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quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

De volta ao passado

 Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

Dias atrás, num bate-papo com os comunicadores Rosiley Lourenço e Antonio Carlos Bonassi, na Educativa F.M., conversamos sobre artigos publicados nesta página. Bonassi elogiou alguns artigos recentes, em especial aquele no qual viajamos para a Piracicaba de 200 anos atrás.

Hoje, vamos para quase um século e meio atrás, mais precisamente o ano de 1883, período em que a cidade teve certa efervescência histórica. Atas da Câmara Municipal deixaram um legado rico de atividades no município, como a construção da nova cadeia pela empresa Fischer & Bossashard a qual, inicialmente, pedia para retirar pedras do largo do Gavião a fim de edificar tal prédio. Em 17 de janeiro, funda-se a Scuola Italiana Umberto I, com direção de Guglielmo Togneri.

No dia 18 de fevereiro, um edital conclamava serviços de obras públicas, dando a chance de empresas participarem da concorrência na realização de uma planta topográfica de Piracicaba e arredores. O objetivo era construir uma rede de esgoto que no futuro atendesse às necessidades sanitárias da cidade. O serviço teria sido executado por Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, engenheiro.

Logo no início de março, a Câmara recebe autorização para que fossem compradas pedras em Itu para arruamento e criação das sarjetas. Segundo o documento, com “as lages, o serviço marcha com mais rapidez e torna-se mais elegante” as ruas. Leandro Guerrini lembra que na época as guias eram feitas de tijolos em pé, num serviço lento.

Foi em 11 de abril de 1883 que surge aquele que pode ser considerado o primeiro jornal diário da cidade. “Jornal do Povo” era dirigido pelo barão de Rezende e defendia os ideais monarquistas num período em que este tipo de regime já apresentava ares anacrônicos.

Ainda em abril, a Fábrica Santa Francisca, que décadas mais tarde se tornaria a Boyes, é incorporada à Companhia de Cultura de Tecidos de Algodão S/A, cuja sede situava-se no Rio de Janeiro. O empreendimento estava em voga há duas décadas sob a batuta de Luiz de Queiroz. Foi incorporada “com todos os seus maquinismos, tinturaria, maquinário e caldeiraria”.

Já que falamos de Queiróz, em 20 de abril daquele ano, o jornal “O Commercio de São Paulo” publica editorial dizendo que Piracicaba não merecia ter uma escola agrícola (o embrião da ESALQ/USP, na atualidade). A opinião do veículo de comunicação condena a cidade por ser um produtor de baixo índice, sendo preferida a capital paulista para tal instalação ou Ribeirão Preto, cujo poderio agrícola já era notório. Três dias depois, com os cotovelos doendo, piracicabanos reagem à tal editorial. Na “Gazeta de Piracicaba”, as autoridades competentes mostravam que a cidade merecia ter sua escola agrícola, como bem mostrou a história. Em seguida, no dia 10 de agosto, a “Gazeta” noticiava a doação por Queiroz ao estado provincial da Fazenda São João da Montanha, área hoje ocupada pela ESALQ. Manifestação do jornal diz que o estado recebeu tal doação com total desdém.

O dia 4 de junho foi de festividade na cidade, pois a Estrada de Ferro Ituana inaugura o ramal de trem para São Pedro. Às 15h30 partiu o trem inaugural. O ramal ligava Charqueada a São Pedro e saía de nosso município.

Se hoje temos um celular na mão, que além de tudo funciona também como telefone, em 22 de junho, a Empresa Telefônica local estava preocupada com a instalação de linhas telefônicas. A mesma possuía mesa com 50 aparelhos para ligações, muitos dos quais estavam vagos, sem assinantes. Haja marketing !

Aquilo que conhecemos hoje por Escola Industrial rugiu em 25 de junho de 1883, data em que foi inaugurado o prédio da Sociedade Beneficente Instrutora, sob discurso de Prudente de Morais. O local, que passou por diversas modificações, abrigou a Escola Complementar do município. Em 25 de agosto, o prédio passa a acolhe o Colégio Rosa.

Em 2 de agosto a cidade passa a ter vida noturna. Na época, a partir do entardecer, a iluminação era feita com velas ou lampiões com querosene. Nesta data, depois de oito meses de espera pela liberação de material retido no porto de Santos, proveniente de Nova Iorque. Luiz de Queiroz ilumina parte do jardim público (praça José Bonifácio) e ruas adjacentes como a Prudente, São José, Alferes e Governador. A população sai de casa e volta para ver o pioneirismo. Claro que, com escuridão no meio do caminho ... Em setembro, passa-se a ser oferecido o fornecimento de energia às residências.

(Publicado no Jornal de Piracicaba de 14 de janeiro de 2024 e na Tribuna Piracicabana de 20 de janeiro de 2024)

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