas que homenageiam a Segunda Guerra Mundial (Monte Castelo e
Pistóia, no bairro Verde), assim como cantores (Francisco Alves e Ataulfo
Alves, também no bairro Verde), países, aves, flores e outros. Mas “1001 Ruas”
busca homenagear as pessoas que fizeram e construíram Piracicaba, num
abecedário com diversas verbetes. Não são biografias extensas, mas referência
necessária para saber quem é o nome estampado nas esquinas quando se coloca o
pé na calçada ou no asfalto.
Também
é uma forma de viajarmos no tempo com nossa memória que às vezes fica
empoeirada. Talvez poucos se lembrem dos carros batidos, amassados e recolhidos
pela Ciretran em sua sede ao lado da praça da Boyes, na rua Luiz de Queiroz
onde hoje serve-se uma das melhores gastronomias locais. Ou de um tempo de
antanho quando a rua do Porto era aquela conhecida hoje por rua Moraes Barros,
já que ela é quem dava destino ao porto no rio Piracicaba. A própria rua do
Porto, ao lado da avenida Alidor Pecorari era uma zona residencial até os anos
1980. Nos dias atuais é um centro comercial movido pela gastronomia servida à
mesa.
Andar
pelas ruas de qualquer cidade é possível ver belezas (como as grafites no Largo
dos Pescadores) e as “feiuras” como lixo ou a má conservação das calçadas, entre
outros.
O
livro evoca memórias e esclarece algumas pessoas que não fazem ligação que
alferes era a atual patente de tenente no Exército Português. E que José
Caetano (Rosa) foi vereador, dono de usina e escravocrata. Além disso, foi um
dos principais arruadores da cidade, numa era em que tudo era feito nos “zóio”,
sem GPS nem nada.
Aliás,
já que abordamos localizadores, alguns deverão se lembrar de como era difícil
viajar para São Paulo, Campinas e Santos sem o Mapa Rodoviário 4 Rodas,
publicado pela revista da Editora Abril. Dirigir sem ela era difícil. Mas
dirigir com ela era pior já que o mesmo ocupava quase todo o painel dos
veículos.
Neste
interim surgiu o GPS. Tínhamos de pagar para suas atualizações. Não era como
hoje no celular. Semáforos, radares, ruas sofriam alterações... dá-lhe
atualização! E pagava-se por ela. Hoje, você viaja com o celular que lhe dá
conselhos sobre policiamento a frente, ou veículo parado mais adiante ou objeto
no meio da estrada. Ficou mais fácil. Ou, seja: o Waze é meu pastor e ele me
guiará...