Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
No
mês dos trabalhadores, nada mais justo que lembrar alguns empreendedores que
geraram oportunidades de trabalho na cidade. Destaque na primeira metade do
século passado, Antônio Borja Medina utilizou-se da mão de obra local para
construir o Teatro São José (inaugurado em 1927). Também foi ele o idealizador
do Clube Piracicabano, hoje ocupado pelo Clube Coronel Barbosa. Nos anos 1930
edificou o Cine Broadway que a geração anos 1980 conheceu por Cine Tiffany.
Todas estas obras estavam situadas na rua São José, ao entorno da praça José
Bonifácio.
Era
um trabalhador público ou servidor municipal quem lia as resoluções da Câmara
Municipal. Isso no período em que a povoação se formava. Como a alfabetização
não era acessível a grande parte da população, as deliberações políticas eram
lidas na praça central da cidade, normalmente pelo porteiro ou outro
funcionário qualquer. Ao final das sessões da Câmara, este nobre representante
da servilidade pública anunciava as decisões da edilidade. Claro que havia
público, que esperava pelas boas novas, algumas nem tão boas assim, e aplaudiam
as decisões. Existiam aqueles que pigarreavam ou soltavam longos muxoxos em
desaprovação.
Leandro
Guerrini relembra numa de suas obras as estradas que serviam Piracicaba. No
final do século retrasado, o que existia era a pá na mão e veículos de tração
animal. Estradas eram de terra sovada. As estradas, atalhos, rócio ou picadões
eram de responsabilidade dos donos das terras, fazendeiros e sitiantes. A mão
de obra era por conta própria, colocando estes caminhos a disposição de
qualquer pessoa. Eis que em 30 de maio de 1892 foi apresentado pela intendência
municipal a proposta que reparo e preservação das estradas ficavam a cargo do
município. Ufa, exaltou um sitiante !
Empreendedores
também surgiram do nada e aqui fizeram fama e fortuna. Alemães, italianos ...
todos atraídos pela propaganda em decorrência do fim da escravidão. Vieram
tentar vida nova. Dentre eles está Giuseppe D’Abronzo que deixou a Itália com
62 anos em 1896. Instalou-se com a família em Mombuca trabalhando no cultivo e
colheita de café e algodão. Seu filho, Paschoal, vem a Piracicaba em 1910 e começa
a fazer bebidas e vinagre na Vila Rezende, na travessa Maria Maniero, perto do
Engenho Central. A história prosperou e a família foi produtora de um dos
aperitivos mais conhecidos do Brasil: a Caninha Tatuzinho, fabricado pelos
D’Abronzo de 1953 a 1969. A empresa, sediada na avenida Rui Barbosa, tinha
estoque de 10 milhões de litros de caninha empregando 300 trabalhadores de
forma direta e frota de 60 caminhões que viajavam pelo país.
Outra
empresa com o mesmo porte de funcionários era a Fábrica de Tecidos Arethusina,
instalada à beira do rio Piracicaba, onde hoje está a avenida Beira Rio. O
espaço anteriormente foi a Fábrica de tecidos Santa Francisca de Luiz de
Queiróz. A Arethusina foi uma das mais bem conceituadas contratante da mão de
obra local e situou-se como uma das maiores indústrias paulistas. Era de
propriedade de Rodolpho Nogueira da Rocha Miranda, depois deputado estadual e
federal além de ministro da agricultura.
Aos
14 anos de idade, em 1890, Pedro Morganti deixou Massarosa, Itália, rumo a São
Paulo. Voltou a Itália com seu irmão para fazer o serviço militar. Quando na
juventude, dormia em sobre o balcão de venda de café numa torrefação na capital
paulista. Em 1910 adquiriu o Engenho Monte Alegre, em Piracicaba. Empregou
centenas de pessoas e formou um conglomerado comercial que envolvia o Monte
Alegre, Santa Rita, Santa Rosa e Taquaral, além de outras cidades. São exemplos
de trabalhadores que fizeram desta cidade ser o que é na atualidade.
(Publicado no Jornal de Piracicaba de 08 de maio de 2024)
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