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domingo, 14 de junho de 2020

Ponte Irmãos Rebouças


Edson Rontani Júnior, jornalista

O rio Piracicaba sempre foi um “divisor de águas” para a cidade. De um lado o Centro e do outro a Vila Rezende. Foi a partir dele que outros bairros surgiram e a cidade teve sua expansão urbana. Porém, a união entre ambos os lados sempre foi um desafio ao piracicabano. Isso deixou de ser preocupação há 145 anos, quando foi concluída a ponte em frente ao Mirante com o objetivo comercial de ligar uma linha férrea de Piracicaba a Limeira.
A “Ponte do Mirante” foi concluída em 15 de maio de 1875, sendo a primeira ponte de concreto armado do país. Antes o tráfego era feito numa ponte situada nas proximidades, porém, construída em madeira, necessitando de reparos constantes devido à vazão do rio.
A obra foi concebida pelos Irmãos Rebouças, por isso, a denominação oficial de “Ponte Irmãos Rebouças”, segundo lei 3.399 de 27 de fevereiro de 1992, assinada pelo prefeito José Machado. Antonio Pereira Rebouças Filho (1839-1874) e André Pinto Rebouças (1838-1898) eram negros, numa época em que vigorava a escravidão no Brasil.
São considerados desbravadores pois venceram o preconceito que a sociedade tinha em relação aos negros, aos escravos e aos seus descendentes. Naturais da Bahia, eram filhos de negros livres. Para se ter noção, o censo de então distinguia a população local composta de 8 mil habitantes e 5.400 escravos.
Os irmãos formaram-se em engenharia pela Escola Central Militar do Rio de Janeiro. Foram a Londres e Paris onde aprofundaram estudos sobre ferrovias e portos. André deixou importantes obras pelo Brasil, em especial no abastecimento e docas do porto do Rio de Janeiro.


Os irmãos Rebouças foram contratados pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sendo Antonio seu diretor técnico. A obra é concluída em 1875 mas sua utilização para o transporte férreo ocorre apenas dois anos depois uma vez que a Paulista desiste de explorar a linha. Foi o tempo que ajudou a unir a Companhia Ytuana de Estradas de Ferro e a Companhia União Sorocabana, esta, aliás, já explorava a estação de trem no Centro de Piracicaba, onde situa-se na atualidade o Terminal Central de Integração.
A obra inicialmente contou com a supervisão de Walter John Hammond contratado pela Paulista, o qual solicitou à uma empresa britânica a tecnologia para sua construção, através de projeto criado por Antonio Rebouças em 1874. Foi Antonio quem definiu tipos de trilho, locomotivas, vagões e carros de passageiro que poderiam passar pela ponte. A Ponte Irmãos Rebouças é considerada uma obra de arte pela engenharia. Rebouças desenhou sozinho o projeto da ponte, encaminhando-o a Londres para confecção do material a ser utilizado para sua construção.  



O material era todo importado: rodantes, locomotivas, trilhos, máquinas e acessórios para oficinas de reparo e manutenção. Antonio Rebouças não viu a finalização das obras. Faleceu aos 34 anos por complicações da malária.
Depois delas, vieram outras pontes: Caio Tabajara Esteves de Lima (ao lado da Ponte Rebouças), Walter Radamés Accorsi e José Antonio de Souza - Zé do Prato (ao lado do Shopping Center), Ponte ou Passarela Pênsil José Dias Nunes - Tião Carreiro, Ponte ou Passarela Estaiada Aninoel Dias Pacheco, Ponte José Luiz Guidotti e Pedro Francisco Prudente (conhecidas como Ponte do Morato), Ponte Romeu Pinazzi (Ponte do Caixão), Ponte de Santa Terezinha, pontes sobre o Ribeirão Piracicamirim, pontes sobre o Córrego do Itapeva (que hoje não existem mais), Ponte de Ferro Joaquim Nunes (Artemis) e tantas outras que encurtaram as distâncias na cidade.
Fotos não muito recentes mostram trens circulando pela Ponte Rebouças, no sentido Armando Salles-Juscelino Kubitscheck. O trem, antes, passava pela Curva do S, próximo ao Estádio Roberto Gomes Pedrosa, e, quando havia partidas de futebol, o maquinista tocava o apito e, diz a lenda, o XV de Novembro sempre marcava um gol após esta atitude. Bendito seja esse maquinista !



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