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sábado, 25 de maio de 2013

Enamorei-me pelo cinema



* Edson Rontani Júnior, jornalista e cinéfilo

  “Este deve ser o início de uma grande amizade”. Com esta frase, encerra-se o filme “Casablanca”, de 1942, considerado por muitos como um dos cinco melhores de todos os tempos. Foi dita por Claude Rains, militar nada adepto à expansão nazista no norte a África, dirigida a Humphrey Bogart, um bon-vivant dono de um cabaré em plena Segunda Guerra Mundial. Para mim, a frase resume meu romance e a longa amizade com a Sétima Arte, que fazem parte de minha vida desde a infância.
   Confesso que já assisti aos principais filmes lançados pelo cinema norte-americano desde o início do século passado. Os ruins, também assisti. E, muitas vezes, me confundo com a ficção e a realidade. Aliás, este é o papel do cinema. Serve de válvula de escape do cotidiano, este, tão massacrado com violência, escândalos e falta de esperança.
   Por muitas e muitas horas estive sentado diante de uma telona do cinema ou perante a TV buscando explicações para a realidade ou me escondendo dela. Assim, confesso que o cinema me fez enamorar pela vida, pelo sentido culto de nossa existência terrena. Os beijos românticos dados em musas como Rita Hayworth, Marilyn Monroe, Doris Day e tantas outras me fizeram apaixonar pelo cinema. Os finais felizes me trouxeram esperança.
   Também li obras através de adaptações de livros cujos nunca cheguei a tocar, como “Ben Hur”, “...E O vento Levou” e “O Morro dos Ventos Uivantes”. Foi o único acesso que tive com mestres da literatura e premiados com o Pulitzer ou com o Nobel. Dentre eles, destaco Rudyard Kipling, Nathaniel Howthorne, Ernest Hemingway, Philip K. Dick e George Orwell.
   O cinema é uma forma de conhecer amores, romances e dramas para quem tem preguiça - como eu - de ficar dias folheando um livro. Mas, o cinema abre essas portas até porque, antes da internet, era difícil o acesso a eles. Hoje e-readers e tablets nos contemplam com filmes nunca exibidos no cinema, TV ou formatos domésticos como o DVD, ou com livros nunca lançados no Brasil.
  Grandes clássicos da Sétima Arte, expoentes do cinema expressionista alemão, a nouvelle vague francesa e até mesmo os films noir, criaram, não apenas em mim, aquilo que estudiosos classificam como “imaginário popular”, memórias de moral, de edificação e de temor. Ou você vai me dizer que Frankenstein e Drácula (de Mary Shelley e Bram Stocker, respectivamente) se tornaram conhecidos pelo livro e não pelo cinema ?
  Aí surgiu o computador... É outra história! O bom diálogo, o roteiro bem pontuado, as tiradas de expressão deram lugar à forma digital, presente hoje em maioria dos filmes. Vi dias destes as trilogias “Robocop”, “X-Men” e “Transformers”. Bons filmes. Mas, qual a moral ? Se é que ela existe ... Destruição, confrontos, brigas pelo interesse individual e muito efeito. É assim que o cinema vem educando as gerações atuais. Afinal, isso é que dá bilheteria. A ganância pelo ganho monetário estragou não um namoro, mas uma paixão que, também segundo os especialistas, pode acabar a qualquer momento. Amizade ... que seja a continuidade do início conforme o diálogo de “Casablanca”.

Matéria publicada na Tribuna Piracicabana no dia 23/05/2013

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