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quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Gastronomia se põe à mesa

 Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

Extensa é a história da gastronomia de Piracicaba. Isso ajuda a cometer falhas ou trazer lapsos na memória quando se quer garimpar o assunto. Mas, a intenção neste texto, é trazer do passado, pessoas, locais e fatos que marcaram o setor de bares e restaurantes, não tendo por objetivo ser um dicionário com todos os verbetes de referência.

Pode ser que a intenção seja movimentar a “massa cinzenta” de um passado muito recente no qual os cinquentões de hoje se lembrarão da vida gastronômica, por exemplo, dos anos 1980, década que trouxe novidades a Piracicaba como o primeiro restaurante self service por quilo, o Ponto 71 que funcionou nas esquinas das ruas do Rosário com a Moraes Barros. Ou o Cachorrão, no Shopping Center Piracicaba, na lembrança de ser a primeira lanchonete self service especializada em hot dogs. Tivemos também o “McDonald’s” piracicabano: o Daytona, na confluência da Moraes Barros com a praça José Bonifácio, ousado na época por ter o americanizado hamburger como atração principal, além da réplica de um carro de fórmula 1 pendurado na parede. Podemos lembrar também do Restaurante Bijeto (anos 1970) ou o Jardin’s que em muitas noites congestionou o trânsito na esquina da rua Benjamin Constant com a Moraes Barros.

Alimentar-se é uma necessidade de primeiro grau. Comer com sofisticação é desejo. Assim, a intenção de sempre bem atender o glutão é histórica. Afinal são 256 anos servindo à mesa o piracicabano.

São efemérides históricas e nostálgicas. Em 17 de fevereiro de 1883, é inaugurado o Hotel do Marques, de José Gomes Marques. Em seguida, no dia primeiro de agosto do mesmo ano ele inaugura o Hotel Marques. Nas horas vagas, atuava como guarda-livros da Fábrica de Tecidos Santa Francisca.

Casos como o de João Lucci, proprietário, na virada do século retrasado, de um restaurante situado à rua da Glória n° 6. A mesma rua abrigou restaurante de Luiz Maranho. Giovanni (João) e José Folvenço, ambos da família Moretti, também serviram à mesa com o Hotel e Restaurante Moretti (rua do Glória n° 6, o primeiro a sair da Estação da Ythuana/Sorocabana). A Glória é a atual rua Benjamin Constant.

Muitos destes anunciaram nos tradicionais almanaques da cidade, como o de Camargo (1900) e Capri (1914). Pedro Monteran também teve seus serviços de gastronomia colocados a disposição na atual praça Tibiriçá, ao lado de onde está hoje o Colégio Moraes Barros, na época, sede do legislativo municipal. Paulino José de Miranda era dono de um bilhar e restaurante no final do século 19 situado à rua São José n° 39. Salvador Oranges servia em seu restaurante na rua Boa Morte e comercializava itens em seu armazém situado no mesmo endereço.

Camargo no Almanak mapeou os estabelecimentos gastronômicos da cidade, chegando a ter 27 deles nos anos de 1899 e 1900. Indicou inclusive onde alguns situavam: cinco na rua Benjamin, quatro na Vila Rezende, três na XV de novembro, e três na praça José Bonifácio.  

Cuscuz, peixe no tambor, churrascarias ... Muitas áreas formaram o imaginário coletivo nas décadas passadas quando se fala sobre o bem servir. Orientais também contribuíram para a vida alimentar na cidade. Não apenas em pastelarias. Cabe registrar a importância dos irmãos Miazaki que mantiveram o Líder Bar na Governador com a São José. Eram oriundos do Japão e vieram para cá nas levas de imigração do início do século passado. Kazuo, conhecido por Mário Japonês, deixou vários relatos da xenofobia local principalmente em períodos como a Segunda Guerra Mundial.

Além da boa comida, restaurantes também exportaram estrelas. Foi o caso de Francisco (Ferreira) Milani (1936/2005) conhecido por suas participações na Rede Globo em especial os humorísticos “Casseta e Planeta” e “Escolinha do Professor Raimundo”.  Sua família tinha um bar e restaurante no andar térreo do Clube Coronel Barbosa. Foi sonoplasta da Rádio Difusora e fez sucesso no rádio carioca. Fama também se põe à mesa.


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