Edson Rontani Júnior, presidente do Instituto
Histórico e Geográfico de Piracicaba
O
triste resultado da manifestação ecoou de forma tímida em Piracicaba. No dia 23
de maio de 1932, portanto, há 90 anos, a mídia local nada informou sobre o
embate armado ocorrido na praça da República. Talvez não pela distância de 160
quilômetros entre nossa cidade e a capital paulista. Talvez porque a informação
viesse de forma mais lenta que nos dias de hoje. A distância não era
percorrida, à época, nas duras horas e pouco que levamos atualmente. Já a
comunicação à distância tinha rápida (para a época) condução com o telégrafo, o
qual necessitava de interpretação pelos que conhecessem o código morse.
Aquele
23 de maio, perpetuado depois como o Dia da Juventude Constitucionalista, foi o
estopim para a Revolução de 1932 que dentro de um mês terá lembrado seus 90
anos. O cenário à época era de descontentamento com a Constituição em vigor,
datada de 1891, a qual não delimitava os poderes do presidente da República
que, por sua vez, governava o país como queria. Contra este autoritarismo,
manifestantes vão às ruas da capital de São Paulo e, em certo momento, pretendiam
invadir a sede no PPP (Partido Popular Paulista), simpatizante ao governo
Getúlio Vargas. Membros do partido se municiam de armas e granadas. O resultado
a história definiu como MMDC, sociedade então secreta que eclodiu com a
insurreição civil contra o governo federal. MMDC foram perpetuados nas
carteiras escolares do passado e muitos sabiam na ponta da língua que eram
Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, mortos no 23 de maio.
Piracicaba
possuía o “Jornal de Piracicaba”, “O Momento” e “Gazeta de Piracicaba”, jornais
quase diários. Cada um composto por parcas quatro páginas. A cidade possuía
cerca de 20 mil habitantes que se informavam por estes veículos. A reviravolta
na capital paulista sequer saiu na imprensa daqui. O mesmo ocorreu com o fim da
Revolução de 1932, no dia 2 de outubro, quando toda a imprensa paulista se calou
diante deste fato visto que grande maioria de seus defensores foi deportada
para Portugal.
O
23 de maio se tornou conhecido como a data dos jovens que clamavam pela
liberdade e por direitos garantidos numa constituição. Foram jovens que
partiram às ruas solicitando esta liberdade que hoje possuímos, sendo que os
MMDCs tinham 14, 21, 25 e 30 anos. O mais moço era Dráusio Marcondes de Sousa
(o D do MMDC), 14 anos, alvejado pelo PPPistas, falecendo dia 28 de maio. A
juventude é também lembrada na Revolução de 1932 como o caso do escoteiro Aldo
Chioratto morto em Campinas aos 9 anos depois de alvejado por uma granada
lançada de um avião. Já em Piracicaba, o registro de jovens espelha-se em Natal
Meira Barros, atingido no pescoço por uma rajada de metralhadora na cidade de
Cruzeiro aos 17 anos, falecendo dias depois.
O
Dia da Juventude Constitucionalista precisa ser lembrado com carinho o tanto
quanto os paulistas olham para o 9 de julho. A Constituinte saiu em 1934, dois
anos depois do embate. Nesta nova carta magna foram implantados direitos que
ainda hoje usufruímos como a dissociação dos poderes executivo, legislativo e
judiciário; defesa judicial com direito ao “habeas corpus”; ensino gratuito
para adultos inclusive na zona rural e tantos outros.
A
mídia impressa de Piracicaba passou a dar ênfase à causa constitucionalista a
partir do 9 de julho, ecoando por aqui os ares paulistas. Este JP na edição de
12 de julho de 1932 entoava uma retórica que funcionou nos três meses da
Revolução: “Matto Grosso ao lado de São Paulo. Enorme affluencia de civis aos
postos de alistamento. Minas, Rio Grande e Santa Catharina integrados na arrancada
paulista. Innumeras adhesões”. Com o tempo o governo federal esmagou as forças
de oposição. Foi-se a causa, ficaram as memórias dos jovens do 23 de maio.
(Artigo publicado no Jornal de Piracicaba de 08 de junho de 2022)
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