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quarta-feira, 7 de abril de 2021

Ano um

Edson Rontani Júnior, jornalista

 A Estação da Paulista estava triste. Era 20 de março de 2020. Acontecia o primeiro final de semana festivo em louvor a São José, organizado pela paróquia da Paulista. Como era tradição, seria uma festividade cultuada em dois finais de semana. Ocorreu em apenas um final de semana e quase à míngua.

O medo que estava por vir, deixou todos atônitos. Sentíamos este medo à distância, desde dezembro na China e na Europa. Estava avançando para o Brasil. Pouco depois chegaria a Piracicaba. A covid já estava em terra verde e amarela, obrigando-nos ao confinamento na quarentena que completou um ano esta semana.

“Não vou mais à escola, nem ao shopping?”, perguntou o adolescente. Afirmação negativa. Tudo fechado! Restaurantes, comércio ... tudo parou.

Na TV assistíamos ao Papa em orações numa cena nunca antes imaginada, dando indulgência plenária para toda a população mundial. Sozinho caminhava com chuva pelas ruas de Roma. Em paralelo, tanques de guerra eram utilizados para carregar caixões e mais caixões de mortos na Itália pelo sars cov 2.

Mais tempo em casa. Um dia ... dois dias ... Semana após semana ... Incertezas com relação ao dia de amanhã. Medo de ser contaminado e contaminar. Ser o vetor de transmissão. Ser considerado como um “boi” quando tentava-se entender o que era a tal “imunização do rebanho”.

A única solução era trancar-se em casa em pleno outono rigoroso, período em que as doenças respiratórias se propagam com maior facilidade.

Exercícios no lar, pois parques e academias estavam fechadas. As ruas eram locais de insegurança, não relacionada à criminalidade, e sim à atenção sanitária.

“Já viu isso antes, pai?”, perguntou o adolescente. A resposta, mais uma vez, foi negativa, mas uma busca na internet demonstrou que a gripe espanhola também atingiu Piracicaba em 1918, acometendo centenas e tirando a vida de cerca de 60 pessoas.

Tudo passa e isso passará rápido, era o pensamento. A máscara facial tipo cirúrgica, vendida a 9,90, em caixa com 100 unidades, logo após o Carnaval do ano passado, chegou na faixa dos 100 reais ... 150 reais ... “É um exagero !”, alguém deve ter pensado, Isso remeteu às máscaras compradas em 2009 durante a proliferação da gripe suína, as quais acabaram sendo utilizadas de proteção quando aquele precavido foi pintar a casa e protegeu-se ao lixar a massa corrida passada na parede.

De tanto ficar em casa, a cachorrinha de estimação habituou-se a ser a primeira a ir a porta quando o motociclista tocava a buzina, trazendo a refeição pedida por aplicativo. Festas de 50 anos, festas de casamento ... canceladas! Foi um efeito dominó.

É passageiro, pensou de novo aquela pessoa incauta que em junho esperava participar das festas juninas da igreja do bairro. Não houve festa junina. Nem passear no Engenho Central foi possível, pois cancelaram a Paixão de Cristo e a Festa das Nações. Já estava tomando corpo uma mudança social que parecia não acabar. E não acabou.

E o convívio social? Já era difícil prestar atenção durante as aulas na faculdade, lembrou uma pessoa. Assistir aula no quarto, ao lado da cama, ou lado do vídeo game ... Concorrência injusta. Segundo ano longe dos amigos, da paquera da escola. Lembrou a muitos a convivência social noturna de quem estudou na Unimep Centro e toda sexta-feira ia matar a sede com os amigos no Popeye ou na Prosit. Recordação rica que não volta e que alguns deixarão de ter.

Neste um ano de pandemia aprendemos muito. Desconhecemos muito também. O vírus se fortaleceu. Os hospitais de campanha, quando desinstalados, nos deram noção de que tudo estava acabando. Pensamos estar imunes durante o verão, o réveillon e as férias de dezembro e janeiro. Há quem tenha cancelado a rotina para ir a praia nos dias de Carnaval deste ano. E mande-lhe ostentação nas mídias sociais digitais.

Um ano depois a situação está mais crítica. A Semana Santa não terá suas celebrações tradicionais mais uma vez. Cinemas fechados, jogos de futebol suspensos, encontros familiares fora de cogitação. Neurose de tocar em algo e ser contaminado, desde uma publicação impressa até produtos comprados no supermercado.

Um ano se passou. A preocupação não cedeu. Está .... “mais preocupante” ...

(Publicado no Jornal de Piracicaba dia 24 de março de 2021 e na Tribuna Piracicabana dia 26 de março de 2021)

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