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sábado, 4 de maio de 2024

Ao trabalhador, com carinho

 Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

Semanas atrás, durante inauguração do Espaço Digital do Memorial do Empreendedorismo, na sede da ACIPI, a historiadora Marly Germano Perecin deu um show de palestra. De lá, saí com o conhecimento de que o primeiro empreendedor de nossa terra, lá em meados do século 1700, foi o construtor de botes criados para ser utilizado no rio Piracicaba. Quem seria tal habilidoso marceneiro? Seja quem for, acabou legado ao esquecimento.

Mas, nestes 257 anos de história, nossa cidade teve alguns trabalhadores conhecidos e muitos ilustres desconhecidos que fizeram do ofício profissional uma forma de ajudar Piracicaba chegar onde está.

A utilização do trabalhador envolve diversas fases, desde a mão de obra escravagista a imigração voluntária. Piracicaba foi a terceira cidade do estado de São Paulo a empregar a mão de obra de escravos africanos. Séculos depois, campanhas governamentais trouxeram a cidade uma onda migratória na qual aportaram italianos, alemães, japoneses, dos países do Oriente Médio e de diversas outras origens.

Entre reflexões para o dia de hoje, Piracicaba teve usinas referência como a Refinadora Paulista ou Monte Alegre e o Engenho Central. Teve centros produtores como o instalado por Luiz de Queiróz no espaço conhecido por Boyes, mas que, em 1874, chamava-se Tecidos Santa Francisca. Empregava 300 pessoas.

Nada melhor que lembrar a Rua do Commércio, onde eram praticadas vendas de bens do comércio em geral. A rua teve alterado seu nome por um curto período de tempo entre 1931 e 1932 para rua João Pessoa, consagrando-se, após a Revolução de 1932, como rua Governador Pedro de Toledo. Foi nestas proximidades que em 5 de julho de 1888 inaugura-se o Mercado Municipal da cidade. A abertura ocorre às 6h30 da manhã. Coube a três funcionários da municipalidade (Câmara de Vereadores) abrirem o portão do local. Comprador mesmo, nenhum. O poder público, representado pelos vereadores, comparece ao local às 14 horas. Estes dão uma rápida olhadela e saem sem abrir o bico. Nem comprar nada.

Não há como negar que muitos trabalhadores alcançaram seu cantinho no mercado graças ao pioneirismo empreendedorismo de gente como Mário Dedini, em cujas empresas contratou 3.200 funcionários e ofertou mais de 9 mil empregos indiretos. Tornou Piracicaba como referência em tecnologia sucroalcoleira suprimindo cerca de 60% do mercado nacional com seus produtos e mão de obra.

Hoje Piracicaba é referência entre os trabalhadores que buscam boa colocação no mercado, ofertando vagas em diversas áreas profissionais. A cidade conta com três distritos industriais organizados pelo poder municipal: Unileste, Uninoroeste e Uninorte, além do Parque Automotivo. Existe projeto para implantação do quarto distrito, a Unisul, em áreas próximas ao Ceagesp. Além disso, a iniciativa privada também batizou outros distritos industriais particulares como o Alphanorth, no Guamium, e o Uninorte II, no Água Santa, nos quais estão instaladas empresas de renome. Cabe também destacar o Parque Tecnológico, local em que estão laboratórios de big techs, HUBs e startups.

O desenvolvimento industrial toma corpo nos anos 1970 com a projeção do Distrito Industrial Leste próximo à antiga rodovia para São Paulo (a atual estrada para Tupi). O local chama atenção de empresas como a norte-americana Caterpillar e a holandesa Philips. Hoje a cidade é sede de matrizes ou filiais de empresas coreanas, suíças, alemãs, austríacas ... Cabe lembrar que no longínquo início dos anos 1980, a cidade foi cenário de uma revolução tecnológica: o CD. O primeiro compact disc musical foi lançado pela Philips, que por cerca de 10 anos ocupou o prédio atualmente utilizado pela Phinia. Deste local saiu um projeto que revolucionou a música, lida por feixes luminosos e tinha perspectiva de substituir o LP. O CD tinha pérolas da MPB gravadas na década anterior nas vozes de Gal Costa, Gilberto Gil, Ivan Lins e outros.

E assim caminhamos com grande dívida ao trabalhador, com afeto e carinho.


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