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domingo, 18 de novembro de 2018

De dentista a herói mundial

* Edson Rontani Júnior, jornalista e membro do IHGP e Academia Piracicabana de Letras


Por força profissional, nos últimos 24 anos, sempre que viajava para Tietê meu destino era a Rua Tenente Gelas. Curiosamente fui estudar quem era o referido representante da força armada. Foi um herói na Primeira Guerra Mundial cujo centenário de seu armistício foi comemorado no dia 11 de novembro.
Gustavo Gelas, ruivo e porte físico avantajado, nasceu na cidade de Tietê em 24 de abril de 1890, sendo seu pai francês de nascimento, Pedro Francisco Gelas, administrador da Fazenda da Baroneza, da família Sousa Queiróz, e professor de agricultura no Instituto Disciplinar de São Paulo (uma das primeiras unidades da Febem no estado e hoje Parque Estadual de Belém).
A história do Tenente Gelas começa bem antes dele entrar para o exército. Teve infância em fazendas administradas pela família, além de formação e educação oriundas do estilo europeu. Formou-se pela Escola de Farmácia de São Paulo de 1909 e 1911. Com familiares na França, concluiu a aperfeiçoamento em odontologia pela Escola de Farmácia e Odontologia de Paris. Com o ímpeto de um bom gaulês, se alistou como voluntário no exército francês durante a Primeira Guerra Mundial, muito antes do presidente Wenceslau Brás declarar guerra contra a Tríplice Aliança. Ocupou um posto de soldado de 2ª. categoria na Legião Estrangeira. O Exército Francês não o aceitou por não ser natural da França.
Sua vida neste primeiro conflito mundial é relatada com ênfase pela imprensa francesa. Recebeu a honra “Medalha de Guerra” em 24 de outubro de 1916.
Recebeu méritos como granadeiro de escol por tomar várias trincheiras. Passou pelo posto de Cabo quando, em setembro de 1917, sozinho, toma trincheira dominando seis soldados tedescos.
Sua história é permeada de romantismo, como a literatura e o cinema fizeram com “Beau Geste” em que três irmãos vão para a Legião Estrangeira por uma desilusão amorosa. Gelas foi ferido por estilhaços de tanque de guerra e recusou abandonar o campo de batalha. Quer mas romantismo que isso ?
Em outubro de 1918 chega ao posto de Segundo Tenente. Um mês antes, em 2 de setembro, recebe a Cruz da Legião de Honra, pelo comando de seu pelotão destruindo diversos ninhos de metralhadoras dos alemães. 
Participou das mais sangrentas batalhas nas divisas da França. Foi exposto como herói pela imprensa francesa em especial pelo jorna L’Illustration, título que ele renegava. Chegou a publicar na imprensa brasileira carta de repúdio a esta condição.
Não exerceu com afinco a odontologia. Terminada a Primeira Guerra, partiu para o Marrocos, ainda na Legião Estrangeira. Em 22 de abril de 1922 foi ferido na Batalha de Bab Heceine, afetando o perônio e a tíbia. Uma gangrena motivou a amputação de sua perna esquerda. Faleceu na manhã de 15 de maio de 1922, totalmente lúcido e fumando no hospital. Tinha então 32 anos de idade.







Diploma de promoção de Gelas na Divisão do Marrocos, original existente no Centro Cultural de Tietê (São Paulo)


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